sábado, agosto 09, 2008

A Idade anti-Kissinger

É como se, a determinada altura, as mulheres entrassem na 'idade anti-Kissinger'. Mais velhas e amarguradas, tudo em seu redor é tratado com cinismo, 'bota-abaixo' - 'realpolitik' usada no sentido mais nefasto.

Não procuram - ao contrário de Kissinger - uma détente, o relaxamento da tensão entre partes. Kissinger procurava amigos preciosos a todo o custo. As mulheres nesta idade, pelo contrário, criam gratuitamente tensão e geram inimizades - mormente entre outras pessoas - para comprovar a sua visão cínica da realidade das coisas.

O problema é que é delas uma sensibilidade, um pressentimento quase... diabólico. São lixadas - conseguem intuir o calcanhar de Aquiles de quem quer que seja - e já perderam a vergonha de outros tempos, agora usam isso como arma de arremesso.

Coitadas das pobres raparigas, a começarem as suas vidas, a atarem todas as pontas soltas. Elas, que, com toda a doçura e generosidade, procuram parceiros seguros, têm maravilha pela vida. E, às vezes, vêm-se sujeitas ao jugo destas SS, destas outras mulheres, mais velhas, amarguradas - na idade 'anti-Kissinger'.

Palavra e Acção

Hoje elogiaram-me directa, generosamente. O tipo de elogio que eu reclamo sempre escassear, faltar como motivação para ir mais além. Devia estar contente e calado, portanto.

Mas... a pergunta surge ainda assim. Haverão acções, por detrás de quem elogia, em relação a nós que estejam em consonância? É que no momento eu - obviamente - derreto-me com o elogio. Mas gosto de pensar que, em última análise, são sempre as acções mais importantes. Requer algum esforço assim pensar - mas parece-me mais correcto, a longo prazo.

As Catedrais Pagãs 6

Acabemos voltando ao início. Porque são, tudo dito, os hospitais templos ainda mais pagãos que os estádios de futebol? Se em ambos, tantas vezes, o Sagrado se confunde com o Profano, se em ambos, tantas vezes, não há crença ou necessidade de Deus?

Acontece que o futebol é, apesar de tudo, uma metáfora. É uma metáfora para a vida, para instintos mais básicos. No hospital é a própria vida, esses instintos, que todos os dias estão em questão. Há sangue, pecado, humilhação e salvação. Absoluta. Não é um golo – é uma vida. Não há metáforas.

As Catedrais Pagãs 5

O médico ouve e compreende – o clínico, o bom clínico – tanto ou mais que os padres de hoje. Tudo encaixa, tudo aceita e contextualiza, no que respeita à vida extra-patológica da pessoa. O que tem algo de benção, de alívio para o indivíduo.

Profanidade nº4: o hospital (a Medicina em geral) tem, na vida moderna, uma função acolhedora da confissão disputada à classe religiosa.

As Catedrais Pagãs 4

Em vez de cânones e mandamentos há parâmetros bioquímicos e procedimentos. Em vez de orações há fármacos. Não mais dez Avés-Maria, antes dez miligramas de sertralina depois das refeições.

Profanidade nº3: as regras, em que se tem uma fé quase absoluta, são científicas, funcionam como directivas religiosas.

Doutorismo

Pergunto-me se algumas pessoas insistirão em serem tratados por 'doutor' para terem sempre uma distância assegurada a outrém. É que eu insisto em não ser tratado por doutor - simplesmente, sinto-me muito pouco douto - mas sei como, se alguém ultrapassar barreiras que não deve, e seja doutor, leigo ou Presidente da República - reagir. É que essas barreiras existiram sempre por alguma razão, afinal...

Dispenso a "protecção" que é o título de doutor. Mas faço-o conscientemente... Consciente daquilo de que abdico ou me arrisco. Mas sei. E isso faz toda a diferença.

As Catedrais Pagãs 3

Por outro lado, sendo o corpo o elemento central, como foi dito, é a sua vertente repugnante que é ali tratada Não é de beleza, de movimentos cénicos, de todo o píncaro físico do organismo que trata o hospital – pelo contrário, depara-se com todos os aspectos da sua decadência. E, por arrasto, com os efeitos psicológicos dessas mazelas físicas.

Assim, no hospital é-se confrontado com o a prostração, a corrupção do organismo, o exaurir inevitável, o bizarro, com tudo aquilo que é, por cada qual, escondido.

