sexta-feira, dezembro 22, 2006

Impressões de Roma 4


A vista do Vittoriano ao final da tarde.

Impressões de Roma 3

O Vittoriano foi erigido em honra de Vittorio Emanuele II, primeio rei de Itália e obreiro da unificaçao no séc. XIX (manteve o II por ser, antes de mais, II de Sabóia, o que veio a ser impopular para muito italiano de outros reinos que nao o de Sardenha-Piemonte/Sabóia). Depois da República foi convertido num monumento ao soldado desconhecido, morto na Primeira Grande Guerra. À primeira vista, além da janela do táxi, nunca tendo dele ouvido sequer, pareceu-me majestoso. No entanto, e à medida que conhecemos Roma, confirmamos um contraste que levou o delicado gosto romano a chamá-lo de "bolo de noiva" ou "máquina de escrever". É bem mais agradável à luz da noite. Ainda assim, interessante e com uma vista sobre Roma imperdível. Aqui ficam as minhas fotos, de ingénuo deslumbramento.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Machinha

Já há algum tempo que não te escutava...

"Já tenho uma machinha deles.", disseram-me hoje. Eles os anos, porque purguntara a idade.

Machinha... Machinha: uma mão cheiinha...

sábado, dezembro 16, 2006

To Do Good, Not To Do Well

Antes que o ano acabe, antes que deixe o governo no ano que vem, antes que começem os mil artigos retrospectivos, cínicos ou panegíricos, aqui fica a minha dedicatória àquele que, creio, direi um dia ter sido o melhor líder político da minha geração: Anthony Charles Lynton Blair. Apesar de diferenças pontuais, mesmo até ideológicas, mas no final, tudo pesado, um homem que marcou pelo melhor o meu tempo.

"Sometimes I hear people describe "choice" as a Tory word.

It reminds me of when I first used to knock on doors as a canvasser and was told if they owned their own home they were Tories.

Choice a Tory word?

Tell that to 50 per cent of heart patients who have exercised it to get swifter operations and help bring cardiac deaths down 16,000 since we came to power.

(...)

Choice is not a Tory word.

Choice dependent on wealth; those are the Tory words.

The right to demand the best and refuse the worst and do so not by virtue of your wealth but your equal status as a citizen, that's precisely what the modern Labour Party should stand for."

A ler também o seu discurso no Congresso do Partido em Setembro deste ano.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Livros de Roma 2



Estes bem mais legíveis.

Impressões de Roma 2


E, depois, a profundidade.

Impressões de Roma 1


A verticalidade, tão presente na obsessão pelo cipreste, alto, elegante, distinto. Mas a oliveira está sempre lá, só pode estar, ela é fonte de vida.

Livros de Roma 1

Sem muito tempo, parando apenas na famosa Feltrinelli, alguns volumes interessantes, para desafiar a compreensão da língua:



A ler com preserverança.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Impressões de Roma

A minha contribuição para a série "Deve haver poucas coisas tão frustrantes como..." vai para chegar a Roma com uma máquina digital de €200 comprada no dia anterior, que só permite tirar 15 fotos, porque não está munida de cartão-memória. Mas, ainda assim, nos próximos dias pretendo partilhar algumas impressões sobre Roma no Generosità. Ao menos a minha memória não sofre os ditames da modernidade.

Saudades

domingo, dezembro 10, 2006

Pecado Original 6


A propósito de Roma, Ilary Blasi, apresentadora italiana, casada com o ícone da(e) Roma, Francesco Totti.

Eccomi qua


É assim Roma: andamos a cada segundo esmagados pela monumentalidade, entra pela nossa janela adentro, nao se lhe pode escapar. O convívio com Arte é tao intenso que se percebe desde logo a força centrípta que esta cidade exercicia, de onde poucos queriam já sair para lutar por um Império. Impressiona, antes de mais, a verticalidade, tudo é alto, aspira ao céu: os edifícios, as torres, as igrejas, as pessoas, a organizaçao social. Mas impressiona depois a enorme profundidade, sentimos a vertigem de mil histórias, segredos, manhas, sofrimentos e prazeres. Esta cidade já viu de tudo, já viu tudo. Nada se ensina a Roma, ela nao acredita noutra maneira de ser humano. Nao nos permite inocências: escolha-se o céu ou o inferno, a virtude ou o pecado, desde que sejam supremos. O importante é viver.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Esclarecimento

