sábado, dezembro 02, 2006

Esadof!

Para quem lê o Abrupto, e conhece o estilo jot-down do autor, uma pequena ajuda para perceber de que fala JPP no post Esadof!, sobre o Millenium BCP: aqui.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Best Of



Visto e revisto, mas nao posso deixar de o incluir no blog, em dedicatória ao(s) companheiro(s) ziba(s) de laboratório, desse extenuante 3º ano.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga


P.s. À falta de disponibilidade para o desenvolvimento das minhas ideias deixo aqui uma súplica, neste caso a súplica pelo tempo que não tenho.

Pedaço de Arte




Barçelona - Villareal (25/11/2006)

domingo, novembro 26, 2006

E o Tempo Parou

De súbito, o cavaleiro deteve-se. Durante aqueles minutos, tudo esqueceu, todo o mundo parou. Só ouvia aquela voz que lhe parecia a sua, secreta e íntima, mas agora fora do seu própio corpo. Naquele momento mágico, encontrou-se consigo fora de si. Depois, tentou recuperar a consciência, teve um momento de hesitaçao e seguiu em frente. Exigiu-o a si mesmo. Havia que seguir em frente. Se alguma vez ouviria outra vez aquela voz nao sabia, talvez houvesse mais encanto em nao saber.


O Grande Complexo da Política Portuguesa

Nao é que admire o regime (admiro mais talvez o tempo histórico) porque foi mantido à custa de brutalidades e falsas mansidoes, sobretudo na fase final, mas a queda do Estado Novo criou na direcçao política do País um enorme complexo: a de que o Estado nao deve ser gerido como uma empresa. E eu acho que deve. Empresa no sentido lato do termo, com outro tamanho, outros objectivos (já se sabe que se perde dinheiro, mais vale que seja o menos possível e onde interessa), outros meios. Empresa no sentido de cadeia de comando com responsabilidades diferentes, no sentido pró-activo do termo. E para tal é fundamental outro elemento que escasseia entre nós: a liderança. Nao nos organizamos para os acomodar, nem queremos ser, líderes, antes criamos estruturas complexas com um capo que a representa e constitui um lobby. É a natureza do nosso povo, tem virtudes e defeitos. Pode ser que mude com uma geraçao mais internacionalizada. E daí talvez nao, diria Eça de Queirós na pessoa do seu Carlos da Maia.

Pecado Original 3


Scarlett Johansson

Ready, Aim... Steady

Marques Mendes faz-me lembrar um general que comanda os seus homens numa trincheira, e lhes comanda: "Preparar, Apontar... Aguentar... Aguentar... ". Vendo que nunca mais chega o momento decisivo e catártico do "Disparar", começam a surgir dúvidas entre os soldados. "Teremos realmente muniçoes suficientes?", "Será que nao temos quaquer hipótese, estaremos condenados?". E, depois, pequena mas segura (à imagem de Mendes), vai surgindo neles essa terrível pergunta: será Mendes um general brilhante, e a sua estratégia de um calculismo e contençao com resultados surpreendentes, ou será antes, o rei vai nu, um acto falhado?

Tempestades...

...lá fora lembram-me as tempestades de dentro.

Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui?"
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada
O que mais faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismo, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio [Vila do Conde, 1901-1969]