Aqui o corpo não deixa criar ilusões quanto às suas imperfeições, quanto às sua fragilidade, quanto aos seus vícios… E quanto ao seu fim – que o corpo tem um fim marcado, porquanto o neguemos, tal não pareça assim na vida moderna, que nos convida a desfilar egotisticamente por um mundo de superfícies, falso. Quem vive num hospital sente essa profundidade todos os dias.

Profanidade nº2: a decadência do corpo surge como derrota do espírito, da alma, cerceia ilusões, expõe a fragilidade e o fim.

As Catedrais Pagãs 2

Antes de mais, é curioso reparar como, da mesma forma que as igrejas cristãs eram construídas sobre antigas mesquitas, também os hospitais começaram por ter inspiração cristã. Mas hoje não obedecem – não poderiam obedecer – a esses preceitos. O Sagrado, é certo, continua a conviver com o Profano, mas a confusão só beneficia o Profano.

De alguma forma, o hospital cria em si uma força centrípeta, decorrendo do seu objecto por excelência: o corpo humano - que é também o elemento central do paganismo.

Num hospital, o corpo humano é Deus. Ele dita as regras e a moralidade. A moralidade, claro está, é a absoluta solidariedade entre corpos. Os prestadores dedicam-se a salvar corpos, e fazem também o que for preciso aos seus para o conseguir. Levam-no ao ‘red line’ naquele momento, tratam-no depois como entenderem.

O stress absolutamente ímpar de querer salvar uma vida, por ser um fim supremo, perdoa qualquer mecanismo de compensação, de relaxamento.

Repare-se que, se um cirurgião for capaz de trabalhar várias horas ‘non-stop’, e, mercê de meticulosa arte, operar magistralmente o coração a um doente e o salvar, ninguém o condenará por… praticamente nada. Por ser mal-educado, pedante, cocainómano, viciado em sexo? Por nada. O seu trabalho é essencial demais – é a sua redenção. É óbvio que a maior parte das pessoas é normal, e há-os virtuosos também. A questão é que, em nenhum outro tipo de função são os vícios privados tão tolerados - face à complexidade e importância da função.

Profanidade nº1: todo o vício ou abuso (adulto) é consentido em função de um bem maior.

(continua)

As Catedrais Pagãs 1

(Nota: A reflexão que publico a seguir não está - somente - relacionada com o facto de, actualmente, estar envolvido no meio hospitalar. Antes, incorpora alguns elementos, observações, prévias a essa experiência, e que decorrem da minha relação com a área de Ciências da Saúde.)

Durante muito tempo pensei que fossem os templos pagãos da nossa era os estádios de futebol. Aí, olhar fixo no jogo, o irracional assome, o irracional assume. Não há mais controlo, mais pudor – mais limitações socialmente impostas. Aí o chimpazé dentro de nós salta e dança, faz um cafuné ao intelectual.

Hoje, contudo, e tendo tido a experiência de conhecer por dentro um hospital, digo que esse é, na realidade, o derradeiro templo pagão dos nossos dias. Apresento em seguida alguns argumentos genéricos a favor desta tese, e no final justificarei porque suplanta o hospital o estádio de futebol em paganismo.

(continua)

sexta-feira, agosto 08, 2008

Poker Sem Cartas

E às vezes eles estão em torno de nós comunicando sem falar. Trocando coisas que nós só podemos intuir, suspeitar, não mais que - por melhores que sejamos - ter quase-certezas. Nunca certezas totais...

Não sabemos das histórias, dos sinais, dos ímpetos revelados das vontades. Pode ser aquilo, quase aquilo - mas falta o 100%. E sem 100% não há partilha, mesmo resposta ou atitude.

Ali, à nossa frente, em olhares e semi-palavras há informação a ser percebida, trocada. Até mesmo sobre nós. Diante de nós, naquele momento, joga-se um jogo de poker - sem cartas.

Guilherme Farrusco

E acho que encontrei o sócia português do Will Ferrel. Tal e qual... Mas porreiro.

Wannabee Playboy

Ainda na mesma conversa, e a propósito de namoradas, acabo por confessar, porquanto pedinte no mundo-cão das relações que, pudesse eu, seria certamente um playboy.

'Só tenho dois problemas a atrapalhar esse projecto de vida: o excesso de barriga e a falta de dinheiro. Mais nada. Mas sou um 'wannabee' playboy - lá isso sou'.

