sexta-feira, outubro 10, 2008

Berlusconi

É certo que o homem tem defeitos. Mas... haveria algum italiano mais qualificado para estar à frente do país nestes momentos que Berlusconi? Se ele não safa a coisa para o lado deles... ninguém safa.

Pergunto-me, pois (já agora) por Portugal... Hum...

Do Investimento

A História ensina-nos, a propósito das bolsas: cada momento de baixa é uma oportunidade de novo investimento. E é justamente para glosar sobre investimento que convoquei para o Generosità Martina Colombari, esposa de Costacurta, que muito lhe gaba o sedere. Eis um juízo que nada tem de especulativo, mesmo com muito insider trading.

terça-feira, outubro 07, 2008

When Push Comes To Shove

É nas alturas de crise - como a que se quer controlar - que se vê como as coisas são na realidade. Que se vêem as verdadeiras cores. Que se vê uma Europa desunida, que não se encontra (por exemplo, veja-se o fundo de salvação comum que foi vetado pela Alemanha). Esta crise pode muito bem ser um ultimato à própria Europa: ou evolui para um modelo mais comum - e as nações têm que o aceitar caladas - ou então, quem sabe, pode bem desagregar-se. Não me espantaria.

SPT

Agora que termina - pelo menos a parte das aulas - do meu curso, vejo, como me dizem os meus colegas, que me recordo de pouquíssimo. Que terei que rever muitíssimo, embora nem saiba precisamente o quê. Está tudo demasiado difuso, pegado a cuspo. Está líquido, em gel - e eu vou ter que o solidificar (se de facto enveredar pela profissão).

Agora, se bem digam que este esquecimento é 'normal', eu mais bem tendo a interpretá-lo como uma espécie de stress pós-traumático. O meu problema, porém, é que o trauma - e o stresse - ainda não acabaram exactamente. Nem me refiro às idiossincrassias da minha universidade - não farei considerações desse género aqui.

Acho somente, que não sou, realmente, talhado para cursos universitários - em geral, em qualquer universidade do país. Porquanto, paradoxalmente, sempre tenha tido uma enorme paixão por temas intelectuais, uma grande curiosidade e um grande prazer em ler e estudar.

Acho que as nossas universidades cerceiam mais que estimulam esse bem precioso que é a criatividade. Por várias razões. Uma das quais, profundamente queirosiana, tem a ver com a relação sempre equívoca entre professores e alunos. Desde o nacional-porreirismo à esquizofrenia intelectual, passando pela avarice intelectual, o pedantismo, a falta de paixão, o comodismo e outras coisas menos sanas.

Este é um país de que Rómulo de Carvalho, seguramente, se envergonharia. A ver se consigo sobreviver - intelectual e paradoxalmente - à minha (des)educação universitária.

Let It Be Envy

Uma coisa que me intriga nos dias de hoje é a frequência com que oiço raparigas elogiarem outras. Quer dizer, mesmo raparigas, normais, digamos, discorrem doutamente sobre outra. Começam por dizer "é muito gira". Mas o estranho é que não ficam por aí: falam do cabelo, de ser magra, dos olhos, etc. É algo desconcertante. É dos poucos casos em que eu espero, sinceramente, estar presente o velho pecado português da inveja.

Get Real

Uma coisa intrigante nesta crise financeira é que, como o jogo se tornou global, e se descontrolou por ser global, os efeitos dramáticos parecem mais globais. Quer dizer, a americanização do mundo, no facto da economia influenciar os destinos das nações, talvez não tenha, realmente, precedentes. A globalização do capitalismo, que o desresponsabiliza - e é a raíz desta crise - fará com que também, os efeitos mais dramáticos da própria crise se sintam da mesma forma por todo o mundo. Quer isto dizer pessoas nervosamente coladas aos números das bolsas, deprimidas, tomando acções extremas talvez. Pensemos assim: onde antes uma percentagem pequena da população vivia nervosamente a bolsa, hoje essa percentagem é muito maior. E, talvez, onde antes uma percentagem grande sofria em termos de economia real, essa percentagem está ainda para ser aferida. É diferente uma crise no princípio do sec. XX de uma no princípio do sec. XXI. Veja-se, por exemplo, o mero pormenor de avanço na produção de alimentos. O problema nem é da economia real, que pode hoje ter um nível como nunca antes. O problema está no liberalismo, e no primado da economia financeira, facilmente internacional, sobre as vertentes da economia real. Não faz qualquer sentido. É como dizer que nunca podemos produzir tão bem como hoje, mas como não podemos gastar tanto quanto deveríamos, o sistema entra em colapso. Ora isto é ilógico, e ridículo - e tem que ser revisto.

