sexta-feira, agosto 01, 2008

Água em Marte

Uma notícia que me recordo de ser várias vezes repetida é a da água em Marte. Parece que há água em Marte, há gelo em Marte, há grande probabilidade, etc. Várias vezes julgo até ter ouvido a notícia literal: 'há água em Marte'.

Espero que desta seja de vez.

quinta-feira, julho 31, 2008

You Got Women On Your Mind IV

Alguém faz o favor de desligar, uma vez por todas, esta música? Muito obrigado.

Pede o Desejo, Dama, Que Vos Veja

Pede o desejo, Dama, que vos veja:

Não entende o que pede; está enganado.

É este amor tão fino e tão delgado,

Que quem o tem não sabe o que deseja.

Não há cousa, a qual natural seja,

Que não queira perpétuo o seu estado.

Não quer logo o desejo o desejado,

Só por que nunca falte onde sobeja.

Mas este puro afecto em mim se dana:

Que, como a grave pedra tem por arte

O centro desejar da natureza,

Assim meu pensamento, pela parte

Que vai tomar de mim, terrestre e humana,

Foi, Senhora, pedir esta baixeza.


Luís de Camões (1524-1580)

Próxima Estação: Ilha dos Amores, Bairro de Tétis

Há aqui um fenómeno do Entroncamento que eu não sei bem explicar. Como é que as miúdas giras/mulheres atraentes saem todas na estação do Lumiar, menos na da Quinta das Conchas? Quer dizer, que apelo feminino tem aquela zona de Lisboa para ali se concentrarem? Será os 'croissants' do "Trenó"? É ver os poucos rapazes que resistem por Agosto, desconfortáveis, lá dentro deles saltando e gritando: 'Hei! Estou aqui! Estou aqui'. Ridículos.

Espera... ou então isso é só meu reflexo no vidro da carruagem.

O Preço do Petróleo (E da Vida?)

Reparem como, de repente, o aumento do preço dos combustíveis é a justificação perfeita para tudo, ou quase tudo em sociedade.

A economia não cresce por causa do preço do pretóleo, a bolsa desce por cuasa do preço do petróleo, a TAP tem prejuízos enormes por causa do preço do petróleo, que não pela 'rasquice' da sua gestão (ver aqui), os camionistas fazem greve por causa do preço do petróleo, as pessoas vão a Espanha por causa do preço do petróleo, anda tudo infeliz por causa do preço do petróleo, o Moutinho vai para o Everton por causa do preço do petróleo (ele não o consegue pagar, coitado), e aquela chapada que eu dei ao outro otário, bom... estava stressado por causa do preço do petróleo.

Se eu fosse desses, e tivesse namorada, era uma boa altura para cometer uma traição conjugal. 'Desculpa, sabes como é, isto do preço do petróleo.. andava a mexer com a minha cabeça'.

E se, de repente, tivéssemos aí um período de petróleo baratíssimo, por acharmos uma jazida enorme no Saara? Como é que a gente se justificaria então? 'Eh pah, já viste o preço dos coiratos? Quem é que aguenta isto? Ainda no outro dia fui abastacer a pança e mais a de dois amigos e tudo custou-me €20. Um escândalo. Quem é que aguenta isto?'.

Party

E se o Presidente da República, na declaração que vai hoje, surpreendentemente, fazer ao País, falasse da emancipação do 'Movimento Mérito e Sociedade', recentemente constituído como novo partido político ('party' em inglês), e desse conselhos para as folias lusitanas de Agosto num só discurso? Como seria essa declaração?


Wake Me Up When September Begins

Trabalhar em Agosto na cidade tem algo de bipolar no tratamento que temos dos outros - e, que, também, lhes dispensamos. Em Agosto, as pessoas estão todas contentes porque há calor. O calor traz mais facilmente o perdão, a felicidade miúda. Mas, por vezes, em Agosto, as pessoas apercebem-se subitamente de que não estão a viver as vidas paradisíacas que deviam algures. E ficam chateadas com isso. E ao calor, esse ressentimento gera ira, numa resposta, num tom, numa omissão.

