quarta-feira, julho 23, 2008

Mrs. Robinson



Boa tarde, Mrs. Robinson -
Todo o prazer
Em a conhecer.
E às malhas em que teceu intrigas
E que despe...
Como às minhas inocências,
Demasiado antigas
Para as não reconhecer.



Mas... engane-me ainda
Como se eu soubesse escolher.
Por favor.
Nas malhas em que me prende
Os sentidos
Há mais diabos que os seus -
Acredite.

Porque, Mrs. Robinson,
Mesmo que eu soubesse
Escolher...
Nunca pensou
Que eu pudesse só querer
Antes, esse prazer
De a conhecer?

Pedro Oliveira


Irrequieto, Constante e Feliz: O Adeus a João Pinto

Um adeus sentido a João Pinto. Pequenas notas: sempre me pareceu gostar, verdadeiramente de 'jogar á bola', sempre me pareceu estar muito confortável na sua portugalidade - de tal forma que escolheu fazer carreira em Portugal, ao contrário de seus co-aureogeracionais, sempre me pareceu um pouco mais genuíno em campo (de tal forma que raiava a agressão).

Constantemente irrequieto em campo, constante também na sua vida, na sua carreira. Sem deslumbres ou quimeras, passando pela vida como pelo jogo - com esforço, simplicidade, discernimento, e... prazer, felicidade.

Para a história, o melhor golo de cabeça que me lembro de ver (a desafiar a Física), no melhor jogo de sempre, para mim da selecção.

Estupidimetria

Tenho a noção de como o que escrevo é, recentemente, alterado pelo calor. Mas os posts, mesmo assim tostados, são para ser escritos. A vós a paciência.

Batman

A propósito do blog, e daquilo que eu escrevo no blog, tenho repetido que não gosto de misturar o 'real' com o 'virtual'. Partindo do princípio que todas as pessoas com quem lido diariamente sabem do blog, peço que percebam que ele é escrito por uma espécie de 'alter-ego' criativo, como que um Batman, entretendo Gotham City (Brandoa, em português) a partir da sua Batcave.

Serenidade

Explicava eu como, na sociedade actual, de competição e stress constante, é sempre necessário a um rapaz, a um homem, ter uma contra-parte feminina na sua vida. Porque senão - assim vai a teoria - com os níveis de testosterona nos píncaros do desassossego, não faltam pequenas agressões no dia-a-dia que os possam concretizar em algo desagradável.

Escolher uma parceira, para nos garantir essa serenidade de espírito é evitar, ao tomar o pequeno-almoço de manhã no café, pensar 'Este gajo serviu-me o café a escaldar de novo. É hoje que lhe vou à cara'. Ou, à tarde: 'Aquele gajo olhou duas vezes para mim. Está f*****'.

Sem mulheres não há, provavelmente, paz, não há serenidade. E a coisa aqui é toda ela afectiva - está além do sexual. O sexual, convenhamos, é fácil de resolver nestes tempos.

O problema, claro, está na pessoa que, por sortes na vida, temos a oportunidade de acolher, e ela a nós. Nessa pessoa é feito um investimento demasiadamente importante, como o ela o faz em em nós. Mas que esse é um destino inescapável, para a maioria, numa sociedade civilizada e intelectualizada, tenho-o como praticamente certo.

terça-feira, julho 22, 2008

O Momento Chimpanzé

Já o disse algures, neste blog: como humanos (e a expressão não é minha) somos, assustadoramente, um híbrido: somos chimpazés intelectuais. Às vezes mais chimpazés, outras mais intelectuais.

Serve esta recapitulação para vos falar daquilo a que chamo 'momento chimpanzé', no sentido de um assomo, justamente, da porção mais primeva e bruta da natureza humana. Ora, o momento chimpanzé é um desvio momentâneo do comportamento socialmente, correcto, para revelar instintos primários. Tem várias modalidades, mais ou menos graves, mas pretendo aqui tratar um favorito pessoal (porque nele incorro), perfeitamente inofensivo, e que chamarei de 'esgar ao decote'.

Antes de continuar, um apelo à vossa total complacência estival para as linhas que se seguem. Muito obrigado.