O que está visto - e eu sempre suspeitei - é que havia algo estrnanho no ar, quando, há uns meses andavam aí a dizer que havia imensa liquidez a nível mundial, que o mundo estava a crescer a um excelente ritmo. E eu, que sou céptico, não antecipando o espectro temporal para o desenvolvimento de nova actividade económica, nem a antevisão da diversificação cada vez maior da economia - com a população mundial a aumentar - pensei algo estar errado. Mas, caramba, o que é que um farmacêutico sabe de economia?

Treta de Elite

A miséria deste país, realmente, reside noutras coisas. Nomeadamente no facto de não ter elites. Zero. É tão prazenteiro, carnal e egoísta aquele que estudou no melhor colégio e na universidade estrangeira como o que cumpriu o secundário em sofrimento para gastar os dias no bairro de barracas. A culpa não é do segundo - é do primeiro. É raríssimo haverem pessoas à altura (recordo-me, de repente, de Pinto Balsemão). Por isso a cáfila depressiva toma a cena.

Uma Nação

Não posso acompanhar os depressivos apocalípticos, porque penso que são tão somente isso - depressivos. O mundo não está a acabar, mesmo que haja uma crise económica. Filhos-da-mãe. E logo os mais inteligentes.

Em muitos aspectos o mundo está a começar. De idiotas depressivos e bons portugueses acobardados está, realmente, este país cheio. Há gente em depressão tão profunda que só ouví-los dá um baque no coração. É claro que o problema está em ouví-los, realmente, é só isso que eles querem. Faz parte da sua terapia - e eu não lhes darei essa benesse. Se estão doentes, têm que se curar e não infectar com depressão.

Para ajudar a que o mundo comece, mais que acabe, uma inspiração: Luísa Beirão. Portugal é nosso, aprendam isso. O que daí decorre logo se verá. Mas homens que nem sequer se aguentam nas cuecas é que não, se faz favor. Este rectângulo debruado de mar é nosso, nossa uma série de coisas fantásticas. Entre elas mulheres como a Luísa Beirão. Não sejam idiotas, se faz favor.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Liberdade

Perguntam-me porquê esta mania do blog. Responde Miguel Esteves Cardoso, via Pedro Mexia (Estado Civil): "Não há sítios onde escrever, onde fazer merda. Não há. Não há sítios onde desabafar (...) Se não houvesse os blogs estávamos todos tramadíssimos."

Talvez dizê-lo escandalize alguns de vocês: mas um blog é mesmo um espaço de liberdade. Criativa, artística. E isso às vezes, significa tão simples e prosaicamente, um sítio onde fazer merda.

(E remeto para este post).

Filosofar e Jogar à Bola

Eu acho que, se as bolsas entrarem em histerias parvas, vai ser preciso reflectir. Eu digo que era fechar o País, e durante um mês filosofar e jogar à bola, como na escola. É assim que ocorrem as melhores ideias.

Isto não é negação - é mesmo um projecto sério. Porque outro não há, realmente.

Vivaz

Estranho - mas um bom estranho. Vivaz, escorregadia, trocista. Deolinda.


Marinheiro de Água Doce

Ainda na despedida de solteiro, sendo a parte anterior de praxe, e nocturna, a tarde foi muito originalmente passada com um baptismo de vela, no Tejo. Muito agradável. Recomendo. Descobri porque é que os meus antepassados eram agricultores, porém - não teriam jeito nenhum para navegar. Se aquilo não fosse em água doce, eu diria mesmo que sou um péssimo marinheiro. Mas o importante, como em tudo, é saber desenrascar se for preciso.

Almas Nuas

[início]

A propósito de transgressão, ontem fui a um clube de strip.

