sábado, março 15, 2008

Histórias de Itália III

Passámos pelas célebres masmorras venezianas, na Ponte dos Suspiros. Ao contrário do que se poderia supor, não é, de todo, romântica a origem desse nome - parece que, sendo a ponte para as Prigioni Nove, os prisioneiros suspiravam por ser a última vez que viam o mundo exterior. Terá sido aí "residente" e conseguido memoravelmente escapar, Giacomo Casanova (essa referência). Olhando as paredes ocres, constatámos que vários visitantes não resistiram a marcar (com pouca arte, diga-se) a sua passagem.


Eis que, entre os registos, encontramos uma referência portuguesa. Nem mais nem menos que o Farinha, de Sacavém. Bem visível o país, que é para os compatriotas em geral, e camaradas do chavascal em particular, identificarem. É certo que remete para 1963, mas gostaria de deixar este pormenor, dos calabouços infames de Veneza, à atenção dos leitores do Generosità sitos em Sacavém (que os há).

É claro que, por camaradagem, os dois bloggers viajantes tiveram que deixar também a sua marca, inocentemente, sem beliscar muito as paredes. A bem da posteridade, dos portugueses vindouros.

Histórias de Itália II

10h, cerca, da noite, na pequena estação de Siena, para apanhar o comboio para Florença. Cansados, depois de ter tido que esperar sob um frio gélido, entrámos finalmente no comboio. Tive que perguntar a um "jovem" initrigante para onde ia aquele comboio. Sempre bom confirmar. Digo intrigante porque não chegava a perceber se o estilo seria a puxar mais para o indiano ou para o cigano. Nem quis saber. Mas o facto de ele ter um pequeno gang com ele, de personagens igualmente intrigantes, não me tranquilizou.

Entrámos na carrugem, para o merecido repouso depois de tantas peripécias diurnas. O frio e o cansaço... Mas ainda não era para ser. Subitamente, entram na carruagem um par de "poliziotti", e pedem-nos os documentos. Totalmente inusitado, "out of the blue". Lá lhe expliquei em italiano que éramos estrangeiros, portugueses, em "vacanze". Disse que sim, mas não ficou muito convencido. Levou os nossos B.I. e esteve a confirmá-los na parte final da carruagem, com o colega, uns bons 10 minutos. Como o confirmou não sei ao certo, haveria um computador, talvez, ou algo menos sofisticado. Ficámos desconfiados com aquela demora. Deram-nos os B.I.s, finalmente, depois de nos termos levantado quando o polícia saiu com eles da carruagem. Tudo em ordem. Mas estavam à espera do quê?

Não... não se metam nisso... Estes portugueses não os apanham vocês. 100% limpos. Vejam lá se apanham os verdadeiros criminosos, que aqui a "Coisa Nossa" continua seguramente.

sexta-feira, março 14, 2008

Histórias de Itália I

Havia que ir à Accademia de Florença visitar o David de Miguel Ângelo. Uma obra-prima, realmente. Por serem proibidas, tive que tirar uma foto furtiva, por detrás do pilar, enquanto a segurança (das que fazem o curso do grito "no photo!" ou "no flash!"), falava com outra pessoa, distraída.


Miguel Ângelo concebeu David com formas intencionalmente desproporcionadas (refiro-me nomeadamente às mãos), exactamente para permitir uma visão mais poderosa, de baixo para cima. Esses pormenores de génio fazem a estátua parecer bem mais alta do que realmente é. O voo da mente, mais uma vez, na mão do artista.

O que é interessante reflectir nesta obra é o facto de ser a antítese da história bíblica, em que Golias era o gigante, derrotado pelo pequeno David. Aquilo que me ocorreu, nessa perspectiva de baixo para cima, foi a ideia de Miguel Ângelo em querer representar a última imagem que teria visto Golias. Eis a ironia captada na história real. Aos pés de David, o gigante no solo vê o seu antes pequeno adversário em formas gigantescas. É um aviso à soberba, à arrogância. Uma espécie de representação excelsa do adágio "quanto maiores são, maior é a queda".

Achei piada a ter tentado entrar, desta forma, nas intenções de Miguel Ângelo. Não tenho a presunção de ser pioneiro nessa observação, mas o certo é que, realmente, não a li em nenhum outro lado. Seguramente, existirá.

Ainda assim, não deixa de ser bela esta ironia de Miguel Ângelo e (e isto, sim, estava escrito algures) um hino à vitória (às vezes são poucas, mas ainda assim existem) da inocência, e da mente, sobre a bruteza. Quando a mente voa, agiganta-se sobre qualquer gigante que exista. Essa é a mensagem da história mítica, e a ironia é captada pela sensibilidade de Miguel Ângelo: afinal, a altura é só uma questão de perspectiva...