Convém fazer um pequeno esclarecimento a alguns amigos que visitam avidamente este blog (cerca de 2). Reservo-me o direito, enquanto co-autor, de publicar no Generosità a poesia medíocre que faça. Simplesmente porque às vezes os dias não são perfeitos, mas são os nossos dias, e passamos por eles como podemos. Em todo um novo dia há um poema, e nem todos os dias são Pessoa, são mais vezes Aleixo. Recorrendo a Rui Veloso, eu diria que às vezes a poesia que eu pensava saber à flor do jasmim, sabe a chicle de mentol. E, curioso, eu até gosto dela assim.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

L'ombelico del Mondo


Em estágio para a Cidade Eterna, com Mega Ferreira:

Pecado Original 5






Melissa Theuriau, a pivot que dá aos franceses (imagine-se) as notícias da manhã. Tenho para mim que qualquer bom português, perante o profissionalismo que certamente é apanágio de Melissa, acabaria o telejornal, novas sanguinárias ou de boa esperança, igualmente a semi-sorrir e a coçar o queixo: "Isto tá bonito, tá...".

A Agenda Necrológica

Creio que nunca a vida pública portuguesa foi culturalmente profícua. Ou antes, foi-o quando a "vida pública", no sentido de partilha intelectual, era apenas acedida por uma pequena percentagem da população.

Durante o Estado Novo, a censura, naquilo que exactamente a definia como moralista, filtrava o boçal, o bizarro*. Havia um bas-fond que a maior parte do país não sabia sequer existir. No grande palco do Estado Novo, a censura foi um alçapão, que nunca se soube estar lá, e que, de repente, se abriu violentamente. Escondeu sempre uma forma de ser português, de ser humano**. Se essa face que ocultou é a regra ou a excepção, é todo um outro debate.

Mal ou bem, a censura permitiu uma plataforma, calando as massas, para o desenvolvimento de temas intelectualmente exigentes, que diríamos hoje eruditos, elitistas, afectos somente à especialidade. Por isso se discutia Ciência, Literatura, Arte, em jornais generalistas, com grande profundidade. As geraçoes de hoje são, claro, indignas dessa herança porque a desconhecem primeiro, e depois porque a não poderiam apreciar. Embora, convenhamos, as geraçoes actuais estejam sujeitas a outras solicitaçoes, o mundo da Imagem que se criou trouxe consigo muitos novos Tântalos, também conhecidos por "consumidores". E o lazer é mais plural, naquele tempo era mais fácil gostar dessas áreas do Saber, amantes caprichosas e exigentes mas sempre intensas. A própria organização social mudou radicalmente, e há algo de excelência intelectual que está inevitavelmente ligado a uma sociedade paternalista, gostemos ou não.

No entanto, consideradas as diferenças, chegamos ainda assim à conclusão de que os nossos media estão cheios de pseudo-factos. De pseudo-protagonistas, de ruído. Não se compadecem dessa História, Ciência, Arte. Não há tempo para mais que a tradução dos mesmos factóides internacionais. Só esporádicamente há uma subida de nível cultural na situação concreta da morte de alguém famoso. Aí sim, surgem protagonistas, histórias, perspectivas, desenterram-se grandezas e guerrilhas. Limpa-se o pó aos móveis da sala nobre da nossa história.

Há, assim, uma agenda necrológica a dominar os media. Está aí, perante os nossos olhos, uma cadência de marcos cronológicos que estão centrados na morte de um personagem. O último foi Cesariny. Pergunto-me quem virá a seguir.

*veja-se a série que Pacheco Pereira tem vindo a publicar no Abrupto.
**leia-se Fernando Dacosta: "Máscaras de Salazar" e "Nascido no Estado Novo".

domingo, dezembro 03, 2006

Pecado Original 4


Gisele Bündchen

sábado, dezembro 02, 2006

Esadof!

Para quem lê o Abrupto, e conhece o estilo jot-down do autor, uma pequena ajuda para perceber de que fala JPP no post Esadof!, sobre o Millenium BCP: aqui.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Best Of



Visto e revisto, mas nao posso deixar de o incluir no blog, em dedicatória ao(s) companheiro(s) ziba(s) de laboratório, desse extenuante 3º ano.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga


P.s. À falta de disponibilidade para o desenvolvimento das minhas ideias deixo aqui uma súplica, neste caso a súplica pelo tempo que não tenho.