É assim Agosto. Remodelando a frase dos Green Day: 'Wake me up when September begins'.


I Wanna Be a Bar Man

E é como se a Bar Rafaeli dissesse: 'O quê? Mas estás a fazer estágio em Agosto? Não me gozes...', e se risse, se risse infidavelmente, com toda a sua desinquieta energia.



Ingratidão

Repassando o anterior post, percebo porque muitas vezes acabo por limitar alguns actos pessoais de liberdade: por ser acusado de ingratidão. Mas... realmente, a partir de onde somos realmente livres? O que demos, o que devemos? A quem? Eis uma pergunta de que amiúde me lembro.

O que, claro, está em nada justifica ou desculpa Moutinho e Barroso - situações de ingratidão grosseira.

Moutinho/Barroso F.C.

A situação de Moutinho no Sporting lembra-me bastante a de Durão Barroso, quando saiu para a União Europeia. Em ambos os casos há uma justificação qualquer, que não o próprio egoísmo (as dificuldades financeiras de Moutinho, a importância para Portugal de um Presidente da Comisão Europeia português), que não a verdade também de que preferem ser príncipes - ou lacaios - lá fora, a serem reis no seu país, o que é um elemento importante de análise.

A ambos voto o mesmo castigo: o da memória. Da mesma forma que acho inaceitável que o capitão e, recentemente, a cara de todo o marketing do Sporting, se vá assim - porque quer - achei inaceitável que Durão Barroso deixasse o país como se nada fosse, como se não tivesse responsabilidades maiores que qualquer putativa influência portuguesa algures na burocrática Europa. Se for, eu não desculpo Moutinho. Da mesma forma que não votarei em Barroso. Vale de pouco ou nada? Vale o que vale. Todas as coisas consideradas, ficar com €20 milhões por um trinco e dispensar um primeiro-ministro até então de qualidade média não é incontornável. Se dá pena? Dá. A ingratidão é feia. Mas ninguém morre por causa disso.

quarta-feira, julho 30, 2008

A Doença do Beijo

Por acaso, e ainda a propósito do beijinho, reiterar que, porquanto critique as senhoras com tanto creme facial, e a obrigação do 'beijinho', nem assim me furto a ele. Mas isso não me impede de escrever as minhas revoltas no blog.

De qualquer forma, é bem verdade que eu sou algo socialmente disfuncional no teatro do beijinho. Perco-me, não raras vezes. Não há regras definidas. Por exemplo, se chegamos a um grupo de várias raparigas, cumprimentamos sempre todas, ou um 'olá' basta? É que aquilo dá muito trabalhinho, meus amigos. Tal como uma rapariga a vários rapazes.

Depois esta coisa da função social do beijinho sempre me intrigou. É claro que é aglutinante, reconfortante, e isso é bom. Mas, por exemplo, em Itália, as pessoas cumprimentam-se com aperto de mão numa primeira fase, e só depois evoluem para o beijo, quando há um maior conhecimento. Convenhamos que, por cá, nós dispensamos logo a beijoca a quem nunca vimos na vida.

É que o beijo, queiramos ou não, tem sempre uma ínfima partícula de intimidade, de contacto. Eu nunca quis beijar raparigas ou mulheres quando estava suado (o que, quem me conhece sabe acontecer facilmente) por achar que isso era desagradável para elas. Honestamente. E sempre me parecia que alguns 'pseudo-garanhões' se aproveitavam desse mecanismo social para se aproximarem de uma rapariga, que lhes dava distância. Assim que, por um qualquer acaso, a barreira do beijo estivesse conseguida, ela estava fisgada.

Não me digam que nunca notaram nisso. Atentem nessas miúdas 'difíceis', Ice Queens, estudantes da Católica, com uma mirada de desprezo ainda nem dissemos nada. Vencida a barreira do 'beijinho' o patamar é totalmente diferente...

O que, também interessante, nos leva a discutir a importância da sorte nas relações afectivas (um tema para uma série de longos posts...). O que é que um gajo faz com mérito para subir ao patamar 'pós-1ª beijoca'? Zero, muitas vezes. Conhecia um amigo ou amiga dela. A 1ª beijoca é a via para o conhecimento - e nestes casos, sem conhecimento prévio não há absolutamente nada.

