sexta-feira, janeiro 18, 2008

Reality Show Menezes: Isto é Política

Janeiro 2008. Nave PSD, Capitão Menezes, cruzando o desconhecido. Log 00000001.



Menezes está, curiosamente, a procurar a transparência do partido. E eu nunca pensei dizer isto, mas... é demais! Essa transparência não interessa a nenhum português. É de quem não se enxerga. Primeiro vem reclamar lugares de compensação, para manter o equilíbrio de jobs - peço desculpa, de "cargos de confiança política". Depois vem dizer que o comentariozinho não está bem justinho, se a gente for lá ver benzinho. O Marcelo não é "ortodoxo", o Vitorino é. O Alegre não é, nem o Seguro. Mas ninguém os coloca lá, ah pois é!... (delicioso pormenor, de Menezes a sugerir Seguro para a Quadratura do Círculo porque "é mais jovem"). O "camarada" Pacheco Pereira também não é ortodoxo. Ora, estamos claramente a ser lixados. Quer dizer, dos nossos escolhem os desconfiados. Dos deles escolhem os atinados. Brincamos, não? É que isto salta à vista dos portugueses, que andam preocupadíssimos com isso.

"- Não vejo as coisas bem no emprego, Maria."
- Então?
- As encomendas não chegam, e o pessoal nota o Sr. Viegas com um ar estranho. Ele diz que a empresa é para continuar, mas...
- Mas o quê, Jorge?! Vão perder o emprego? [Jorge olha fixamente para o televisor]
- Pera. Isso é o Vitorino? Tira-me a tv daí fachavôr! Não posso com ele. Ele não é o meu PS. Esse gajo não estava lá no primeiro dia do congresso de 1995 em Regueira dos Vales. Lembro-me bem! Vá mas é pó [beeeeeeep]! Como é que é possível meterem este gajo na tv? Metam um Seguro, pá!
- Ó Jorge, deixa lá isso.
- Não me digas que isto não é importante para o nosso futuro!
- Para o nosso futuro? Se é o Vitorino que fala ou não?
- Sim!
- Claro que é, Jorge. Mas sabes que eu acho que o Alegre tem mais legitimidade que o Seguro. Afinal, ele era a "voz de Argel". E depois há a questão da barba. A barba... [continua com douta tese sobre a relação do pêlo facial com a doutrina marxista]"

Até parece que se ouve as pessoas a falar sobre isso todos os dias, caramba. Menezes deve deixar de lavar a roupa suja do PSD fora de casa. Eu até admito que eles possam ter essa opinião. Não concordo com ela, acho um receio estúpido, quase esquizofrénico face às reais questões a resolver. Mas que ficasse "em casa". Agora, andar a exibir isso pelos media, fazendo disso a intervençao política desta direcção, só a torna, essa sim, uma perfeita nódoa. Depois não se enpantem se alguém disser que nódoas dessas só saem com um pano embebido em directas antes de 2009. Que é para não estragar o fato todo.

"- Então e essas contratações de Inverno?
- Eh pá. Os gajos queriam um Alegre para a defesa, mas ele já tá em final de carreira.
- É mais seguro.
- Também gostava do Seguro, mas esse é mais arriscado. Muito jovem. Ainda se mexe muito a favor deles e nos lixa.
- Não, eu estava a dizer que o Alegre era mais seguro.
- Pois, Sócrates é que não é concerteza. Por isso é que a gente o queria.
- A nossa defesa é que anda uma miséria... Totalmente vendida ao adversário. O Marcelo, já se sabe: só tem jogo de cabeça.
- E o Pacheco? Esse primeiro que remate contra os gajos tem que passar sei lá quantas vezes ao adversário. Eu sempre disse pra gente não o ir buscar aos maoístas.
- É. O gajo agarra-se um bocado à bola. E tem a mania que joga em todas as posições.
- Vês um Coelho a jogar - é uma maravilha. Não há passe que atrasem que o gajo não chute prá frente. Vês um Vitorino, que, enfim, quem olha pra ele até pensa que ele também pode dar o seu quê de independente e tal, mas nada. Esta época tá impecável. Sem comprometer.
- Por isso é que eles, mesmo com um avançado fraquinho como o Sócrates, vão ganhando.
- Claro. Vê lá se eles jogam como nós, com um Menezes isolado e um Santana Lopes à mama. Não - tudo joga em equipa, claro.
- Eu acho que aquele puto das camadas jovens, como é que ele se chama? - o Ribau, devia jogar mais.
- Não sei se já tem estofo. Tem bons pormenores, lá isso tem, mas eu acho que ele tá naquela fase um bocado de deslumbrado "Ah, agora tou num grande" e tal. Esse quer é gajas boas comó milho.
- [risos]"