É - deu-me para isso. Esta solidão urbana dá cabo de um gajo. Estou sozinho em casa, tive que me distrair. Ah... enganei-vos! Antes, fui a uma despedida de solteiro. O que me serve de excelente desculpa...

Há um certo encanto em mulheres desnudadas a dançar num palco. Eu sei - é uma coisa subtil. Mas quem tiver olho, sabe apreciar. E naquele famoso clube lisboeta não faltavam, como casa que se preze, as mulheres nuas - nem os homens desesperados.

[meio]

Mas esse encanto tem um limite, claro. E não estou a falar de uma table dance, pagar e ir embora. Estou a falar de uma certa saturação, depois de ouvir música após música após música de umas senhoras - brasileiras, do leste - que, embora bem torneadas, e muito afoitas na coreografia... parecem acabar por ter uma certa beleza postiça, demasiado igual. É como se todas aquelas luzes azuis e miradas fixas desgastassem a pele.

E, à medida que a emoção inical se desvanece, a coisa fica mais ou menos bem percebida, o olhar deambula pelo espaço. Não é suposto ser assim, claro, e é para isso que tudo está escuro. À minha frente está um velho, um homem velho, toscamente sentado, apesar do fato branco. Tudo nele se concentra no olhar, uma linha recta que faz um ângulo recto com o varão em que ela dança.

A confundir as goemetrias estão as formas curvilíneas dela, subindo e descendo o poste, colando a sua medida voluptuosidade ao metal. Pergunto-me se o olhar dele, visto dela, será tão bem metálico... Ou talvez antes embevecido, não sei. Pergunto-me o que vê um homem daquela idade numa mulher jovem assim, dançando à distância de um copo de whisky? Já não é uma mulher, já não é uma paixão. E já não é só um prazer. É algo mais, uma tentativa de encontrar nela algo perdido em si. É uma tentativa de provar algum daquele esplendor de juventude, voltar atrás. Falar - depois ela irá à mesa dele - com uma mulher jovem. Olhar para os olhos dela, torneá-la com uma conversa. Não ser ávido, ter prazer na própria conversa, a cada segundo.

Não como esses outros idiotas, miúdos, que na mesa de trás soltam suas perspectivas simplórias, pornográficas da vida. Ele gosta daquele próprio acto de falar, devagar. De resto, está em silêncio. Eles partilham e comungam seus desejos - são todos tolamente jovens e lúbricos. Bebem, fazem uma table dance, algo mais ou diferente, e vão-se embora. Ele quer saborear tudo aquilo, toda aquela vida ao seu dispor. Não tem nenhum sítio a que ir, sabe-o bem. Além do fato branco, tem vestidas todas as desilusões da vida - já lhe pagou, já lhe ficou a dever. Não tem nenhum sítio para onde ir.

A seu lado estão dois desportistas. Na verdade, não parecem desportistas. Vestem calças, usam camisas de lúcido padrão, com as mangas não demasiado arregaçadas. E usam óculos. Di-los-ia estudantes de engenharia, por um estereótipo que nem sei bem se será o meu. Mas têm um esforço, um desporto físico no seu olhar. Horas sobre horas, estiveram sentados no mesmo lugar, sem trocar palavra entre si, mas coordenando o olhar. Não era natação sincronizada, mas óculos sincronizados. Olhavam, em conjunto, num rigor impenetrável, profissional, para o palco. Não só para a dançarina do palco. Quando não havia nenhuma a menear seus encantos, eles olhavam fixamente para o palco ainda, num olhar orfão - mas sempre sincronizados. Um deles, levantou-se depois de trocar brevíssimas palavras com uma delas, depois com o seu colega de mirada, e foi com ela, para lá da cortina. Voltou tão composto quanto antes, não olhando para ninguém em seu redor, retomando seu assento e sua função.E eu, embora curioso com aquela inexpressão, diferente dos tolos jovens que o velho desdenhava, não deixava de pensar o quão estranho era assim o prazer individual - em conjunto, e sem emoção, alegria.