A Idade da Culpa

Antes era tudo tão fácil, aqueles escapes à "sacaninha" sempre à mão. Aqueles adiamentos sem pagamento pessoal. Mas depois chega a tal idade, a idade da culpa, por mais que não queiramos. Ganham-se algumas coisas, perdem-se outras, suponho. Mas os actos passam a ser mais contabilizados, e a consciência encontra inevitavelmente uma forma de se manifestar, de nos avisar - e aos outros.

Ah, a culpa. Alguém a dizia uma invenção judaica. Fundamental na vida em sociedade, está visto.

"Welcome..."

Nestes tempos de grande incerteza e de insatisfação pessoal, de falta de dinheiro, e de perspectiva de futuro, parece que, sendo jovens e (talvez) ingénuos, cada vez que entramos num "covil", onde as pessoas trabalham, onde têm suas histórias e contas bem presentes, onde nós desconhecemos todas as linhas invisíveis que eles não ultrapassam entre eles, onde se é novidade, se entra a fresco, parece que, algures numa dimensão parelela, ouvimos claramente "Welcome..." (said the spider to the fly...).

Mas como dizia um grande sábio: "Não se metam nisso... Não têm vida pra isso..."

A SuperVisão

Os nossos pais têm sempre necessidade de produzir, nas suas mentes, uma qualquer teoria daquilo que se passa connosco. Têm as etapas da vida decoradas na sua memória e tentam adivinhar quais são aquelas que estamos a viver. Normal. Às vezes podem mesmo confrontar-nos com essa opinião, uma espécie de "eu sei, eu sei, o que estás a passar. Não te deslumbres com isso que depois são importantes outras coisas". Mesmo que eles próprios se tivessem deslumbrado com isso, malgrado os erros que eles próprios tenham cometido, mais ou menos graves, e que o Tempo comeu.

Esta visão, da sua parte, daquilo que é o nosso desenvolvimento, quando explícita, passa a supervisão. Para o caso de nós pensarmos que andamos a descobrir a pólvora, sem antes ter disparado um cartucho seco.

Mas são tantas as variáveis novas, como o são as verdades sobre aquilo com que lidamos e que guardamos para nós mesmos. A análise dos pais peca sempre por não ter tudo em consideração.

Ficamos sempre divididos, pois é deles a boa-intenção, e estamos em idade em que julgamos mal em causa própria. Embora, na intensidade do momento tudo soe a controle em excesso.

quinta-feira, março 13, 2008

A Era do Vazio

Há alturas em que em torno tudo parece árido ("Welcome to the desert of the real"). Parece não haver gente, juventude - verdadeira juventude (e eu sei ver a diferença). As ruas e os espaços parecem todos esvaziados de vitalidade, de virtude - de futuro. Como se, pior que a incerteza com o presente, fosse a incredulidade num melhor futuro, numa espécie de projecto. Nada de bom pode vir daí, claro. Quando a sociedade só pensa em repartir o que há em vez de criar mais, quando os mais velhos se demitem e os mais novos não se afoitam, nada de bom pode vir daí.

O Pecado do Costume

Desço uma rua do Bairro Alto e deparo-me com um carro estacionado frente a uma casa. Como não sou um "habitué", nem sei se aquilo é comum. À porta estava uma rapariga presa. Estavam a tirar o carro os... bom nem sei bem o nome da profissão. - rebocadores? Vestiam macaco azul, a morrer de chique com o estilo macambúzio. Por acaso conhecia a rapariga - vejam bem a situação. E fiquei a falar um pouco com ela à porta, curiosamente à distância de um eixo de rodas. Sendo estrangeira, falei consigo na sua língua natal. E falei também com os rebocadores (na nossa), ofereci-lhes a minha ajuda. Já que estava ali, e esperava para cumprimentar a minha amiga, não via porque não me fazer útil (não tenho talento para ser senhoril). E sinceramente, claro, não era um "pronto, eu ofereci-me mas os senhores não querem, não é verdade? Eu tentei". Já tenho feito trabalhos mais árduos. Nem me responderam. Nem um indício de continuar a conversa. Enfim, um estilo que, em bom nortenho se diz "morcão". Infelizmente, eu suspeito que a questão seja somente a mais típica. Mas porquê ter inveja de eu estar para ali a falar noutra língua? Ou não o devia fazer "em solo nacional"? Se eu gosto e acho que isso me enriquece? Limpem essas cabeças, reboquem a parvoíce convosco. Se querem invejar, invejem o que vale a pena.

