quinta-feira, setembro 06, 2007

Os Meus Prazeres 12

Um intenso prazer que tenho, e nem sempre me lembro dele, é o de tratar com pessoas bem-educadas. Às vezes a baixeza banaliza-se de tal forma que até me esqueço. Positivamente, desfaço-me perante alguém que tenha, mais além da presunçao de inteligência (qualquer mendigo a reclama), uma certa gentileza no trato. Faz-me lembrar o país que eu pensava existir antes, aquilo que os meus pais diziam ser a regra, o correcto. Faz-me lembrar o Portugal do campo, no seu melhor, a sua beleza humana.

Apesar de tudo, nao estou disposto a deixar de tentar a abordagem educada. Nao estou disposto a ser o "otário" desses chico-espertos. Eles, os puros, os autênticos, que gostam de "épater le bourgeois". Ah... eu sei que eles nem falam com os pais em casa, que piam piano. Que eles nao têm sonhos porque nao têm sequer coragem. Que na posse, material, mesmo sobre o outro, procuram afastar a depressao... Por detrás da delinquência está sempre a depressao...

A eles, que nao conhecem mais mundo que o futebol, as motas, ou as "gajas", nao podemos deixar que ditem as regras. Jamais.

As Mulheres

Hoje ao almoço: "E entao a senhora A., ao balcao disse que era professora. B., a seguir a ela, apresentou-se também dizendo que era professora, mas professora universitária. A. nunca admitiu que tinha sido por isso, mas depois foi tirar um mestrado, tornou-se professora num Politécnico e chegou mesmo a gerir o Politécnico."

Judite de Sousa, hoje no questionário-Proust do Jornal de Negócios: "As relaçoes entre mulheres sao muito hobbesianas"... Relembrar somente que Thomas Hobbes é o anti-Rousseau na sua concepçao sobre a natureza humana, que ao contrário da opiniao do francês com seu bom rebelde, seria má na origem. É a sociedade que a faz suportável, mesmo divina, pelo contrato social, (outra vez a chatear Rousseau) da vida em sociedade, minorando assim as consequências negativas de guerras internas. É tudo, diria eu, uma questao de Teoria de Jogos, de somas nao-nulas.

Isto tudo para realçar que, realmente, por mais que nos queixemos da maldade masculina, a crueldade entre mulheres é, na minha opiniao, igualmente clara, embora no modo de guerra fria. E dura muito mais no tempo... Quando os homens já estao casados, discutindo futebol, suas vidas definidas e laços de amizade serôdia criados, elas ainda têm gélidos comentários entre si.

É brilhante, pois, esta frase de Rui Zink, no livro "Luto Pela Felicidade dos Portugueses" que li este Verao (vantagens de ser intelectualmente omnívoro), sobre as mulheres: "É um princípio marxista: o capataz vem sempre da classe explorada, nunca da classe exploradora".

A Abordagem Anti-Ferrero

"- Mas como na boa?
- Simplesmente, na boa.
- Mas porquê? Isso nao é possível.
- Nao é possível porquê?
- Nao é humano. O ser humano precisa de saber, precisa de indagar, enquadrar a realidade que o rodeia. Como podes desprezar tao levianamente a política, por exemplo? Tens que ter alguma noçao, alguma opiniao de sociedade...
- Nope.
- Nao te apoquenta como isso afecta os teus pais, os teus amigos?
- Por agora nao há problema.
- Por agora. E no futuro?
- Deixa-o vir.
- Nao deves conhecer a história da cigarra e da formiga...
- (risos). Nao venhas com os clássicos.
- Como podes viver assim? Nao sabes de futebol, nao sabes de política, nao sabes uma profissao, nao sabes do mundo, nao sabes do aquecimento global, nao sabes de crises financeiras. Nao sabes. Pior, nao tens o mínimo interesse.
- Pois nao.
- O que respondes se alguém te perguntar a tua opiniao sobre algum desses temas?
- Bom, nesse caso tenho que recorrer à minha resposta favorita: a abordagem anti-Ferrero.
- Abordagem quê? Anti-Ferrero??
- É. Olho para a pessoa que me fez a pergunta e digo, muito feliz,: "Tomei a liberdade de cagar nisso"."

