sábado, abril 11, 2009

Os Faróis Ligados, Metáfora e Desconforto

Lá ia eu, feliz na estrada. Mas ao parar numa bomba de gasolina, as pessoas olham estranhadas, para o parque de estacionamento. Diacho. Saberão elas da minha célebre inépcia na condução? Virá nos jornais, ali nas prateleiras? 'Indivíduo de Óculos Espalha o Pânico Novamente Com Reinvenção da Lei de Prioridade'? Ou mesmo: 'Escândalo: Polícia Deixa Solto Condutor Que Demorou 30 Minutos Para Estacionar de Lado' (eu disse-lhes que era agora, à próxima, mas a presença deles só aumentava os nervos...).

Mas não. Depois de sair da bomba de gasolina é que eu percebi esta inusitada atenção. Eram os faróis, Zé Júlio! Estavam ligados, home. Méképossível...? É - comigo até é. Mas aquele olhar a criticar o desleixo alheio - o meu, no caso - lembrou-me uma metáfora genial: os faróis ligados na altura errada são a 'berguilha aberta' de um condutor. 'Ehhh... que vergonha! Fecha isso, pá!'. O quê? 'Os faróis, pá! Os faróis! Então levas essa m**** ligada ao meio-dia?! Fecha isso, pá. Hoje não é dia de enevoamento! [risos]'.

É um desleixo juvenil que ninguém gosta de ver. 'Que vergonha!'. A não ser que seja numa estrela de rock excêntrica, que faça disso um 'fashion statement'. Ainda assim, duvido que possa andar com os faróis sempre ligados.

Dor de Cavaleiro Andante

Filante
Dor de cavaleiro andante,
Às vezes quase bastante
Para um copo cheio…
Copo que tenho diante.

Mas não…
Que a dor é ainda um meio,
Filante, em líquido anseio
Pelo concreto fim.

Bebo-a antes que transborde,
Sei o sabor do que pode,
E sigo estrada, rio-me enfim.

Pedro Oliveira

Suave Pergunta

Suave pergunta,
De não querer saber.
Ira que desponta,
Rugido a roer,
Vida que remonta
Entre a placidez,
Vida, vida tonta
Pergunta que afronta
Ainda outra vez.

Pedro Oliveira

quinta-feira, abril 09, 2009

Atrás de Mim Virá Quem Bom de Mim Fará

Às vezes dou comigo a pensar que não simpatizo com Mourinho em tantas coisas. Mas, de repente, há situações em que me torno grande fã, e por isso o tolero - nomeadamente quando é preciso 'dar uma lição' a um Benítez, eventualmente a um Wenger. Aí, sou 100% pró-Mourinho, aí desculpo tudo.

Orgulho Nacional



E, ainda a tempo, os parabéns - mais que merecidos a este Porto que foi a Manchester com toda a categoria, que se impôs e impôs em Old Trafford silêncio e assobios, e que calou um Ferguson deslumbrado, mas sobretudo, um pedante Benítez (podia aquele tipo ser mais irritante, se quisesse?) que aquando do sorteio disse invejar o Manchester, por ser o Porto o adversário que queria, e, naquele seu humor javardinho, perguntou "quem é que tinha feito o sorteio ao Manchester?" [risos...].

Depois de um Sporting que era preferível não ter ido à Champions, e de um Benfica que nem ao menos foi, os parabéns ao Porto. De baixo, a mostrar aos gabarolas como é que as coisas são. Orgulho nacional, sim - com todas as letras. Dito por um sportinguista.

Vazio

Não há vida no vazio.
Um homem vazio
E sem coração,
Não tem mais vida,
Não tem mais senão
Que a sua teoria,
E consolação.

Um homem sem…
Generosidade,
É um homem velho
De qualquer idade,
A quem a morte pediu -
E ele assentiu -
A cumplicidade.

Um homem contido,
Doseia o Diabo,
E a dor nos outros,
Escuta o seu pedido -
Só mais um bocado,
Sem a tentação
De si oferecer,
Sem avaliação,
Sem que o possam ver
Da vida esconder
Sua traição.