É como se tivéssemos a ver um "reality show" da política. Em directo da Casa PSD. "Uhhh... O Ângelo Correia tá a coçar o sovaco. Olha práquilo. Que horror... Nem consigo ver. Olha, anda cá João, depressa. Olha, o Menezes tá a falar no confessionário sobre os lugares na administração de empresas. E sobre os comentadores da RTP. E das privadas. Anda cá João, a sério. Esta gente não existe."

General Review of the Sex Situation

De novo em desacordo. De novo, malgrado, prestando homenagem.



General Review of the Sex Situation


Woman wants monogamy;
Man delights in novelty.
Love is woman's moon and sun;
Man has other forms of fun.
Woman lives but in her lord;
Count to ten, and man is bored.
With this the gist and sum of it,
What earthly good can come of it?

Dorothy Parker (1893-1967)

Encher Chouriço

Primeira página de "O Jogo" de hoje: "Sporting gastou 19,35 milhões no ataque em 8 anos". Revisitar do trabalho de Carlos Freitas. E, claro, surge-me a pergunta, absolutamente inevitável: e quanto, nesse período, não gastaram Porto e Benfica? Sim, que seja só para o ataque. Porque, passe a quantidade, alguns dos "dromedários" que Freitas foi buscar para o ataque nos últimos anos vieram a custo zero. Eis uma bela primeira página, realmente.

" - João, olha, afinal o Farías não pode dar a entrevista sobre como cultivar couves no relvado a partir do banco.
- Ai é?... Eh pá, mas isso era a nossa primeira página...
- Queres pôr alguma coisa sobre o recorde de Jesualdo de menos cuspidelas dos jogadores numa época?
- Hum... talvez não. Olha, e se fôssemos bater mais naquele badocha do Sporting, o dos óculos foleiros?
- O Freitas? Boa! Mas como?
- Eh pá, fazemos um apanhado de quanto tem andado o homem a gastar.
- Mas olha que o Sporting é o que gasta menos dos 3...
- A gente faz um apanhado dos últimos 8 anos e junta tudo! Que tal?
- Lindo. E vamos lá despachar isso antes de almoço, que hoje é tripas na Maria Alice!"

Efectivamente, não era preciso uma página a encher chouriço para O Jogo ser considerado um jornal tripeiro...

Natureza Humana

Hoje tive que dizer a um amigo que não podia aceitar um convite, para uma saída. Pois é - exame na terça-feira. Ainda assim, custa muito dar esse braço a torcer. Talvez no fundo, se puxássemos mesmo por nós, conseguíssemos fazer várias coisas. Talvez no fundo, seja possível "ir a todas", se o exigirmos a nós mesmos. Mas a verdade é que "first things first": o exame tem prioridade, e tive, por mais que custasse, de ser honesto. Aliás, excepto quando mentimos por causas nobres, a honestidade é mesmo a melhor política. Como diria o Billy Joel. Eu sempre a tomei assim, e sempre me chateou quem não o fazia comigo. Até, porque são fácilmente detectáveis a desonestidade e a segunda intenção. Natureza humana, diria Agatha Christie (grande professora) - natureza humana.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Auch...

Isto dói muito. Dói muito mesmo - parece que fala para mim. Não serei dos piores, mas que consolo é esse, de qualquer forma? Era para dar-lhes com o Philip Larkin, mas não seria correcto, pois não?

