quarta-feira, junho 18, 2008

Clausura: Saudades do Silêncio

Eis a palavra que mais soa na minha cabeça, permeando barulho citadino, trabalhos maquinais, má-educação e canalhice, ausência de beleza e frescura, trânsito, aridez emocional, velhice, ausência de divino, desilusão com o próximo, projectos por cumprir, pressões de vária ordem, de várias partes, descompensações de exigência pessoal, notícias enervantes, cautelas, esforço psicológico - "saco cheio".

Clausura: silêncio, recolhimento, reflexão. Fechar as portas durante uns tempos, depois voltar.

O Paradoxo do Começo

Ocorre-me esta semelhança paradoxal entre mulheres bonitas e empregos: em ambos é valorizada (talvez inconscientemente no caso feminino) a experiência prévia.

Ora, como começar a angariar uma história de experiência prévia se ninguém dá a oportunidade de começar?

O Ovo e a Galinha

Um homem faz-se enquanto tal porque está ao lado de uma mulher excepcional, ou merece-a porque se cumpriu antes enquanto homem?

Gratidão a posteriori ou conquista a priori?

Works Magic

Ainda a propósito do tema "mulheres", um conselho, ou um aviso: muita cautela com o poder imenso do melhor chocolate suíço. Works magic. Assutador. A eles, que não o usem maquiavélicamente. A elas, que não se deixem instrumentalizar. A ambos, que aproveitem as delícias que vida vos oferece.

O Regresso do Rei (Versió Catalana)

Por mais que o admire, e especialmente por ser português, a relação de grande amor ao seu clube por parte de Rui Costa não é um caso único. Do outro lado da península, Rui Costa es diu 'Pep' Guardiola - o puto que fazia de apanha-bolas aos ídolos, e depois conquistou o coração dos adeptos. É o novo treinador do Barcelona. Curioso como o melhor da geração de 90' anda a voltar a casa.

Nerd To The Bone 2

Porquê estas sucessivas opiniões e ensaios sobre mulheres? Bom, nunca ouviram dizer que o cientista acantonado numa festa, sem meter conversa com nenhuma mulher, é justamente aquele que vai para casa escrever um artigo científico explicando porque não conseguem os homens meter conversa com mulheres?

E Deus Criou a Mulher

Já que se anda neste vício de análise feminina (era isso ou falar dos combustíveis), ao menos recorrer a especialistas, como a senhora Perrot, que escreveu este interessante livro, comprado de fugida em Genebra:


A Rainha Vai Nua

Há coisas sobre as mulheres que só elas ousam dizer numa conversa entre sexos. E às vezes também, só elas ousam pensar.

Falava no outro dia com uma amiga sobre uma mulher com tiques de personalidade muito difíceis de digerir. Solteirona, e com a idade avançada, sob o espectro do não-retorno. E encontrando noutros aspectos da vida o "surrogate" para não ser mãe. Mas, por muito que andem à volta da coisa, há poucas maneiras de substituir o que é natural - e isso nota-se. Foi a minha amiga que saltou a conversa para um comentário clássico - entre conversas masculinas. "Ela tem é falta de homem". Vindo dela, soou desconcertante - mas também estranhamente libertador.

A mesma amiga critica-me alguns dias mais tarde por eu ser tacitamente contra esse hábito de pintar as unhas. Pois é. Pois sou. Quem é que falou aí em Salazar? Calma. Mas qual bota-de-elástico?... Então não posso não gostar de ver mulheres com unhas de cores berrantes - e às vezes num trabalho tão imperfeito que realmente só pode prejudicá-las? Não é que eu não goste de mulheres com unhas pintadas. Nada tenho contra cores suaves, de todo. Custa-me, sim, ver o encanto de certos vermelhos e pretos. Para não recorrer ao náuseo roxo. Pergunto-me muitas vezes se eu próprio tenho legitimidade para criticar. Raramente o faço. Acontece somente que tendo a gostar mais de mulheres que não pintam as unhas - e é só isso. Como se existissem mulheres óbvias para homens óbvios, e mulheres discretas para homens discretos. Não vamos meter tudo no mesmo saco.