Somos um povo com grandes qualidades, é certo. Mas somos humanos, e temos a face negra que decorre dessa natureza. Agora, eu continuo a achar que não há direito de, quem aja de boa-fé, ser subrepticiamente condenado. Talvez o problema seja o de pensarem que quem utiliza cultura faz necessariamente "show-off". Talvez não dê para ver a diferença. Nesse caso, a crítica deles é justamente a quem, sabendo das regras, anda a induzir, criminosa e vaidosamente, inveja.

Maldito pecado.

terça-feira, março 11, 2008

A minha Itália 2

Veneza na hora de ponta.


A minha Itália 1

São Marcos. Oito da manhã. O despertar de uma das praças mais conhecidas do mundo.



Veneza. Iremos no futuro de Norte para Sul.

PS: Para ver as fotos em todo o seu esplendor, é favor clicar sobre a imagem.

A minha Itália

Como já anteriormente disse, nos próximos tempos vou deixando as minhas memórias de Itália.
Serve de contraste com a recente viagem realizada pelos meus companheiros de blogue. Com 6 anos de diferença a Bella Itália permanece intemporal. Talvez a maior diferença se resuma às estações do ano, agora no Inverno 6 anos atrás na azáfama do Verão.


Entre o passeio de gôndola e os afazeres de um dia de manhã.

Shot 13

E não é que até o Pacheco Pereira já colocou fotos da viagem no abrupto?!

segunda-feira, março 10, 2008

Intermezzo

Findo o tema nas fotos falta fazer a selecção por entre as centenas, quais aquelas que merecem estar no Generosità. E falta toda a descrição perdida em notas. Logo verei quanto mais do que tenho escrito pode ser incluído no Generosità.

Com os últimos posts encerro momentaneamente o assunto viagem a Itália. Há bastante trabalho a fazer esta semana. Altura de ir tocar o intermezzo.

Fiquem vocês com Brahms, pelas mãos de um virtuoso.



Ciao.

Inspiração

Dou comigo a pensar que o poema anterior, no meu registo, releva acima da média. E dou comigo a sorrir - não é por acaso.

Picasso dizia que não sabia o que era essa coisa de inspiração - mas que quando viesse o apanharia a trabalhar. Como eu não sou o melhor trabalhador, reconheço definitivamente a benção de uma inspiração.

A Primeira Questão e A Problemática da "Pochette"

Não me esqueci da primeiríssima questão acerca da viagem a Itália. Vá, digam lá que não é... Mesmo que não seja a primeira, como está lá sempre, vem logo a seguir ao "Então? Gostaram?".

Sim, as italianas correspondem ao mito. Para mim até superam o mito. E digo isto sem qualquer tipo de provincianismo - as portuguesas, se quiserem (somos um povo de "se quiserem"), dão-lhes luta. A beleza italiana está muito mais padronizada, a quantidade é maior (eles são 60 milhões...) e é suprema, quase que concebida para "encher o olho". É como se a beleza italiana fosse (ou devesse ser) resultado de cuidado absoluto, onde a beleza portuguesa é (ou deve ser) natural... Aliás, Itália é um país em que o sentidos dominantes são, claramente, os da visão e do tacto. Não é tanto assim para o nosso país.

O "sguardo" aqui é a arma fundamental (e espanta o à vontade com que os italianos nos perscrutam com o olhar). Elas adoram que falemos (bom) italiano (eles nem por isso, mas com os taxistas fui a falar todo o caminho, desde e até Malpensa), são admiravelmente hospitaleiras, em geral, e exemplarmente afáveis. Não há uma única mulher italiana a quem um "grazie" não seja seguido de um "prego". De uma educação irrepreensível e desarmante.

Quanto aos homens, há-os mais velhos de uma candura e cavalheirismo notáveis. Já os de meia idade (40s, 50s), quando interpelados, podem ser simpáticos ou hostis - não se sabe bem o que sai dali. Os mais novos (até aos 35s), bom... digamos que não é fácil encontrar um italiano "normal" (leia-se remotamente parecido a um português). Há gente bem parecida, elegante, seguindo suavemente com a parceira, mas parecendo pouco à vontade. Há jovens, desde cedo (secundário), muito "metro", e irritantes. E uma fauna onde sobressaem carecas, e fãs de sapatos castanhos claros, estranhamente perturbadores. Só em Florença dei de caras com alguns jovens que podiam passar por portugueses (a viagem, devo dizer, concentrou-se no Norte e Centro). E depois, há a quota parte da chamada "bicheza" (é o povo que diz, não sou eu). Particularmente em Milão, nestas alturas de pouco emprego, há um português que, no seu mester, não teria mãos a medir (como apontou o Edu sabiamente):



É preciso exportar o negócio, portanto.