Eis uma sociedade que cria um mecanimo agridoce, que tanto serve o objectivo individual como o gregarismo. É como uma doença, esta coisa. É a nossa mononucleose social, a nossa 'doença do beijo'.

As Quatro Garantias

Pergunto-me se o post anterior, se bem que jocoso, poderá ser interpretado como cruel. Afinal, já se sabe que há quatro coisas que em Portugal é desumano negar a quem quer que seja: um copo de água, um café, a capacidade para sentir inveja e, claro, um beijinho.

Repelente de Beijos

O que eu, nas minhas incursões filosóficas, nunca consegui perceber, é o creme facial. Quer dizer, porque é que algumas mulheres mais velhas insistem, mesmo ao calor abrasador, em usar creme facial nauseabundo, mais nauseabundo e enjoativo ao calor? E as que o fazem nunca são meigas: há uma camada gordurosa que reluz e se distingue todo o dia. Se o aroma não me convence - de todo - a estética e o propósito da coisa passam-me totalmente ao lado. Só me lembro da anedota do meu colega de infância (usar sotaque alentejano):

'- Maria, porque é que estás a pintar os beiços?
- Para ficar mais bonita, home!
- Então porque é nã ficas?'

A sério, a algumas mulheres - e isso também é um facto intrigante - parece escapar a enorme beleza feminina que está no natural. E não lhes dá chatice nenhuma...

Mas voltando ao creme, deixo aqui uma exortação às mulheres mais velhas que gostam de reflectir os outros na bochecha de tanto creme mal-cheiroso que aplicam: não me obriguem a cumprimentar-vos com beijocas. Tal como eu não beijo ninguém se estou suado, para não ser 'pesado', vamos combinar avisarem-me, ok?: 'Hoje não, Pedro. Deixa estar. Hoje tenho o meu repelente de beijos [risos]". E pronto.

Bulimia de Viajante

Olhando para o padrão de viagens, de vivência das viagens da geração da minha irmã, percebo como circulam por tantos lugares do planeta gente jovem, dormindo nos buracos melhores ou piores que arranjam, para satisfazer um desejo feérico, que passa por, conhecendo alguns locais, passear, ver, ouvir, rir, sair à noite e dormir. São os trota-mundos 'desenrrasca'. Vivem dos mesmo elementos: PC, TV, amigos, inglês melhor ou pior, Easyjet, descontos, telemóveis. E fazem muito mais viagens - nunca a quantidade de locais per capita na história pessoal foi tão grande.

Reparem como é um padrão de viagem todo ele diferente do que acontecia há alguns anos, ainda não algumas décadas. Esta gente adquiriu desde cedo como que um vício de velocidade e "amassment" de locais visitados, daquilo a que eu chamo de 'bulimia de viajante'. Quer dizer, nenhum deles, escravo dos mesmos exactos elementos que compõem a sua vida em casa, saboreia outro país. Nenhum respira, se pergunta, pega nos elementos de outra língua, de outra cultura, de outra geografia. Não há paisagem - só imagem. Viajar para eles é ter imagens diferentes.

E ninguém saboreia. Todos comem à pressa com medo que se acabe, e com medo de não ter espaço para comer mais. Todos se passeiam tendo por base as mesmas urbanas regras (como se tudo fosse, no fundo, urbe), com os mesmos óculos de sol, os mesmos esquemas através da página de Internet, do contacto no telemóvel, com o mesmo espírito ardente de viver 'a noite' de outro país, seja pela experiência em si, seja pela exploração deles mesmos fora de portas - e, sim, entenda-se da vertente relacional, ou, mais frequentemente, puramente sexual. Ninguém o admitirá - mas é isso mesmo que se passa. Vão à procura de histórias para contar, amigos/contactos para manter no estrangeiro, dinheiro a gastar o menos possível, e, claro, de 'get some tonight'. O dormir, se possível, no dia seguinte. Senão, que se lixe - 'awake is the new sleep'.

