sábado, junho 02, 2007

Mistérios da Vida Portuguesa 3

Como pode um país conciliar uma grande cultura de individualismo (patente no trato por você, no Dr., etc.) com o facto de ser pequeno e de, historicamente, se ter "safado" sempre por um esforço em equipa, com uma notável cultura de País?

Ar de Intelectual

Ontem cheguei ao Instituto para fazer o exame de italiano, do segundo nível, A2. Distraído, subia a rua, franzindo o sobrolho sob o calor, ansiando pela porta sob a bandeira, nessa Rua do Salitre em que sinto História e histórias por descobrir. Pouco faltava para a meta, vejo dois colegas do outro lado da rua, uma rapariga que fumava e um rapaz, resguardados sob a sombra. Primeiras frases que escuto: "Entao, estudaste muito?", "Já sabes tudo...". E eu "Porquê, mas porquê?", gesticulando e sorrindo levemente - transmitindo justamente a estupefaccçao de me elegerem para essas previsoes, que eu, suopersticioso, detesto. "Ah, é que tens esse ar de intelectual...".

Depois do dever cumprido ontem (exame que suponho passado, sem previsao de nota excepcional), vou hoje, conduzindo, de novo para a aldeia, trabalhar e fazer algum desporto. A ver se sacudo um pouco esse tal "ar de intelectual", porque sê-lo nao está nas minhas aspiraçoes... leia-se o post anterior.

Do Intelectual

Aron enganou-se quando disse que "o marxismo é o ópio dos intelectuais". É-o somente dos intelectuais de esquerda, já lá vai o seu tempo. Mas, para mim, o verdadeiro ópio de todo e qualquer intelectual é a análise. Sem a análise, constante tentativa de encaixar numa "teoria de tudo" todos os outros e todos os fenómenos, o intelectual nao é ninguém. A análise é sempre uma postura defensiva, é necessário coragem para adquirir um saber por experiência.

O intelectual será talvez o herdeiro dos profetas da Antiguidade. E a sua reputaçao depende igualmente da certeza das suas previsoes.

Da Ambiçao

Por mais que nao gostemos, a ambiçao é um elemento fundamental da natureza humana. Quando muito, podemos ter uma comunidade de pessoas que, em conjunto, a renegam - como na religiao católica (mas depois aí surge o outro pecado - da inveja). Mas eu acho mais curiosa a ambiçao na juventude, porque, em alguma juventude, há a tentativa de "ir a todas". Conseguir tudo: prestígio intelectual, independência financeira, cumprir os parâmetros que a sociedade impoe, Amor, sexo, experiência. E, por mais que ouçam os antigos dizer que "nao se pode ter sol na eira e chuva no nabal", ou "quem tudo quer, tudo perde", a ambiçao é mesmo assim - estúpida. Como cantavam os Queen:

It ain't much Im asking
If you want the truth
Heres to the future
Hear the cry of youth (hear the cry hear the cry of youth)
I want it all
I want it all
I want it all
And I want it now

"In Sicily, women are more dangerous than shotguns"

"O Padrinho" é, para mim, uma obra-prima da Arte, e pode ser analisado sob uma miríade de aspectos. Mas, deixando todo o universo pictórico, se nos concentrarmos só no detalhe da música, há todo um mundo a descobrir. Esta é uma música que ainda vem do fim dos tempos, antes das revoluçoes burguesas, de um tempo sem imagem, e que tem, simplesmente, a capacidade de suspender um homem. Por segundos, ele esquece-se de tudo, e há um prazer intenso e interior que prova, e o surpreende - provém de outra idade. Com efeito, esta música transporta-nos de novo à infância - é na infância, ou no contacto com ela que reside o espírito da Arte, da perfeiçao - e tao bem o da vingança face aqueles que nao no-la permitem alcançar. Vem muito antes da era do perdao - cronológica e psicológica. Mexe com um imenso poder, e usa o instrumento da Memória, com M grande (quase obsoleto na cadência imediatista dos nossos dias). Um perigo, esta música. Um doce, doce, perigo.


sexta-feira, junho 01, 2007

Da Bola

Eis a grande liçao brasileira: se na vida nao tivermos a sorte de ter um grande Amor, ao menos tenhamos sempre connosco uma amante fiel.

quinta-feira, maio 31, 2007

Da Voz

A voz é dos mais perigosos instrumentos, o seu poder encantatório fácil de dominar. Há idades em que nao estamos preparados para certas vozes. Temos que, como Ulisses, satisfazer a curiosidade muito bem prevenidos, por mais que custe.


