sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Shameless (Quando a Cousa Bate Na Idéa)

"Acho que são oito pessoas", disse a minha mãe sobre os amigos estrangeiros de mestrado que a minha irmã trazia a casa para almoçar. Eu tinha combinado ir estudar com amigos para um exame que se avizinhava, e pensei que, por mais curioso que seja (ui...), não viria a casa de propósito para 'cuscar', porquanto goste de expandir horizontes, e travar conhecimento com pessoas de outros países.

"E parece que são todas raparigas", continuou. Foi aí que eu considerei que - talvez - houvesse maneira de passar por casa. Nem que fosse só para vir buscar uma caneta, ou um caderno. Para ver se o canário que eu não tenho teria comida suficiente na gaiola que não existe.

Nisto, vim almoçar a casa, e convidei mesmo um dos colegas de estudo para expandir os seus horizontes intelectuais (a.k.a. 'cuscar desavergonhadamente'). Sendo que a mesa não tinha espaço para mais que oito pessoas, e que, afinal, eles eram amigos da minha irmã, (o 'apartheid' fraterno quanto aos amigos merece um post próprio), decidi que almoçaríamos na cozinha.

Antes, porém, tive oportunidade de falar um bocado com as três norte-americanas, duas portuguesas, um português, um belga, e uma holandesa ("Mãe: então não era só raparigas? Está a ver porque é que eu não acredito em si quando me diz que eu gasto muito telefone?").

Tenho boas experiências das pessoas norte-americanas - e acho que só conheci raparigas - com que já falei. São simples, 'esaygoing', boa-onda. Estas cumpriam com o historial, e falámos um pouco sobre a vinda delas cá e sobre, bom... sobre televisão, visto que as pobres estavam - compreensivelmente - ávidas de um pouco da TV 'all-american', como o canal E!, afortunadamente para elas - por graça dos costumes lusos - subtitulado, e não dobrado.

Chegou a lasanha (para mais, vegetariana - total negação da portugalidade, bem sei; mas uma delas era vegetariana), e fomos cada um para o seu canto almoçar. Ainda apareci algumas vezes, mas era difícil entrar na conversa. Roubei um bocado do bolo de chocolate, bebeu-se café, etc..

Chegou a hora de nos irmos embora, e eu e o meu amigo aparecemos junto da mesa do grupo. Ele já sabe duas coisas sobre mim: que eu, de vez em quando, tenho pouca ou nenhuma lata, e que estava ali com um tópico de conversa a corroer-me, que não houvera tido oportunidade de abordar na primeira conversa. Now or never.

Eis porque, na minha glória, tendo-me despedido, digo ainda: 'Ah... But there's something that I wanted to ask you before we went.' 'Sure', devem ter dito então. 'It's kind of stupid, but since you are american... [Em retrospectiva admitiria que esta não tinha sido a construcção frásica mais brilhante] do you know Lady GaGa?'.

E pronto - 'Zé Júlio strikes again' - tinha que lhes perguntar sobre o CD que eu agora ando a ouvir no carro, sobre a cantora - algo heterodoxa - que tem um pop... estranhamente bom, verdadeiro. 'I mean - for an american - is that good or bad?'.

Que era 'popular', but yes 'electronic' - 'electro-pop'. Nisto o belga - para minha surpresa - começou a falar sobre o 'Poker Face', etc.. Em geral gostavam, embora uma delas não fosse grande entusiasta.

E lá expliquei, que ela tinha trabalhado para outros artistas 'mainstream', que tinha feito o seu percurso 'underground' em Nova Iorque, etc.. 'Oh, did she?'.

Muita fixe. Como é que o 'nerdy brother' da amiga delas, deste país estranho, num almoço suburbano, se mete assim a fazer conversa sobre... música pop? Mas foi, tinha que ser, quando, nas palavras da minha avó, 'a cousa bate na idéa', é assim.

E lá fomos andando. A ouvir Lady GaGa no carro - para gastar a tara toda bem gastadinha mesmo antes de o CD dela chegar cá.