Eu provavelmente não teria nada contra esse estilo - e sobretudo nada tenho em contra da procura de novos amores, ou calores. Mas nunca concordarei que não há quase como que uma espécie de desespero parvo, de espírito de manada, de falta de paciência para cultivar outras valências, outras velocidades por detrás de tudo aquilo. Só ninguém me convencerá que não há nesses viajantes basculantes muita - muita - falta de personalidade. É como um registo, não de fim de século, mas de princípio, a fazer lembrar os anos velozes do ante-guerra mundial, mas espalhado por toda a Europa (espero com toda a convicção que a semelhança seja unicamente superficial).

Dinheiro, sexo, contactos. A isso é reduzida a vida em todo o lado. E parece que as pessoas andam a aprendê-lo cedo demais.

Globalized

A minha irmã, tendo feito Erasmus em Itália, achou por bem dividir o quarto com uma turca e uma irlandesa. Todo a favor. Uma mistura de latitudes e religiões algo exótica, mas todo a favor.

Acontece que a rapariga turca veio justamente visitá-la por estes dias estivais. Miúda encantadora, muito simpática e educada. O seu pai, aquando da visita da minha irmã à sua casa, algures na Anatólia, segundo percebo, enviou-me, através dela, uma camisola do Galatasaray.

Como pessoa cortês que sou, decidi enviar ao senhor, agora que a filha passava por cá, uma camisola do mais representativo clube lusitano - refiro-me ao Sporting. Parece que houve um Jardel que jogava aí antes de ir rapar o cabelo para o Galatasaray.

Ficou muito agradecida, a rapariga. Que o pai ia adorar. Não tem de quê. Sempre a fazer pela glória hospitaleira do meu povo.

Não resisti, contudo, a indicar-lhe um pormenor que fazia toda a diferença, e que tornava aquele um presente 'not without a sense of irony': no interior da camisola aí estava: 'Made in Turkey'. Vejam, pois, como a camisola teve que viajar pelo Mediterrâneo até beijar o Atlântico, só para regressar novamente à origem. É este o mundo em que vivemos.

Caras-Metade

É estranho pensar como a natureza das relações é importante para o nosso bem-estar pessoal, e para a nossa serenidade.

É por isso, suponho, que se eu fosse religioso, e a minha primeira oração fosse a de uma namorada para mim, a segunda seria, certamente, a de um namorado para a minha irmã.

Não - por cá não mora nenhum Gonçalo Mendes Ramires, pelo contrário. Ia ser um descanso (como eu, emparelhado, o seria para ela) - é a minha convicção.

Gostava de saber o que é que dirias a isso, Eça.

terça-feira, julho 29, 2008

Incha... Desincha e Passa

Pergunto-me se alguma vez na História da Humanidade terá havido tanta disparidade entre a atracção, o apelo ao sexo, e o acto propriamente dito. Não deve ter havido nunca tanta gente a estalar de sensualidade (eu arrisco dizer que as miúdas da minha adolescência não eram como as de agora... se não parecesse bota-de-elástico em vez de discernimento analítico). Mas... parece que tudo se fica por aí. Acreditem - não é só por experiência própria que o digo...

Há aqui uma decaláge muito interessante. A riqueza e o bem-estar, a Saúde generalizada, trouxeram uma classe média que se pode perfeitamente perder em ligações mais ou menos perigosas. Mas acabo por constatar que entre a promessa, o quase tão perto que nem parece real, e o real propriamente dito, vai uma distância enorme, e essa é a verdade. Pergunto-me se devido a uma espécie de sucessiva desilusão, de desapontamento com o real face ao onírico. Não sei.

Mas tudo bem. É o Verão. Como dizem as velhotas de aldeia, a época em que tudo 'incha, desincha e passa'.

Os Impostos Atraem-se

Penso em ir de carro ao Algarve. Preciso de abastecer o carro, pagando ISP, IVA e IVA sobre ISP. Depois, seguir pela auto-estrada. Mais €20 de portagem para cada lado. Dou comigo a pensar quanto dinheiro tenho que levar para umas refeições, que teria que comprar. Antes, 2000$00 era um almoço já a fugir para o caro, hoje €10 quase não dá para um. E temos um IVA de 20%, só para não haver dúvidas que se gasta dinheiro à séria.

