quarta-feira, dezembro 31, 2008

Olivus 2008: Jornal/Revista/Colunista

Que não vos iludam estes prémios. O panorama da imprensa portuguesa continua paupérrimo, em crise desde há muito. Cheio de 'enlatados', 'condensados' e 'produtos de marca branca' . Ah, que saudades da 'boa mesa'!...

Melhor Jornal: 'Público', apesar das minhas críticas, e embora não o leia como antes. Parece que a crise económica pode obrigar o jornal a largar toda a gordura que eu desde o princípio critiquei. Quem sabe se eu ainda não ganho na teimosia?

Melhor Revista: novamente, a 'Sábado'. Ainda criativa e irreverente. A 'Visão' melhorou.

Melhor Colunista: vou dar o prémio este ano ao José Pacheco Pereira, uma vez que Miguel Sousa Tavares o ganhou o ano passado (parece que a coisa vai mesmo rodando por estes dois). Mas faço-o sobretudo pela erudição - tenho a mesma opinião que Baptista Bastos: JPP fala muito melhor do que escreve. Nele há sempre este dilema: lucidez e pedagodia na oratória, e uma certa sofreguidão, um ataque de 'bulimia intelectual' nos textos (espaço ou estilo?). Ainda assim, excelente divergência de temas - e incomparável profundidade. Miguel Sousa Tavares - o melhor a clamar quando tal se pede - partilha a melhor prosa com Pedro Mexia, tendo este último talvez a mais consistente 'bagagem' cultural contemporânea, e uma boa divergência de temas. Interessantes sugestões e 'dedo na ferida' de João Pereira Coutinho (incidentalmente, considerado no Brasil um dos, senão mesmo 'o' melhor colunista).

Olivus 2008: Televisão

Apenas duas notas:

'Conta-me Como Foi' teve os melhores desempenhos de toda a ficção nacional, na minha opinião. Miguel Guilherme e Rita Lello mantiveram um nível que me parece inusitado, mesmo se eu tivesse pouco interesse na série em si. 

O melhor telejornal continua a ser o da Sic Notícias, com grande destaque para a condução de Ana Lourenço (de uma ponderação, pequeno domínio do tema e sentido de oportunidade inigualáveis), bem como de Mário Crespo (e basta a menção, porque o sex-appeal simplesmente não é o mesmo).

Olivus 2008: Filme do Ano

Decidi (os estatutos assim o permitem) suprimir o Olivus Award para Música, e converti-o em Filme do Ano. Porquê? - porque, não sendo um cinéfilo propriamente dito, muito menos sou um apreciador refinado de música. Em termos musicais, pertenço à escola: "Don't know much about Art, but I like that!" (aponta para mapa de emergência do museu, pensando que se tratava de um Paula Rego).

Já em termos de cinema, há uma enorme diferença: é exactamente o mesmo, embora eu me atreva a opinar.

Oiçam... o Óscar manda nos prémios dele - e eu mando nos meus.

[***]

Pois bem. De novo deixando piadas, e passando a assuntos sérios, há um filme que merece, 'far and away' o prémio, e refiro-me obviamente ao "Batman: The Dark Knight".


Nada direi da realização, nada direi da produção, nada direi da iluminação (?). Mas facilmente se percebe a qualidade dos actores (estamos a falar de um filme que se dá ao luxo de ter Michael Caine e Morgan Freeman como actores secundários), sobretudo pela suprema (excessiva?) dedicação de Heath Ledger ao papel de Joker.

Quer o admitamos, quer não, o advento da morte de Ledger veio dar ainda mais força artística a este personagem, para o tornar inesquecível. Esperemos que não tenha sido essa a intenção de Ledger - nem mesmo a Arte se sobrepõe à Vida. Pelo contrário - deve celebrá-la. E a sua morte é uma tragédia que nada justificaria.

Assumindo-a embora, acontece que as próprias idiossincrasias de Joker, com a sua cara oculta, parcialmente desfigurada, contribuem para que, na mente do espectador, se suma para sempre Heath Ledger. Substitui-o uma personagem... uma sua obra de Arte. É como se não fosse bem Heath Ledger que faz de Joker, mas outrém. De repente, parece até que não há actor, quase como se um Joker existisse. É como se Ledger tivesse pensado em tudo, e quisesse confundir o antes e o depois, o vivo e o não-vivo - com uma criatura estranha pelo meio.

O enredo do filme, para mais, é bom, por exemplo, na exploração da natureza humana com o dilema da aniquilação mútua (situação dos barcos), mas, sobretudo, no sacrifício de Batman, a sua maldição à clandestinidade para manter, nas pessoas - no 'mainstream' - uma ilusão de esperança. Também de ilusões, de esperanças, vivem as sociedades humanas. E, por entre a racionalidade, o hábito, também dos seus próprios heróis.

Confesso que, tantas vezes, o meu estilo de filme não é mesmo este. Parecia-me ter demasiada acção (no meu caso 'demasiado' é practicamente uma perseguição de carros), demasiado fogo-fátuo por cima de vacuidade do enredo, fluindo com interrupções na qualidade... Grande - grande - surpresa: "Batman: The Dark Knight" 'limpa' tanto os elogios do 'comercial', como do 'intelectual'. E arrisco dizer que, além de filme do ano, tem lugar, necessariamente, numa reflexão sobre o cinema que se fez esta década.

terça-feira, dezembro 30, 2008

Olivus 2008: Livros do Ano

Reparem, como apontou Francisco José Viegas no seu 'A Origem das Espécies', no facto de o 'Ypsílon', suplemento cultural do 'Público', na lista dos melhores livros de 2008, não incluir um único título de Ciência ou Filosofia.