A Matriz

Alguém me dizia hoje, no estilo da conversa relaxada, estar constantemente a receber mensagens da Isabel Figureira, ter a Marisa Cruz à espera em casa, ser cobiçado pela Adelaide Sousa.

A minha resposta: 'Pois, tudo isso faz sentido. Mas depois, quando deixas a Matriz e voltas ao mundo real, deve ser doloroso - não?'

Bossy - Não Há Ordens Gratuitas

Já não consigo localizar o excelente post de Pedro Mexia (para mim o melhor blogger nacional), no seu Estado Civil, em que citava um escritor fancês, com uma frase que devia ser mais ou menos assim, dito do homem para a mulher: "ainda não me deste o direito de me dar ordens". Entenda-se o direito, claro, como o dela.

Eis porque me irrita solenemente que algumas mulheres, ou raparigas, amigas somente, pelo tom ou palavras me dêm ordens - assim, além do normal e saudável convívio entre pessoas. Ordens puras. Sem que a isso tenham - ou eu lhes quer dar - esse pleno direito.

O Factor Humano e o Mínimo de Coerência

Uma coisa curiosa sobre o trabalho, e a minha relação pessoal com o trabalho é o de que, quando envolvido, adoro trabalhar como poucas coisas (embora raramente o faça com o que gosto realmente). Mas sou muito pior a lidar com o factor humano, com a sociabilidade e todo o esforço de diplomacia. É que... às vezes não dá mesmo para perceber como as personalidades sobrepõem ao fim último, ao objectivo necessário. É... obsceno, tantas vezes parece obsceno. Mas há sempre um egozito de merda - mais frágil, uma tentativa de cercear a sede do melhor, um 'aparar por baixo' para que nenhum pense saltar alto de mais. Muita cortesia, muito amigos, mas desde que todos se considerem iguais. Não há cá melhores. Sempre abominei esses sentimentos ressabiados de tomar toda a gente por igual. E sempre tentei ser coerente com isso. Desde logo assumindo que, se eu próprio não estiver à altura, é justo que tenha consequências disso. Eu não tenho porque ser bom, ou mesmo 'o melhor'. Posso ser preguiçoso, querer aproveitar a vida. Mas tenho, sim, que reconhecer e abrir alas para quem seja, para quem queira sê-lo. É esse o meu mínimo de coerência.

Essa, contudo, está longe de ser a tese vigente.

Entusiasmo

É como se fôssemos motores de combustão e ardêssemos a diferentes velocidades, uns assolados pelo tempo de vida a ser desperdiçado, outros regalados nessa indolência, nessa modorra que nem a sabem ser.

De Profundis

Reparem como somos agentes superficiais de tanta coisa, de tantos espaços humanos. Quando vamos ao supermercado, à loja, ao hospital, à universidade. Reparem como nos movemos somente à superfície das coisas, sem saber dos podres, os vícios, as virtudes, os truques de colectivo, as regras não-ditas, a experiência, as personalidades, as histórias: 'quando, quem foi, quem fez, que acontecimento em que alguém perdeu a cabeça, quem dormiu com quem, quem foi despedido, quem adora, quem abomina'. Tantos os sítios por onde assim passamos, sem perceber toda a história por detrás. Só saberemos a do nosso próprio meio (às vezes nem isso). De todos os outros meios somos 'clientes', 'utilizadores', estamos 'do lado de lá'.

E, curioso, pessoas há que nunca passam para o 'lado de cá'. Ficam sempre do lado de lá, deliciam-se com a superfície, não se comprometem. Talvez, a maior parte deles, por a tal não serem obrigados - a realidade humana é sempre uma coisa chata com que se lidar.

Astronauta, Bubble-Boy, Erimita

E às vezes é como se fôssemos astronautas no Espaço. Lá fora do nosso fato, à prova de som e dos outros, fazem-se guerras surdas. Ou então somos nós que já não queremos ouvir, que já não temos sensibilidade para ouvir - já estamos entorpecidos pelo barulho.

Vagamos assim pelo vazio, sabendo porque se guerreiam os outros lá fora, Observando-os com enorme fastio. Mexendo-nos pelo Espaço deles. Sem querer, contudo, deixar o nosso fato, o nosso capacete. Já tentámos e íamos sendo violentamente sugados. Já tentámos e havia só barulho lá fora.

É como um 'bubble-boy' que não tem contacto com o mundo exterior. Mas que, ao contrário do desafortúnio biológico, pode ter e sabe como - mas dispensa-o.