Um homem vazio
Só deixa aos demais
Aquilo que não pode
Por arte jamais
Um dia esconder –
A sua lição:
O desenho que é só rascunho
De sobreviver.

Pedro Oliveira

Os Fundamentais 3


Os Fundamentais 2

"(...)
Não existe pecado do lado de baixo do Equador
Vamos fazer um pecado, rasgado, suado a todo vapor
(...)"

da canção "Não existe pecado do lado de baixo do Equador", de Chico Buarque.

terça-feira, abril 07, 2009

Os Fundamentais 1

Demasiadas pressões, correrias, tonterias, e teorias.

Pausa. Paz.

Vamos rever os fundamentais.


No Espaço



Nebulosa em torno do pulsar (definição aqui) B1509-58. Uma mão sideral, um braço cósmico, que tenta agarrar as estrelas.

segunda-feira, abril 06, 2009

Vamo Falar de Mulher

Filho de Ulisses

Desculpa se sei o que queres
Desculpa se não sou quem procuras,
Ou não quero ser,
E podes ser tu quem quiseres
Tentar enquanto o não disseres,
Mas nunca, nunca convencer -
Em ti o deves saber.

Desculpa se procuro algo mais -
Diferente,
Que estou certo de encontrar.
Ah, e tu dirás
Que gente é essa
Com que teimo em sonhar…?

Mas esse sonho tem que existir,
Essa ilha perdida no oceano
E navegarei, sempre a sorrir,
Filho de Ulisses,
Nunca na rota
Do teu engano.

Pedro Oliveira

domingo, abril 05, 2009

Boa Acção do Dia 19

A propósito do Ano Internacional da Astronomia, de que tomei conhecimento nos posts de José Pacheco Pereira no Abrupto, e de uma sugestão, do Edu, acerca de um anúncio muito especial, a vós de reflectirem o quão insignificantes somos realmente, neste mundo. Vale a pena ler e escutar, por ele mesmo lido, todo o texto de Carl Sagan.

E é por tudo isto que eu, tolerante com todas as pessoas, só não tenho paciência para quem não tem o mínimo de humildade na sua existência - ou finge ter. Mas nesse aspecto, basta recordar Einstein: "Two things are infinite: the universe and human stupidity; and I'm not sure about the the universe".


"From this distant vantage point the earth might not seem of any particular interest. But for us it's different.

Consider again at that dot. That's here. That's home. That's us. On it everyone you love, everyone you know, everyone you ever heard of, every human being who ever was, lived out their lives. The aggregate of our joy and suffering, thousands of confident religions, ideologies, and economic doctrines, every hunter and forager, every hero and coward, every creator and destroyer of civilization, every king and peasant, every young couple in love, every mother and father, hopeful child, inventor and explorer, every teacher of morals, every corrupt politician, every "superstar," every "supreme leader," every saint and sinner in the history of our species lived there--on a mote of dust suspended in a sunbeam.

The Earth is a very small stage in a vast cosmic arena. Think of the rivers of blood spilled by all those generals and emperors so that, in glory and triumph, they could become the momentary masters of a fraction of a dot. Think of the endless cruelties visited by the inhabitants of one corner of this pixel on the scarcely distinguishable inhabitants of some other corner, how frequent their misunderstandings, how eager they are to kill one another, how fervent their hatreds.

Our posturings, our imagined self-importance, the delusion that we have some privileged position in the Universe, are challenged by this point of pale light. Our planet is a lonely speck in the great enveloping cosmic dark. In our obscurity, in all this vastness, there is no hint that help will come from elsewhere to save us from ourselves.

The Earth is the only world known so far to harbor life. There is nowhere else, at least in the near future, to which our species could migrate. Visit, yes. Settle, not yet. Like it or not, for the moment the Earth is where we make our stand.

It has been said that astronomy is a humbling and character-building experience. There is perhaps no better demonstration of the folly of human conceits than this distant image of our tiny world. To me, it underscores our responsibility to deal more kindly with one another, and to preserve and cherish the pale blue dot, the only home we've ever known."


É que, para além da nossa - relutante - insignificância... "el tiempo corre muy deprisa".