sexta-feira, janeiro 30, 2009

O Primo em 13º Grau

Uma dedicatória ao meu primo em 13º grau.

Neste caso, 'Monte da Casta' de 1999, na flor da idade para ser bebido. Um bom tinto.


Soneto del Vino


¿En qué reino, en qué siglo, bajo qué silenciosa
Conjunción de los astros, en qué secreto día
Que el mármol no ha salvado, surgió la valerosa
Y singular idea de inventar la alegría?
Con otoños de oro la inventaron. El vino
Fluye rojo a lo largo de las generaciones
Como el río del tiempo y en el arduo camino
Nos prodiga su música, su fuego y sus leones.
En la noche del júbilo o en la jornada adversa
Exalta la alegría o mitiga el espanto
Y el ditirambo nuevo que este día le canto
Otrora lo cantaron el árabe y el persa.
Vino, enséñame el arte de ver mi propia historia
Como si ésta ya fuera ceniza en la memoria.

Jorge Luis Borges (1899-1986)

O Pudor

Embora a razão subjacente não seja demasiado intrigante, falar de uma revista masculina, ou uma 'lad's mag' parece ainda um facto excêntrico.

Eu não sou um consumidor propriamente dito - compro uma ou outra edição de uma portuguesa que eu acho deslumbrante - como foi o caso da Joana Freitas e da Bárbara Taborda, mas acho que por vezes ainda se confunde estas revistas com os produtos 'subprime' no fabrico de um estereótipo.

Pessoalmente, deixem-me dizer claramente: tenho imensa curiosidade pela adaptação à realidade nacional. Quem são as nossas mulheres mais sexys é um tema que me interessa. A líbido barata satisfaz-se com qualquer porcaria, se quiserem ir por aí... Quando do que é cá da terra se diz ter outro encanto, é porque nem só de instintos neandertais se faz essa curiosidade.

Ainda assim, é um facto que o esterótipo - mesmo que numa mera piada, persiste. Não digo que sejam santos os consumidores dessas revistas, haverá de tudo. Digo apenas que para os instintos mais básicos, menos nobres - não falta, convenhamos, material...

Os italianos chamaram tiramisù ('tirami': levanta-me, 'sù': para cima) a uma doce que 'levanta o espírito' (sem piada brejeira - per favore). É mais ou menos isso que eu vejo numa revista masculina 'mainstream'. Uma curiosidade e um sorriso malandro, uma revista diferente, que corta o dia-a-dia, da mesma forma que o Eça dizia (quem sabe criticando portugueses como eu) que os decotes das senhoras cortavam a seriedade das conversas dos homens no salão. Eu gosto de ver uma GQ ou um FHM no meio dos jornais 'sérios'.

Meus caros, basta folhear a GQ, onde escrevem Miguel Sousa Tavares, Miguel Esteves Cardoso, Maria Filomena Mónica, João Pereira Coutinho, etc. Não me venham também dizer que isso é uma revista ordinária.

Ah, e deixo aqui uma sugestão. Qualquer dia, de alguém que comprar uma revista tal até se pode dizer: ui... queeee...



Mas 'Marie Claire' é de homem.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Bárbara Doçura

Depois do assertivo e impactante ensaio de Joana Freitas na GQ de Janeiro, eis a FHM deste mês com Bárbara Taborda, numa doçura dos 30 de ir - absolutamente - às lágrimas.



Pessoalmente, e apesar de não ser um seguidor atento - ou tão atento quanto gostaria de ser - o ensaio de Bárbara Taborda tem que estar no Top nacional. Ainda estive, num momento de inspiração, para juntar a este post o hino, mas... também respeito demasiado ess' "A Portuguesa" para andar a citá-la (quase) gratuitamente.

Há, no entanto, um pormenor revoltante neste ensaio: é que Bárbara Taborda diz preferir escritores a futebolistas. Ora, eu já oiço isto há muito tempo, escrevo bem melhor do que jogo à bola, e, honestamente, nunca vi essas minas de ouro que vêm com a escrita*.

De qualquer forma, parabéns a Joana Freitas e Bárbara Taborda. A tornarem Portugal um país mais desenvolvido, e mais habitável.

Abençoada mulher portuguesa.

Veredicto: Não Emigrar

* se ela efectivamente gostar mais de um escritor do que de um futebolista, os meus segundos parabéns - interesseiros. É que... hum, se a definição de escritor for tão lata que inclua bloggers... eu estou listado.

Enigmas De Um Flâneur

Pergunto-me o que andarão as mulheres bonitas a fazer quando não estão a passar por mim, insinuando que não me conhecem.

Byzantine And Proud Of It

É certo que escrevo, tantas vezes, sobre bizantinices, mas... não vale a pena estar neste blog a perorar também sobre a crise, pois não?

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Boa Acção do Dia 8

Acreditem que vale a pena passarem pela série 'The Simple Life' que estou a fazer no 'Rústicos Epicuristas', aqui ao lado.

Estou a elencar parafernália televisiva, numa espécie de colecção amadora de momentos, ícones, recuerdos televisivos, sobretudo dos anos 90.