Numa Palavra

Fantástico


Muitas outras haveriam é certo, mas fica aqui essencialmente o registo de uma veia tão portuguesa (pouco contemporânea, é certo), de mobilização e espírito de sacrifício e de equipa, quando ele é mais preciso.
Contámos com a ajuda da Croáciá, é certo, mas não posso deixar de frisar o excelente jogo, bem ganho, em todos os aspectos, defesa sólida, ataque por vezes trapalhão (síndrome de quem não frequenta estas paragens, em que a experiência é fulcral), mas essencialmente eficaz.
Destaque para o colectivo, e para mais um maestro, que, ainda que jovem, se pode já juntar à categoria dos talentos, que me tiram do sério, tal é o potencial já demonstrado capaz de deslumbrar os mais cépticos adeptos da modalidade. Falo pois de João Gomes, "Betinho" de quem é conhecida a ainda que breve, experiência, no mundo da liga de Basquetbal Norte Americana.
Proveniente da cantera barreirense, das melhores escolas nacionais a formar basquetebolistas, e acompanhado de uma selecção que convenhamos, não se lhe fica atrás, os Lusitanos, levaram pela primeira vez, o Basquetbal Português a uma posição respeitosa a nível europeu e internacional.

Não havia como não sobressair esta grande vitória do Basquetbal Português, e aqui denuncio provavelmente a minha paixão pela modalidade, como praticante, e interessado nos factos desse mesmo desporto que muitos não entendem, quase nenhuns apoiam, mas os que por entre as dificuldades da sua prática em Portugal vislumbram ainda assim, a sua magia, esses sim entendem, para além da terna satisfação de ver Portugal voar alto, o que se sente com uma notícia destas.

É na adversidade que o mérito toma o seu sabor mais doce, e como nós portugueses, sabemos disso pelos piores motivos, mais vezes do que seria desejável, Parabéns aos corajosos que foram lançados aos grandes tigres mundiais, e saíram da arena de pé.


Vida Longa ao Basquetbal Português.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Do Hábito

Com o advento da luz, da televisao, das estradas, do telemóvel, da Internet, todos estamos mais "linked", mais interligados, mais interdependentes enquanto sociedade. A desvantagem, a meu ver, é a perda de uma certa noçao de tempo. Primeiro do tempo sazonal, exactamente devido a essas mudanças na sociedade (dizem que também devido ao aquecimento global). Depois, do tempo horário, da regularidade biológica para os nossos corpos. As horas a que nos deitamos variam, a que nos levantamos também. A nossa vida tem uma componente de variaçao e entropia muito grande. Ser adulto é nao já uma questao de regularidade, mas antes saber como reagir, no imediato, a uma irregularidade que se apresente. Longe os dias do "deitar cedo e cedo erguer", do tal país paternalista e rural.

Surge entao o hábito como uma espécie de possibilidade de disciplina cronológica das nossas vidas. Quer dizer, a repetiçao litúrgica de um acto, ao ser assimilada pelo inconsciente e tornada intuitiva passa a ser marco cronológico na vida. Assim, por exemplo, se repetirmos muitas vezes o acto de levantar uma hora antes de sair para ler, fá-lo-emos automaticamente dentro de pouco tempo. O hábito surge, antes de mais, da nossa vontade. Algo na religiao e a sua importância na vida das pessoas terá certamente que ver com a noçao de hábito. Rezar antes de dormir, ir ao domingo à Igreja, ou nao trabalhar ao sábado sao hábitos, e os nossos cérebros vao assumir esse marco para a contagem de tempo do inconsciente.

A beleza do hábito é que nos permite delinear projectos de vida. Assim, se nós tivermos o hábito de ler ou estudar, por puro prazer, teremos a vida facilitada. Se tivermos o hábito de fazer desporto, existirao menores probabilidades de desenvolvimento de uma série de patologias. Se tivermos o hábito de pensar um pouco cada dia e permitir espaço para a autocrítica, seremos melhores pessoas no relacionamento com os outros. Como se diz na velha frase "primeiro nós fazemos os nossos hábitos, depois os nossos hábitos fazem-nos a nós". A vida fica muito facilitada pelo desenvolvimento de bons hábitos.

Como um (desconhecido, para mim) escritor escocês Samuel Smiles escreveu:

"Sow an thought, and you reap an act;
Sow an act, and you reap an habit;
Sow a habit and you reap a character;
Sow a character and you reap a destiny."

Eis, pois, como cada qual, na minha opiniao, faz o seu destino - com a vontade e disciplina de manter um hábito.

