terça-feira, julho 31, 2007

Trabalhos Na Estrada

- Este blog vai parar para férias (pelo menos pela parte do P.Duarte), voltará lá em meados de Setembro. Boas férias aos leitores. Sim, refiro-me a vocês 2 ou 3. Ciao. -


Prometido

Como prometido em Janeiro, é chegada a sua hora. A hora da indisciplina e de deixar os problemas mundanos. Embora, enfim, agora pareça que nao é preciso esquecer o mundano e que as transiçoes bruscas sao desnecessárias na vida. E que, afinal, o frio de Inverno até deixa saudades. Mas, tentando aproveitar a novidade, vamos - mau, bom ou insonso - a mais um Verao.


Adenda

Já agora, aproveito a ocasiao para ir buscar a referência dos Gato Fedorento (como bons portugueses, também sao bons importadores, e nada mais barato que importar cultura), para este sketch, pelo menos no princípio. Já há algum tempo que queria incluir no blog os Monty Phyton e o seu brilhante "International Philosophy". Favor atentar nos pormenores do árbitro Confúcio a mostrar um amarelo a Nietzche depois deste o ter ofendido dizendo que "nao tinha livre vontade". "Name go in book", diz Confúcio. E também no Marx rezingao: "... and Marx is claiming it was offside".


Os Meus Prazeres 5

Meu e de muitos bons portugueses, felizmente. Lá porque os Gato Fedorento estao (sabiamente) a fazer uma moratória, nao quer dizer que os esqueçamos. Quando surgiram confesso que nunca lhes alvitrei tanto sucesso. Merecem-no por inteiro. É na sua falta que nos apercebemos mais facilmente de como o seu humor é, de facto, diferente. Para além de original, é intelectualmente superior, digamo-lo sem preconceitos. Estamos perante humor feito por pessoas com uma bagagem cultural bem acima da média, do país e dos humoristas. Daí eu ser um fa sobretudo dos primeiros trabalhos, que tinham mais desses pormenores deliciosos, porque nao se destinavam a um grande publico, e porque havia neles aquele jeito português e juvenil do desenrasca, de grupo de amigos, antes da abundância de meios. Ainda assim, elogio-lhes a transiçao, feita sem demasiadas cedências ao "mainstream". A inteligência está lá, a erudiçao teve que ser um pouco engavetada. Quando Ricardo Araúo Pereira faz um comentário, ao sabor do momento, em que diz que Salazar era pobre porque devia gastar o dinheiro todo em botas, o público ri-se (mais nao seja pelo tom), mas poucos serao os que percebem de onde vem a referência.

Como exemplo, por entre a grande escolha no YouTube, escolhi o "Fórum Filosofia". Definitivamente entre os meus favoritos, nao é uma das primeiras escolhas da legiao de fas. Mas eu acho que traduz muito bem a capacidade de travestir a cultura popular com a erudiçao. Duas culturas totalmente diferentes: o futebol, popular e terreno, e a filosofia, elitista e divina. Deve ser por causa destas misturas que Umberto Eco escreveu o Nome da Rosa em torno do riso e do facto de ser transversal e desconcertante na sociedade. Neste "Forum Filosofia" o espírito do extinto programa "Bancada Central" de Fernando Correia na TSF é brilhantemente capturado, os tiques e os timbres dos participantes reproduzidos na perfeiçao. Esta frase dita por um participante resume aquilo que quero dizer:

"Sou da escola de Frankfurt desde pequenino. Há pessoas que dizem que nao há wermasianos* na Rinchôa, mas isso é mentira."



*Por nao estar versado nas escolas alemas de filosofia (perguntem-me pelas moldavas), desconheço se este é o termo correcto. Nunca se sabe, pode estar um wermasiano a ler este blog.

segunda-feira, julho 30, 2007

Lugares

Uma das coisas que o meu pai conta, a propósito da frase "O Saber nao ocupa lugar" é que, no Portugal socialmente estratificado do Salazarismo, esta frase confundia as pessoas do campo. Porquê? Simplesmente porque, para elas, "ocupar lugar" dizia respeito à vida, ocupar um lugar na vida: funcionário do estado, doutor, capataz, etc. No Portugal de Salazar era suposto ser o Saber a estar à frente, a inspirar o povo. Daí a reverência ao "doutor". Ainda alguém se lembrará da relaçao entre "doutor" e "douto"?

Os Meus Prazeres 4

No Verao (sobretudo): ler todas as revistas do social (Nova Gente, Caras, Lux, etc.). Há essa tradiçao estival de saber todos os pormenores da frivolidade no seu esplendor: quem anda com quem, onde, quem fez topless, quem foi para o Algarve, etc. É uma tradiçao, e relembro somente os críticos esta tao serena verdade: "O Saber nao ocupa lugar". Numa era de informaçao, todos temos a nossa parte de conhecimento inútil. Este é bastante relaxante, para mais.

Bissectrizes 2: Do Sol

Antero de Quental e... Resistência? E porque porque nao, se ambos expressarem esse desejo humano, eterno, de ascençao? Dizem os especialistas que dessa ânsia e do direito do homem à propriedade (em estreita relaçao) tem sido feita grande parte da história desta raça humana, tao intrigante. Eu, humildemente, limito-me a sugerir a relaçao e, claro, a pedir desculpas por uma Carolina Furtado passé até às lágrimas no vídeo abaixo.

