sábado, setembro 27, 2008

Reading List 6


"Mon Histoire des Femmes", de Michelle Perrot. Esta senhora, historiadora francesa de lastro, escreveu, uma sua história das mulheres. Sua, diz-nos, porque alarga o espectro do estudo - de que é pioneira - para, até, elaborar uma história do género, das relações entre sexos, integrando a masculinidade.

A História que nos é ensinada é sobretudo uma história de homens, feita por homens. Na realidade, porém, toda a História começa nas mulheres, e é, aliás, sustentada pelas mulheres. É a exploração por esse mundo - imenso - do silêncio das mulheres, da sua condição, das suas valências, às suas paixões e conquistas.

Por exemplo, já alguma vez tinham pensado no facto de as mulheres escreverem muito menos memórias do que os homens? Mais facilmente levam consigo as suas vidas do que eles. Não precisam de marcar o mundo tanto quanto os homens - porquanto tenham seus desejos, defeitos, virtudes e ambições.

Não posso deixar de referir alguns pormenores tão interessantes como uma explicação com sentido biológico para o que seria uma "bruxa" medieval, ou mesmo a razão para que alguns termos sexualmente explícitos fossem ditos em latim ao longo dos tempos (sim, esses em que vocês estão a pensar).

Um livro muitíssimo interessante, fundamental para qualquer um - como este vosso blogger - que goste de mulheres. Alguém disse um dia que onde a generosidade é a qualidade mais masculina, onde a feminina é a humanidade. As mulheres, atenção, são tembém diferentes, mas eu sempre apreciei nelas (para além de outros óbvios) a sua humanidade.

Au bonheur des dammes, mes amis! Au bonheur des dammes! Que para outra coisa (espero eu) não andamos cá.

Kilometragem em francês: 230 páginas.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Reading List 5

"Sostiene Pereira", de Antonio Tabucchi. Uma narrativa interessante acerca de como um homem de cultura, no Portugal salazarista, se vê envolvido - malgrado a sua vontade de distância - na política. Tem, sobretudo, uma técnica literária elaborada, bem gizada, criativa. Boa leitura, desde logo, para desenvolver o conhecimento da língua. Daria origem ao filme de 1995 "Afirma Pereira", com Marcelo Mastroianni, de que faz parte o seguinte excerto.



Kilometragem em italiano: 214 páginas.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Ah...Italia...

E daqui, do Generosità, um pedido encarecido ao governo de Berlusconi para tentar ainda mais - e não deixar falir a Alitalia.


A Fuga Das Galinhas

Patrão fora, dia santo na loja. Se o galo não está, as galinhas esvoaçam, furiosas, como se elas fossem donas do pedaço. Andam a destabilizar o equilíbrio todo da capoeira. Quando não há galo, é a fuga das galinhas - para a frente.

E quem se lixa são os franganotes.

Treinador Dona-de-Casa

Alguém me dizia, a propósito de Paulo Bento, ser um excelente 'treinador dona-de-casa'. Isto é, que consegue fazer omoletes quase sem ovos. Mas que, agora que chegou a abundância, e tem a cozinha cheia, não sabe organizar tanta fartura. Há algo de verdade nisto, se virmos como Paulo Bento ainda não percebeu que agora já tem jogadores para deixar grande parte do sistema de rotatividade anterior. Está na hora de ter um onze mais... previsível, e de o ir substituindo. Embora, claro, lhe dê todo o benefício da dúvida, porque o merece. Mas terá que provar, nos próximos tempos, que ele sabe gerir 'vacas magras' sem se deslumbrar e confundir com 'vacas gordas'.

Taxista Voador

Ele há taxistas de Lisboa que pareceriam ter inspirado o mito do 'holandês voador', o navio fantasma condenado a assombrar os oceanos, sem jamais voltar a casa. Estou-me a lembrar de um taxista que vinha assim, a flanar pelas estradas marginais de Lisboa, com este vosso desafortunado blogger, e que eu diria ter um prazer quase insano em cortar assim as estradas, como o 'holandês' as ondas. Mas... pensando bem, até parecia haver ali algo mais de holandês, nomeadamente no que diz respeito a algumas substâncias proibidas... (ele 'voaria', quem sabe, de muitas formas). Por acaso, era também bastante simpático e, de alguma forma que em retrospectiva me espanta, até fomos a falar agradavelmente. Até gostei da viagem.

Está tudo bem - voltei do mar seguro, é o que mais importa.