Adenda


Pecado Original 12


Nina Persson. Fizeram bem, os Manic Street Preachers, em trazer de novo a voz de Nina para o mainstream com o excelente "Your Love Alone is Not Enough". Já tinha saudades de ou vir a voz de "Erase/Rewind" ou dos pioneiros "Lovefool" e "My Favourite Game". É, para mim, uma das vozes mais sensuais que alguma vez passou pela pop. Nao de uma sensualidade enérgica, emocionante, mais bem próxima de um romantismo obsessivo. Mas é desconcertante, toca teclas esquecidas. Eu adoro - afinal, ainda me lembro de gostar de Pessoa, Cesário ou Sá-Carneiro. Talvez ainda reste algo desse Portugal longíquo, de paixao doentia. Talvez mais para o Inverno, reconheço que este post vem algo fora de época. Ou quem sabe nao, dado o tempo bizarro dos últimos dias.

quarta-feira, maio 30, 2007

Flashback: Futebol CM

5 milhoes de contos pelo Nani, mais 5 milhoes pelo Anderson. Ambos jogadores que ainda nao jogaram para ter tal preço, ambos muito jovens. Suponho que estarao nos planos de renovaçao, de fabrico de uma nova equipa do Manchester. Que também, sendo jovens, na cultura do clube, serao mesmo talvez um bom investimento. Veja-se a longevidade de um Giggs. Quem sabe um dia cheguem a esse nível.

De qualquer forma, estas transferências, de montantes surpreendentes e repentinas, fazem-me lembrar um passado de primeira juventude.

Estas transferências sao tipicamente transferências a la CM (Championship Manager), e o estilo pode vir a definir uma idade do futebol mundial, mais a par com a velocidade do mundo de hoje.

Bem-vindos, pois, à era do futebol CM.

Da Beleza

Talvez tanto a beleza como a mentira sejam índices de Civilizaçao. A mentira, claro está, é a condiçao da sociabilidade pacífica. Definitivamente, seria mais fácil ao ser humano ser honesto, mas isso seria profundamente anit-social.

A beleza surge entao, para mim, como o contraponto natural da mentira. Qualquer homem socialmente hábil, e portanto, mentiroso (talvez também possa ser sonhador), aspira à redençao de uma mulher bela. E o mesmo é válido para uma mulher. É para mim misteriosa esta ligaçao, mas eu arriscaria dizer que há algo de puro, imaculado, na beleza verdadeira. Essa pureza será talvez o maior bem de um hipócrita, que, por imposiçao social, há tanto tempo delapida a sua.

Acabo sempre estas reflexoes com o exemplo do homem italiano. Invejavelmente sociável num 'setting' moderno, a fronteira nele entre verdade e mentira é notavelmente indistinta. E surge, claro, essa segunda moralidade "fra il bello e il brutto". Como se salva ele de si mesmo? Creio que a resposta é óbvia...

Liberdade à Vista

"General Secretary Gorbachev, if you seek peace, if you seek prosperity for the Soviet Union and Eastern Europe, if you seek liberalization, come here to this gate. Mr. Gorbachev, open this gate. Mr. Gorbachev, tear down this wall!"
(Ronald Reagan)

Está quase, quase a cair o Muro de Berlim. Data marcada para 6 de Junho.

terça-feira, maio 29, 2007

FRASES

"Maquiavel dizia que na política não há moral.
Socrates não leu, mas aprendeu de ouvido."
Baptista Bastos in DN

domingo, maio 27, 2007

Adenda 2

Ou mesmo deste, borderline patológico, nao fosse cantado por pessoas que ensaiavam fado em aulas de Tecnologia Farmacêutica...

Adenda

Ou entao também pode ser deste calibre (Bloodhound - Bad Touch)... o que já pode ser preocupante. A temática, contudo, nao anda assim tao distante... e daí talvez me engane.



Rigoletto - La Donna è Mobile

O trabalho em grupo, sobretudo quando físico, faz surgir em nós a música. É quase algo campesino, fraternal, e surpreende-nos, a nós que nos julgávamos iluminados. Enquanto for deste calibre, tudo bem.

La Donna È Mobile (Giuseppe Verdi)

La donna è mobile
Qual piuma al vento
Muta d'accento
E di pensiero

Sempre un'amabile
Leggiadro viso
In pianto o in riso
È menzognero

La donna è mobil
Qual piuma al vento
Muta d'accento
E di pensier
E di pensier
E di pensier

È sempre misero
Chi a lei s'affida
Chi le confida
Mal cauto il core

Pur mai non sentesi
Felice appieno
Chi su quel seno
Non liba amore

La donna è mobil
Qual piuma al vento
Muta d'accento
E di pensier
E di pensier
E di pensier...


Bem verdade... Temperamentais, mas é sempre "misero" quem no seu seio nao bebe amor.
Ainda sao das melhores coisas à face da Terra.