Tendo passado pela lista análoga da 'Actual', do 'Expresso', e reconhecido igualmente pouca não-ficção (creio que também nenhum título de Ciência ou Filosofia) vou, para os meus livros do ano, escolher dois tomos que são, justamente, não-ficção.

Faço-o, antes de mais, pela questão elementar: foram, que me recorde (e do pouco que infelizmente li), os que mais me marcaram. E depois, claro, sempre dou a 'pinta' de ler imenso - seja de ficção ou não-ficção. "Keeping up appearances". É sempre importante.

Os livros pertencem ao mesmo nível de qualidade, estão ex-aquo, apesar da numeração.

1. "Outliers", de Malcom Gladwell


É difícil encontrar uma etiqueta temática para este livro. Psicologia pop? Talvez. Ensaio/ciência sociológica popular? Quem sabe.

Tal como nos seus anteriores 'The Tipping Point' e 'Blink', Malcom Gladwell volta a produzir um livro surpreendente, criativo na abordagem, compilando uma série de factos dignos de nota numa teoria. Acerca de quê?, perguntam vocês - e bem. Pois, acerca de algo que a maior parte das pessoas procura na sua vida: sucesso.

'Outliers' é o termo inglês que se refere ao ponto estatístico que escapa à média. No caso concreto da análise de Gladwell, os casos das pessoas com sucesso nas suas vidas, consensual. Quais são os factores que são comuns a todos os casos especiais, a todas as pessoas brilhantes e que 'conseguiram'? A um Bill Gates, a um atleta, a um cantor famoso, etc.? Nas palavras de Gladwell, qual é a 'ecologia' do sucesso?

Gladwell identifica alguns factores comuns aos conjuntos de casos que apresenta. Alguns muito interessantes, na verdade. Como o 'efeito Mateus' (a partir do episódio bíblico), que ocorre com os atletas - e alunos - nascidos nos primeiros meses do 'cut-off' anual para a segmentação dos grupos. Essas crianças têm maior probabilidade de ter sucesso na sua vida (dado igual componente genética, quantidade de trabalho, etc.), concluiu. Acontece que, nas primeiras idades, uma diferença de poucos meses é muito significativa. Assim, um jogador de futebol, por exemplo, que nasça em Janeiro (supondo que o 'cut-off' de captação é em Janeiro) tem maior probabilidade de evoluir para um profissional do que aquele que nasce em Dezembro. Ocorre aquilo que se chama uma 'self-fulfilling prophecy', ou um 'feedback positivo', uma espécie de 'vitória busca vitória', de tal forma que o menino Aquário - mesmo se não for à partida o melhor, se torna o melhor, em virtude dessa série de sucessos acumulados.

Os factores enumerados, que incluem também (que pena que a cultura de Gladwell não chegue aí...) uma outra versão da célebre frase de Gasset: 'El hombre es él y su circunstancia', seja na oportunidade em termos do tempo histórico para se nascer, seja no contexto cultural que nos marca (sobretudo na mudança desse mesmo contexto, como no caso de um emigrante, ou na vantagem de hábitos antigos em tempos modernos; sobre esta última, uma curiosa reflexão sobre a cultura do arroz no espírito trabalhador do chinês, e no mandarim a conferir vantagem em Matemática).

Sejamos claros: haverá algo no livro que é superficial, seguramente. Mas o caso que Gladwell expõe é suficientemente interessante para ser atentamente lido. É como uma colecção tratada de estudos científicos e livros que apresentam ideias diferentes sobre a realidade, que fazem notícias de jornal - desconexas entre si.

Porquanto haja o perigo de falibilidade de alguns postulados após a sua análise, 'Outliers' suficientemente 'thought-provoking' para merecer este prémio. É criativo, neo-prespectivista (inventei agora, porque eu também posso ser criativo), e está claro, bem escrito o suficiente para que se o leia de uma ponta à outra.

Nota: se bem que publicado recentemente, este livro está já disponível na tradução portuguesa.

2. "The Drunkard's Walk", de Leonard Mlodinow



Muitíssimo mais consistente no seu tema é este livro de Leonard Mlodinow, que trata sobre a aleatoriedade nas nossas vidas. Por mais que pareça conversa de bêbado a sair da taberna (embora não seja daí que venha o título), as nossas vidas são mesmo muito condicionadas por fenómenos aleatórios, e, pior, nós condicionamo-las por fenómenos que a nossa mente crê seguirem um determinado padrão, quando a Ciência pura e dura prova a sua aleatoridade. O grande problema - o de sempre, talvez - é que, enquanto seres humanos, não conseguimos 'funcionar' sem a certeza do controlo - e a nossa sociedade é simplesmente aleatória, complexa demais, para que a possamos inteligir. Não somos nós que não encontramos o padrão - ele simplesmente não existe.

Ninguém quer acreditar nisso, claro. Mas Mlodinow, começando com uma (refrescante, para mim, já que era esse o único tema em Matemática de que eu gostava) revisão sobre Probabiliades e Estatística - um pequeno 'primer' - dá depois exemplos muito consistentes, que abarcam a Medicina, a Justiça, a Finança, mesmo - citando mesmo algumas fontes comuns a Gladwell - o sucesso pessoal, e que expõem a miserável incerteza das nossas vidas neste complexo entorno hodierno.

