sexta-feira, novembro 23, 2007

Nunca Princesa, Sempre Rainha (Sem Trono)

"- Miúdas como ela vão acabar com um gajo do piorio."

Elas (aquelas miúdas absolutamente fatais) tendem a gostar dos piores. Às vezes acontece vermos nós ali, claro como água, que o gajo é um sacana e ela anda com ele. É que não é só ser ele sacana com outros homens - é-o com as próprias mulheres. Ah, mas elas são cegas, não conseguem ver, isso que é tão claro para nós. Obviamente, não lhes podemos dizer - seremos mal-intrepretados (e às tantas somos bem-interpretados - gostamos delas, realmente).

Mas elas continuarão até ao momento inevitável em que, claro, são magoadas. E então ficam exactamente como a rapariga sobre quem se dizia esta frase, distantes e senhoris. É que vejo demasiadas raparigas, já jovens mulheres, que desistiram de ser "princesas", são já só rainhas, ou antes querem sê-lo. Que pena - isso só lhes trará infelicidade - nunca o serão. É que a beleza, por infortúnio, não dura para sempre. A contrição emocional só trará coisas piores com os anos. Desde logo, a sensação de ter desperdiçado algo precioso. Mas enfim, o jogo é assim mesmo, só idiotas, os bons idiotas, têm pena que seja assim.

Sai Uma Discussão Fresquinha

O que a gente da empresa de publicidade que concebeu a campanha "orgulho hetero" para a cerveja Tagus não percebe é que o próprio conceito de "orgulho" é a reacção à opressão de se ser minoria. Não faz sentido em falar em "orgulho em gostar de respirar" ou "orgulho em gostar de comer bem", "orgulho em gostar de café", ou "orgulho em gostar de gastar dinheiro", ou "orgulho em gostar de dias de sol", etc. São coisas normais, estatisticamente normais. Há vivê-las com segurança, no respeito pela diferença. Embora, (e eu aí sou algo politicamente incorrecto), respeitar a diferença não é aceitar tudo e todos. O que eu nunca aceitarei, definitivamente, é que me tomem por tolo.

Mas estas "boutades" só apelam a um conjunto de "burgessos" ignaros, que reagem agressivamente, defensivamente, na defesa da sua heterossexualidade (têm medo do estranho, e "a coisa" afigura-se-lhes muito estranha; falta de cultura...). Nesse sentido, a campanha apela até a uma certa homofobia, no limite. O que só pode querer duas coisas - para além da óbvia publicidade grátis que a discussão (previsível) suscita - ou o padrão de normalidade está a reduzir (e daí poderíamos ir para discussão do "tempo histórico", da tal "Civilização") ou então, teoria maquiavélica, foram mesmo "eles" que conceberam a publicidade, e estão a rir-se disso neste momento.

When You Look At It

Porque parece que há sempre qualquer coisa a chatear-nos. Qualquer coisa a comprometer a nossas felicidade. Sempre alguma escolha mal feita, sempre algo, ou alguém, que repassamos, e que "não é o nosso estilo". Não vale a pena. Life's really too short. Melhor viver cada dia da maneira mais feliz possível. Fiquemos com os nossos bem perto, os demais que vivam suas vidas. Se os "liberais" estiverem certos, a sociedade funciona se cada pessoa, dentro dos limites legais, procurar seguir os seus interesses (como seria bom eu acreditar nisso...).



Some things in life are bad
They can really make you mad
Other things just make you swear and curse.
When you're chewing on life's gristle
Don't grumble, give a whistle
And this'll help things turn out for the best...

And...always look on the bright side of life...
Always look on the light side of life...

If life seems jolly rotten
There's something you've forgotten
And that's to laugh and smile and dance and sing.
When you're feeling in the dumps
Don't be silly chumps
Just purse your lips and whistle - that's the thing.

And...always look on the bright side of life...
Always look on the light side of life...

For life is quite absurd
And death's the final word
You must always face the curtain with a bow.
Forget about your sin - give the audience a grin
Enjoy it - it's your last chance anyhow.