Ora bem, o 'esgar ao decote' é um movimento súbito, um desvio da linha do olhar de um indivíduo do sexo masculino para o decote de outro indivíduo, do sexo feminino. Já estão escandalizados? Esperem que a coisa piora.

É assim mesmo. De repente a cabeça dele está descaída, os olhos fixos num decote à sua frente. E o pior é que, na maior parte das vezes, ela nota, e ele nota que ela nota. Que me perdoem a honestidade, mas todos sabemos que esses desvios involuntários, masculinos (creio que exclusivamente masculinos) para uma porção do corpo feminino - acontecem. Literáriamente, poderíamos dizer que o 'esgar ao decote' seria uma sinédoque: consiste em tomar a parte pelo todo. Os olhos ficam, desconcertantemente, presos numa área que lhes é interdita, e o tempo pára até ao ao alarme da vergonha (para quem ainda o possui).

A mim, que desde logo me confesso padecer deste mal, a coisa acontece-me sobretudo em jantares. De repente, desocupado de conversas com quem quer que seja, os olhos viajam por vários lugares, e acontece pararem, sem aviso, a sua viagem, no lugar onde não devem. É como se estivessem a fazer um 'scanning', à Robocop, do ambiente para registo na 'drive', e, na inocente contemplação, e não se apercebessem de que, num segundo, nada é já inocente - ou pelo menos aparenta não o ser.

Era uma vez, portanto, um ingénuo sr. Robocop, a inventariar, a 360º, a realidade em torno de si. 'Log In': [Prato], [talheres], [metade de carcaça com migalhas na mesa], [faca suja de manteiga], [prato com azeitonas], [copo de sangria meio-cheio], [toalha laranja], [jarro de sangria], [amigo X, ao meu lado, falando com amiga Y, à minha frente], [K falando para G, do doutro lado da mesa], [R olhando para o ménu], [D rindo-se com a amiga F], [quadro foleiro sobre a parede ocre], [candeeiro por cima da amiga Y à minha frente], [seios de Y], [seios de Y], [seios de Y?], [seios de Y!!!], [WARNING: DESVIAR OLHAR], [WARNING: DESVIAR OLHAR], [vazio embaraçado], [vazio embaraçado].

É aí que o Robocop tem um assomo de vergonha e culpa angustiante, que o levam a aumentar o ritmo cardíaco e a sudorese palmar. É aí que o Robocop é humano, demasiado humano. Tantos anos de Civilização a tentar programar o chimpanzé, e o chimpanzé foge assim, dança provocativamente em frente a nós, aproveitando um descuido.

Vem depois a fase do 'Damage Control'. Entenda-se: ela percebeu ou não? Geralmente, percebe sempre. É uma chatice. A questão que realmente me intriga na coisa é que este fenómeno embaraçante é absolutamente indiscriminado. Por exemplo, acontece-me sucessivamente com raparigas, ou mulheres, que não têm, para mim, um certo apelo. Quer dizer, que não são impactantes, não me despertam tanta curiosidade.

Vou só fazer aqui um aparte: para o caso de me considerarem pedante, perceber que eu, como rapaz (por um momento ia escrever homem) não tenho a pretensão de aguçar qualquer curiosidade feminina. Quer dizer, há algumas que se interessam - misteriosamente - mas depois, ao ver a peça mais ao perto, logicamente mudam de ideias.

Digo somente que, se fosse possível - e correcto - assignar um 'coeficiente de atracção' imparcial (sabendo eu do quão miserável é o meu, masculino), às mulheres, acontece-me mais esta 'fuga do símio' com as que não, tendo toda a dignidade de mulheres embora, não me obrigam a tão alta classificação. O que não deixa de ser curioso.

É como se o chimpanzé, fugindo, ainda por cima o fizesse por forma a lixar-me ainda mais. Quer dizer: no extremo absurdo de uma rapariga até se sentir... lisonjeada, o sacana do macado só me compromete com quem não deve. Raios o partam.