O livro está bastante bem escrito - é rigoroso, lúcido, como próprio de um cientista - mas igualmente espirituoso. Pessoalmente, achei-o brilhante, e muitíssimo esclarecedor. Afinal, eu sempre tive essa teoria a priori: a sorte, a 'Lady Luck', dá 'nós' no caminho que nunca pensaríamos possível, com a boca cheia de 'trabalho', 'esforço', 'qualidade intrínseca'. Não seria por outra razão que tenho em boa memória filmes como 'Sliding Doors', ou 'Match Point'.

Completo, lúcido, a espaços impressionante. Ainda bem que tive a sorte de comprar este livro.

[***]

Ambos lidos no original inglês, como deve ser; quilometragem em Inglês: 909 páginas.

Olivus 2008: Publicidade

O Olivus deste ano para a publicidade vai para uma singela frase, daquelas que a Sic Radical passa entre programas e anúncios, como se nada fosse, mas que, em sintonia com o estilo ou a razão de ser dessa estação eu achei simplesmente genial. A frase é somente esta: "Não emigres".

Dela se pretende subentender, claro, que a Sic Radical sempre daria umas razões - supostamente pela qualidade da sua programação - para evitar que uma pessoa entre os seus 18 e 30... deixe este país. É brilhante porque capta o 'zeitgeist', o espírito deprimido, sem horizonte, arquitectando seus planos em silêncio, de uma juventude abafada pelo país, que não encontra espaço no país.

Uma nota, ainda assim, para este anúncio da Zon. Eu sei, eu sei. Mas eu sou o tal fã do Rigoletto (e é tão singela e verdadeira a letra: la donna è mobile, deveras), e algum dia já pensei em algo parecido. Portanto... fica a menção honrosa. 


Olivus 2008: Figura do Ano

Voltamos aos Olivus Awards, meus amigos. Começemos com a 'figura' ou 'pessoa' de 2008, porque a 'personalidade' que ganha o prémio, essa já sabem - é mesmo a minha (é lerem as regras se houver dúvida).

Ok. As graçolas ficam por aqui. Vamos lá então a coisas sérias.

I. Internacional:
Barack Obama

Escolha natural, e sê-lo-ia somente pela ruptura cultural, pela página da História que já escreveu. É, com efeito, um político arguto, que parece ponderado na abordagem aos problemas, mas ao mesmo conciliatório, ecuménico. É a sua expectativa, porém - uma vez que da sua acção ainda nada se pode concluir - que vem este prémio. Por todas as razões, vamos esperar que a acção esteja ao nível das expectativas.

2009 vai obrigá-lo a jogar as cartas que aparenta ter na manga. Nesse jogo, de nada adianta dizer que 2009 será aquilo que se espera, ou que a crise ainda vai piorar. A janela de esperança que representa, não só para os EUA, mas também para o mundo, exige-lhe o que prometeu: mudança. Exige-lhe inteligência e criatividade. Exige-lhe resultados.

Mas faço uma ressalva, chamo a vossa atenção a uma curiosidade… “maldosa”. Ei-la: discurso de vitória eleitoral de Obama centrou-se na capacidade de realização do ‘american dream’, partindo do princípio que o seu feito – porquanto histórico – representa, justamente, o ‘american dream’. Ora, eu - se bem que não seja americano - não podia estar em maior desacordo. Na minha concepção histórica o "motivo onírico" americano aplica-se à conquista de riqueza, à conquista intelectual, mas não tanto à conquista de poder.

Um presidente deve ser instrumental, isto é, ser um veículo, permitir aos seus concidadãos usufruirem da possibilidade de se sublimarem, de realizarem esses ‘american dreams’, essas conquistas. O poder, em termos do que é a democracia americana (como exemplar nação democrática), não pode - não deve - estar dissociado do serviço.

Mas enfim, esperemos que ele consiga superar com actos esse ‘faux pas’. Esperemos que sim – para o bem de todos nós. Here’s hoping things work out for you, Mr. Obama.

II. Nacional: Cristiano Ronaldo/Nélson Évora

Parece-me, igualmente, natural a escolha de Cristiano Ronaldo como personalidade nacional, não pelo que faz pela nação propriamente dita, mas antes pelo que nalguma representação nacional faz a nível internacional.

No meio do vazio, da ausência de rumo, tanta vez, que caracteriza a nossa era para muita gente, Ronaldo aparece com uma super-motivação, uma força imparável, uma ambição e realização espantosas. Para muita gente, por ridículo que possa soar, ele aparece um pouco como "vida no vazio", um enigma que apaixona a vida aborrecida, banal, condicionada, cerceada, de tanta gente. Aparece como um motivo do humano. Era melhor que fosse Rembrandt - mas não é assim que as coisas funcionam.

A paixão de Ronaldo pelo futebol, a sua entrega ao jogo, fá-lo um símbolo. No futebol não há chefe, não há dinheiro, não há amor, não há certeza, não há dois jogos iguais. Há só artistas, um parêntesis cénico, uma obra de arte dinâmica e colectiva, um exercício de possibilidade que qualquer ser humano compreende. Por exceder no futebol, por entusiasmar tantas pessoas, Cristiano Ronaldo merece este prémio. A Bola de Ouro é o mero corolário do seu esforço e dedicação. Fez ouvir e ler-se a palavra 'português' - gostemos mais ou menos dele - mais do que qualquer outra pessoa em 2009. E, tendo-o feito por motivos eminentemente positivos, mais que merece esta distinção.

Partilhará, contudo, o troféu que o Generosità, na minha pessoa, lhe oferece, com Nélson Évora, que, talvez mais, alegrou o próprio país. Sobretudo porque foi o único que, confrontado com a maior fasquia, no caso particular, a cumpriu. Disse, ou deixou que muitos dissessem - e fez. 