Os Meus Prazeres 11


Um dia perguntou-se Camus: "Devo matar-me a mim mesmo ou beber uma chávena de café?". Existencialista, pretendia provar somente que tudo na vida é uma questao de escolha. Mas eu gosto de recorrer à frase para evocar o café, justamente, como contraponto de vitalidade e energia, passe a hipérbole.

Quanto nao terá sido escrito e dito já acerca do café?... Ainda mais terá sido escrito e dito por causa do café. A cafeína é, verdadeiramente, um pilar da Civilizaçao. Parece que foram os turcos que, ao deixar os primeiros graos para trás depois das refregas com o Império Austro-Húngaro, permitiram a invençao, no leste, dos cafés (os espaços).

Sugiro, a título de exemplo, esta pequena reflexao de um blogger brasileiro. De facto, o café "configura" o nosso dia. E, de facto, é mais inteligente muitas vezes falar do "café nosso de cada dia" do que do "pao nosso de cada dia", agora que o pao é banal e a fome longínqua. Gosto também da sua crítica, para mim tao óbvia, a quem fuma: beber café sem fumar é compreensível, já fumar sem beber café nao faz sentido nenhum. Isto, porque, acrescento eu, ao fumar a metabolizaçao hepática da cafeína é incrementada. "O café é o senhor da simplicidade que guarda segredos, ao passo que o álcool demonstra além do que somos". Nem mais.


O certo é que para mim, e para muita gente, um bom café faz toda a diferença num dia. Nao basta ser café - nao deve estar curto ou cheio de mais, nao deve estar queimado, a espuma deve aguentar alguns segundos o açucar, deve ser cremosa, nao demasiado escura, nao demasiado clara, etc. E depois, claro, há a qualidade da mistura original (robusta e arábica) que depende da marca, a máquina que tira o expresso (a esse me refiro por "café", o café de balao, por oloroso que possa ser, nao tem qualquer comparaçao), para já nao falar no nível de moagem e no crime hediondo de deixar o café moído (ou o grao) em contacto com o ar.

Pessoalmente, no meu top está a Lavazza, mas uso domesticamente o Sical 5 estrelas, bastante bom, eventualmente Nicola (uma escolha, já o sei, muito pouco consensual, mas reforço que é a terceira, e parca a minha experiência em termos de marcas).

E depois, o prazer do café, para mim, está também no fazer. Desde criança que o faço para os meus pais e adoro. Adoro fazer a moagem correcta, preencher com a quantidade que basta, compactar apenas o suficiente. Apesar de tudo, nem sempre acerto, e a confecçao doméstica é, naturalemente, mais exigente e menos promissora que a das máquinas dos cafés - as melhores, pelo menos. Para mais, tendo embora uma máquina, ainda nao estou convertido ao café da Nespresso, facto que me tem rendido algumas críticas de amigos, fas confessos.


Ah, um bom café... Seguramente no céu, todos vestidos de branco, numa esplanada celeste, bebe-se um expresso divinal, enquanto se tratam os temas terrenos. E o Diabo, nos seus convénios com os malditos, falando de planos inomináveis, também bebe, menos pausadamente e exagerando (tal é a sua natureza), toda a força dessa bebida mágica.

Os Meus Prazeres 10


Um belo alentejano para um almoço condigno: Conventual Reserva 2004 (zona de Portalegre). Porque com alguma acidez e algo alcoólico (14º, ver mençao em post anterior), é fundamental deixá-lo respirar um pouco. Encorpado mas leve no fim, ligeira adstringência e belíssima cor rubi. Um vinho bastante razoável, faz muito bem justiça à excelsa regiao que representa.

A Idade do Meio

Chego à conclusao de que a juventude é a Idade do Meio. Nao só porque, de facto, está entre a infância e a idade adulta, mas também porque, truque de semântica, se concentra no "meio", no processo, mais do que no fim.

O jovem deslumbra-se com o carro e a sua mecânica, nao o trata somente como um meio de transporte. Explora os matizes da conduçao, nao lhe interessa sequer o destino. Pensa na mulher totalmente, em todas as suas dimensoes de pessoa, nao somente a sexual, a de cônjugue (acreditem, ainda sao a maioria - o "player", que banaliza a mulher, virá muito mais tarde). Depara-se com a língua como registo, com as suas intricâncias e tendências, mais do que sente a força viva, a intençao do fundo do ser que está por detrás de cada palavra. Apaixona-se por uma profissao, por mero prazer, mais além da garantia de sobrevivência que ela lhe oferece para o resto da vida. Gosta de futebol, da finta, da beleza indescritível de um pormenor do jogo que nada influi no seu desfecho.