A Nau de Teclas

Ainda hoje não consigo deixar de me deslumbrar com a maneira como a Internet permitiu aos portugueses fazermos aquilo que sempre quisémos e gostámos intensamente: a importação de cultura primeiro, e, segundo, termos espaço. E tudo isso grátis (ou quase), e sem limite. Um mar nas nossas mãos, realmente. A Internet revolucionou este país, pergunto-me se mais do que os outros. A nossa necessidade de frescura, de novidade, de escapismo mesmo está aqui, na ponta dos dedos. Nunca os nossos antepassados puderam ser tão "navegantes" sem sair do mesmo sítio. Nunca o mítico desassossego foi tão fácil de consumir. Há uma parte de solução do mundo português, de saciação da nossa curiosidade e desejos individuais, que foi revolucionária para a geração que acolheu a Internet e que está, concerteza, ainda mal estudada. Talvez por isso também sejamos uma geração menos empreendedora, e mais comodista. Se temos o sortido da vida perante os nossos olhos, porque sair para o conhecer in loco? Isso, claro, é um grande erro (que pagaremos caro), mas parece-me inevitável.

Entropia

Não chego a uma conclusão certa quanto ao efeito das mulheres nos homens. Será que elas desorganizam ou organizam a nossa vida? Os dois casos são possíveis. Eu diria que a desorganização está mais relacionadas com a paixão, o sexo, a relação mais precoce. E que a ordem, afinal, estará relacionada com o amor, a partilha, a relação mais tardia. Mas, como ainda tenho dúvidas, justifica-se, em absoluto, muito mais investigação sobre a matéria.

This Be The Verse

É óbvio que, mais não fosse pelo meu sentido de auto-crítica (nem vale a pena falar da minha opinião sobre a natureza das coisas), não concordo com o célebre poema de Philip Larkin. Mas não posso deixar de admitir estar tão bem concretizada essa rebelião de juventude. Só do ponto de vista artísico, merece o post no Generosità.




This Be The Verse


They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.

But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another's throats.

Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don't have any kids yourself.

Philip Larkin (1922-1985)

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Almoços Grátis

Uma das coisas que eu tento usar como antídoto para a inveja é a invevitabilidade da natureza humana: "não há almoços grátis". Tudo na vida tem um preço, senão as pessoas afluentes seriam muitíssimo felizes. O que lixa a coisa, do ponto de vista português, é que nós não somos um povo especialmente ambicioso e empreendedor, para ser eufemístico. Donde, se um sacana (ou uma sacana) chega a um patamar agradável de conforto, sem quebrar as regras, a mais das vezes não tem muita preocupação em evoluir mais e arriscar noutros patamares.

Por exemplo, se um português se casou com uma mulher "podre da boa", que até gosta dele, e ficou rico, digamos, por herança, mantendo o seu círculo de amigos, a maioria das vezes não tem o sonho de ir além. "Hum... agora vou fundar uma empresa para dar emprego às pessoas ou vou curtir a vida com o dinheiro que tenho? Hum...". É nisso que dá uma sociedade que não valoriza a inteligência, o patamar intelectual. Uns quantos "lucky bastards" e muitos outros invejosos.

Da Vaidade

É sabido que a inveja é, de facto, um dos maiores defeitos dos portugueses. A inveja não olha ao esforço do outro - tudo o que o outro tem nada lhe custou, nem sequer a manter. Mas a inveja é um defeito passivo, geralmente (e é perigosa quando deixa de o ser) - e isso diz muito de nós como povo.

Talvez, no entanto, não seja a inveja o pecado supremo em Portugal. Tomemos a vaidade. Por vaidade pretende-se exactamente induzir inveja, exibir alguma riqueza ao outro. Propositadamente. Ora, querer induzir inveja num povo naturalmente invejoso tem contornos de especial obscenidade. Ou, mais raramente, de pura estupidez. Deve ser por isso que o povo português, se bem que bastante invejoso, é igualmente muito discreto.

Talvez a inveja seja o nosso pecado mais comum. Mas pergunto-me se a vaidade não será um dos mais graves (certamente que a luxúria, a gula e preguiça são bastante aceites).