Esquizofrenia Bizantina

Eu quero lá saber onde são feitos o raio dos Magalhães! Estou-me borrifando! Eu quero é que se discuta se um ensino básico nestes moldes - tão distinto do tradicional, de que sou apologista - vai dar resultados às pessoas. Eu digo que não, que isto é tudo pífio e desnecessário, que estamos, verdadeiramente, a roubar futuro àquelas crianças.

Que se discuta tão apaixonadamente, como no Abrupto do Pacheco Pereira, uma perfeita 'merdazeca' que não interessa para nada, a não ser expor a mentira a um governo que se sabe já mentiroso é, realmente, um sinal dos tempos. Um sinal de esquizofrenia bizantina. Tudo o que é importante, grande, passa ao lado deste miserável, mesquinho e acobardado 'mainstream' de opinião.

Se a seguir a isto vier algum período virtuoso, quem me dera fazer 'fast-forward'...

quarta-feira, setembro 24, 2008

À Espera da Cavalaria

A nossa vida está bombardeada pelo bizarro. Por uma miríade de miséria humana, na televisão, no PC (onde não faltam sites manhosos, chocantes, intrusões obscenas na nossa sensibilidade), por uma série de atropelos a algum... saudável decorrer daquilo que seriam as pessoas normalmente - pensamos nós.

O problema é que, tantas são as bizarrias humanas, que surge a necessidade de as entender, de as explicar. Fica demasiado curta a manta a quem pensar somente "maluco", "pervertido", "assassino", etc. Se tantas são as variações e tanta a miséria humana como a entender? E, sobretudo, como a entender e sair... com a sanidade mental intacta?

Tentamos talvez fazer um qualquer 'upgrade'. Aquilo que considerávamos 'bizarro' antes está num âmbito mais reduzido. Fomos aceitando - talvez demais - certas coisas. Porque não podíamos, por regras de sociabilidade, confrontar as pessoas com isso, porque a sociedade não funciona para as castigar, pelo que seja. Fomos aceitando. De tal forma somos confinados pelo bizarro que estamos em pequenos fortes, vendo os índios lá fora, e estamos amargurados de ter que sair para esse mundo, que já não conhecemos, não sabemos o que andam os outros realmente a fazer, se são desses índios de que nos fala a televisão, se não.

Nós estamos cada vez mais confinados. Eles, os índios, estão à vontade, claro. Aquela terra já era deles antes - conhecem-na bem, não têm medo. Nós, que tínhamos - e temos - princípios, vemo-los aproximar e não sabemos, realmente, qual será a próxima cena do filme. Sem o confessar, pela trivalidade dos dias, desejamos ardentemente que venha aí a cavalaria. Para acabar com a desordem destes índios.

O problema que está por resolver - e que queremos afastar da nossa mente - é que podemos ter que ser nós a fazermo-nos cavalaria. Quem sabe.


You Are Now Leaving 'Dignidade'

Uma pergunta que mormente ecoa nos meus pensamentos diz respeitos aos limites da nossa dignidade. Está visto que nos inserimos numa sociedade onde ela é atropelada por todos os lados, uma sociedade de uma violência mansa, passiva, não-declarada, omissa. Mas que se acumula, que deprime, dia após dia. E que não sai dali.

Desde logo deprime, como sociedade, o facto de o próprio país estar mal. De os outros portugueses poderem estar mal. E de não haver (donde se pede a Manuela Ferreira Leite que começe a fazer o seu acto, a fazer oposição - pelo menos isso) luz ao fundo do túnel. Só mais do mesmo. Nada mais que isso.

Face a esta sociedade violenta para alguns jovens, a sua inserção no mundo laboral - sobretudo - exige uma série de cedências, naquilo que consideramos como certo, correcto, em prol de um bem maior. No caso, a própria sobrevivência, futuro. Leia-se dinheiro, salário. Eu não sou marxista, não falarei de 'prostituição', palavra demasiado forte. Mas o certo é que há jovens que se sujeitam a ambientes de trabalho insalubres, e não digo que sejam explorados, mas são ignorados, instrumentalizados, elementos na engrenagem do cinismo. Há uma noção clara que as coisas não deviam ser assim, mas tudo é aceite. Os silêncios, as omissões, as pequenas e insinuantes crueldades. Às vezes à verdadeiras 'obscenidades por omissão' (acreditem que eu sei do que falo), face a coisas gravíssimas (estou-me a lembrar, por exemplo, da certificação quanto à segurança e integridade física de um jovem) e depois, no dia seguinte, há que sorrir, falar, beber café como se nada fosse. Não - é preciso dizer não. Não se pode ter medo de impôr limites quando eles têm que ser impostos.