Nenhum exemplo é tao fácil para exprimir essa filiaçao pelo "meio" como a paixao, o "bicho" do computador, da Internet, do livro ou do jornal. Esses sao meios de transmissao por excelência, e quem lhes permanece fiel guarde sempre algo da sua juventude.

É essa paixao do meio que estará também na base de toda a arte juvenil. Porque, como dizia Wilde, a Arte nao tem porque ter objectivo - basta-se a si mesma.

É esta a beleza absoluta da juventude - o deambular diletante. Por mim, tenho como regra desconfiar de jovens que nunca se perderam no "meio", que só pensaram (prematuramente) no fim. Mas, claro está, é só uma opiniao.

terça-feira, setembro 04, 2007

O que me tira fora do sério (1)


Apresentando me ainda ligeiramente febril, receei escrever este post de forma demasiado entusiasmada após o Nacional-Benfica. Aproximadamente 39ºC de puro entusiasmo. Esperei portanto um pouco. Acreditei que o tempo traz o discernimento e a frieza da análise cuidada, mas neste tópico nem isso me vale. Não há cabeça fria que aguente ver Rui Costa a jogar futebol.

E sendo certo que poucas ou nenhumas das palavras que aqui escrevo farão jus a tanto talento, não esconderei, até porque não o conseguiria a admiração pela eterna elegância de um jogador que, ostenta na forma de ser (que se alastra muito além dos terrenos de jogo), características raríssimas para os demais mundos do futebol.
E embora os anos continuem a passar, o Rui Costa não passa com eles, nem ele nem a sua mestria e desmensurada humildade, continuas a jogar futebol, Rui como todos gostaríamos de jogar, sempre a tocar a perfeição, tantas vezes digno de um campo muito acima do dos homens.

Íntegro, educado, não perdeste, mesmo perante certos odiosos Berardos, o discernimento e postura, respondendo às provocações da melhor forma, dando as estaladas como elas se querem: de luva branca. E assim sem delongas, ou dedos a apontar, somente uma tranquilidade e humildade etéreas, que não te deixam entrar em peixeiradas.
Se este não chegasse, mais um caso flagrante haveria, da tua tranquilidade e vontade de apenas jogar à bola, e não criar instabilidades. O da braçadeira de capitão da tua equipa do coração. És o povo Rui, a vontade de Gritar GOLO, presa na garganta de todos os benfiquistas, não queres estar acima de ninguém, embora para mim sejas o único com perfil para tal. E quando assim é tudo é secundário, até uma braçadeira, (que a ti somente te apertaria o braço), que nunca fará de outro, um capitão como tu, que não há patente ou título que lhe faça jus. Há quem lhe chame discrição, eu pessoalmente dou o nome de Educação a essa e outras atitudes.

São exemplos como tu, homem de família dedicado e devoto às tuas causas que ainda me inspiram confiança numa forma de ser português que penso tantas vezes, já perdida.
É certo que não merecias este Benfica, rodeado de ataques pessoais, escândalos, e tão dado ao alardeio, tu que nunca foste de alardear nada optando por uma decente modéstia de amor pelo Benfica.
As previsões não se adivinham as melhores, e sabendo que de forma também muito desgostosa para mim, não foste feliz (em termos de troféus) na casa, onde quanto a mim mais o mereçias: A Selecção, eu e qualquer benfiquista, temos o ónus de acreditar, na tua dedicação e eterno empenho ao serviço da águia.

E em relação às eternas conferências de imprensa e flash interviews em que surge inevitávelmente o portuguesismo crítico de dizer mal da forma mais irracional possível, onde estão patentes as argoladas, os chavões, clichés, as frases feitas do jargão futebolístico, o culpar de outrém pelos erros próprios.

Contigo, Rui não há nada disso, não há a compulsão imediata de querer mudar de canal.
Há encanto, há beleza, honestidade, análise imparcial, e faculdade intelectual, diria que acima da média (contradizendo o eterno estereótipo da incompatibilidade entre o jogador de futebol, e a capacidade de cultivo do intelecto).
E acima de isso tudo, há o menino de 10 anos que não se deslumbrou, e que só quer jogar à bola, sem um traço de preocupação ou interesse no semblante. Chutar e deixar todas as politiquices extra futebol e guerras de bastidores, hoje tão em voga, no lugar onde elas merecem estar.
Fora dos relvados.