Antigamente dizia-se de gente assim erimitas. Hoje, embora toda a gente esteja, na realidade, mais só, parece cada vez mais difícil o sossego, a verdadeira solidão.

Temperamento Iô-Iô

Ele há pessoas que têm um temperamento difuso. Nós pensamos que passamos do 'você' para o 'tu', mas depois parece que o 'você' quer voltar, ficava melhor. Pensamos que existe outro nível, mas - de repente tudo se fluidificia - os níveis confunde-se, a evolução simples, fiável, obtida pela experiência - deixa de surtir efeito.

Ele há pessoas com 'temperamentos iô-iô'. Não raras vezes, o equívoco, o deixar alguém escorregar de repente, o 'deixar o telefonema cair' do lado de lá, é feito por via de calculismo. Muito cuidado com os 'temperamentos iô-iô' - ninguém gosta de ser manipulado.

quinta-feira, agosto 07, 2008

A Força do Destino na Corrida Para a Felicidade 1

O Destino é uma coisa engraçada. Não raramente, usa uma arma predilecta para seus intentos: a Sorte. Juntemos-lhe uma característica ainda mais intensa em portugueses: o Hábito.

Para quê, perguntam vocês? Justamente, para falar do mesmo de sempre. Pois é.

Pensem numa/num namorada/o, e como o descobrem nas vossas vidas. Por exemplo, no vosso curso. Deve ser coisa tão velha quanto o dia em que rapazes e raparigas passaram a frequentar a mesma universidade. No vosso curso vocês têm conhecimentos, estabelecem contactos, afinidades. Passa-se muito tempo, refeições, vitórias e até derrotas juntos. Com a idade mais pletórica, eis a combinação perfeita de todos os elementos.

Agora, face a essa "miscibilidade" pensem nisto: o curso em que nos metemos faz a diferença. É diferente, do ponto de vista masculino, um curso de Humanidades, onde estão concentradas muito mais mulheres, que um curso de Engenharia. Pelo último, é desde logo cerceada muita possibilidadezinha. Pois é.

Os adeptos do "Mercado Livre", os Adam Smith das relações, dirão que, se bem não se encontrem num curso, poderão encontrar-se noutros lugares. Mas não é bem assim... Os portugueses têm um sentido muito apurado de fidelidade, e a primeira barreira de conquista de confiança é, por isso, difícil de vencer. Tem as suas grandes vantagens depois, mas até lá é difícil - para não dizer impossível.

Dou um exemplo. Um dia, por razões que não vêm ao caso, tive, à porta de um concerto, que me desfazer de um dos bilhetes que tinha. É difícil explicar a desconfiança, o afastar tácito, uma certa... 'repugnância de antemão', antes mesmo da pergunta, com que fui recebido por alguns portugueses. Para oferecer - oferecer!, que nem sequer era candonga, já só não queria que outro ser humano não aproveitasse aquele bilhete. Inacreditável. Lá o acabei por dar a uma estrangeira, que ficou bastante grata. Gostava de acreditar que isto aconteceu por ela estar fora do seu país, mais 'indefesa' e grata, e que no seu país também me daria obsceno desprezo.

Mas, para o caso de ser uma característica mais bem - excentricamente - portuguesa, vamos assumir que não.

(continua)

Welcome...

...said the spider to the fly. Aí está uma frase favorita de muita gente.

O Ponto G

E, por acaso, tropeço nesta piadola do Sílvio: "O ponto G das mulheres é a última letra de shopping". Não está mal visto, Sílvio. Até estiveste bem. Um bocado machista, mas no domínio do humor a liberdade é total.

quarta-feira, agosto 06, 2008

La Corte Española em Lisboa:O Shopping Surreal

Não percebo bem porque é que é assim, mas sempre que vou ao Corte Inglés tenho a sensação de que os portugueses que por lá andam tiveram uma lavagem ao cérebro. Como se tivessem sido espanholizados. Refiro-me aos empregados, claro (embora também não faltem clientes presumidos). É como se tivessem feito parte de um programa "vamos a intentar sacar lo más diñero que possamos dos vossos compatriotas. Vocês também encham os bolsillos. Pode ser?". Como que uma espécie de Clube Miguel de Vasconcellos.

"Não meus amigos - isto para ter classe tem que ser mais que português. A gente importa uns cafés e uns lombos ensacados, faz um clube Gourmet, e treina os empregados para se lavarem muito bem todos os dias dessa coisa horrível... a portugalidade." - alguém de topo terá dito um dia.