So always look on the bright side of death
Just before you draw your terminal breath

Life's a piece of shit
When you look at it
Life's a laugh and death's a joke, it's true.
You'll see it's all a show
Keep 'em laughing as you go
Just remember that the last laugh is on you.

And always look on the bright side of life...
Always look on the right side of life...
(Come on guys, cheer up!)
Always look on the bright side of life...
Always look on the bright side of life...
(Worse things happen at sea, you know.)
Always look on the bright side of life...
(I mean - what have you got to lose?)
(You know, you come from nothing - you're going back to nothing.
What have you lost? Nothing!)
Always look on the right side of life...

terça-feira, novembro 20, 2007

Os Meus Filmes 9: Match Point

Christopher "Chris" Wilton: The man who said "I'd rather be lucky than good" saw deeply into life. People are afraid to face how great a part of life is dependent on luck. It's scary to think so much is out of one's control. There are moments in a match when the ball hits the top of the net, and for a split second, it can either go forward or fall back. With a little luck, it goes forward, and you win. Or maybe it doesn't, and you lose.

O Desporto da Crítica

Espero bem que a selecção amanhã ganhe. Como português, é certo - mas um português menos apaixonado por uma selecção com Decos, Pepes e Scolaris (se é para este aperto, como antes, prefiro uma equipa portuguesa de berço - sou assim de inconveniente).

Mas espero que ganhe também porque a selecção, com o trauma da máquina de calcular, os seus jogos fracos, com um Madaíl e um Scolari que traz a reboque, anima-me muito pouco, actualmente. Mais - retira à semana o sal e pimenta (por mais que seja um sal grosseiro e uma pimenta sem aroma) de uma jornada. Apesar de tudo, continua a ser o primeiro tema de conversa, o "espanta-espíritos" num café. Sobretudo no Inverno, defendo que os seus jogos deviam ser proibidos.

Depois, desde a saída de Figo e Rui Costa, falta realmente alguma veterania lusitana, e não vou desenvolver mais o tema. E, se não fosse isso, outra crítica eu acharia. Sou português, afinal, e criticar é, a par do futebol, um dos meus desportos favoritos.

Da Gaffe

A boa Diplomacia dirá concerteza que há um protocolo a seguir após uma gaffe. Eu digo que a redenção, que se impõe, anda em torno de uma compensação, de uma qualquer reposição do valor em conta, depois de tão abrupto levantamento.

Às vezes, esse esforço de restabelecer o equilíbrio pode ser bastante desagradável, mas o certo é que a gaffe é uma maneira estúpida de originar uma ruptura social. É absolutamente gratuita, uma preocupação desnecessária, um inimigo desnecessário. E, como tal, há sempre o esforço intuitivo, natural, de compor os estragos que causa.

O quanto essa reposição nos custa depende, geralmente, da graciosidade do ofensor, mas não menos da empatia (leia-se classe pessoal) do ofendido.

Perigosa Condescendência

Há um traço de personalidade que é, para mim, particularmente intrigante e interessante, e que tentarei partilhar aqui na esperança que alguém mais o tenha detectado.

Começemos pelo facto básico: as pessoas, tantas vezes, não são grande coisa umas para as outras. Permitem-se desconsiderações, desonestidades, canalhices, mesmo perversões e agressividades. Nada de novo. É a face lunar do ser humano.

Reparo, no entanto, que existe determinado tipo de pessoas que, não se permitindo esses excessos, toleram praticamente tudo a tantos. "É assim...", "o que é que queres...", "não há nada a fazer...", "ah, pois, já sabes como é...". Quer dizer, elas não ferem o espírito da colectividade (às vezes são mesmo excelentes pessoas), mas suportam infracções várias, assumem-nas como um facto natural. São, de algum modo, uma espécie de "vencidos da vida", no sentido em que deixam de lado um sentido de Justiça e Moral. Não conhecem mais qualquer tipo de idealismo. E o caso é ainda mais grave quando surge na juventude, quem sabe surja com alguma frequência até.