Há algo de muito interessante na coincidência de tanta feminilidade desarmante e este percentual de clientes do Fernando (todo um outro post). Não admira, portanto, que tenhamos chegado à conclusão de que elas gostam de portugueses - de alguns, pelo menos.

São mais "go and get girls" que as portuguesas, isso é certo. Estavam estes dois alegres bloggers, na sua serenidade lusitana, percorrendo as ruas de Florença, já perto da uma da manhã, quando são interpelados por duas italianas. Vindas de trás, haviam reparado nas nossas (inteiramente masculinas) malas a tiracolo (para guias, máquinas, carteira). Mas não nos perceberam turistas por causa disso, ou não o quis a sua disposição festiva. "Ragazzi, avete delle pochette?", perguntaram pela primeira vez, e eu nem sabia que era para nós (não notou o Edu a interpelação). "Ragazzi, avete delle pochette?" (e como soava divinal, com o típico acento final, o "pochette"), outra vez, passando por nós, sorrindo, apercebendo-se naquele segundo que talvez não fôssemos italianos, e nós de quão simpática era aquela troça. "Ó diacho..." - estavam a falar connosco...

E uma conversa, uma interpelação com uma italiana quase nem é só uma conversa, passa a ser uma espécie de bailado, de encantamento momentâneo, qualquer que seja a trivialidade. Se formos fluentes, claro. A beleza da coisa, é que não é só da nossa parte. Elas gostam genuinamente de "chiaccherare" - vale a pena aprender a língua só por isso.

Em suma, não esteve brilhante o panorama masculino, e bem se queixaram as nossas colegas. Já o feminino, coincidem estes vossos cronistas: imaculado.

Variações de Um Tema 8

Fachada da Basilica di San Marco (Piazza San Marco) Veneza

Variações de Um Tema 7

Claustro do Palazzo Ducale (Piazzetta di San Marco), Veneza

Variações de Um Tema 6

Vista do Palazzo Vecchio (Piazza della Signora) e do Duomo de Florença a partir da Uffizi

Variações de Um Tema 5

Piazza Salimbeni, Siena

Variações de Um Tema 4

Duomo de Siena, perspectiva exterior lateral

Viaggio in Italia

São bem-vindas as impressões do PGuerra de Itália, claro. O bem bom quando nasce é para todos. Siamo tutti tiffosi.

Venha mais Itália, até porque desta viagem eu tiro não uma satisfação, não um fim, mas um feitiço, um começo.

Shot 12

Zapatero lá ganhou como prognosticara. Convenhamos que o prognóstico não era dificil.

PS: Com tanta foto de viagem no blog, não posso deixar de sentir uma certa inveja e nostalgia. Eles no bem bom e eu em Lisboa... Que saudades de Itália, há uns 6 anos atrás percorri todo país de norte a sul, mais de 10 cidades, tantas recordações. Se bem me lembro na altura fiz um CD de fotos digitalizadas, se o tempo me permitir, se encontrar o dito CD, e se não aparecer eu ou alguém da minha familia nas fotos (o que será dificil), brevemente postarei também aqui as minhas memórias fotográficas de Itália. No limite, poderei deixar aqui o meu testemunho escrito, que Itália tem muito para contar.

Variações de um Tema 3

Pormenor da Piazza del Duomo, Siena

Ó Diacho...

O registo fotográfico está seriamente comprometido, acabo por concluir. Parece que tirei as fotos quase todas em "macro", sem de tal me aperceber. Muito menor qualidade. Mas, enfim, serve o fundamental, e quem sabe seja possível algum tipo de conversão. A ver vamos. Apresentá-las-ei assim mesmo, porém, malgrado o tempo que demoram a carregar.

Variações de um Tema 2

Pormenor do Duomo de Siena

Variações de Um Tema 1

Entrada da Igreja de Santa Maria delle Grazie, em cujo convento dominicano se encontra o cenáculo vinciano

domingo, março 09, 2008

Fotossensibilidades

Das fotos que trouxémos escolherei apenas as melhores, e publicáveis, para o Generosità. Faltou melhor domínio da máquina digital, a divisão de tarefas por provar ser benéfica. Das centenas de fotos que trouxe, haverá tantas que denunciam o amadorismo - na mesma medida que a paixão pela imagem.

Florença: feira local, a caminho do Duomo

Mas a propósito de fotos, antes de entrar na parte monumental, tipicamente de viagem a Itália, let's go thematic. Já vão ver o que quero dizer.

E Um Agradecimento Especial...

... às nossas colegas, que foram insuperáveis na sua simpatia, companheirismo, flexibilidade, e, claro, paciência, para dois atrasados e distraídos crónicos. Davvero.

Acrescento somente uma apresentação das regras com que fazemos este blog. Aqui.