A verdadeira questão, no fundo, é a mesma de sempre. A noção subsconsciente de que este é um país pequeno, de que 'what goes arround' pode bem 'come arround', faz com que se calem verdadeiras bestialidades. De novo, eu sei bem daquilo que falo.

Há um pormenor, no entanto, que convém reter para própria protecção. Lembro-me de, há alguns dias, ter ouvido ao treinador do Manchester United, a propósito de não sei que situação, esta frase: 'There's nothing wrong in getting mad for the right reasons'. Se a Justiça (e o esforço sincero) estiver do vosso lado, não hesitem em clamar - contra qualquer opressor que seja. A Justiça é o único motivo que pode justificar todo e qualquer berro. O problema de sempre é ter a certeza de que ela está connosco.

Vida 'By Proxy'

Também conhecido como demasiado PC, e demasiada televisão. Demasiadas vidas dos outros, vitórias dos outros, palavras dos outros. Demasiado consumo de vidas alheias. Parca produtividade pessoal.

É um estilo de vida destes tempos - 'by proxy'.

Contemporaneidades

Desde logo percebi que podiam trazer algo de novo. Animados pela revanche aos Gato Fedorento - e talvez mais genuínos - os Contemporâneos têm já um estilo, vão ganhando um espaço. Ainda sem o um brilhantismo que "fique", têm bastante qualidade, merecem uma menção no Generosità (é uma ambição de carreira para a maior parte dos artistas, como sabem). Não posso, porém, deixar de assinalar sobretudo a qualidade de Nuno Lopes (Bruno Nogueira é também talentoso).

É, contudo, necessário perceber o quão justa, creio eu, é a palavra "revanche" nesta situação: é que o humor deste grupo parece-me menos jovial, mais realista, que o dos Gato Fedorento. Há um Markl que, seguramente, se sente um pouco revoltado por não ter sido apanhado na onda dos Gato Fedorento, e que quer recuperar tempo perdido. E depois há um conjunto de humoristas que, certamente, se rebelam contra a hegemonia eu eucalíptica dos Gato Fedorento nos últimos tempos (que pode estar para acabar) e que querem expressar o seu talento, recorrendo a maior... violência humorística, se necessário.

De qualquer forma, a evolução tem sido espantosa. No último episódio dei comigo a rir como um perdido com alguns dos sketches. Dos disponíveis no YouTube, tomei a liberdade de seleccionar alguns para vocês.






A Tesoura Está Na Mão Deles

"- O que é que dirias a alguém que te chame cobarde?
- Devias ver os tipos que eu deixo cortarem-me o cabelo..."

terça-feira, setembro 23, 2008

Pecado Original 30





A propósito do último post, uma dedicatória à felina Michelle Pfeiffer. Gata, mesmo. Mas a manter o respeito - só com o mero olhar. Não é uma mulher que se deixe enganar... Cuidado às hienas - esta é uma leoa.

Terramoto BCP

Ainda a propósito do livro 'Terramoto BCP', lembrei-me - não sei porquê - desta singela música, como 'soundtrack' de uma explicação - num filme (eis uma sugestão) - da coisa.


segunda-feira, setembro 22, 2008

As Cadeiras Meninas do Papá Tirano (Deixem-nos Só Dar Uma Volta...)

O problema de alguns professores é estarem casados com as suas matérias. Melhor, é terem nas matérias que ensinam filhas dilectas, que querem preservar em toda a sua pureza, dos abandalhados pretendentes - nós, os estudantes.

Nós somos os rapazes que vamos lá a casa (à sala de exame) cantar a canção do bandido, que, por muito bem que cantemos, só queremos mesmo é dar uma voltinha, 'curtir' com ela. Mas não - o pai-professor protege a filha dilecta de todas as pretensões, das luxúrias dos alunos. Se querem 'levar' a filha (o passe à cadeira) têm que casar com ela! Têm que a conhecer de trás para a frente. Saber quais são os seus sabores de gelado preferidos. Saber quantos anos tem a sua cadela. Saber todas as equações, derivações, aplicações.

Mas se nós só queremos dar uma voltinha, fazer a nossa cadeira e ir à vida... Com toda a gente feliz, claro. Temos os nossos mínimos - somos gente decente. Porque vêm estes idiotas pais tiranos assim a reclamar que a filha deles 'não é dessas', dessas cadeiras fáceis, oferecidas sem perguntas rebuscadas e traiçoeiras. Que em vez de distinguirem a vileza do gentil desejo, pretendem secar toda a luxúria, reclamar todos os sacrifícios - exigir desse pretendente a marido quase a santidade!

Que grandes empata-f****! (como diz o povo, sabiamente).