Dedicam-se a fazer o seu trabalho com o mínimo de ondas, melindrar o mínimo de pessoas, passar por cima de todas as pequenas canalhices (não falo de crimes, mais bem das pequenas vilanias repetidas). Algum horizonte de futuro, alguma outra forma de vida as anima para não protestar e amordaçar os instintos vez após vez. Algum dia se esqueceram que "eles" não devem fazer "aos outros", "aquilo que não gostam que lhes façam". Mas, com a consciência tamponada, condescendem.

A grande questão de fundo é antiga demais: o medo. O medo de perder o emprego, o medo de uma retaliação, o medo de que a sua situação piore em consequência disso ("better the devil we know than the devil we don´t"), sempre o medo, num país que se sente pequeno, a sociedade ainda mais pequena. Está fora de moda levatar a voz por um princípio. Está fora de moda levantar a voz por uma vítima (às vezes as vítimas também traem os próprios defensores, mas essa é outra história). É mais bem uma questão de cumprir o seu trabalho, e aproveitar ao máximo o alheamento que nos garante uma indústria de lazer que ainda não conhece limites.

Esta condescendência com coisas graves que se passam não é saudável. Tende a criar clones, a repetir-se, a ter um efeito dominó "Ai é assim? Então eu também me estou a lixar". É que, quando um dia aceitamos praticamente tudo nos outros, se não temos cuidado, acabamos a aceitar praticamente tudo em nós. A condescendência e a habituação são tão forte analgésico - primeiro toleramos demasiado os outros, depois toleramo-nos demasiado. E esse é sempre um caminho perigoso.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Uncalled For

É angustiante a sensação de sermos bode expiatório, mesmo "saco de pancada" de outrém. Todos libertamos vapor, todos sacudimos pressão para a pessoa ao lado. E quando estamos muito tempo juntos - colegas de trabalho, familiares - a coisa é mesmo uma questão de tempo, carece quase de relação matemática.

Até ali estávamos tranquilos. Depois do trovão pensamos "Eh pah... Mas o que é que eu fiz ou disse para merecer esta?...". Eu, regra geral, tendo a não contestar - sou também uma pessoa com os meus "quês", de alguma forma incomodo os outros também. Mas confesso que talvez já tenha sido mais tolerante.

O que acho realmente curioso é aquele sentimento de ficarmos suspensos, remoendo (ninguém se furta a remoer, mais ou menos). É que o tempo pára ali, e a mente processa uma qualquer variação do "totally uncalled for..."- a expressão americana (bem precisa) que a minha, nessas situações, vai buscar.

O Desconcertante Sr. Mailer

Morreu no sábado passado Norman Mailer, um peso-pesado da literatura americana. Como não a sigo (e confesso também não ler, em geral, quanto deveria e quereria), passaram-me ao lado as suas obras. Lembro-me somente de há uns anos se ter comprado o seu “Viragem aos 80”, e do inicio do livro, onde Mailer desafiava quem pensava que, chegando um homem aos 80 anos a vida se torna um deserto. Para o provar, começava por assumir ainda se excitar “com um belo par de mamas”.

Leio agora nos jornais que era machista, tendo combatido os movimentos feministas dos anos 60 e 70, também pelos seus livros. O que lhe valeu, claro está, o carinhoso título de “porco chauvinista”. Mas o que eu não resisto a reproduzir é mesmo uma resposta que lhe deu Gore Vidal. Não sei se por ser homofóbico ou por ter em Vidal um émulo, Mailer esmurrou-o um dia. A resposta, sublime, de Vidal no chão: “Uma vez mais, Norman, as palavras falharam-te”.

Pecado Original 22

[Cláudia Vieira em desfile Triumph no Porto] "Mas o que é que estás aí a ler tão interessado no jornal?". "Nada de especial. Futebol. Parece que o Porto teve mais um triunfo. Aquela equipa é tão boa que até irrita".

E pensar que viveu (vive ainda?), aqui tão perto deste blog... Eis a única verdadeira sex-symbol portuguesa dos nossos dias. Mais um pecado original dedicado a ela, que põe o "Cláudia" em "claudicar".


nota: claudicar - fraquejar, vacilar