sexta-feira, abril 11, 2008

All The Lonely People

Raia hoje o sol, e traz-nos a sua benção. Já não as manhãs cinzentas. Mas, mais que o céu, pergunto-me quem são as pessoas. Quem são as pessoas que passam assim pelas manhãs cinzentas, e pelos edifícios cinzentos. Que passam pelo feio e pelo sujo sem notar mais que é feio, e que é sujo. Que vão sozinhas, consigo mesmas, remoendo seus desejos e angústias. Culpando alguém. Quem? Não interessa, basta culpar. E andar, passar a rua, os outros, até ao destino. Onde? Não interessa, basta chegar. Passar pela manhã cinzenta, as ideias cinzentas, as dúvidas, as tentações que surgem, as pessoas que se desejava conhecer, as que se desejava não conhecer. "Como sair desta vida?". "Não posso", porque "ficava na obrigação", ou "era bruto", ou "mal-educado", ou "ingrato", ou "descobriam-me". Não podem - e a vida ergue-lhes um muro. Não podem. E a criança pergunta à mãe porque andam sozinhas aquelas pessoas, porque não andam com a sua mãe ou o seu pai. Porque andam elas sozinhas?


A Crise e a Oportunidade

Pois é. A coisa anda mesmo mal por Itália. Eu continuava logo com a piada óbvia de que há muito português a exportar. Mas... desconfio bem que mesmo em Portugal, a satisfação a esse nível já esteve melhor. É uma suspeita - nada mais que isso.

Vejamos, contudo: face a uma crise, há aqueles que a ela se rendem. E depois há aqueles, poucos, que a conseguem aproveitar.

Redundante

Alguém me dizia hoje a propósito do meu signo, que os seus contemplados são tipicamente idealistas, mas também "lidam muito mal com a decepção". A pessoa não se apercebeu, nem eu me apercebi na altura, da perfeita redundância nessas características: é que ser idealista passa, inexoravelmente, por se irar com o mundo tal como ele é, pela vida tal como ela nos corre. Não se pode ter a capacidade de sonhar alto e depois gostar do panorama aquém dele.

Boa Sorte

Entrevista muito interessante (aqui) do neto mais velho de Belmiro de Azevedo. Sínteses, em alguns aspectos, bem próximas das que eu prego. Não estou maluco, pois. Vale a pena ler.

Será ele um português de futuro? Quem sabe. De qualquer forma, é melhor que valha algo, que eu não tenho o costume de andar a promover gajos de 18 anos no Generosità.

quinta-feira, abril 10, 2008

A Ponte

Se há desconforto, se há gelo a quebrar, eu estou mais que consciente, e sou mais que generoso. Não me importo de ser o primeiro a abdicar, de ser o primeiro a construir a ponte. Sem problema - pago eu. Mas... se não há encontro a meio-caminho entre os dois, depois de alguns esforços, então reajo como a maior parte das pessoas que fazem a primeira parte não reagem: de bom grado deixo - como da tradição portuguesa - a obra incompleta. E se o extremo, a acontecer, exigir que seja desfeita, pedra sobre pedra, também não há qualquer temor aí. A este pequeno ensaio de construção civil na vida chamo, muito simplesmente, de maturidade.

terça-feira, abril 08, 2008

O Lado B

Ele há coisas de que eu, gostando, também me conseguem enfurecer ao mesmo tempo. Neste caso em particular, o "fondoschiena" da Cláudia Vieira.

Ora bem, vamos a factos: a musa da juventude portuguesa eroticamente esclarecida (e de alguns bloggers) apareceu em mais uma campanha da Triumph. Nada contra, porque eu sou uma pessoa tolerante. E se alguém quer colocar a Claudia Vieira de lingerie na minha estação de metro, eu não tenho coragem para dizer que não. Mas as fotos deste ano, as que vi até agora, são uma bela desilusão. Pela pouca ousadia (artística) e também - e esta é nova - pela ofensa com que nos brindam numa foto em particular. Ei-la.