De qualquer forma, e retomando a tese inicial, eis que a minha amiga me acusa, a certa altura de conotar o pintar as unhas com as "mulheres da vida". Tão repugnante me pareceu a associação - dado o banal que é o enfeite em si - que fiquei novamente surpreso. Não faço, de modo nenhum essa violenta correlação. Como expliquei acima, as minhas razões são originais. Agora, divirto-me em reparar como, mais que um preconceito da minha parte, existe um preconceito contra a minha posição. Isto é, não se pode ser contra, sem ser conotado com essa razão. Vêem como as coisas às vezes são, curiosamente, tão circulares? Mais que praticar o preconceito, sou eu vítima dele! E, só para esclarecer as coisas, quando eu acima falo de mulheres "óbvias" - da mesma forma que falo de homens "óbvios" - refiro-me a um conceito de normalidade, muito mais amplo que esse bas-fond.

Mas eis de novo o tipo de comentário que eu, creio, nunca puxaria para a conversa com ela. E, provavelmente, nem sequer entre homens o faria.

Sacudir a Culpa

É curioso reparar em como, desde Eva a Pandora, passando pela irmã do Zidane, os homens tendem a atribuir às mulheres tudo o que de mal acontece na sua vida. No fundo, era o que dizia o profeta.

terça-feira, junho 17, 2008

Dies Irae

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!

Miguel Torga (1907-1995)

domingo, junho 15, 2008

Generosità: Maintenance Report

Desconfio que podem existir alguns vírus a colocar publicidade no blog. Não estou certo, terei que verificar. De qualquer forma, desde logo apresento as minhas desculpas por algo que seja (muito) fora do normal.

Não haverá problema de maior, contudo. Não é nada que não esteja acautelado.

Pecado Original 28


Extremamente bem impressionado com as mulheres suíças (quem diria que havia coisas ainda melhores que os chocolates, relógios, bancos?), fica aqui a homenagem àquela que será talvez a sex-symbol suíça mais bem conhecida de todos os tempos: Ursula Andress.


Honneur

Em jeito de agradecimento pela exemplar hospitalidade suíça, admito que não lhes fica nada mal este vitória sobre Portugal. Desde logo, do ponto de vista de futebol jogado, é provavelmente merecida...

Fica bem puxar pelos galões da honra, de dar essa alegria ao país. Como no seu lema nacional: "Unus pro omnibus, omnes pro uno", ou "um por todos, todos por um".

Cheiro Setembrão

Veio mais cedo o cheiro que antes era setembrão, a a terra seca libertada pela chuva... Entra pelo blog adentro... Não o sentem?

Como os Salmões

"Eh pá, honestamente. Aquilo é um ambiente tão 'feminino', tão 'ar condicionado', tão 'cuidado senão pisas-me' que eu sinto-me elefante em loja de porcelana. Às vezes até parece que sinto os colhões a subirem, a fazer o caminho de volta. Como os salmões."

Orishas

Já que não os conseguimos apanhar no Rock in Rio (com inefável pena, eram os meus preferidos nesse dia), que ao menos no Generosità haja a sonoridade desconcertante, porque poderosa sem deixar de ser suave - como um charuto cubano - dos Orishas.


Ao Balcão

Uma das coisas curiosas em trabalhar numa farmácia é perceber a extraordinária amplitude na possibilidade do erro. Podem não acreditar, mas existe uma burocracia absolutamente insana a cumprir - o estalinismo no seu melhor - por causa das comparticipações a receber do Estado. A probabilidade de errar em vários aspectos - sejam de ordem burocrática, sejam na vital correspondência do medicamento com a receita, e na melhor terapia para o doente - é enorme.

Juntemos a isso uma farmácia cheia de gente a olhar para nós, com toda a pressa para sair dali, e o cansaço por estar constantemente em pé, e eis que a consciência, o dever de fazer tudo bem, gera um stress muito próprio. A que, devo avisar, os cardíacos se devem escusar. Acreditem. É como fazer malabarismo. No ar estão suspensas as bolas de receita correcta, comparticipações a fazer, entidades oficiais, número de medicamentos, objectivo, dosagens, stocks, preços, indicações, dinheiros, facturas, etc., etc.. E nós não podemos deixar cair nada no chão. Nada mesmo. E parece que a nossa formação está tão longe de tudo aquilo que assusta. E depois há a cortesia profissional, a defesa contra a chico-espertice alheia, a estranheza pelas pessoas, de tipo tão variado, que é preciso atender. Mas há momentos engraçados, pessoas muito simpáticas, incipientes aplicações de raciocínio clínico.