Nada de inteligência emocional, nem flexibilidades 'à tuga'. Só o certinho, as excepções que estão nas leis castelhanas, o fatinho perfeito (melhor que o do cliente). Nada de confianças, que isto é internacional, meus amigos. Isto tem classe. Aquele senhor ali no Bar é formado em Filologia. O caballero da Hugo Boss tem um mestrado em Biologia Marinha. E ali o chefe... bom - é espanhol, não o ouve a falar alto ao telefone como se estivese em Marbella?

É preciso manter o nível da coisa, em suma - pode aparecer algum espanhol por ali. A lei parece que diz que não se pode barrar ugas mais burgessos... mas eles devem perceber a crítica tácita. Aqui só os portugueses com classe - entenda-se gente classe empresarial acomodada, 'quadros', gente académica, políticos do meio da cadeia inteligentes o suficiente para se terem 'safado', senhoras velhotas sem mais nada que fazer, senhoras novas, a pensar em comprar, ver, aparecer, passear, jovens algo desenquadrados, classes médias altas, médias baixa presumidas...

Tudo aquilo podia existir serenamente. Agora... há uma espécie de fusão do pior espírito lisboeta - de distância, 'marmorismo' emocional, com uma espécie de escape 'internacional' - os parâmetros dos 'outros' lá fora. Tudo junto, parece falso demais, vendido, hipócrita. Tem coisas boas? Excelentes (sobretudo no supermercado, a minha crítica diz mais respeito ao armazém acima). E tudo junto - que poucos têm tempo ou paciência para percorrer lojas 'gourmet'. Mas... um estilo tão híbrido, tão indefinido, tão constrangedoramente... falso, traidor tira muito prazer à coisa. Para mim.

É, agora me apercebo - há ali uma fusão de tanta coisa que eu dispenso: o surrealismo e mania lisboeta, um castelhanismo encapotado (tipicamente paternalista - respeitamos muito a cultura portuguesa, mas nos bastidores 'se habla' como deve ser), e, claro, o amorfismo de uma grande empresa, uma 'corporate', interessada - na forma manhosa de que é paradigma a colocação das escadas rolantes - no lucro. Mistura, assim, qualidade com coisas que - dispensassem a ambiência e o serviço 'by the book', intimidante, de alguém num fato impecável, ao ar condicionado - seriam chamados de 'normais', talvez mesmo apenas 'sofríveis'.

A Ordem das Coisas e a Conta no Ti Ego

Uma mulher é diferente de um homem. Sabiam?

Pois bem. À parte de outras mais interessantes variações, abordemos uma certa... autoridade.

Ninguém gosta de receber ordens. 'Mas que é isto?' 'Quem é fulano?' 'Que raio de tom de voz?' 'Logo o sicrano - que nunca fez, nunca conseguiu, ou sempre insistiu naquele erro. Logo o sicrano!'

Pois bem. Levar ordens é lixado. Mas que limitação é esta à nossa liberdade pessoal?

Vamos começar por assumir como certa a necessidade social de ordens e de pessoas que dêem ordens a outras. Dito de outra forma, vamos assumir a necessidade social de Ordem (a do Eça, exactamente).

Nesse caso, quem pode dar ordens? E quem não pode, quem está a cruzar a linha? Não deixem lá por agora o Presidente da República. Bush quem? Não, comecemos pelo princípio - pelo género (não, não vou meter aqui a tal palavra - não quero desconcentrar, que isto é importante). Ora, pensemos nisto: pode uma mulher dar ordens da mesma exacta maneira que um homem? O Politicamente Correcto diz que sim, e eu não vou discutir isso ('assim se vê a força do PC!').

Mas... estaremos nós dispostos a receber essas ordens? Se um homem ou uma mulher emitirem a mesma ordem, é mesma coisa? Pois - acertaram. Eu não estaria para aqui a badelar se achasse que era.

A minha teoria é a seguinte: (nota prévia: também há género no recipiente) as mulheres são, apesar de tudo, mais... objectivas a receber ordens, de qualquer género. Pensam mais no fim, talvez no tom, que no facto de outrém mandar fazer. Os homens... os homens - ou estes, portugueses, que tenho a oportunidade de aturar, esta tribo da testosterona - parece dizer (ok, confesso: sou mesmo eu que o digo): uma ordem de uma mulher, antes de ser uma ordem, é de uma mulher. Ela pode não ter pingo de legitimidade, autoridade formal, pode desconsiderar até ao osso, esquecer todo o passado de dedicação num repente - que nós, a mais das vezes, não nos vamos chatear com isso. Ordens de mulheres são assim como lavar os dentes - um hábito que nos educaram como de higiene fundamental. Nunca saberemos até que ponto isso é mesmo verdade.