Para mais, fê-lo na pior situação - quando todos os colegas olímpicos desiludiram na sua meta (excepção feita, notavelmente também, a Vanessa Fernandes), e a crítica devastadora (o atípoda da exaltação esperançosa antes de os atletas entrarem no avião) se acumulava. De tal forma que Évora - actuando mais tarde - foi um 'tudo ou nada' para a missão olímpica portuguesa. Foi a última fronteira para a desilusão e o achincalhar de toda a missão. E ele, sob essa pressão acrescida, foi o tudo, e salvou tudo. Ter conseguido - perante o mundo, perante os portugueses e, também, perante o pessimismo e a desilusão dos portugueses, fazem de Nelson Évora o símbolo do ano, o vencedor português do ano. Daí o prémio, daí os parabéns - que assim exige o nome deste espaço.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Boa Acção do Dia 4

Camões versus o 'espírito' do Natal.


Boa Acção do Dia 3

Afinal, o mito do 'Daredevil' tem fundamento. O homem nas imagens, como descreve a narradora, é cego. E consegue desviar-se de todos os obstáculos no caminho.

Alguma vez esperaste ler as duas últimas frases seguidas num texto?


Em Preparação...

...os Olivus Awards deste ano.

Boa Acção do Dia 2

A ler, o excelente artigo de José Pacheco Pereira (JPP) - disponível no Abrupto - "A absurda ideia de que há um regresso a Marx". JPP no seu melhor.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Miss RE 2008

A vossa atenção para esta votação, se faz favor. Muito agradecido (é desta que o primo Apolinário pode votar na moça mais ao seu agrado).

Boa Acção do Dia 1

Ora leiam este poema: 'poeminha do menino triste', aqui. (há que baixar a página com o cursor).

sábado, dezembro 20, 2008

A Dialéctica do Espírito: Um Conto de Natal

Estás preocupado com a crise. Não sabes bem exactamente o que é, como te vai afectar. É uma crise estúpida. Caramba, tu bem avisavas. Mas aconteceu. E há sempre os banqueiros que se safam escandalosamente, os políticos para quem fica tudo na mesma. Um nojo. Mais um suspiro. Mais um dia.

Chegas de manhã ao teu emprego absolutamente miserável e lixado com a vida. 'Isto é tudo uma m****!' dizes para ti depois de cumprimentares cordialmente o Sr. Carlos, porteiro.

Quando chegas ao teu andar, finalmente, vais fazer a única melhoria possível dessa manhã - beber café. Descobres que ('f***-se!!!') a singela máquina escolheu esse dia para deixar de funcionar. Já não convém saíres, porque, assim que entraste o teu chefe disse: 'Bom-Já-Tens-Ecomenda-Antes-Dez-Era-Para-Ser-Depois-Mas-Mudou-Prazo-Senão-Lixados. Já bebeste café? Vai lá, mas não te demores'.

Sabes que a vida está complicada quando não te sobram asneiras para dizer numa manhã. Lembras-te do teu avô que vivia no Campo - isso sim, era vida. Que pena o ecrã do computador não poder falar contigo. É estranho não o fazer, por ser um tão fiel amigo, e agora precisavas das palavras de um fiel amigo. Talvez a sua qualidade seja a de estar calado perante os teus caprichos. Talvez esse silêncio o torne agora tão inútil.

Mas, por algum milagre, além do monitor os teus colegas estão contentes. Estranhamente felizes, num tom de conversa ameno. Luminosos. Pegas em ti, e juntas-te a eles. És bem recebido. Ausentas-te só um segundo com uma piada, e fazes a encomenda que era preciso. Um instante. Quem diria. Tornas à conversa. Sentes as tuas dores a deixarem - como se nada fosse - os teus ombros. Ris-te. E percebes que a todos une, de alguma forma, e para tua surpresa, o espírito do Natal.

No final do dia, renovado pelo convívio no escritório como nunca antes, despedes-te de todos. 'Feliz Natal' para um lado, 'Bom Ano' para o outro, até mesmo um 'Não, se calhar são vocês que ganham o campeonato este ano'.

Toda a gente ri. Mas então alguém se lembra de acrescentar ao generoso 'Divirtam-se!' sorridente, um acrescento de verdade, que faz cair o sorriso: 'Se conseguirem, com esta crise... Vamos lá ver' [olha o chão].

Ias dizer uma asneira. Duas até. Tinha que ser, não podia ninguém não o lembrar. Era só mais um bocado, estavas quase a sair. Não ias ficar com o espírito maculado de novo.

Mas que se lixe. Decidiste ir para casa com o espírito de Natal. O espírito da crise virá, sabes bem. Mas há sempre um Natal a seguir a cada crise, dentro de cada crise. Há sempre um dia, pelo menos, em que ninguém ganha ou perde. Natal é natal. Não está cotado, não é emprestado, e ninguém te o pedirá.

Mas decidiste aceitá-lo sem remorsos, contra ti talvez. E acabas a pensar que, talvez, quem sabe, essa seja a melhor definição para o que é o Natal.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Dodge This

Diga-se o que se disser, e pense-se o que se pensar de George W. Bush, há que elogiar os seus reflexos, ao desviar-se - com grande estilo - dos sapatos projectados contra ele pelo tal jornalista. 

Especialmente tendo em consideração que, com o papa, ele deve ser - supostamente - dos homens mais bem protegidos à face da Terra, sem poder antever tal ataque pessoal.

Pode não saber onde fica a França, mas, cá para mim, era uma estrela nos tempos do 'Dogdeball'.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Bucólica

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;

De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.