Desde os genéricos dos 'Transformers', à 'Alice no País das Maravilhas', 'He-Man', 'Tom Sawyer', 'Robin dos Bosques', 'Os Três Mosqueteiros' a anúncios da Lego, apresentações da TV2, ou a imagens de jogos de consola, há algo para vocês, com toda a certeza. Há algo que viveram, que vos lembrará também.

Vale a pena. E é mesmo aqui ao lado. Knock, knock.

Num Momento Royco Coup-a-Soup

A sopa é algo com mais profundidade do que aparenta. Não me refiro à fundura do prato que oculta, à real quantidade daquilo que é. Tão pouco ao facto de, quente, e quando estamos famintos, nos poder enganar em relação ao que esperamos de um mero alimento: engana-nos divinalmente se afinal tem um sabor desmerecido pelo estatuto de prato secundário, ou introdutório; e engana-nos também vilmente quando afinal, já azedou, já está estragada, e não a podemos consumar. Nem mesmo digo com a primeira frase que penso na sopa como metáfora da vida, o que, tudo considerado, não seria inteiramente descabido: como a vida, é complexa, rica, quente, fria, surpreendente, enfadonha e exultante. E oculta sempre a distância do fim.

Antes considero aqui a sopa do ponto de vista da análise de personalidade. Assim uma espécie de 'psicanálise da sopa'. Até que ponto a sopa se pode relacionar com a nossa personalidade? Ou antes, até que ponto a nossa personalidade pode ser revelada pela nossa relação com a sopa - esse prato aparentemente tão amorfo?

Recordam-se deste post, em que falo sobre como um estereótipo de Seinfeld pode ser aplicado em Portugal? O do 'Nazi da Sopa', nem mais. Mas o que era então um 'Nazi da Sopa'? Nada mais que uma pessoa que insiste em ter as coisas feitas segundo regras absurdas, no sentido em que estão alheadas de uma finalidade práctica de lógica palpável à grande maioria das pessoas. Long story short: são picuinhas.

Ora, e vocês estão por esta altura a recordar inúmeros exemplos (ainda não? então é no final da frase) de situações em que alguns portugueses mereceram, aos vossos olhos, tal classificação. O senso-comum, na percepção da personalidade, e de que me farei por momentos imodesto porta-voz, diz que existem por aí bastantes tugas 'Nazis da Sopa' completamente à solta. Não me interpretem mal. Porquanto não seja, de todo, pristino, gosto das coisas bem feitas. Mas ninguém tem paciência para as coisas 'bem-feitinhas'. Amigo - a vida está a contar.

Ainda, presumidamente, mandatado pelo bom-senso colectivo diria que em Portugal concordamos que não existem nazis (que me desculpem os senhores calvos do cartaz contra os imigrantes - mas eles existirão mesmo em menor número que os próprios emigrantes em solo nacional), e isso é algo de que nos devemos orgulhar. No entanto, temos uma boa quota-parte de 'Nazis da Sopa'. Gente que não mata (à partida) - mas, caramba, - mói bastante.

Assim, na transversal entre a portugalidade e o estereótipo de Seinfeld, emerge o conceito de 'nacional-sopismo'. Há muito nacional-sopismo em Portugal, meus amigos. Não tenham dúvidas.

Eis, pois, o primeiro exemplo da importância - inusitada - da sopa como elemento adjectivante. Segue-se outro: o da sua relação com a produtividade.

Quantos tipos de sopa existem? Sim, a vichyssoise conta. Mas não é preciso ir tão longe. Temos, desde logo, uma diferença primordial na sopa que é colocada no vosso prato: ou é feita com todos os elementos cortados, cozidos, triturados e apurados, com algumas excepções - ou, então, é instantânea, e requer somente que se lhe adicione água quente.

Ora, desta diferença de produção, desde logo, se pode aferir a produtividade de quem faz a sopa. Uma pessoa esmerada e que se incomode faz a primeira, uma pessoa preguiçosa, a segunda. É certo que em Portugal não é muito comum as pessoas abdicarem da manufactura tradicional da sua sopa. Porque têm bom gosto. Ou, então, quem sabe, porque são esquisitinhas - isto é, 'Nazis da Sopa'. Nem mais.

E agora cada um se pode perguntar: eu sou um 'sopeiro' tradicional, ou um 'sopeiro' instantâneo? Esmerado ou preguiçoso?

Pois é. É que eu lembrei-me da pergunta a propósito da minha Preguiça. A Preguiça é um pecado que me é bastante grato. Acho-o um pecado estúpido, no entanto. Mas é só um pecado estúpido. Os outros são bem graves. Por isso gosto de dizer que a Preguiça não será tanto 'a mãe de todos os vícios', como a abstinência de todas as virtudes. Penso na Preguiça assim mesmo - como uma abstinência, quase que da vida. Do seu melhor, e do seu pior.

Ainda assim, tenho dúvidas que seja 'preguiçoso', por definição clássica. Mais bem expectante, mais bem contemplativo. Nada disso será bom, mas... conheço tantas características tão piores.