Além do palco, do velho, e da dançarina que desce atleticamente o poste, com os olhares dos homens, e seus desejos está um homem ao balcão. Corpulento, de cabelo negro, barba incipiente, ventre dilatado, escondido pela camisa fora das calças, sólido, metido consigo, de olhar desconfiado. Há pouco havia visto um igual. Uma espécie de híbridos do Manuel João Vieira, porque sem ponta de alegria (mesmo a depressiva), e do James Gandolfini. Talvez um Vieira que queira ser um Gandolfini. Que suspeita alguém o possa descodificar, enaquanto sonda a sala. Haveria personagens para um casting dos 'Sopranos' à portuguesa, por aqui. Certamente que os haveria.

[fim]

De tudo isto eu faço piadas para os outros, claro. Sempre gostei de me rir, em qualquer situação. E estava já aborrecido. Embora não estivesse certo que eles se aborreçessem tão cedo quanto eu. Mas chego a perceber isto na minha relação - e certo fascínio - com mulheres: o olhar demasiado, impune, da minha parte, não é algo que eu goste demasiado na mulher que olho. Tenho a convicção de não precisar disso. Gosto de falar com elas, felizmente. Sei que prezo bastante a inteligência feminina. Pergunto-me se muitos daqueles homens que gostam só de olhar assim - impunemente - não vão acabar como aquele velho um dia, tendo mais prazer com a conversa do que com outra coisa qualquer.

domingo, outubro 05, 2008

A Transgressão: Do Virtual ao Vis a Vis

Uma coisa que me chateia um pouco no facto de ter um blog - antes, no facto de um pessoa saber que eu tenho um blog - é justamente limitarem-me o espaço para a transgressão. Quer dizer, como explicar à amiga (é sempre mais complicado com raparigas) cinco estrelas, pessoa impecável, os meandros por onde a alma anda?

'Eu julgava que eras uma excelente pessoa, Pedro. Mas depois vi aquele chorrilho de asneiras,
aquelas interpelações à sexualidade meio pervertidas, e as tuas manias pessoais desconcertantes - como é que podes gostar de água das Pedras? - e a ideia que eu tinha de ti mudou por completo. Ah, e aquilo de eu dizer que eras bem-parecido, mesmo apolíneo? Esquece - era tudo mentira."

Quando o virtual se converte no vis a vis, eu estou sempre lixado. Sempre mesmo. Mas tudo bem, perdido por 100, perdido por 1000. Lá se vai o meu projecto de ter as pessoas a idolatrarem-me fascinadas. Já não dá para as enganar. Humano, demasiado humano.

O Melhor vs. O Mais Forte

Eu tenho uma grande, grande vontade pessoal que Cristiano Ronaldo ganhe o troféu de melhor jogador do mundo. Para matar esse borrego. Para lhe dar a bicleta. Porque acho que ele é o jogador mais trabalhador, esforçado, que mais comeu o pão que o Diabo amassou e seguiu em frente.

Mas... quero também sobretudo para me ver 'livre' de elogiar Ronaldo. Para o recompensar de ter que 'furar' um mundo tão impenetrável sozinho, contra todos, e depois poder ir glorificar os outros jogadores que, na minha opinião, são mais 'artistas', têm um amor pela Arte mais profundo, conquanto tenham menor rendimento futebolístco. Refiro-me a Messi, a Ibrahimovic e a Ronaldinho.

Basta ver o golo que Ibrahimovic marcou ao Bolonha para perceber o que digo. Aquele gajo, simplesmente, recusa-se a marcar golos fáceis! 'É fácil? Então não, não vou marcar, ok?' Ibrahimovic, como Messi, como Ronaldinho recusam o fácil no futebol. Ao contrário de Ronaldo, que açambarca tudo o que pode - o fácil e o difícil. Aqueles três preferem o complexo, o que acham só eles podem fazer, e têm desdém pela normalidade, pelo fácil. Pois bem, meus caros, melhor definição de artista não conheço.

Ronaldo não é um artista nesse sentido, como eles. Ele não procura ser, na verdade, o melhor. Ele procura ser o mais forte. Há uma grande diferença. E é esse, justamente, o meu problema com o Ronaldo: ele não é, para mim, o melhor jogador do mundo. Neste momento, porém, é o mais forte: o mais atlético, completo, e produtivo.

Eis porque muito relutantemente lhe concedo o título do melhor do mundo, senão por reconhecer que lhe foi difícil e que ele trabalha 'como o caraças'. Ah, mas a Arte, meus caros, não é uma questão de trabalho...