Miguel Torga (1907-1995)

Mário Soares

Depois digam que não foram avisados. Aqui.

"Portugal também não deve ficar indiferente. Com as desigualdades sociais sempre a crescer, o aumento do desemprego que previsivelmente vai subir imenso, em 2009, a impunidade dos banqueiros delinquentes, o bloqueio na Justiça, e em especial, do Ministério Público e das polícias, estão a criar um clima de desconfiança - e de revolta - que não augura nada de bom. Oiçam-se as pessoas na rua, tome-se o pulso do que se passa nas universidades, nos bairros populares, nos transportes públicos, no pequeno comércio, nas fábricas e empresas que ameaçam falir, por toda a parte do País, e compreender-se-á que estamos perante um ingrediente que tem demasiadas componentes prestes a explodir. Acrescenta-se o radicalismo das oposições, à esquerda e à direita, que apostam na política do "quanto pior melhor". Perigosíssima, quando não se apresentam alternativas credíveis..."

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Também Vosso

Só para relembrar que é aqui que estou a reunir a memorablia televisiva (já vai em 18 - uff!). Vão, que vale a pena. De certeza, encontram algo também vosso.

Algo Que Virá Com Alguém

"- Já me perguntei se seria uma coisa de mulheres. Sem mulheres não há sonhos. Há só viver, continuar. Há estudo, teoria de vida, tentativa de perceber um mundo que é demasiado violento. Mas sem mulheres não há o sonho de o mudar. Não há porque o confrontar.
- E quando é que deixaste de sonhar?
- Acho que me habituei. De noite acordas e achas que não sonhaste durante a noite. Pela manhã vais trabalhar sem te lembrares que alguma vez quiseste algo diferente.
- Mas terás realmente sonhado, algum dia?
- Eu... Eu acho que sim. Já não me lembro bem, ao certo. É uma leve impressão quando me levanto - há algo nessa noite que não cheguei a perceber. E é uma leve impressão quando estou a trabalhar, a falar com pessoas: algo está mal, algo deveria estar diferente. Há algo fora de tom. O sonho deve ser então o regresso a alguma harmonia perdida. Uma harmonia que é tão provável, tão possível, que tu sentes poder existir, subcutânea... Mas que não está lá.
- Não sabes se sonhas com algo ou com alguém?
- Não. Mas tenho a impressão, ligeira, insinuada, de que sonho com algo que virá com alguém."

O Custo de Vício I

Dou comigo a pensar que crise é crise, mas... quer dizer, a grande parte dos meus prazeres de vida são grátis ou baratos.

Ler é grátis (e apetecia-me ficar por aqui). Jogar à bola ou andar de bicicleta é grátis. Se eu conseguisse socializar com mais miúdas giras - grátis. Navegar na net - barato (com jeito até pode ser grátis). Uns petiscos com amigos também se arranjam baratos (nem preciso de dizer: goodbye beluga!). Mesmo sem carro, a minha vida continua (tenho a carta há pouquíssimo tempo e continuo a andar de transportes públicos).

Crise é sempre crise. Mas quem não tem dinheiro, não tem vícios - ou tem vícios grátis/baratos.

Satisfeito Com a Sua Companhia

Leio no artigo da Wikipedia dedicado a Benny Hill:

"Hill worked compulsively and had only a few friends, although colleagues insist he was never lonely but content with his own company."

Eis uma frase que, por vicissiudes e temperamentos, poderá ser, um dia, aplicável a mim. Espero que não, apesar de tudo - mas fica aqui a sentença.

La Vera Sfida

E Mourinho será o campeão de Inverno. Com a Juve a -6, e o Milan a -9, está muitíssimo bem lançado. É que - atenção - é mais difícil ganhar num primeiro ano em Itália do que ganhar no primeiro ano em Inglaterra. Fazê-lo em ambos campeonatos, então, é excelente. Quem sabe, uma marca para a História.

domingo, dezembro 14, 2008

Dado Adquirido

Que haja pessoas que ainda gostem de nós, quer dizer tão somente que nem tudo o que fazemos será mal feito, por mais que tenhamos dias, tiques, manias, requintes, ambições.

Que haja pessoas que não gostem de nós - isso pode tão somente querer dizer que fazemos coisas. 

O 2º Turno

Doravante, passarei a dividir... posts entre este blog e um outro, 'Rústicos Epicuristas', a ser feito a meias com o Edu, incial colaborador deste blog.

Com que critério os vou dividir, logo verei, mas o Generosità continua seguramente.

Desde já, começa nesse blog a série: "The Simple Life". Porque é bom rever a vida simples face às dificuldades da vida portuguesa hodierna.

Não resisto, porém, a incluir também no Generosità este delicioso sketch de Benny Hill - dos anos 70' - muito mais malandreco. Nesta nossa era de vulgarização do sexo (nada contra, mas a sedução era uma coisa tão bonita...), até podem chamar à coisa 'petit-bourgeois', que eu não me importo. Mas este 'Learning All The Time' é mesmo o meu Benny Hill favorito.


sexta-feira, dezembro 12, 2008

Elogio a Sophia

Talvez, se me perguntassem de repente pelo meu poeta favorito, eu me saísse com o seu nome. É certo que continuo um fiel de Cesário, mas Sophia de Mello Breyner Andresen (e todos sabemos o seu nome completo), tem dos poemas mais... limpos da nossa língua. É magnífica. É um acto de higiene mental, lê-la. Uma redenção do mundo. E pergunto-vos se para algo mais existe a Poesia.