Pedaço de Arte




Barçelona - Villareal (25/11/2006)

domingo, novembro 26, 2006

E o Tempo Parou

De súbito, o cavaleiro deteve-se. Durante aqueles minutos, tudo esqueceu, todo o mundo parou. Só ouvia aquela voz que lhe parecia a sua, secreta e íntima, mas agora fora do seu própio corpo. Naquele momento mágico, encontrou-se consigo fora de si. Depois, tentou recuperar a consciência, teve um momento de hesitaçao e seguiu em frente. Exigiu-o a si mesmo. Havia que seguir em frente. Se alguma vez ouviria outra vez aquela voz nao sabia, talvez houvesse mais encanto em nao saber.


O Grande Complexo da Política Portuguesa

Nao é que admire o regime (admiro mais talvez o tempo histórico) porque foi mantido à custa de brutalidades e falsas mansidoes, sobretudo na fase final, mas a queda do Estado Novo criou na direcçao política do País um enorme complexo: a de que o Estado nao deve ser gerido como uma empresa. E eu acho que deve. Empresa no sentido lato do termo, com outro tamanho, outros objectivos (já se sabe que se perde dinheiro, mais vale que seja o menos possível e onde interessa), outros meios. Empresa no sentido de cadeia de comando com responsabilidades diferentes, no sentido pró-activo do termo. E para tal é fundamental outro elemento que escasseia entre nós: a liderança. Nao nos organizamos para os acomodar, nem queremos ser, líderes, antes criamos estruturas complexas com um capo que a representa e constitui um lobby. É a natureza do nosso povo, tem virtudes e defeitos. Pode ser que mude com uma geraçao mais internacionalizada. E daí talvez nao, diria Eça de Queirós na pessoa do seu Carlos da Maia.

Pecado Original 3


Scarlett Johansson

Ready, Aim... Steady

Marques Mendes faz-me lembrar um general que comanda os seus homens numa trincheira, e lhes comanda: "Preparar, Apontar... Aguentar... Aguentar... ". Vendo que nunca mais chega o momento decisivo e catártico do "Disparar", começam a surgir dúvidas entre os soldados. "Teremos realmente muniçoes suficientes?", "Será que nao temos quaquer hipótese, estaremos condenados?". E, depois, pequena mas segura (à imagem de Mendes), vai surgindo neles essa terrível pergunta: será Mendes um general brilhante, e a sua estratégia de um calculismo e contençao com resultados surpreendentes, ou será antes, o rei vai nu, um acto falhado?

Tempestades...

...lá fora lembram-me as tempestades de dentro.

Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui?"
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada
O que mais faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismo, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio [Vila do Conde, 1901-1969]

sexta-feira, novembro 24, 2006

Rajadas de Vento, Trombas de Água

Quando o Atlântico fala, ouvimos e calamos. Como sempre foi.

quinta-feira, novembro 23, 2006

E Recordar é Viver

A ler, hoje no Público, o artigo de Pacheco Pereira (suponho que em breve também no seu blog): "O labirinto solitário de Mário Sottomayor Cardia". Aliás, os seus artigos têm tido um nível excelente nos últimos tempos, talvez a provar que o Outono e Inverno sao as suas estaçoes, as estaçoes do homem-formiga, nunca as do homem-cigarra. Cito somente deste: "Ficarao para os seus amigos as recordaçoes do homem, um gesto, um acto, um escrito, um exemplo, uma pena, uma preocupaçao. Nestes tempos é o que fica. Nestes e nos outros." Há tanto de nós que só é nos outros...

Pecado Original 2

Angela Tuccia, a professoressa de desconcertantes olhos verdes, que desperta, no interessante L'eredità da Rai1, um genuíno desejo de aprender.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Les petits bonheurs de la vie

Passou despercebido...

Corriere della Sera: "Fatima, c'è un «quarto segreto» da rivelare"

Pequenos grandes actos de coragem

Ir ao Colombo em época de Natal e quando o Benfica joga em casa para a Champions.

terça-feira, novembro 21, 2006

Pecado Original 1


Monica Bellucci

segunda-feira, novembro 20, 2006

O Eterno Esquecimento

Folheio um livro branco lá em baixo, no escritório. Comprámo-lo há pouco tempo. “Fotobiografia de Ernesto Roma”. Descubro que aquele pequeno e sorridente homem, novel médico, fundou a APDP (Associação Protectora dos Diabéticos Pobres), em 1926. Foi a primeira associação de diabéticos do mundo. Ernesto Roma geriu-a habilmente, com o sentido de missão de quem se agita para aliviar o sofrimento dos mais carenciados. Fecho o livro, e, ainda olhando para a sua foto, tento enquadrar o facto de que a maior parte dos portugueses não ou viu nem ouvirá algum dia o seu nome. E não consigo.