A esse propósito, contudo, devo dizer que esta é realmente uma era líquida para a Medicina, e a Clínica. As certezas, os dogmas parecem esfarelar-se. Façamos marcha-atrás. Antes o médico era reverenciado e as universidades guardiãs do Saber. Hoje tudo está democratizado, e o doente sabe (ou pensa que sabe) muito sobre a sua condição, e tende a bombardear o médico, ou o farmacêutico com as perguntas mais ridículas. Eu sei lá se não há problema em comer abacaxi às 3 da tarde quando faz esse medicamento! O problema é que a honestidade é algo de fundamental nesta área. Um erro é fatal, e nestes pormenores ridículos existem por vezes questões de relevo. É como se 99% das questões fossem, com efeito, inúteis, mas o 1% fosse perigoso demais para as ignorar. Uma falta de atenção, concentração, esforço de raciocínio em Saúde pode ser fatal.

Mas eis que, ridiculamente, em simultâneo, existe cada vez menos dúvida filosófica, capacidade de interpelação a nós mesmos se a regra está certa ali, se a parte ou o todo são o problema. A ignorância, de facto, tem por filha dilecta a arrogância. É tão triste ver fugas para a frente, um "não sei ao certo, mas aposto que é assim, e ponho todo o meu ser nisso. Ai de quem contestar." Tanto pé de barro...

Falta talento, enfim - e isso diz tudo. E o talento na Saúde das pessoas é algo de primordial. Perguntem à maioria da população portuguesa, e ela vos dirá o quão preza essa arte. Eu tinha a mania que tinha essa capacidade de raciocínio em mim, e fiz a minha função. Candidatei-me antes a Medicina, e não fui aceite. Tenho a minha consciência tranquila. Nunca poderei ser enquanto farmacêutico o que seria enquanto médico - faltaram os mestres - mas posso ser mais livre, ter uma vida totalmente diferente. Às vezes, olhando a maneira como as coisas são feitas, ainda tenho a impressão que estejam fundamentalmente erradas... Mas já não é a mim que compete mudá-las. Convém somente ser o melhor farmacêutico possível, puxar por toda a qualidade, mesmo sem o reconhecimento social que tem (e justamente) um médico.

São assim difíceis e intrigantes estes dias. Mas o treino é de ouro. E está quase completo.

Reading List 2



"Leonardo", por Martin Kemp, especialista britânico. Uma boa apresentação geral, mais que uma biografia propriamente dita. Inícios, motivos, obras, alusões, impressões. Um livro que se diria ligeiro, estivesse em português. 246 páginas em inglês, claro, fazem-no mais duro. Primeiro livro de um tema, um personagem direi antes, que se tornará recorrente, depois de uma "provocante" viagem a Itália e a algumas de suas obras.

Intermezzo: Confundir a Confusão

Maracaibo.

"(...)Si ma c'era Pedro
con la verde luna
l'abbracciava sulle casse
sulle casse di nitroglicerina(...)"


Instantâneo 1

Ele não torcia tanto por Portugal, a não ser quando a equipa ganhava. Antes fazia gala da sua equipa ser a Itália. Esguio, fino como quem passa pela estupidez alheia, os olhos azuis, grandes e vivos - como todo ele fosse olhos - não alimentava conversas fátuas, e ao balcão daquele café pedia, naturalmente, uma "bica curta". Com o obséquio de o fazer em português, porquanto não soubesse italiano. Mas era fluente no estilo, e isso bastava. Assim andava, esgueirando-se pelos dias estúpidos dos outros, vivendo talvez confortavelmente de um subsídio de desemprego, bebendo café, e torcendo pela "sua" Itália, esquecendo a ingrata gravitas da vida, que o prendia àquela árida terra a que os outros portugueses chamavam de "Odivelas".

Zé Morandi

Ele há coisas curiosas. Uma delas é como ser possível haver na minha aldeia um sósia perfeito do Gianni Morandi. Só não tem a mesma voz. Ah, estes países verticais...


Intermezzo: Confundir a Confusão

Uff... Vida confusa e veloz. Fazer uma pausa, confundir a confusão.