Luz do sol, luz da razão
por Antero de Quental

Tu, sol, é que me alegras!
A mim e ao mundo. A mim…
Que eu não sou mais que o mundo,
Nem mais que o céu sem fim…

Nem fecho os olhos baços
Só porque os fere a luz…
Ergo-os acima - e embora
Cegue, recebo-a a flux!

Crepúsculos são sonhos…
E sonhos é morrer…
Sonhar é para a noite:
Mas, para o dia, ver!

Sim, ver com os olhos ambos,
Com ambos devassar
Os astros n’essa altura,
E os deuses sobre o altar!

Ver onde os pés firmamos,
E erguemos nossas mãos!
E quer nos montes altos,
Quer nos terrenos chãos,

É sempre amiga a terra
E é sempre bom viver,
Se a terra à luz da aurora
E a vida ao amor se erguer!

Em toda a parte as ondas
D’esse infinito mar,
Por mais que andemos longe,
Nos podem embalar!

Em toda a parte o peito
Sente brotar a flux,
E sempre e à farta, a vida…
Vida - calor e luz!

Nos seixos d’essas praias,
Se o sol lá lhes bater,
N’um átomo de areia,
Deus pode aparecer!

Bata-lhe o sol de chapa,
E um deus se vê também
No pó, tornado um astro
Como esses que o céu tem!

Desprezos para a terra?!
Também a terra é céu!
Também no céu a impele
O amor que a suspendeu…

E quem lá d’esse espaço
Brilhar ao longe a vir
Dirá que é paraíso
E um éden a sorrir!

Em baixo! O que é em baixo?
Em baixo estar que tem?
Ninguém à eterna sombra
Nos condenou! Ninguém!

Se até nos surdos antros,
Nas covas dos chacais,
Penetra o sol, vestindo-os
Com raios triunfais

Se ao céu até se viram
As bocas dos vulcões…
E têm os próprios cegos
Um céu… nos corações!

Não! não há céu e inferno:
Divino é quanto é!
Para que a rocha brilhe,
Basta que o sol lhe dê…

Basta que o sol lhe beije
As chagas que ela tem,
E a morta d’essa altura,
A lua, é sol também!

E as trevas da nossa alma,
A nossa cerração,
Oh! como se desbarata
A aurora da razão!

Mas se a razão, surgindo,
Nossa alma esclareceu,
Também tu, sol, no espaço
Surges, razão do céu…

Por isso é que me alegras,
Ó luz, o coração!
Por isso vos estimo…
Tu, sol, e tu, razão!

Close Enough

Título do Expresso deste fim-de-semana: "Novo líder do PSD nas maos de Jardim". Hate to say I told you so, but... I told you so. Ok, sejamos rigorosos, é uma questao de número de almas com as quotas pagas, mais que do apoio do "barao da ilha". Ainda assim, close enough.

Émmerdant

Sem ser um especialista na língua, "émmerdant" é das palavras com que mais me divirto no francês falado. Na "mouche" para descrever o aborrecimento e a estupidificaçao, perfeita para esta altura: les vacances c'est émmerdant, mes amis. Vous ne trouvez pas?

Bissectrizes 1

Françoise Hardy e Splendor in The Grass: eis o esplendor da melancolia pequeno-burguesa. Uma questao de sentimento. Eu, claro, adoro.

Os Meus Prazeres 3

Virar naquela saída, que nao seguir pelo caminho planeado. Percorrer uma estrada desconhecida, uma nova paisagem portuguesa, cheia de novos pormenores. No rádio, a voz melíflua de Françoise Hardy, as suas melhores cançoes. Com a doçura da luz do sol, nao muito forte, através da janela, continuo nesse prazer de criança que é a descoberta. E depois retomo o caminho original.



Le premier bonheur du jour
C'est un ruban de soleil
Qui s'enroule sur ta main
Et caresse mon épaule

C'est le souffle de la mer
Et la plage qui attend
C'est l'oiseau qui a chanté
Sur la branche du figuier

Le premier chagrin du jour
C'est la porte qui se ferme
La voiture qui s'en va
Le silence qui s'installe

Mais bien vite tu reviens
Et ma vie reprend son cours
Le dernier bonheur du jour
C'est la lampe qui s'éteint

Os Meus Prazeres 2

Sugestao para o Verao, a acompanhar um belo peixe assado: Varanda do Conde 2006 fresquíssimo. Tem um toque acre que adoro, mistura delicada de casta Alvarinho e Trajadura, e a leveza de um gasoso ligeiro. Nao me recordo do preço, mas é barato, à confiança. Vinho verde branco, vinho jovem, ideal para um almoço de amigos.

Os Meus Prazeres 1



My Name is Earl. Excelente série, reúne conjunto de bons actores, com boa "química" (grande desempenho de Jason Lee). Excelente humor. Comprei a série toda e já nao me ria tanto sozinho há algum tempo. Cruzamento de drama existencial com o mundo mítico do "white trash" e "trailer park" americano, na sua vertente "castiça" (e portanto suportável). Embora nao simpatize com o homem, devo concordar com Tarantino: as séries devem ser vistas todas de uma vez, quando temos a season nas nossas maos; se vamos ser indulgentes connosco, mais vale que o façamos com a melhor televisao e em dose reforçada.