Aqui e ali, em artigos, costumo ler referências à teoria do Eterno Retorno. Investiguei: a sua tese é a da natureza cíclica da História. A História seria doentiamente cíclica porque repetimos todas as situações e sentimentos humanos, desde os primórdios; os elementos basilares do ser humano não mudaram nem mudarão.

Embora algo nela soe fundamentalmente verdadeiro, acho que há mais no ser humano para além da sociedade do Antigo Testamento. A diferença individual, genética, e a evolução da sociedade são factores igualmente importantes que os nossos desejos primitivos. Mas reconheço que é para mim uma aventura tentar abordar esse tema, e tento registar apenas o essencial.

Concordo, sobretudo, que é demasiado humana a assumpção de que vamos ser algo que o mundo nunca viu, e ter mais coragem, mais inteligência do que os nossos antepassados. Pensamos neles (se chegarmos a pensar) mergulhados num profundo obscurantismo. Há um desrespeito generalizado pelo Passado, e nunca se pode compreender o que se não respeita. Só não sei se esse desrepeito é intrínseco à natureza humana, ou se estará antes relacionado com a evolução dos tempos.

Choca-me sobretudo o vil esquecimento da Medicina, e os esforços que os intérpretes dessa arte fizeram ao longo da História para que nós mais facilmente a pudéssemos esquecer. Damo-nos o luxo de viver em função do imediato, porque autênticos heróis devotaram a sua vida à anestesia, assépssia, vacinação, transplantação, etc. Quantas vezes nos lembramos do sofrimento humano evitado? Quantas vezes nos lembramos dos olhares de desespero e angústia, dos gritos e gemidos pela noite, da indignidade? Pois é. Longe da vista, longe do coração. E a vista lá se vai fixando naquele carro, naquela mulher, naquela oportunidade de enriquecer, naquela experiência ousada.

Não só esquecida, a Medicina tem vindo a ser instrumentalizada e mesmo traída pelos seus intérpretes. Simplesmente porque quem a pratica são... seres humanos. E como o mercado, mais do que o sonho, comanda a vida, nem se lhes é exigido que tenham uma cultura humana compatível com tão especial mester. Se a cirurgia plástica evolui mais que a cura para a malária e um cirurgião não o é sem um Porsche, é pena, mas é coisa humana.

Sempre achei que os verdadeiros médicos eram, como Ernesto Roma, príncipes do povo. Emergem pelo bem comum, e trabalham pela sua comunidade, sem maior prazer na vida que esse. São povo e não o são ao mesmo tempo. E o povo inequívoco também sempre lhes foi grato, e deles guardava memória.

Talvez esse povo já não exista. Ainda bem, porque isso significa, para usar a popular expressão, que subimos de vida. Agora já a podemos carregar de aspirações que nos elevam ou deprimem, consoante as cumpramos ou não. Mas talvez por já não haver esse povo, menos sejam aqueles que se lhe dedicam a vida. Podíamos ao menos lembrar os que o fizeram no passado.

Vox Popoli, Vox Dei: Piratage



Na aldeia, diz o bom Ti Jaquim: "Naquele tempo nao havia essa piratage que há praí agora, nao". Terá razao, ou todos vemos com benevolência o nosso passado?

Nota: por uma questao de rigor, referir somente que o bom do Ti Jaquim tinha já tomado um ou dois "comprimidos" (a que na gíria urbana nos referiríamos prosaicamente como "copos de vinho")

domingo, novembro 19, 2006

Quem nasceu para lagartixa, nunca chega a jacaré*

No domingo passado morreu Fernando Caiado, aos 81 anos. Eu também nao conhecia o nome, mas soube depois que tinha sido adjunto de Bela Guttmann. Segundo José Augusto, terá sido um dos grandes responsáveis pela carreira desse Benfica mítico, porque impunha autoridade no balneário, cobrindo a retaguarda do técnico brasileiro. “É algo que nunca foi relevado, mas deve-se a ele, Caiado, grande parte dos êxitos do Benfica na década de 60, que culminaram com a conquista de dois títulos europeus. Dentro e fora do campo era com ele que os jogadores mais lidavam. Tinha um forte carácter, aplicava a disciplina com mão-de-ferro, mas foi dessa forma que o Benfica cresceu e se fez o grande clube que hoje é. Marcou um tempo”. Esses homens que tratam dos pequenos pormenores sao esquecidos com demasiada frequencia, até porque têm demasiada importancia.

