quinta-feira, dezembro 07, 2006

Esclarecimento

Convém fazer um pequeno esclarecimento a alguns amigos que visitam avidamente este blog (cerca de 2). Reservo-me o direito, enquanto co-autor, de publicar no Generosità a poesia medíocre que faça. Simplesmente porque às vezes os dias não são perfeitos, mas são os nossos dias, e passamos por eles como podemos. Em todo um novo dia há um poema, e nem todos os dias são Pessoa, são mais vezes Aleixo. Recorrendo a Rui Veloso, eu diria que às vezes a poesia que eu pensava saber à flor do jasmim, sabe a chicle de mentol. E, curioso, eu até gosto dela assim.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

L'ombelico del Mondo


Em estágio para a Cidade Eterna, com Mega Ferreira:

Pecado Original 5






Melissa Theuriau, a pivot que dá aos franceses (imagine-se) as notícias da manhã. Tenho para mim que qualquer bom português, perante o profissionalismo que certamente é apanágio de Melissa, acabaria o telejornal, novas sanguinárias ou de boa esperança, igualmente a semi-sorrir e a coçar o queixo: "Isto tá bonito, tá...".

A Agenda Necrológica

Creio que nunca a vida pública portuguesa foi culturalmente profícua. Ou antes, foi-o quando a "vida pública", no sentido de partilha intelectual, era apenas acedida por uma pequena percentagem da população.

Durante o Estado Novo, a censura, naquilo que exactamente a definia como moralista, filtrava o boçal, o bizarro*. Havia um bas-fond que a maior parte do país não sabia sequer existir. No grande palco do Estado Novo, a censura foi um alçapão, que nunca se soube estar lá, e que, de repente, se abriu violentamente. Escondeu sempre uma forma de ser português, de ser humano**. Se essa face que ocultou é a regra ou a excepção, é todo um outro debate.

Mal ou bem, a censura permitiu uma plataforma, calando as massas, para o desenvolvimento de temas intelectualmente exigentes, que diríamos hoje eruditos, elitistas, afectos somente à especialidade. Por isso se discutia Ciência, Literatura, Arte, em jornais generalistas, com grande profundidade. As geraçoes de hoje são, claro, indignas dessa herança porque a desconhecem primeiro, e depois porque a não poderiam apreciar. Embora, convenhamos, as geraçoes actuais estejam sujeitas a outras solicitaçoes, o mundo da Imagem que se criou trouxe consigo muitos novos Tântalos, também conhecidos por "consumidores". E o lazer é mais plural, naquele tempo era mais fácil gostar dessas áreas do Saber, amantes caprichosas e exigentes mas sempre intensas. A própria organização social mudou radicalmente, e há algo de excelência intelectual que está inevitavelmente ligado a uma sociedade paternalista, gostemos ou não.

No entanto, consideradas as diferenças, chegamos ainda assim à conclusão de que os nossos media estão cheios de pseudo-factos. De pseudo-protagonistas, de ruído. Não se compadecem dessa História, Ciência, Arte. Não há tempo para mais que a tradução dos mesmos factóides internacionais. Só esporádicamente há uma subida de nível cultural na situação concreta da morte de alguém famoso. Aí sim, surgem protagonistas, histórias, perspectivas, desenterram-se grandezas e guerrilhas. Limpa-se o pó aos móveis da sala nobre da nossa história.

Há, assim, uma agenda necrológica a dominar os media. Está aí, perante os nossos olhos, uma cadência de marcos cronológicos que estão centrados na morte de um personagem. O último foi Cesariny. Pergunto-me quem virá a seguir.

*veja-se a série que Pacheco Pereira tem vindo a publicar no Abrupto.
**leia-se Fernando Dacosta: "Máscaras de Salazar" e "Nascido no Estado Novo".

domingo, dezembro 03, 2006

Pecado Original 4


Gisele Bündchen