sábado, dezembro 20, 2008

A Dialéctica do Espírito: Um Conto de Natal

Estás preocupado com a crise. Não sabes bem exactamente o que é, como te vai afectar. É uma crise estúpida. Caramba, tu bem avisavas. Mas aconteceu. E há sempre os banqueiros que se safam escandalosamente, os políticos para quem fica tudo na mesma. Um nojo. Mais um suspiro. Mais um dia.

Chegas de manhã ao teu emprego absolutamente miserável e lixado com a vida. 'Isto é tudo uma m****!' dizes para ti depois de cumprimentares cordialmente o Sr. Carlos, porteiro.

Quando chegas ao teu andar, finalmente, vais fazer a única melhoria possível dessa manhã - beber café. Descobres que ('f***-se!!!') a singela máquina escolheu esse dia para deixar de funcionar. Já não convém saíres, porque, assim que entraste o teu chefe disse: 'Bom-Já-Tens-Ecomenda-Antes-Dez-Era-Para-Ser-Depois-Mas-Mudou-Prazo-Senão-Lixados. Já bebeste café? Vai lá, mas não te demores'.

Sabes que a vida está complicada quando não te sobram asneiras para dizer numa manhã. Lembras-te do teu avô que vivia no Campo - isso sim, era vida. Que pena o ecrã do computador não poder falar contigo. É estranho não o fazer, por ser um tão fiel amigo, e agora precisavas das palavras de um fiel amigo. Talvez a sua qualidade seja a de estar calado perante os teus caprichos. Talvez esse silêncio o torne agora tão inútil.

Mas, por algum milagre, além do monitor os teus colegas estão contentes. Estranhamente felizes, num tom de conversa ameno. Luminosos. Pegas em ti, e juntas-te a eles. És bem recebido. Ausentas-te só um segundo com uma piada, e fazes a encomenda que era preciso. Um instante. Quem diria. Tornas à conversa. Sentes as tuas dores a deixarem - como se nada fosse - os teus ombros. Ris-te. E percebes que a todos une, de alguma forma, e para tua surpresa, o espírito do Natal.

No final do dia, renovado pelo convívio no escritório como nunca antes, despedes-te de todos. 'Feliz Natal' para um lado, 'Bom Ano' para o outro, até mesmo um 'Não, se calhar são vocês que ganham o campeonato este ano'.

Toda a gente ri. Mas então alguém se lembra de acrescentar ao generoso 'Divirtam-se!' sorridente, um acrescento de verdade, que faz cair o sorriso: 'Se conseguirem, com esta crise... Vamos lá ver' [olha o chão].

Ias dizer uma asneira. Duas até. Tinha que ser, não podia ninguém não o lembrar. Era só mais um bocado, estavas quase a sair. Não ias ficar com o espírito maculado de novo.

Mas que se lixe. Decidiste ir para casa com o espírito de Natal. O espírito da crise virá, sabes bem. Mas há sempre um Natal a seguir a cada crise, dentro de cada crise. Há sempre um dia, pelo menos, em que ninguém ganha ou perde. Natal é natal. Não está cotado, não é emprestado, e ninguém te o pedirá.

Mas decidiste aceitá-lo sem remorsos, contra ti talvez. E acabas a pensar que, talvez, quem sabe, essa seja a melhor definição para o que é o Natal.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Dodge This

Diga-se o que se disser, e pense-se o que se pensar de George W. Bush, há que elogiar os seus reflexos, ao desviar-se - com grande estilo - dos sapatos projectados contra ele pelo tal jornalista. 

Especialmente tendo em consideração que, com o papa, ele deve ser - supostamente - dos homens mais bem protegidos à face da Terra, sem poder antever tal ataque pessoal.

Pode não saber onde fica a França, mas, cá para mim, era uma estrela nos tempos do 'Dogdeball'.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Bucólica

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;

De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.

Miguel Torga (1907-1995)

Mário Soares

Depois digam que não foram avisados. Aqui.

"Portugal também não deve ficar indiferente. Com as desigualdades sociais sempre a crescer, o aumento do desemprego que previsivelmente vai subir imenso, em 2009, a impunidade dos banqueiros delinquentes, o bloqueio na Justiça, e em especial, do Ministério Público e das polícias, estão a criar um clima de desconfiança - e de revolta - que não augura nada de bom. Oiçam-se as pessoas na rua, tome-se o pulso do que se passa nas universidades, nos bairros populares, nos transportes públicos, no pequeno comércio, nas fábricas e empresas que ameaçam falir, por toda a parte do País, e compreender-se-á que estamos perante um ingrediente que tem demasiadas componentes prestes a explodir. Acrescenta-se o radicalismo das oposições, à esquerda e à direita, que apostam na política do "quanto pior melhor". Perigosíssima, quando não se apresentam alternativas credíveis..."