A feitura deste blog, por exemplo, que serve para mim como um pequeno escape artístico (sem exageros na palavra) já tem servido a 'apontadores de dedo', por exemplo, para um dichote de arremesso. Nomeadamente, dizem que só 'ando a fazer' este blog. Bom, mesmo se tal fosse verdade, e não sendo dito 'com má intenção', a questão da crítica à minha Preguiça é em si mesma o melhor exemplo do 'nacional-sopismo' - é um fixar numa 'pequenice'. E fica bem, esta circularidade ao texto.

E é, portanto, a quem pensa que eu 'só ando a fazer' o blog, que, pela inspiração concedida, acabo a dedicar este singelo vídeo. E, se houver dúvidas, pensemos assim: estou num 'Momento Royco Coup-a-Soup'.



É do caneco.

Venha Cobre!

Ouve-se as pessoas: dinheiro. Ouve-se a rádio: dinheiro. Corta aqui, manda para ali. Eles vão para lá por - dinheiro. Eles estão mas é a zelas pelo dinheiro, que lá investiram. Ouve o que te digo. Ninguém paga a ninguém... Ela está mas é interessada no dinheiro dele. Uma pessoa sem dinheiro não faz nada. Nada! Estas luzes ligadas custam dinheiro, ouviste? Se eu tivesse dinheiro... Como é que se vai pagar isso? Hum? Com que dinheiro?


Livres Para Amar

'As coisas de que este gajo se vai lembrar.'

terça-feira, janeiro 27, 2009

Boa Acção do Dia 7

Gente crescida que lê este blog: não se esqueçam, para as vossas vidas, que o Dia de S.Valentim é já 14 de Fevereiro. Justamente para vos ajudar, está aqui o novo anúncio da Agent Provocateur...

Vejam com muito cuidadinho, tenham a paciência de ver até ao fim, não se escandalizem, por favor. Afinal, uma cena assim não pode, em definitivo, acabar de forma previsível.

Oh, diacho... 'Let look at the trailer' - que isto parece interessante.



(São clips como este que me tornam infame no mundo dos bloggers respeitáveis. É por isto que eu não posso ir a casa de pessoas de bem. Sou um 'outcast' - por dever profissional).

Agora digam lá, é ou não é mais provável que se lembrem, depois deste 'memo'?

Não têm de quê.

Moscas Felizes

É extraordinária a vida. Aliás, o que é a vida? Lembro-me de um livro sobre o tema. Como não poderia lembrar-me de um livro sobre o tema? Mas, realmente, quanto das nossas vidas é perfeitamente aleatório? Quanto está absolutamente fora do nosso controle? Quanto é surpreendentemente bom? Ou surpreendentemente mau?

Por exemplo, hoje eu passei ao lado de uma mulher deslumbrante. Nada de especial teria esse facto, não fosse ela realmente mulher - e deslumbrante. Mas... diria que no cenário errado. Isto é - no meu. No subúrbio, onde as gentes se vestem mal, tratam mal da sua aparência, estão chateadas, deprimidas, com o país, com o trabalho, com o Benfica, com tudo. Mas lá estava ela, como se transplantada para este solo estranho desde uma rua florentina. Tudo errado. Mais não fosse, é o meu cenário. E, de alguma forma, mulheres assim não fazem parte do meu cenário. Ou eu do cenário delas.

Nunca vos aconteceu, passar por alguém tão solar?



Às vezes a vida anda por lugares estranhos, e a melhor vida anda por lugares estranhos. Às vezes encontramos pessoas surpreendentes nos lugares que cremos conhecer. A vida... é complexa, ainda mais complexa numa sociedade ocidental absolutamente afogada em tecnologia. Por exemplo, conseguem lembrar-se do tom de toque do vosso telemóvel? É triste, não é?

Todos nós subestimamos o aleatório na vida. E o aleatório parece hoje dominá-la, com tanta confusão, tanta alienação do normal. Regras simples já não se aplicam. As pessoas podem dizer que é a Política, os políticos, a UE, a Civilização, mas... se tudo isso fosse corrigido, amanhã a vida tornava a ser complexa, intrigantemente aleatória. Basta lerem a última entrevista de Berardo ao 'Público', onde ele diz que, do dia para a noite, toda a técnica que usava nos seus negócios foi arrasada, deixou de fazer sentido. A tabuada já não sai.

Melhor é mesmo perceber que muito da vida está escondido sob o acaso, gostemos ou não. Talvez hoje mais do que nunca, não sei ao certo. Não é nada de novo na determinação das nossas vidas. Mesmo na Biologia existe o 'bottleneck effect'.

Mais bem seremos, por muito que não gostemos, apenas moscas, como dizia William Blake. Se formos moscas felizes, então já nos podemos considerar vencedores.

The Fly

Little Fly,
Thy summer's play
My thoughtless hand
Has brushed away.

Am not I
A fly like thee?
Or art not thou
A man like me?

For I dance
And drink, and sing,
Till some blind hand
Shall brush my wing.

If thought is life
And strength and breath
And the want
Of thought is death;

Then am I
A happy fly,
If I live,
Or if I die.

William Blake (1757-1827)