Vou agora pedir aos leitores que se concentrem na imagem do espelho, onde o traseiro de Cláudia é - por acaso, seguramente - reflectido. Façam esse sacrifício. Há ali, dir-se-ia, uma tentativa de refinado toque artístico. Pouca arte, contudo, direi eu; e a mexer (bela palavra) no local errado. Então mas alguma vez esse lado B bate certo com o lado A? Por quem nos tomam, afinal? Não, meus amigos. Qualquer pessoa que tenha visto muitas fotos de mulheres despidas na net (e eu por acaso perguntei a alguém que o tinha feito) se crê ofendido. Há ali muito Photoshopzinho. O que é ingénuo nesse retoques é que eles andam a tentar dar uma certa estética - "internacional", digamos - a algo que, no "habitat" português deve estar o mais natural possível. E isso faz parte da sua piada. Não vão por aí, caros estetas da Triumph - não vão por aí.

Podem dizer o que dizerem - eu digo falsificação. Percebo a intenção, mas só enganam tolos. Estamos a falar de uma região anatómica que tem tido o devido tratamento erudito aqui no Generosità, se bem se lembram. Há aqui gente que sabe do que fala. A voluptuosidade, se bem que interessante, não está de acordo com o resto do corpo. E eles jogaram com a difusão dos contornos justamente para esconder esse pecado. Pergunto-me mesmo se as perspectivas, a distância, o tamanho das imagens pode ser correcta. Eu digo falsificação, meu caro Watson.

Não, não vão por aí. Há ainda alguns viajantes de metro com olhar aguçado, e bom gosto intacto (quem sabe também com algum tempo pessoal mal investido...).

O Ponto C (de Camaradagem)

Uma questão simples: entre um grupo de amigos, qual é o ponto a partir do qual o aviso mútuo é um dever? Explico-me: qual é o ponto a partir do qual X tem uma relação de proximidade de tal forma com Z que se sente - ou deveria sentir - obrigado a convidar Z para, por exemplo, ir a uma festa, a uma saída? O que, claro, é o mesmo que perguntar, a partir de que ponto se irá Z sentir ofendido se X não o convidar, nem sequer o informar? Até que ponto a camaradagem fica comprometida?

Eu diria que existem três posturas diferente face à situação. A primeira diz respeito aos "liberais". Não gostam dessa obrigação e, em coerência, não a exigem dos outros. Nada nisso vêm sobre a personalidade do amigo, nada nisso vêm sobre a nobreza e fortaleza da amizade.

A segunda diz respeito aos "irmãos de sangue", que, no outro extremo, ficam deveras ofendidos por terem sido deixados de parte. Que dizem que há um "goes without saying" que é imediatamente perceptível às pessoas de carácter.

E depois, claro, há o terceiro caso: os híbridos. São liberais quando lhes dá jeito, ou "irmão de sangue" quando lhes dá jeito. Tanto reclamam independência de movimento, como reclamam com outrém por não o ter convidado a eles também, ressentidos. Em suma, reclamam.

Eis, pois, a meu ver, a espécie mais detestável. Aquela que persegue, no fundo, outros objectivos (ah... mas às tantas são sempre os mesmos...), e que os esconde. Entre o amor à liberdade e o bater no peito, o "abraço", vão, em bom português, tratando da sua vidinha, como fuinhas pela terra húmida dos códigos da gente grande.

Escrevo este post, justamente, por aviso, e por solidariedade - que eu vejo casos desses por aí. "Sol na eira e chuva no nabal", é algo que não devemos permitir. Há apenas tanta inteligência para ofender, tanta paciência a dirimir.

Do Erro

A nossa sociedade tem horror ao erro. Não há nada mais obsceno, mais marcante que o erro. Errar é ficar comprometido com uma classificação - negativa. A questão é mesmo que as pessoas precisam dessa classificação para organizarem suas vidas. Precisam de saber quem é de confiança, quem não é, que matizes têm as pessoas com quem trabalham. A confiança depende dessa avaliação.

