quinta-feira, junho 07, 2007

O Fim de um Era

E o muro foi finalmente abaixo... É verdade, acabaram os trabalhos de grupo, os esquemas de produçao soviética na universidade. Eis a era do individualismo. Sempre com colaboraçao, 'teamwork', amizade - mas sem politiquices. Correu bastante bem, e dou os parabéns aos meus colegas. Acabou por ser menos duro com eles. O problema é mesmo de regime.

terça-feira, junho 05, 2007

Alien

No metro: entra uma senhora, estou sentado. Levanto-me, nao me levanto? Nem distingo bem a idade da senhora. É claro que o correcto será levantar-me, mas isso também geralmente cria uma espiral de constrangimentos: "Nao, nao, sente-se. Deixe estar". Voz da experiência. Acabo por resolver o dilema levantando-me como se fora sair na próxima paragem. Nao tem muita galhardia, ou quando muito nao a exibo, mas evito a minha consciência e a dança do "sente-se" num gesto.

Duas raparigas giras (e giras no caso é um eufemismo) passam pela carruagem. Olha-se? Nao se olha? Discretamente, é certo. Mas sim ou nao? Saudável atençao ou insuportável instrusao? Tantos anos passados ainda a dúvida. Ambas reacçoes existem, às vezes na mesma rapariga.

Passa das 12h. Bom dia? Boa tarde? Bom dia... ou Boa tarde! (risos esperançosos recebidos com indiferença).

Turistas espanhóis perdidos. Ajudo? Nao ajudo? Interpelo? Espero?

Nao, nao, faça favor...

Desculpe...

Posso pedir-lhe só uma coisa...

Paredes, cantos, mundos. Cidades invisíveis, coreografias de educaçao e sociabilidade, numa Lisboa de que gosto sempre... mas nao demais.

Tenho sempre algo de imigrante, de estrangeiro. Escorrego e tropeço naquela pista de dança. Sou sempre ainda alheio... Still somewhat of an alien.

Pecado Original 13


Kirsten Dunst. Bom, vejamos, esta nao é muito complicada, pois nao?... Direito ao ponto: é mesmo de perder a cabeça. Nada como aquela meiga frivolidade de 'girl next door' de Kirsten (uma Mary Jane aceitável, ao contrário do incubido de Homem-Aranha - nao podia deixar passar) para representar um ícone da frivolidade da História. E a quem achar que nao, que lhes dizer? Pois que comam bolos, nao molestem a realeza s.f.f..

Pardon, Mademoiselle. Comment fait-on pour aller à Versailles?

segunda-feira, junho 04, 2007

"Wir wollen raus"

Setembro de 1989. Surgem demonstraçoes de protesto dos alemaes do Este, que gritam "Wir wollen raus" - "Queremos ir embora", vidas marcadas pela eterna promessa do Oeste, onde se podia ser livre, da Stasi, de tudo. Livre para trabalhar e progredir.

Na retina, a frase de Reagan, proferida 2 anos antes:




Dia 6 de Junho o Muro volta a cair.

Noticiário Séx. XXI

No noticiário da TSF: "E hoje, Vítor Hugo, um dos maiores nomes..."

...da Literatura Mundial?

...do romance do séc. XIX?

...da cultura francesa?


Nao. Do hóquei em patins. Sim, esse. Aos 44 anos voltou à sua grande paixao, para ingressar no Pasteleira. E, facto notável, na última jornada deu 5-4 ao Marinhanense. Citando esse outro grande poeta da contemporaneidade, o memorável Net (Custódio da Silva) Cabo, nas palavras da sua personagem Teresinha: "Há coisas fantásticas, nao há?".

2 Dias Numa Vida

Fim-de-semana estupendo. Bati o meu recorde de toques na bola: 1095. É verdade - sempre fui um craque a jogar sozinho... Mas, em abono da verdade, tenho que dizer que só foram possíveis com uns belos ténis de futebol de salao, em relvado. Ainda assim, 1095. Nao volto lá tao depressa. Mais umas corridas, e eis os tiques de intelectual saudavelmente engavetados.

Voltei hoje, segunda-feira, a Lisboa, completando a minha segunda ida-e-volta à aldeia, algo de épico para mim. Belíssima viagem. Eis quando cometo o erro fatal de levar o carro de tarde para ir à Lusófona. "I should have known better...". Camiao parado, trânsito infernal, calor super-infernal. Pára-arranca, metros e metros de progresso falsamente manso, escondendo mil nervosismos, mil palavroes, mil desejos de ultrapassar a 230 km/h todos os outros - "parvalhoes". Mil anseios de 5ª sob o desalento de uma 1ª. Todo o universo, toda a história da Humanidade, ali concentradas naquele Fiat que nao arranca ou naquele VW que entra "à chico-esperto", sem fazer sinal. Por cima dos condutores, misturadas na névoa difusa dos gases ao calor, as almas daqueles condutores travam batalhas violentas, onde há desumanidade, agressao pura, violência da mais primeva. Mas só um pouco acima, raramente essa guerra desce ao solo, cá em baixo, onde as regras de civilidade geram úlceras nervosas sob o calor desafiador, que se ri.

Chego atrasado à aula (2 vezes, com o lanche ao intervalo), jeito desajeitado, apologético, ao entrar. Aula passada, objectivos mínimos cumpridos. Voltar a casa: uma fila ainda pior. Nem a redescoberta do "Gran Turismo", dos Cardigans, no leitor de CDs salva a minha alma... É assim que se criam assassinos em série, é assim que se criam terroristas, é assim que se criam pessoas inimagináveis como a Odete Santos. "11 de Setembro? Terrorismo? Meu caro, já alguma vez fizeste a Calçada de Carriche em hora de ponta ao calor do Verao? Pois é. Isso sim, é terrorismo."

Metro: volta, estás perdoado! Traz o teu cheiro a sovaco, os teus pedintes cegos ("tenha a bondade de m'auxiliar..."), os teus romenos a tocar acordeao, as tuas suburbanas a discutir gajos enquanto mascam pastilha, os teus chungas, os teus pretos ameaçadores com as cuecas de fora e calças 3 tamanhos acima (interrupçao politicamente correcta: nem todos os negros sao ladroes, a maior parte sao cidadaos normais e bons pais de família). A sério, estás perdoado. Amanha reencontramo-nos, amore mio!

Dificuldades no Arranque

Eis a minha conduçao automóvel - metáfora da minha vida.

Mas ainda penso que é melhor do que ser eternamente passageiro.

Do Luxo, Da Virtude, Da Sabedoria e Do Talento

Talvez um dos maiores luxos possíveis em sociedade é o de nao ter que ter paciência para a estupidez (é certamente o luxo do empreendedor, do patrao).

Talvez uma das maiores virtudes esteja em ter paciência para a estupidez mesmo que a tal nao se seja obrigado.

Talvez a sabedoria esteja em relativizar a estupidez: há sempre algo em que nós somos superiores à outra pessoa, há sempre algo em que a outra pessoa é superior a nós.

Talvez seja uma questao de talento utilizar essa sabedoria para obter resultados.