Sophia disse, creio, ser o (seu) Porto 'a nação dentro da nação'. Até lhe darei razão nessa fé, mas mais importante para mim será dizer que Sophia é a Língua Portuguesa dentro da Língua Portuguesa. Se se tivesse que começar do zero este nosso mágico idioma, seria sempre com ela. Seria com a sua Poesia que se ensinaria Português a um marciano. Pessoa - se bem que igualmente pristino (ortónimo) - não é nunca tão sincero (ou não é nunca sincero), como Sophia. Sophia escreve e é. E por isso resume a enorme complexidade da Língua Portuguesa, sintetiza e comprime o universo. E traz luz sobre os nossos.

Uma Língua em Relevo

Tem sido áspero o primeiro contacto com o Alemão. Uma língua eslava, tão distante da doçura latina que eu amo. Às vezes parece uma língua seca, que estala, que constrange. Não se conhece nenhuma palavra - a pronunciação tem que ser tacteada a todo o momento. Não há registo oral - zero.

O alemão soa mal, sejamos francos. A princípio soa mal. Não é melífluo, antes áspero e bárbaro. Mas é a língua de Mozart e tantos outros génios. É uma língua que exige muito - muito - mais esforço, mas onde se começa, eu começo, a descortinar uma pequena ordem, e uma certa manobra - uma simplicidade aliada à criatividade.

Mas ainda parece muito uma língua seca, esferovite a ranger, cheia de espinhos, alfinetes. É uma língua em relevo, não é bidimensional - tem picos, tem exigências de que não abdica. É teimosa, caprichosa com o que é seu.

Mas este mais puro amante da latinidade há de a descodificar. Nenhum código linguístico é impenetrável - tudo depende do trabalho que nos exigirmos, realmente.

Ah, e depois do Alemão, ainda falta um idioma para fechar o círculo (se houver Saúde e disponibilidade*). Mas ainda é cedo (tão cedo...) para falar em 'depois do Alemão'.

*E, pelo andar das coisas, também Civilização, País como o conhecemos. Não é assim tão ridículo dizê-lo...

Give Me Good Numbers (Baby?)

Eu não sabia que a correctora da minha eleição também tinha... outro trabalho em paralelo. Não fazia ideia, honestamente. Afinal é ela a enfeitar as ruas de Lisboa como nenhumas luzinhas poderiam fazer.

Olha que bela surpresa natalícia.



*

(* imagem indecentemente surripada ao excelente E Deus Criou a Mulher, captada por Brunorix)

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Parabéns

Os devidos parabéns a Paulo Bento, por mais que eu me impaciente com ele em alguns pormenores da gestão da equipa (nomeadamente o insistir na lógica de rotação e de vários jogadores médio-bom, quando já podia gizar um conjunto de excelentes, acabar com os bons remendos e passar a utilizar só do bom tecido). 12 pontos na Liga dos Campeões (Mourinho fez 8), 4 (!) vitórias e apenas 2 derrotas contra aquela que é, provavelmente, a melhor equipa da Europa neste momento, o Barcelona, é um registo a todos os níveis fabuloso. Sobretudo para um Sporting tradicionalmente destinado a fazer número na Europa.

Os meus sinceros parabéns a Paulo Bento, e desculpas no que se impôr. Continuarei crítico - sempre -, mas esta primeira passagem aos oitavos-de-final chega a coroar um pouco o óbvio: que Paulo Bento tem já o seu modesto lugar na História do Sporting. Parabéns, portanto.

Espero que ele consiga fazer uma coisa tão simples - e tão sportinguista - que é o de acolher a nova geração. De ir buscar - como tem feito com Pereirinha, Carriço - mais e melhor prata da casa, preparar o Sporting dos próximos anos.

Politicamente Correcto ou Amizade?

Dou comigo a pensar em como, tantas vezes, tendo - tendemos - a desculpar em demasia as pessoas da nossa geração. A nossa geração é, sejamos claros, grande parte daquilo que nos define. Mas... quer dizer, julgo que há uma certa tendência para cair no politicamente correcto de desculpar tudo a todos - só por termos a mesma idade. De desculpar omissões, comportamentos, má-educações, cobardias, etc. E, paradoxalmente, tendemos a criticar, por vezes, os nossos próprios pais.

Ora, é claro que existe aí um grande paradoxo, uma grande injustiça. Não há porque desculpar tudo aos nossos coetâneos (nem aos nossos pais, já agora, porquanto a gratidão se imponha). A amizade não é desculpar tudo - a amizade é justamente uma relação de confiança em que as pessoas cumprem regras, inevitavelmente - ou ela rompe-se. Todo o contrário, portanto. Será que, quanto mais tendemos a aceitar cegamente tudo nos nossos co-geracionais, mais tendemos a criticar gratuitamente, por exemplo, os próprios pais?

Será que conseguimos avaliar por um qualquer padrão que apliquemos a pais, e amigos - mas antes de mais a nós mesmos?

Não vale a pena deixar coisas básicas para ser 'aceite'. Mais vale estarmos sós.

Canções de Ícones e Caracteres

Canções de ícones e caracteres...
Mas só se amam as mulheres.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Mas Tu Queres Ver...



Nova Iorque, ontem. Vou ter que rever esta sessão com a minha correctora Irina Sheik.



É que a mim parece-me estar tudo bem. Muito bem mesmo.

Um Orlando Bloom de Distância

Diz Miranda Kerr (um dos 'angels' da Victoria's Secret - essa famosa empresa de laminados) que pretende viver numa quinta, cheia de animais e de virtudes campesinas. Ora bem, minha cara - estamos somente a um Orlando Bloom de distância. Quase nada.