Foi a enterrar segunda-feira no Porto, o seu caixao coberto com a bandeira do Boavista, clube em que também havia jogado. Do Benfica nao houve bandeira porque Sílvio Cervan, o seu enviado, dela se esqueceu... Pergunto eu: Quem é Vieira? Um presidente digno do Benfica ou um moralista de 3 vinténs, sem conteúdo que suporte as afirmaçoes chocantes que faz? Peço desculpa pelo ênfase da segunda opçao, eu nunca tive dúvidas... Bem pode ele exigir aos jogadores do Benfica que nao joguem como "rapazinhos". Tem autoridade moral para o fazer... Haja algum sócio benfiquista que se revolte, por favor! Já nem falo do Sporting, que acho melhor na gestao da sua memória, mas por quais dirigentes também me nao compremeto. Digo simplesmente que com Pinto da Costa nunca tal aconteceria. É bem verdade o ditado: "Quem nasceu para lagartixa, nunca chega a jacaré".

*para os iluminados leitores da Sábado, sim, este é o título da crónica de Pacheco Pereira. O seu a seu dono.

As Boas-Vindas



Ao camarada Edu, a emprestar talento a este modesto blog.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Hoje vi o mundo

Escrevo este texto, após um dos momentos que na passada semana mais assolaram os media e toda a comunicação social no contexto da actualidade mundial. E sem motivo para menos: a conclusão do julgamento e consequente condenação de Saddam Hussein à pena de morte por enforcamento. E estou aqui neste momento a escrever sem qualquer fundamento moral, no que respeita à justiça ou não do resultado final deste já longo processo. Isto é não vou aplicar aqui uma doutrina moralista sobre se a pena é ou não adequada às acusações pendentes sobre o acusado, e muito menos entrar por um campo muito controverso, que é normal neste tipo de divagação, e ao qual é quase impossível fugir nestas situações: a pena de morte.
Pessoalmente sou mais contra do que a favor, mas existem muitas condicionantes, e como tal não tenho uma opinião absoluta que se possa afirmar como íntegra, inabalável e irrefutável, perante factos e ideias externos que quase todos os dias colocam as minhas à prova. Especialmente quando são as minhas próprias ideias que colocam as minhas teses à prova, estas têm de ser alvo de mais reflexão, sabedoria e experiência que só o tempo nos proporciona, e o crescimento como indivíduos que somos.
Mas não vou escrever sobre o indivíduo e todas as múltiplas vertentes do seu carácter e personalidade, vou escrever sobre "um indivíduo" que para mim tomou uma das atitudes mais bárbaras e sanguinárias, precipito me a dizer, que o estado de democracia permite: o do regozijo e celebração da morte de um indivíduo.
Hoje vi George W. Bush fazer disso um motivo de manifestação pública num congresso, cujo ambiente de festejo e congratulação, era contagioso a todos os que ouviam o discurso eleitoralista que Bush proferia. Cada palavra minimamente pensada num discurso totalmente virado para despertar o entusiasmo numa plateia que celebrando efusivamente com palmas e toadas bárbaras e primitivas se iam esquecendo da política miserável do seu presidente camuflando temporariamente o que acabaria por suceder mais tarde, a vitória dos democratas, tanto no senado como na câmara dos representantes.
Hoje vi o líder de uma grande nação aproximar-se mais um passo na direcção da inconsciência e da animalidade, do terror subjacente à expressão " afinal quem é que manda aqui ?" celebrando a morte de um homem, que merecendo ou não, não é essa a questão de que aqui se trata. Entenda se aqui claramente que não estou a discutir a legitimidade nem o quanto esta sentença é, ou não adequada nos cânones da justiça iraquiana, mundial, e humana, pois para quem comete crimes da dimensão bárbara de que Saddam é acusado, não há pena possível nas dimensões do humano a aplicar por forma a possibilitar a rebilitação de alguém e sua consequente re-inserção na sociedade. Não há, ponto.
Acho simplesmente, que um indivíduo que se encontra na posição que ocupa o Presidente dos Estados Unidos, não deveria dar a uma nação eleitora, que toma o líder do seu país como um modelo (a seguir ou não) estas mostras completamente primitivas "do ser mais forte", da mostra de poder exacerbado por uma posição e um status hierarquicamente mais elevado, comparável a uma cadeia alimentar em que todos os outros ficam abaixo, submissos à hegemonia dos mais fortes.