A Face Negra de Ser Português

A faceta de ser português que mais assusta, e contra a qual farei tudo, dentro do possível, para resistir, é a do "deixa arder". A do "perdido por 100, perdido por 1000", a do "primeiro estranha-se, depois entranha-se". Muito cuidado, pois. Uma certa sensibilidade é algo que custa a manter.

Os Meus Prazeres 9

Chegar de manha à universidade a ouvir o Sinnerman, da Nina Simone (de que só descobri esta pobre versao).


Para Sempre

A propósito deste e deste post, está na altura de colocar no Generosità a música que, inevitavelmente, um dia tinha que aparecer: Forever Young, na versao dos Youth Group. Como seria bom durarem para sempre aquelas tarde a jogar à bola ao sol, empoeirados.

Se calhar nunca deixamos, verdadeiramente, de viver aí.



Let's dance in style, lets dance for a while
Heaven can wait we're only watching the skies
Hoping for the best but expecting the worst
Are you going to drop the bomb or not?

Let us die young or let us live forever
We don't have the power but we never say never
Sitting in a sandpit, life is a short trip
The music's for the sad men

Can you imagine when this race is won
Turn our golden faces into the sun
Praising our leaders we're getting in tune
The music's played by the mad men

Forever young, I want to be forever young
do you really want to live forever, forever, forever
Forever young, I want to be forever young
do you really want to live forever? Forever young

Some are like water, some are like the heat
Some are a melody and some are the beat
Sooner or later they all will be gone
why don't they stay young

It's so hard to get old without a cause
I don't want to perish like a fleeing horse
Youth's like diamonds in the sun
and diamonds are forever

So many adventures couldn't happen today
So many songs we forgot to play
So many dreams swinging out of the blue
We let them come true

Forever young, I want to be forever young
do you really want to live forever, forever, forever
Forever young, I want to be forever young
do you really want to live forever, forever, forever

Forever young, I want to be forever young
do you really want to live forever, forever?

segunda-feira, setembro 03, 2007

Egrégios Avós

Acho que há muito de ser português que é explicado pelos nossos avós. Pela sua presença ou ausência, pelo seu exemplo de vida. A primeira verdadeira solidao nas nossas vidas vem, exactamente, da perda dos avós. Sao eles que, mais generosamente, nos dao conselhos para a vida, pequenos truques de sobrevivência.

Estamos sempre de bem com os nossos avós, que nos mimam e deseducam; nao temos negociar com eles como com os nossos pais, que sao adultos com os seus interesses próprios. Os avós estao no final das suas vidas: em nós vêm o seu reflexo, e em nada pensam mais do que em nós. Os pais têm ainda muita vida pela frente, e, amando embora os filhos, querem cumprí-la. Os avós sao muitas vezes também a única fonte de uma certa perspectiva histórica, já que somos poucos aqueles com curiosidade por aquilo que precedeu a nossa existência, pelo Portugal antes de nós...

Eu sou dos que dizem que aquilo que somos verdadeiramente como pessoas é definido muito mais cedo que aquilo que cremos. It's surprising how soon the dice are cast... Na infância, os avós terao algum papel nisso. Conhecer os nossos avós é parte de nos conhecermos a nós mesmos.

Vem isto a propósito de uma frase do Prof. Carvalho Rodriques (célebre pelo PoSat, esse mesmo), na televisao, ao programa da Bárbara Guimaraes. Dizia ele entao, nem me recordo a propósito de quê, que um adulto a andar à frente da uma criança é concerteza o pai; quando anda atrás dela - é o avô.

Há uma infinita ternura nessa simples observaçao. Ser avô é mesmo isso - deixar o neto explorar o caminho, montar a bicicleta. O avô só intervem quando ele estiver quase a cair.

domingo, setembro 02, 2007

Ira Urbana

Neste momento, a minha ira número 1, recém-encartado, sao os condutores portugueses. Sao as pessoas que nao têm regras: as de conduçao, as de civilidade, as de bom-senso e, infelizmente também, as de pura sanidade mental. Sao as ultrapassagens agressivas, o perigar desnecessário da vida - das vidas - num mero regresso a casa. Sao as desconsideraçoes, os insultos "uncalled for", a vertigem da rapidez (para onde?) em chegar. Sao os infindáveis pormenores de canalhice automobilizada, em suma.