Entrudo Antes de Quaresma

Olhós gajos a tramar o Quaresma... Caso para dizer, a fazerem Carnaval antes que apareça Quaresma...

Há que trabalhar para sair por cima. Na dúvida, é só copiar o Mou (que as minhas fontes confirmam ser leitor do Generosità. Sabe pouco, sabe...).

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Cuidado Não Te Apanhem a Chorar

Dedicado às pessoas que andam pelo Metro de Lisboa, arrastando cansaços, por vezes escorregando olhares. Em compras, ao frio, ao desespero. Quem sabe no ventre da Terra que mundo ainda há lá em cima? No metro o país é o mesmo - e não se pode olhar directamente para ele. É uma mulher deslumbrante, que se não pode olhar. É uma quimera que sai, nesta, naquela estação - nunca a nossa. Nós devemos continuar, sem olhar. E então, mesmo no ventre da terra, há uma luz que espanta os olhos que se desviam, e não sabemos se é já a tempestade. Não - foi só um relêmpago nos carris. Foi só electricidade, o mesmo de sempre. E, como sempre, aquela rapariga esgueirou-se na outra estação. Não deu para lhe dizer que talvez fosse ela Portugal, talvez levasse ela o país. Não deu para lhe dizer. Estranhamos as pessoas estranhas do metro. E continuamos. Ao frio, e à incerteza. Em cada qual. O silêncio é o pacto que fizemos, é o requiem por qualquer coisa, ou espera em respeito de qualquer coisa. E Portugal, de repente - como o relâmpago que parecia - talvez não seja aquela bela rapariga, que olhou em diante. Talvez sejamos nós, que escusamos olhar-nos. Talvez Portugal seja magnífico, talvez uma maldição. Talvez nunca o saibamos - talvez Portugal seja a estação a que nunca vamos, embora saibamos bonita. Embora tenhamos sempre a convicção de que, se for preciso, lá saberemos ir ter.

Dedicado a essas pessoas de hoje. Poema de Jorge Sousa Braga.

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse
oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de
África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo uma mentira
que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de
rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do
Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr uma pérola que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada
de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca

Jorge Sousa Braga

domingo, dezembro 07, 2008

Co/Re-Incidências

Diz que o Oliveira e Costa tinha um bunker na Vidigueira. Devia ser por causa do sol. E Dias Loureiro já esclareceu que, embora estivesse em Dallas, naquele dia de 1963, e, por acaso, levasse consigo uma carabina ('os tempos eram, naturalmente, mais perigosos'), tinha ido somente entregá-la ao seu primo Zé Júlio, emigrante, e provar as tartes de maçã que fazia a mulher deste - incidentalmente, muito boas.


Exílio

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Ansiedade

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

Fernando Pessoa/Álvaro de Campos (1888-1935)

quinta-feira, novembro 27, 2008

A Música

Da pouca música que ainda conheço, eis aquela que levaria comigo para uma ilha distante. E que se mistura com o filme 'Five Little Pigs', a retratar o caso de Poirot, de uma maneira absolutamente divinal.

Um Novo 25 de Abril: O Desastre Anunciado

Se Portugal evoluísse para uma situação de ruptura social - como há pessoas esclarecidas que aventam poder acontecer - e se gerasse um novo 25 de Abril, um dos efeitos desastrosos seria, naturalmente, o de agravar a crise económica geral. Por muitas razões, mas, antes de mais, por este simples facto: a nossa economia tem uma grande contribuição por parte do sector turístico. Já pensaram no absoluto desastre que seria uma nova revolução em Portugal? E não tenham ilusões - demoraria muitíssimo tempo a debelar.

Ainda para mais que agora começa a aparecer (veja-se a nova clínica Maló na Madeira) aquilo que eu desde há muito defendo como um cluster fundamental para o país: o turismo clínico. Pessoas que vêm ser operadas a Portugal, com todas as condições. Se temos uma boa tradição médica, e uma grande indústria, elementos para turismo, porque é que, infelizmente, não temos líderes com o mínimo de visão, para juntar as duas coisas?

Mas, realmente, um novo 25 de Abril seria desastroso. Mas, caramba, se já os romanos diziam que 'não se governam nem deixam governar', que novidade é que haveria numa outra revolução?

quarta-feira, novembro 26, 2008

Inteligente

A meu ver, a convocatória a Hillary Clinton e a manutenção de Robert Gates. Até agora, Obama tem dado bons sinais - e, igualmente importante, não tem dado maus sinais.

'He Needs To Grow Up'

Excerto deste artigo, de um colunista italiano no 'The Times':

"Brazil revel in Ronaldo’s on-field humiliation

It was not a good week for the man who is likely to collect all the World Player of the Year awards over the next month or so. Cristiano Ronaldo walked down the tunnel at Villa Park at the weekend trading abuse with the crowd after a lacklustre performance. But that was a pleasant evening compared with what he had gone through three days earlier.

On Wednesday, Brazil thrashed Portugal 6-2 in Brasilia and the home side seemed to take unnatural pleasure in humiliating him. One incident, which is already a classic on YouTube, stands out.

Thiago Silva, a central defender no less, juggled the ball over Ronaldo’s head (a classic “sombrero”) when the Manchester United forward tried to press him after an ill-advised throw-in towards the Brazil goal. Ronaldo was incensed and, later in the match, he launched a terrifying tackle at his opponent.

“Ronaldo is just a malicious guy, if I hadn’t jumped out of the way, he would have broken my left leg,” Thiago Silva said. “He lost control because we totally snuffed him out of the game.” Ronaldo did say sorry for the tackle after the game, but Thiago Silva was having none of it. “I’m not going to accept an apology from a guy like that,” he said. “He needs to grow up.”