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Também Vosso

Só para relembrar que é aqui que estou a reunir a memorablia televisiva (já vai em 18 - uff!). Vão, que vale a pena. De certeza, encontram algo também vosso.

Algo Que Virá Com Alguém

"- Já me perguntei se seria uma coisa de mulheres. Sem mulheres não há sonhos. Há só viver, continuar. Há estudo, teoria de vida, tentativa de perceber um mundo que é demasiado violento. Mas sem mulheres não há o sonho de o mudar. Não há porque o confrontar.
- E quando é que deixaste de sonhar?
- Acho que me habituei. De noite acordas e achas que não sonhaste durante a noite. Pela manhã vais trabalhar sem te lembrares que alguma vez quiseste algo diferente.
- Mas terás realmente sonhado, algum dia?
- Eu... Eu acho que sim. Já não me lembro bem, ao certo. É uma leve impressão quando me levanto - há algo nessa noite que não cheguei a perceber. E é uma leve impressão quando estou a trabalhar, a falar com pessoas: algo está mal, algo deveria estar diferente. Há algo fora de tom. O sonho deve ser então o regresso a alguma harmonia perdida. Uma harmonia que é tão provável, tão possível, que tu sentes poder existir, subcutânea... Mas que não está lá.
- Não sabes se sonhas com algo ou com alguém?
- Não. Mas tenho a impressão, ligeira, insinuada, de que sonho com algo que virá com alguém."

O Custo de Vício I

Dou comigo a pensar que crise é crise, mas... quer dizer, a grande parte dos meus prazeres de vida são grátis ou baratos.

Ler é grátis (e apetecia-me ficar por aqui). Jogar à bola ou andar de bicicleta é grátis. Se eu conseguisse socializar com mais miúdas giras - grátis. Navegar na net - barato (com jeito até pode ser grátis). Uns petiscos com amigos também se arranjam baratos (nem preciso de dizer: goodbye beluga!). Mesmo sem carro, a minha vida continua (tenho a carta há pouquíssimo tempo e continuo a andar de transportes públicos).

Crise é sempre crise. Mas quem não tem dinheiro, não tem vícios - ou tem vícios grátis/baratos.

Satisfeito Com a Sua Companhia

Leio no artigo da Wikipedia dedicado a Benny Hill:

"Hill worked compulsively and had only a few friends, although colleagues insist he was never lonely but content with his own company."

Eis uma frase que, por vicissiudes e temperamentos, poderá ser, um dia, aplicável a mim. Espero que não, apesar de tudo - mas fica aqui a sentença.

La Vera Sfida

E Mourinho será o campeão de Inverno. Com a Juve a -6, e o Milan a -9, está muitíssimo bem lançado. É que - atenção - é mais difícil ganhar num primeiro ano em Itália do que ganhar no primeiro ano em Inglaterra. Fazê-lo em ambos campeonatos, então, é excelente. Quem sabe, uma marca para a História.

domingo, dezembro 14, 2008

Dado Adquirido

Que haja pessoas que ainda gostem de nós, quer dizer tão somente que nem tudo o que fazemos será mal feito, por mais que tenhamos dias, tiques, manias, requintes, ambições.

Que haja pessoas que não gostem de nós - isso pode tão somente querer dizer que fazemos coisas. 

O 2º Turno

Doravante, passarei a dividir... posts entre este blog e um outro, 'Rústicos Epicuristas', a ser feito a meias com o Edu, incial colaborador deste blog.

Com que critério os vou dividir, logo verei, mas o Generosità continua seguramente.

Desde já, começa nesse blog a série: "The Simple Life". Porque é bom rever a vida simples face às dificuldades da vida portuguesa hodierna.

Não resisto, porém, a incluir também no Generosità este delicioso sketch de Benny Hill - dos anos 70' - muito mais malandreco. Nesta nossa era de vulgarização do sexo (nada contra, mas a sedução era uma coisa tão bonita...), até podem chamar à coisa 'petit-bourgeois', que eu não me importo. Mas este 'Learning All The Time' é mesmo o meu Benny Hill favorito.