Abrir uma janela destas, é escancarar totalmente uma porta, sem precedentes a um mundo muito pior sem carácter humanitário onde ele é mais preciso, no respeito pela vida e morte dos indivíduos, e repito mais uma vez, quer estes o mereçam ou não, à luz da justiça óbviamente. Estou só a tentar desenvolver aqui uma ideia que é pouco comum nos dias de egoísmo que se vivem actualmente, a de que nestas questões que implicam a vida e a morte não somos ninguém para julgar, e quanto a mim, o facto que é condenável em toda esta situação, ainda pior que o valor atribuído a esta condenação (repito mais uma vez, justa ou não), é a celebração desse facto.
Os Estados Unidos marcaram a sua posição neste conflito estratégico que decorreu sobre a égide de uma premissa falsa (a do pseudo armamento químico do Iraque), mais uma questão à qual não me vou referir sequer, tal é o transtorno que me causa sequer pensar que legitimidade e autoridade terá um indivíduo que usa um argumento falso para criar uma guerra, com todas as consequências que esse facto envolve, de se congratular com a morte de outro homem.
"What goes around comes around", they say, mas quando um dos homens mais poderosos do planeta, atravessa a ténue linha que nos torna humanos e deambula no mundo vingatório da manipulação e abuso de poderes, nada impede as mentes mais influenciáveis e moldáveis de seguirem estes comportamentos da falta de noção humanística da realidade.
Não tenho absolutamente nada contra os Estados Unidos (a não serem os factos que já referi anteriormente), entenda-se e sinceramente acredito que o mundo seria um local mais hostil e conturbado, sem a sua posição de respeito hegemónico, invariavelmente decorrente de décadas de história que só são necessárias para um mundo melhor se foram para proporcionar a liberdade, a quem esta não se constitui como um direito essencial nos dias que correm. Tenho apenas problemas e medo em relação a certas políticas manipulatórias de um nível barato e bacoco, de manipulação e alteração de factos, informação e documentação afim de interesses próprios, e sem querer entrar numa toada conspiraccionista, acho que os caminhos actuais de política externa dos estados unidos se encontram de alguma maneira apontados nessa direcção.
Não vou sequer referenciar acontecimentos actuais, pois estes estão à luz de qualquer pessoa que se informe minimamente e se mostre interesse nestas questões da actualidade.
Estados Unidos: sim. Políticas totalitárias, manipulatórias e imoralismos: não, obrigado.
Hoje vi o mundo afastar se um passo mais da moralidade e bom senso.

Hoje vi o mundo ...

e não gostei do que vi

Obrigado

Antes do mais quero em primeiro lugar, agradecer aqui publicamente o convite que me foi dirigido pelo meu caro amigo e colega Pedro Oliveira, para integrar este local de reflexão, pensamento e discussão de todos os assuntos merecedores de tal privilégio. Era um projecto há muito pensado e idealizado, embora quase sempre remetido a um segundo plano devido ao sempre conturbado pragmatismo proveniente das circustâncias das nossas vidas. Mas a oportunidade surgiu, ousou pulsar e despertar em nós a vontade que poucos têm e se orgulham dela: o empreendedorismo generoso de pegar nas coisas boas que ainda restam neste mundo e fazer delas um motivo de reflexão constante por forma a sentir a vida de todas as maneiras possíveis e imaginárias, sempre de uma forma fundamentada pela análise das pressões de todos os mundos que nos envolvem, pressões estas, referidas pelo meu caro amigo Pedro numa analogia genial ao segredo do Zé sobre a condução em Lisboa .
Muito sinceramente e remetendo o assunto ao seu excelente texto travar/respirar fundo, é incrível como me revejo mais vezes do que as que seriam desejáveis nas suas palavras caro amigo, especialmente em dias conturbados de depressão e ansiedade proporcionada pelo stress de dar 150% de mim em todas as situações, e o consequente medo de ser completamente absorvido pelas circunstâncias, não me sobrando espaço para a generosidade genuína de ter e dar sem esperar retorno, de não me sobrar espaço para um dos últimos sentimentos verdadeiramente altruístas do ser humano, e que tão necessário é actualmente, não só a quem é alvo, mas também a quem o pratica.