Pois bem - acontece que não há evolução sem erro. Às vezes, com uma quantidade de erro que é obscena aos olhos de muita gente. Já foi pior, é certo - mas a condescendência que os nossos tempos anunciaram não é mais que uma máscara, que esconde o mesmo antigo juízo.

Agora, é engraçado notar que, tipicamente, se poderia dizer que há uma reacção masculina e uma reacção feminina ao erro. A masculina é às vezes bruta, egotista, bota-abaixo, e pode bem custar-nos o trabalho. A feminina é secreta, ouvida ao lado sem nada dizer, registada para mais tarde. E pode custar-nos o à-vontade no trabalho.

Ter a capacidade de assumir os erros, desde que não afectem terceiros, é um acto de coragem. Ter capacidade de achar que errar faz parte de evoluir, que amanhã o juízo da mesma pessoa será radicalmente diferente, é algo de necessário na vida. Se o não fizermos, se não formos, às vezes, abertamente obscenos - nesse sentido - estamos, por uma via ou por outra, condenados à depressão e estagnação.

De

Dizia, a propósito da vida sexual de alguém - pela mudança que tinha sofrido - que essa pessoa tinha "passado de deprivado a depravado".

E, por alguma razão, havia uma remota lógica, antiga sabedoria, que embelezava o trocadilho.

Elas, O Burro e a Cenoura

Aquilo que é mais chato nelas é o "devias". "Devias fazer isto...", "devias fazer aquilo". "Não fizeste antes...", "mas porque é que não fazes?", "então não era lógico?". Com uns suspiros pelo meio e muitos - muitos - descontos... E aquelas discussões onde a razão, de facto, tantas vezes, está do lado delas.

Mas... a beleza da coisa é que, quando conseguimos algo, são também elas as primeiras a dar-nos os parabéns, os merecidos. São elas que, nesse gesto, menos circunstância têm, mais sinceras são connosco.

É como se os homens tivessem um pacto de entendimento mútuo de "mínimos garantidos". Elas não se conformam com isso, e chegam a ser controladoras. Mas, claro, também são justas na recompensa. Bem mais justas que eles.

Há aqui qualquer coisa de dono, burro e cenoura. Mas não vale a pena irmos por aí.

segunda-feira, abril 07, 2008

Ouvido Atento

Tanto nos queixamos dos amigos que se esquecem de nós, que se desligam, que seguem com suas vidas sem recordar, sem manter um elo forte. Tanto nos queixamos desses pequenos esquecimentos e vicissitudes, que nem conseguimos ouvir, rezingões e surdos, o apelo de outros amigos, de nova gente, de gente interessante. E corremos o risco de ignorar esse apelo generoso, como outros nos fizeram (segundo os relatos).

Muito cuidado, pois: é preciso estar atento aos sinais - não se torne a vítima, por desleixo, ela mesma o pecador.

domingo, abril 06, 2008

How to Sell Out And Other Venetian Tales

Então mas misturam Bob Dylan (não que eu conheça o suficiente para ser indefectível) com Adriana Lima e Victoria's Secret (conheço pouco mas suspeito que sou indefectível), com a paisagem de Veneza, por onde passámos há pouco tempo? Não - esta vai para o blog.



Bem diz quem lá colocou o vídeo: "If you're going to "sell out" this is the way to do it".

Vadiando

Comecemos com um filósofo. Mais importante que uma coerência nos temas é a viagem pelos temas. O importante, realmente, é vadiar.

Elogio da Erudição

Vou iniciar mais uma categoria no Generosità, dedicado ao amor à erudição. Não sei ainda o que poderei aqui incluir, vou apalpando terreno com os dias. Mas a diversidade, o horizonte intelectual, precisa-se.

Umbiguismo

Nunca ouvi a frase directamente aplicada à cidade, mas, realmente, com a grande rival Jerusalém, e a "espigadota" Nova Iorque, ao longo dos tempos será a Roma, talvez, que melhor se aplica a expressão. A música, digo. Ora recordem lá - aqui.