Burn One Down

"- Lembra-me que eu ofereço-vos um charuto para vocês levarem.
- O quê? Arranjas-nos um charuto???
- Sim. Deram uma caiza ao meu pai, e ele não fuma aquilo, eu também não... E está a apanhar humidade.
- Eu quero! [estado de súbita alegria]
- Ok, é só lembrarem-me.
- Vai ser lindo. Ao menos é tabaco. Há outros que vão para lá fumar coisas piores...
- Ai é? [sorriso] Não sabia. [surpresa do advogado das drogas comercialmente disponíveis]"

Operação STOP

Há umas semanas, fui apanhado na minha primeira operação STOP. No meu entusiasmo de incipiente condutor, tinha, pouco antes de ser parado, conduzido a cerca de 120 km/h, numa zona com limite de 100 km/h. Pensei para comigo que aquelas figuras do livros de fadas - os radares - afinal existiriam mesmo, e agora eu tinha que explicar aos "leprichauns" da GNR (que afinal também existem, mas só mesmo na estrada) porque é que não estava a respeitar esse belo livro de ficção, ao estilo de Carrol, Tolkien, e La Fontaine, que dá pelo nome enigmático de "Código da Estrada". "Então o senhor não parou ali quando o relojoeiro maluco estava a passar? Veja lá se quer ir passar a noite ao País das Maravilhas, amigo. Agente Dorothy, venha cá dizer a este senhor que já não está no Kansas, faz favor. E, já agora, peça à Sininho para trazer o teste do balão."

Agito a cabeça de repente - a situação é bem real. "Boa noite sr. condutor. Os seus documentos fachavôr." pediu-me o GNR de colete amarelo, enquanto olhava sempre para trás, buscando não sei exactamente o quê. Estaria a rir-se para os colegas? ("Este tá no papo..."). Mas onde é que estão os documentos? Estou sempre a ser tramado pelos pormenores. ("Olha, Amílcar, este aqui nem os documentos tem!"). Calma - estão aqui, no porta luvas. Um porta-cartões de plástico onde eles estão, mal dobrados, volumosos. "Ora aqui tem...". "Eu pedi-lhe os seus documentos", e volta a dar-me tudo aquilo. É agora - estou lixado com F grande (tantos anos de educação esmerada...). Mas não - podia ser que ele estivesse só a ser [nome mitológico associado ao macho caprino]. E estava. Ah, então tenho que os tirar do plástico, descascar a maçãzita. Tome lá homem. (Nota: como é bonito revisitar a situação como se não estivesse ali acagaçado e sabiamente obediente).

Lá vê um registo, outra licença, passa pela recomendação, vê a data da procuração, analisa o alvará e vira a notificação ao contrário. E eu observava o silêncio na expectativa da contra-ordenação. Cassação? "O seu seguro acaba a [dentro de dois dias]". ("Toma Amílcar! Continuo à frente. [Faz dança de vitória abichanada meneando as ancas, com os braços juntos]. Quem é o maior? Quem é o maior?"). "Saia do veículo, fachavôr. Coletes e triângulo". Conectores de discurso - zero. Lá mostro essas preciosidades (tanto plástico no meu carro, caramba). "Pode seguir". A sério? Assim sem mais? Muito agradecido. E pá - lindo. Deixa-me cá fazer tudo segundo o canon. Primeiro o cinto, desengatar, ignição, engatar, destravar. Tá tudo não é? Adeuzinho! "Ligue as luzes". F*****! "Ah, [riso apologético]. Obrigado". Mas, tudo bem, agora estávamos entre amigos. Até à próxima honorável defensor da Lei. Desculpe lá aquilo da dança. Cumprimentos ao Amílcar.

E pronto. Lá me fui embora, pensando como deve ser mau o nível médio do condutor português. Ora ali estava um condutor ainda tão inábil, tão trapalhão, que nem sabia o que eram "documentos", que por acaso tinha a inspecção feita, que andou a acelerar (a 12o, que eu quando exagero é até ao limite) antes de ser parado, que nem sequer o banco tem bem ajustado, que não liga as luzes - e passa assim pelo crivo?! Parece que estava a ler a primeira página do jornal (publicado em inglês, para ser internacional) The Life of Pedro Times: "Little Bastard Gets Away With It (Again!)".

Foi assim a primeira operação STOP. Validado como cidadão, suponho - nada demais. É fazer sinal e entrar na faixa, que a estrada - e a vida - continuam.

O Profeta da Sociobiologia

Um dos aspectos da teoria sociobiológica aplicada a humanos é a selecção sexual. Se a perpetuação dos nossos genes é o objectivo final, então a competição entre "machos" é um aspecto fundamental da sociedade. E não faltou quem o relacionasse com a sociedade capitalista. E mesmo com a Arte, e a Inteligência humanas, que seriam alguma espécie de "strutting about", de "mating ritual". Uma tentativa, no fundo, de encontrar parceiros.