"Chi e' generoso e' sempre forte".

quinta-feira, novembro 16, 2006

As minhas aulas de conduçao

Com alguns atropelos, mas felizmente ainda sem quaisquer atropelamentos.

Metro



Quilómetros e quil
ómetros de espaço
Comprimido
Por entre olhares desviados
(Corpos cansados...),
Que não podem buscar senão
Humanidade
Por entre o fluxo do vazio,
Perante a escuridão lá fora
E c
á dentro.

Nossa é a luz
Que ilumina o caminho.
Mas será, na verdade, nossa?
Não... Nada é nosso,
Mais do que o saber estar sozinho.

Assim viajamos nós,
Quilómetros e quilómetros de espaço,
Interdito
À mais pequena emoção.
E empurramos pensamentos (risos, cantos, histórias, almas)
Por entre fal
sas calmas
Até à próxima estação.

Pedro Oliveira

Vozes do Passado, Ecos no Presente

[...]
Homem de um só parecer,
De um só rosto e de uma fé,
De antes quebrar que volver,
Outra coisa pode ser,
Mas da Corte homem não é.
[...]

"Carta a El-Rei D. João III", Sá de Miranda (Coimbra, 1481-1558)

sábado, novembro 11, 2006

Travar/Respirar Fundo

Ter 22 anos é sempre difícil, e talvez sempre tenhamos a necessidade de dizer que é mais difícil quando somos nós. Afinal, o mundo nasceu connosco, e não percebemos porque raio não se adapta àquilo que intuitivamente cremos que ele devia ser.

Mas ter hoje 22 anos é difícil. Para além das barreiras e maldições de Tântalo da idade, há incertezas que nos consomem. Estão sempre lá, “in the back of the mind”. Será que terei trabalho? Será que serei feliz no meu trabalho? Sou de esquerda ou de direita? O que é exactamente o capitalismo?, e até mesmo: Será que vai haver uma guerra para a minha geração?. Contudo, a maior parte das vezes, felizmente, continua a ser: “Muito gira... ficava mesmo bem ao meu lado".

Quando por vezes me concedo pensar nessas angústias, e n
ão consigo vislumbrar uma resposta, lembro-me do Zé e encerro a questão.

O Zé era uma figura míticia da aldeia. Já morreu, coitado, nem o cheguei a conhecer. Mas tantas vezes o meu pai contou as suas anedotas que sinto que as vivi também. O Zé, na verdade, era conhecido como... Zé da Merda. Segundo os relatos, o seu emprego da palavra profana era constante: “Já fui fazer a m.... que me pediste, Comprei a m.... da enxada por tanto, Fui à m.... da feira”, de tal forma que a trivializava e domesticava. O seu significado perjorativo deixava de estar associado ao uso para depender do tom. Uma vez, após o 25 de Abril, numa sessão de esclarecimento do povo, ouvia aqueles jovens a falar de democracia e democratas, devidamente sentado na plateia. A certa altura, tanto a palavra balançava de frase em frase, que, ansioso, se levantou e disse: “Mas então o que é que é essa merda dos Mocratas?”. O riso foi geral, malgrado a sua sinceridade.

Mas o Zé vem a propósito não dessa, mas de outra história. O Zé era um herói da aldeia, não pelo registo cómico, mas porque sabia guiar em Lisboa. E isso de guiar em Lisboa era coisa só para alguns, predestinados. Ainda hoje lá conheço pessoas, hábeis a conduzir, que nunca se aventuraram no tráfego lisboeta. Mas o Zé era generoso, um dia partilhou o seu segredo: “É assim: a mim disseram-me que os gajos lá, se tu estiveres parado, quem te bater é que tem a culpa. Então, quando me vejo apertado, travo aquela merda a fundo. Se eles baterem a culpa é deles!”

Às vezes, quando me sinto confundido pelo mundano, e não sei bem qual dos lados que me puxa tem razão, lembro-me das palavras do Zé. Travo a fundo.

Se eles baterem a culpa é deles.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Generosità

Quando il povero dona al ricco, il diavolo se la ride.