É assim que a coisa funciona, de facto, meus amigos. O chimpanzé está sempre lá. E não me venham rapazes que leiam este texto dizer que a eles não, que eu bem vejo como isto não me acontece só a mim. Anda para aí muito chimpanzé encapuçado, é a verdade. É uma selva, lá fora. Uma verdadeira selva.

domingo, julho 20, 2008

Conhece as Pedras da Calçada - Conhece o Teu País

Ainda a propósito da tal 'Obrigação de Saber', pergunto-me se essa será, na nossa sociedade intelectualizada (mas pouco intelectual, por vezes), a derradeira moralidade. Quer dizer, uma moralidade pela sexualidade, neste 'day and age' já não faz efeito. Durante muito tempo o tentou a Igreja Católica. Se pegarmos na obra de cada qual... bom, numa sociedade de 'showbiz', que glorifica 'Big Brothers' e Cirstianos Ronaldos (leia-se êxitos instantâneos), acho difícil. Depois, há muita gente, demasiada, que se sabe ou suspeita fazer má obra, sem por isso ter o mínimo castigo (houve em tempos uma coisa de Justiça, mas deve ser um mito).

Portanto, o comportamento em sociedade das pessoas não é sujeito ao juízo moral devido. É uma coisa do nosso tempo, em termos de regressão da sociedade, mas também decorre da própria complexidade que se ajuntou a essa sociedade. Se antes um ladrão roubava um pão, e era óbvio, hoje desvia dinheiro do Estado - e ninguém o detecta.

Podemos considerar o aspecto físico, e a riqueza pessoal. Mas esse 'capital pessoal', nas várias formas, não é verdadeiramente, uma questão sujeita à moral. Uma pessoa pode ser extremamente rica ou extremamente atraente sem para isso fazer o menor esforço. Sem ter mérito ou culpa, portanto. E a questão da moral anda toda à volta do mérito e da culpa.

Talvez reste a 'obrigação de saber'. 'Eu não o posso recriminar por isto, ou aquilo, ou aqueloutro (demasiados telhados de vidro por aí), mas espera... ele tinha a obrigação de saber isto'. Saber=bom=mérito. Não saber=mau=culpa. E, como sempre em Portugal, a moral é aproveitada para o 'bota-abaixo', mais do que para o elogio. Quer isto dizer que muito mais vezes o mérito passa sem elogio que a culpa sem uma recriminação.

O problema, realmente, está na difusão do que se tem, realmente que 'saber', e na avareza com que o conhecimento fundamental é transmitido... É que há muitas lacunas onde tropeçar. É como se determinado corpo de conhecimento fosse a típica calçada portuguesa. Parece simples, e bem bonita. Suave, convidativa. Mas... não convém a ninguém entusiasmar-se a andar por ela. Não correr, não pensar que se é 'o maior'... Há sempre uma pedra solta a amandar ao chão quem gosta de tentar correr por aí.

Da mesma forma, por mais consistente que seja o domínio de um tema, há sempre quem tenha um facto solto para com um 'obrigação de saber' (tentar...) amandar-nos ao chão. E esse é um problema, sobretudo, para a juventude. É o paradigma da 'obscenidade do erro', no extremo oposto do 'nacional-porreirismo'. São como dois afluentes, vindos de direcções diametralmente opostas, a desaguar num mesmo rio. E às vezes as pessoas jovens basculam de ambiente para outro, como joguetes dessas diferentes 'ordem das coisas'.

Ofender a Inteligência

Um fenómeno curioso de observar é o de um certo conflito de gerações, quando os filhos tentam enganar os próprios pais. Não é algo raro, esse fenómeno, nem de agora. Mas os filhos, quando não mentem, mormente ocultam a verdadeira intenção por detrás das suas escolhas aos próprios pais. Às vezes quase há a tentação de trair a própria geração, e avisar: 'cuidado! olhe que o seu filho/sua filha está a ofender a sua inteligência! Eis aquilo que, verdadeiramente, está por detrás do que ele/ela lhe diz'.

Não tenho presunções de ser perfeito, claro. Mas a cada dia que passa percebo que, nesse capítulo, pelo menos, sou melhor que a média. E ninguém me furta esse orgulho.