E eu, que sempre fui um nefelibata, um contemplativo, e distraído, dou comigo a ir ao supermercado e a perceber que, realmente, com €20 não se compra quase nada. Isto não pode acabar bem...

Mas mesmo que o petróleo não estivesse a tocar máximos, uma crise podre de longa, e uma inflação mal percebida, os impostos tiram-nos demasiado dinheiro. É como se, obscenamente, não tivessem mesericórdia pelo aumento do custo de vida. É como se não bastasse levar o mesmo que antes - têm que levar mais. Parece que não há vedar a este vício de cobrar pelo Estado. E, pensando comigo, acabo a formular mais uma lei para a vida: 'Os Impostos Atraem-se'.

segunda-feira, julho 28, 2008

You Got Women On Your Mind III

Estava a pensar noutro post, mas esqueci-me dele. Começei a pensar de novo em mulheres. O que é que hei-de escrever agora?

You Got Women On Your Mind II

É por isso que vale a pena acrescentar a versão de Shaggy, onde a estética, passe a voluptuosidade mulata, estará mais próxima de como a coisa deve ser.

Raparigas e mulheres, ânsias e saberes, olhares e corpos. Maldito Verão.


You Got Women On Your Mind I

E nada mais tenho a dizer sobre o Verão. É como se esta canção estivesse a passar sucessivamente na minha cabeça, a cada decote, a cada deslumbre de costas imculadamente bronzeada, a cada... bom fiquemos por aqui. Maldito Verão.



P.S.1: Como a menção ao inebriante feminino se mistura com um vídeo-clip de grandes planos a burgessos mal-vestidos, a barbas, patilhas e narinas, é algo que só a magia da música pode explicar. Bem podiam eles pensar em mulheres que a coisa, não fosse pela música, nunca passaria dali. É como se, passados 30 ou 40 anos, ainda apetecesse dizer: 'Bela música, mas tomem um banho - a sério. Vão ver que elas preferem.'

P.S.: Ah... women. On your mind - can't help it.

Time Travel: A Cara da Voz Off

Uma das poucas razões porque me deparo perante uma telenovela por alguns magros minutos, por uma novela portuguesa (nas brasileiras é microsegundos), é a de ter a curiosidade presa por algo que nada tem a ver com a cena emitida: antes pelo seu som. Mais concretamente, por algumas vozes.

É que há vários actores que chegaram às novelas de produção nacional (e refiro-me sobretudo às da TVI) depois de, por vários anos, terem permanecido no anonimato. Não no anonimato total, que também os há, mas depois de terem exclusivamente emprestado a sua voz - fazendo de 'voz-off' - dos meus (e vossos) desenhos-animados de infância. É uma sensação muito estranha, e curiosa, como que uma curta viagem à infância. E pelos caminhos da memória tentamos localizar o desenho-animado, a manhã concreta, a hora a que passava, em que olhávamos, fascinados.

Essa memória remota liga agora uma cara àquela voz tão antiga, a uma voz que parecia não ter cara, não ter gente, ser só a própria voz.

Pára o tempo, de repente. Feita a pequena viagem-surpresa, é hora de mudar de canal. Afinal, continua a ser uma novela da TVI.

Time Travel: Os Imortais

Eis o genérico de uma das melhores séries de que me recordo. Quem não se lembra de Duncan MacLeod? Belos tempos, de boa televisão, e temas criativos. Saudosismo dos 90'? Talvez, quem sabe... Foi a minha década, afinal.



P.S.: Não percebo como aquela gente da Sic Radical, tão afoita a repor séries medíocres, não se lembra de trazer de volta 'Os Imortais'. Sucesso garantido, meus caros. Suponho que não tenha a mesma magia, profundidade, e cadência que um excelso 'Curto Circuito'. Otários.

domingo, julho 27, 2008

Esquizofrenia Bizantina II

O problema da esquizofrenia bizantina dos nossos dias é só e apenas o mesmo: a Natureza. Deixem os bombeiros demasiado ocupados a discutir de quem é aquela noite no quartel, e um fogo violento traz o castigo como uma surpresa. Deixem médicos entretidos pelos corredores de um hospital, a fazer tempo para se irem a seus consultórios, e a doente morre naquela noite, porque ninguém o pressentiu, analisou devidamente.