Acho a teoria muito discutível em vários aspectos (há competição entre mulheres, a colaboração entre indivíduos, o fascínio da beleza, o objectivo parental e não somente reprodutivo, etc.) mas não deixa de conter algumas verdades. E, se for verdade que há competição entre homens, e isso estiver na base da sociedade capitalista, e na base da criatividade intelectual, lembro-me de um teórico que não está entre os grandes nomes da Biologia, e que, na realidade, resumiu a coisa de forma muito precisa, do ponto de vista masculino.


P.S.: Pequeno conselho: afastem-se um pouco do ecrán, para não estarem tão em cima das narinas do profeta.

Perspectivas

Dou comigo a pensar que um dos grandes erros de política em Portugal tem sido a perspectiva do país. Durante muito tempo havia um País, um "Portugal" mítico, quase divino, pelo qual tudo era justificado. Em retrospectiva, acho que os portugueses que partiram dessa noção acabaram sempre desiludidos e frustrados o resto das suas vidas. É que antes de Portugal estão os portugueses, seres humanos, com suas virtudes e defeitos. Talvez defeitos toleráveis e virtudes admiráveis. Mas isso é outra história.

Para não repetir erros do passado, há que pensar primeiro nos portugueses, no que somos e no que queremos, e só então no País. Portugal, a noção de sociedade portuguesa sucede a nossa genética, e não a antecede. Ou, pelo menos, assim creio, assim me parece. Espero não estar enganado.

terça-feira, janeiro 15, 2008

O Pacheco Pereira Italiano


Nome do senhor: Antonio Caprarica. Já o tinha achado parecido há alguns meses, também na Rai. Hoje à noite esteve no "Porta a Porta". Não sei bem como explicar melhor este post que dizer que... parece-me estar perante um sósia do Pacheco Pereira! Está ali o estilo, a cadência na oralidade, inclusive no gesto. A análise da realidade é igual: fria e cortante, mesmo de forma empática com os outros ("que me desculpem, eu sei que sou insensível, um cínico [semi-sorriso], mas acho que..."). Extraordinário.


Fui investigar na Internet. Antonio Caprarica é jornalista, correspondente da Rai (diz-se fascinado pela informação). Antes tinha sido comentador de política interna. Formação universitária? Pois é - Filosofia. Também escritor (embora de ficção, que eu acho JPP não se aventurar fazer nesta fase da vida). E, por coincidência, no programa de hoje lá estava a criticar uma certa maneira de ser francesa (discutia-se o affair Sarko-Bruni), e resmungou mesmo, a meio da conversa, "como sabem a divisão direita-esquerda saiu da assembleia francesa" - a mesma divisão que JPP tantas vezes critica como nos cegando para a realidade. Leio numa entrevista que tem grande filiação pela Grã-Bretanha (onde, aliás, foi correspondente da Rai), tendo escrito um livro para "convencer" os italianos às virtudes anglo-saxónicas.

Veja-se um pequeno excerto da entrevista, onde é interpelado (é da praxe...) também a propósito da comparação gastronómica dos dois países:

"Lei attualmente dirige la sede Rai di Parigi. Se non altro dal punto di vista gastronomico, a mio avviso, ci ha guadagnato….Ma a parte la cucina, che differenza ha riscontrato tra il popolo francese da quello inglese?

No, non ci ho guadagnato con la cucina. Se uno non ama la panna, in Francia rischia di morire di fame.Per quanto riguarda la differenza tra i due popoli, la più importante è nel concetto di libertà. Per gli inglesi è soprattutto quella dell’individuo, per i francesi quella dello Stato, anche contro l’individuo."

O que é que nunca falta sempre na sua mala? Adivinhem lá... livros, muitos livros! E o que é que levava para uma ilha deserta? A mulher e uma biblioteca.

Tudo isto a partir de uma semelhança de estilo. Muita Agatha Chritiezinha, muita Miss Marple. É um dedo que adivinha. Um dia hei-de descobrir uma maneira de capitalizar este talento.

Como é que é? Ando com tempo a mais nas mãos? Não é bem isso - consigo é fazer tempo para o que não interessa muito à minha vida (objectiva). Um dia alguém me vai dar razão.