Agora, para obedecer a outro homem é preciso que ele tenha uma de duas: autoridade formal (ser patrão, por exemplo), ou uma legitimidade que impõe especial respeito. Porque... de resto, se um homem quer mandar, ser mauzinho, perder o tom, e a rédea sobre si mesmo, tem que estar preparado para uma realidade, uma... Ordem das Coisas - mais cedo ou mais tarde, essa é uma conta que ele vai ter que pagar. Na taberna do Ti Ego não se faz fiado.

Eis uma lição simples - e tão simples de esquecer...

P.S.: Bom, há também aquela coisa do perdão. Graus, ciscunstâncias, tempos. Mas isso, que me perdoem, é todo um outro post.

Summer Bastards

Há uma certa sacanice estival entre alguma juventude que é muito difícil de esconder. A coisa está a estalar por dentro com o calor. Há demasiada energia, demasiadamente mal investida. Não em nada de excelente, de eterno, de criativo, de amoroso. Fica tudo na retranca, encostado à parede da discoteca, bebendo, bebendo mais, olhando o suficiente até que ela - sim, ela - se decida ir ali falar com os príncipes. Até à preguiçosa manhã seguinte, depois de mais uma noite, começar tarde de mais um dia a adiar o futuro.

E a frustração, claro, por algures tem que sair. Não raramente, para colegas ou amigos que são - ou aparentam ser - o elo mais fraco, mais manipulável. Pessoal? A mim? Não necessariamente. Tem havido algum 'sacana' desses - mas não faz parte do meu círculo de confiança (vi ontem o 'Meet the Fockers'...).

A questão não vai por aí. Ao calor há pessoas que são piores, que se libertarem da maneira errada. O calor em alguns temperamentos é uma coisa chata - pode deitar muita coisa a perder.

Embezerrar Equívoco

Um dos problemas de um ambiente de trabalho, qualquer que seja (e não, não estou a falar do meu actual), é o da interpretação da distância.

Se alguém parece distante à nossa interpelação e presença, chateada, está assim por nossa causa? Ou é de outra pessoa essa responsablidade? É que o resultado é o mesmo - o mesmíssimo. Está ali alguém a lamber as feridas de um atrito com outra pessoa, ou a controlar a ira connosco?

É sempre uma situação equívoca. Passamos a ter que ver muito bem onde pisamos, para o caso de sermos nós. Mas bom, são as relações humanas - sempre assim foram.

A Corrida Para a Felicidade

Diz-me um amigo, que não via há longo tempo, que se vai casar. Fico extremamente feliz por ele - sou sempre a favor da felicidade alheia. Acho extraordinário, nestes tempos, um tão precoce compromisso. De todo o desaprovo, só o elogio. Mas fica sempre a sensação de ainda faltar tanto - tanto - para aí chegar um dia.

Suponho que cada qual faz a corrida para a felicidade como pode, tão depressa quanto lhe é permitido. Ou quão depressa se esforça por correr - fica a dúvida.

Zelo em Pêlo

E eis que, hoje, no refeitório do hospital, por entre a multitude de batas a devorar pratos dúbios, gira com toda a leveza pelas mesas uma musa de calções brancos, curtíssimos, e as pernas bronzeadas, por si só superando toda a outra gula. Morena, camisola azul. Belo efeito.

E eu que estou sempre a defender que não se deve entrar de bata no refeitório... Mais uma razão. Durante o Verão, deveria ser obrigatório. Agradeço a solidariedade desta colega, o seu zelo pela Saúde (e felicidade) pública.

Muito obrigado.

Caso Perdido, Não Caso Isolado

É isso - é verdade. Gostava que mais mulheres errassem comigo. É que eu sei que elas se iam queixar - 'ele é um cafageste'. Otário? Falta de maturidade? Rabo de saia? Cheiro a cholé? Suor exagerado? Mal-vestido? Indeciso? Gordo (já me devia ter lembrado desta)?

Bom, mas... e depois? Elas também erram com outros que têm tantos ou mais defeitos. E depois? Não posso ser um caso perdido?

Era só para reforçar. Fazer o favor de errar aqui. Muito agradecido.