E eu, que gosto de uma conduçao serena, e para a ter me esforço, perante certos comportamentos fico com ataques de ira pura. Porque também nao estou disposto a partir (já?) para a premissa de que as pessoas sao todas assim, o que evitaria qualquer surpresa desagradável.

Vejo alguns dias estragados no horizonte da minha conduçao urbana, nessas estradas com tao pouca urbanidade... Lá se vai a promessa de eliminar totalmente os palavroes do meu registo linguístico.

Se Doer Já Sabes - É Verdade

O grande problema da juventude, nao sei se da minha geraçao se de todas, é a sensaçao angustiante de finitude. Quer dizer, há o sentimento, claro, de que temos somente a janela de oportunidade de uns parcos anos antes da "canga" da vida laboral. Só agora para nos divertirmos, para desenvolver um talento artístico, para loucuras, para amizades, para conhecimentos a manter durante a vida. Só agora para experimentar vários amores, vários parceiros. Sao tantas as solicitaçoes e as possibilidades... Há a fúria de estar "where it's at", a inveja de se estar a perder algo de fantástico. Lá longe, a jusante (se lá chegarmos, que morrer jovem já deixou de ser um crime incompreensível da sociedade) existem talvez somente chefes detestáveis, colegas desconsiderantes e exploradores, abdicaçao primeiro dos sonhos, quem sabe mais tarde de valores. Sim, esses mesmo. É que a criança que espera por nós em casa nao constrói o seu futuro à base da nossa ética, moralidade e saber-estar.

Pode que este seja somente o drama da classe média, essa entidade abstracta, que todos os países devem criar mas ao mesmo tempo disciplinar. Porque a classe média nao tem que ser especialmente religiosa ou ter muito conhecimento do mundo. Nao tem o desejo intenso de empreender, de evoluir, de criar. Vai vivendo, colecciona experiências e, de vez em quando, acha-se estupefacta com o mundo.

Mas enfim, vamos crer que essa angústia diz respeito a uma grande número de pessoas, senao no mundo, pelo menos em Portugal.

Apesar da pergunta, se será esta dúvida universal a todas as geraçoes, acho também que os nossos tempos, epecificamente, criam muita incerteza. Perante nós falhou a Ciência e a sua promessa de Revoluçao Social. Perante nós falharam todos os sistemas de sociedade idealistas, faltam-nos líderes e falta-nos sonho, e os exemplos (com o aumento do fluxo de informaçao somos cada vez mais processadores biológicos) que vamos conhecendo sao maus de mais para ser verdade... Há alguém cuja vida nós, leitores ávidos da espiolhice dos media, nao digamos: "Sim, ele tem esta postura e até fez isto e isto, mas também era assim ou assado..."? (embora haja algo de unicamente portuguesinho nessa análise do "sim, mas...").

Parece que nao resta grande fé, por estes dias, na espécie humana. Acabamos por considerar os outros hedonistas, oportunistas, falsos, cínicos e calculistas - espertos. Eles espertos, nós burros. E entao surge essa pergunta interior terrível... "Se os outros sao, porque nao ser como eles?". A resposta que cada um dá a esse confronto com o Imediato talvez nos defina para o resto da vida. Mas uma palavra de conselho: a vida é muito mais maratona do que corrida de velocidade. A nobreza está em ser um corredor de resistência, nao um velocista, também nao um resignado. E às vezes, além da travessia do deserto, sós com as nossas convicçoes, quem sabe, estará um mundo novo, um novo ciclo.

Vamos crer que sim e apostar nisso. É que se ele nao vier, entao, como diz um amigo meu, estamos lixados com F grande.

Schhh...

Uma das coisas que salta à vista de um observador atento (nao necessariamente este que vos escreve) é a candura com que os outros partidos tratam o tema do financiamente ilícito da Somague ao PSD, mesmo o ríspido frei Louça. É tao simples, na verdade... todos os demais partidos têm financiamentos ilícitos... ir por aí era criar anticorpos desnecessários. "Sao competências da Procuradoria Geral da República", dirao eles, escusando-se com o jargao do poliquês. Como é bonito ver o pôr-do-sol pelos telhados de vidro da nossa casa...