A questão é que há funções, profissões, vitais, onde uma falha tem piores consequências. E, não raramente, essas funções estão entregues, num Estado paquidérmico, a secções sem rei nem roque. Devia haver liderança do lado desses sectores, e mais noção - do resto da sociedade - de que a maior responsabilidade corresponde maior remuneração. Quem não quer ou não consegue - não faz.

Mas a coisa acaba sempre com um estudo, justamente a remunerar principesca e obscenamente os grandes escritórios de advogados e consultoras, porque aqueles quadros de Arte Contemporânea, fatos, e BMs não se compram sozinhos. E também é durinho estar num escritório todo o dia só com boa mobília e ar condicionado. Nem sempre há café à altura.

Brinquem à vontade, que a Natureza vem aí. Não se esqueçam: "Chassez le naturel, il revient au gallop".

Esquizofrenia Bizantina I

Um dos sinais claros de decadência da sociedade - e neste caso inspiro-me na nossa, portuguesa, é o esquecimento das prioridades, do fundamental, do básico. Chamo-lhe a "esquizofrenia bizantina". Olhem em vosso redor: quantos casos não conhecem de gente que discute e se consome em questiúnculas quando o fundamental passa ao lado?

Vejam se não encontram enfermeiros a escusar-se a fazer algo, por não ser o seu turno. Ou médicos num hospital, que, assim que o ponto está picado, se vão. Ou políticos de 3ª e 4ª linha nas câmaras que desviam ardilosamente pequenas porções de dinheiro, assignadas a coisas importantes. Ou professores que deixaram de querer inspirar alunos, que fazem das aulas o suplício das suas investigações e culturas, ou - pior - das suas vidas mundanas, iguais às de todos os outros que não precisam ser criativos e inspiracionais. Ou polícias que rastejam incomodados pela zona que patrulham, em vez de procurarem o que está mal, confrontá-lo, assegurar que, naquele perímetro, nada de mal acontece, em vez de estarem a pensar na esquadra, na sua casa, nas suas escapadelas, na sua não-função. Ou adolescentes que experimentam sexualmente por absoluta revolta com o mundo, porque não vale a pena esperar por este mundo, e a televisão não mostrar ninguém que pense o contrário? Ou colunistas presos nas próprias colunas por cordéis que nem suspeitamos? Ou futebolistas que se esquecem de que são a selecção de 1/milhão de avos de pessoas, que se comportam como mercenários? Ou de velhos que estão abandonados por toda a gente, em finais de vidas tão tristes que não há palavras? Ou crianças que não têm, qualquer dia, protecção especial, que são sujeitas a mundos adultos que não estão preparadas para compreender?

Mas não. Não há problemas. Não há obscenidades. Olha, está ali aquela brasa na televisão, ui... E o Ronaldo está de férias acolá. E a Bruni lançou um CD novo. E amanhã há bola. Não exagerem. Não há problemas, eu não os vejo. E se os vir- mudo de canal.

A Segunda Derrota, o Tsunami do Ânimo

Pior que uma derrota pessoal - e isto não é um cliché de filme série B - é a não-reacção, a entrega. A absoluta falta de criatividade pessoal para conceber uma maneira de dar a volta, de vingar, ou mesmo só de minorar essa derrota. Eis a palavra-chave: criatividade.

A falta de luta pela redenção, sem nada sacrificar da nossa opinião de nós mesmos, da nossa auto-estima, o encontrar de um ânimo pessoal particular, que nos dê objectividade e discernimento, é, sim, a verdadeira derrota. Eis como o problema nunca advém da primeira derrota - antes da segunda. Como um tsunami, em que a segunda vaga é muito mais destrutiva que a primeira.

They Can't Take That Away From You II

Pequeno precalço no calendário - mas continua a faltar um mês e uma semana para estar aqui. O tempo está a contar.