Mais tarde ocorreu-me que poderia - embora achasse que 'we mingled ok' - ter constituído uma certa desilusão, ao falar na Lady GaGa. Então estas pessoas vêm do Novo Mundo, da América, a pensar que a gente aqui, ao som dos sinos de uma velha igreja, lhes falaríamos sobre as duras batalhas medievais, ou a arte de um Camões, de um Pessoa, lhes mostraríamos um mundo cheio de classicismo e virtudes escondidas sob o pó do Tempo... e aparece um indivíduo de óculos a falar da Lady GaGa? Hum... Só me recordava de um post, do Alexandre Soares da Silva, em que ele versava acerca da desilusão que são os europeus, saturados dos mesmos palácios, da aborrecida (pseudo-) perfeição:

"A arte e os palácios oprimem um pouco essa gente – a Europa é um sapato apertado, eles querem ficar descalços e jogar frescobol no Arpoador".

Esta gente do Velho Mundo quer é dançar o samba (mal), fazer barbecues, soltar palavrões americanos. Where's some of that euro-stiff-upper-lip magic?

Mas bom. Como costumava dizer o Ti Anastácio, atrás do seu 'coipo' de tinto: 'Aproveita a vida agora, qués novo. Depois é que é a porra'.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Boa Acção do Dia 9

Operação Sebastião. Favor aceder aqui quem tenha direito a informação classificada.

domingo, fevereiro 08, 2009

Cherry Cherry Boom Boom

'- Já ouviste aquela música?'
[Ar sabidão]: '- Há meses, meu caro. Há meses.'

A música mais primaveril do 'The Fame': 'Eh, Eh (Nothing Else I Can Say)'

Esta Coisa Nossa 1

Fernando Pessoa

Teu canto justo que desdenha as sombras
Limpo de vida viúvo de pessoa
Teu corajoso ousar não ser ninguém
Tua navegação com bússola e sem astros
No mar indefinido
Teu exacto conhecimento impossessivo.

Criaram teu poema arquitectura
E és semelhante a um deus de quatro rostos
E és semelhante a um de deus de muitos nomes
Cariátide de ausência isento de destinos
Invocando a presença já perdida
E dizendo sobre a fuga dos caminhos
Que foste como as ervas não colhidas.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Fenómenos Para Anormais

E pah - o mítico. O sktech do Herman Enciclopédia que me descreveram uma série de vezes, mas que eu nunca houvera ainda visto. O que não me impediu, fã dos X-Files na altura, de rir com os 'Fenómenos Para Anormais'.

Vale sobretudo pela distorção/introdução.



Vai dedicado ao leitor deste blog a quem essas doutas conversas podem ser atribuídas.

A Mú(sic)a Da Década 00

Não, Lily Allen acertou. A lírica de 'The Fear' pode bem figurar nos livros de História para ilustrar - muito concretamente - o espírito predominante na juventude mundial, desencontrada de referências num mundo tecno-saturado e globalizado, na segunda metade da década 00. I don't know what's right and what's real anymore. Porque nada do que é real parece estar certo. O bold nas estrofes é meu.


The Fear

I want to be rich and I want lots of money
I don’t care about clever I don’t care about funny
I want loads of clothes and f***loads of diamonds
I heard people die while they are trying to find them

I’ll take my clothes off and it will be shameless
‘Cuz everyone knows that’s how you get famous
I’ll look at the sun and I’ll look in the mirror
I’m on the right track yeah I’m on to a winner

(Chorus)
I don’t know what’s right and what’s real anymore
I don’t know how I’m meant to feel anymore
When we think it will all become clear
‘Cuz I’m being taken over by The Fear

Life’s about film stars and less about mothers
It’s all about fast cars and passing each other
But it doesn’t matter cause I’m packing plastic
and that’s what makes my life so f***ing fantastic

And I am a weapon of massive consumption
and its not my fault it’s how I’m program to function
I’ll look at the sun and I’ll look in the mirror
I’m on the right track yeah I’m on to a winner

(Chorus)
I don’t know what’s right and what’s real anymore
I don’t know how I’m meant to feel anymore
When we think it will all become clear
‘Cuz I’m being taken over by The Fear

Forget about guns and forget ammunition
Cause I’m killing them all on my own little mission
Now I’m not a saint but I’m not a sinner
Now everything is cool as long as I’m getting thinner

(Chorus)
I don’t know what’s right and what’s real anymore
I don’t know how I’m meant to feel anymore
When we think it will all become clear
‘Cause I’m being taken over by fear.