Supporters in Brazil are loving all this. Normal service has resumed: once again, it is the men in green and gold who are humiliating their European opponents with their otherworldly skills and flair. That Ronaldo, a player who has been accused of showboating in an attempt to humiliate his fellow professionals, is the victim only makes it all the more delightful in their eyes."

Eis o vídeo do acontecimento. If you ask me... nada de especial. Mas tudo bem. Agora, que também anda tudo a querer tirá-lo do pedestal... não é novidade, pois não? Mas, realmente, o jogo de Ronaldo contra o Brasil foi muito fraco mesmo.


Uma TV Catita

Será que se pode dizer que, com 'Os Contemporâneos' a contrabalançar os 'Gato Fedorento', e uma série que abre caminho na (medíocre) produção de ficção portuguesa como 'Mundo Catita', podemos dizer que temos uma outra TV, uma TV portuguesa na trajectória (cuidado: agarrem-se!) da qualidade?

terça-feira, novembro 25, 2008

Romantismo

A propósito de Romantismo, quem sabe se os tempos não mudam. Apresento-vos João Coração, que a Y do Público descreve como boémio e talentoso. A vós de julgar o segundo adjectivo.

Ao ler a descrição, parece o meu estilo de português: mais preocupado com mulheres, vinho tinto e música, cultura. Afinal, antes deste País ser Império, era uma nação de trovadores.





segunda-feira, novembro 24, 2008

O Fato de Treino Confunde Tudo

É, mas se Deus pretendesse que fôssemos seres moralmente coerentes, não teria inventado o fato de treino, e o relax doméstico, pois não?

Memória, Gratidão, Esperança

Comemora-se hoje o Dia Nacional da Cultura Científica. Que saibamos a lição dos Tempos: só a Ciência pode melhorar o ser humano. Só a Ciência nos permitiu subir acima da guerra por um mesmo pão.

Só a Ciência, tão magnífica, suprimiu a dor ao parto, evitou uma morte. E outra. E outra morte evitou. E ainda outra.

Mil vezes a Ciência venceu a Morte. Milhões e Milhões de vezes. Como a honramos hoje? Estamos perdidos nos nossos pequenos, egoístas mundos. Não sabemos os princípios - nem sequer as histórias. E é triste a vida assim. É triste a vida presa por SMS, televisão, computador.

Pessoas morreram para que tu- sim, tu - e eu possamos hoje estar vivos. Pessoas dedicaram-se a um mester - científico, médico. Não os oiças quando falam de guerras e dinheiros. Falam do mesmo de sempre... Se não estás hoje numa cama, com dores que não percebes, a agonizar, agradece ao milagre da generosidade humana: à Ciência, à Medicina. Pensa só um segundo nisto. E depois vai.

Hoje é também o dia do centenário do nascimento de Rómulo de Carvalho, ou António Gedeão, esse que foi, com todo o direito, e da forma que mais lhes é discreta, um grande português.



Poema para Galileu

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano, aquele teu retrato que toda a gente conhece, em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce sobre um modesto cabeção de pano.Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.

(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício. Disse Galeria dos Ofícios).
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença. Lembras-te? A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria... Eu sei... Eu sei... As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia. Ai que saudade, Galileu Galilei!

Olha. Sabes? Lá na Florença está guardado um dedo da tua mão direita num relicário. Palavra de honra que está! As voltas que o mundo dá! Se calhar até há gente que pensa que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileu, a inteligência das coisas que me deste. Eu, e quantos milhares de homens como eu a quem tu esclareceste, ia jurar - que disparate, Galileu! - e jurava a pés juntos e apostava a cabeça sem a menor hesitação – que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileu? Quem acredita que um penedo caia com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia? Esta era a inteligência que Deus nos deu.

Estava agora a lembrar-me, Galileu, daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo e tinhas à tua frente um guiso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo a olharem-te severamente.

Estavam todos a ralhar contigo, que parecia impossível que um homem da tua idade e da tua condição, se estivesse tornando um perigo para a Humanidade e para a civilização.

Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscava os lábios, e percorrias, cheio de piedade, os rostos impenetráveis daquela fila de sábios. Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas, desceram lá das suas alturas e poisaram, como aves aturdidas - parece-me que estou a vê-las - nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.

E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual conforme suas eminências desejavam, e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal e que os astros bailavam e entoavam à meia-noite louvores à harmonia universal.

E juraste que nunca mais repetirias nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma, aquelas abomináveis heresias que ensinavas e escrevias para eterna perdição da tua alma.
Ai, Galileu!

Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo, que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços, andava a correr e a rolar pelos espaços à razão de trinta quilómetros por segundo Tu é que sabias, Galileu Galilei.

Por isso eram teus olhos misericordiosos, por isso era teu coração cheio de piedade, piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos a quem Deus dispensou de buscar a verdade.

Por isso, estoicamente, mansamente, resististe a todas as torturas, a todas as angústias, a todos os contratempos, enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas, foram caindo,
caindo,
caindo, caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente, na razão directa dos quadrados dos tempos.

Rómulo de Carvalho/António Gedeão (1906-1997)

(nota: bold meu)

Vivaldi ou a Higiene da Mente

E hoje de manhã não me conseguia rir só de lembrar dos vídeos do Vieira. Estive a ver alguma da carreira de Vieira no YouTube, e... continua um personagem polémico. As palavras são só palavras ou são aquilo tudo - palavras? Quem profere palavras ultra-obscenas é obsceno - fez coisas obscenas enquanto pessoa? Ou é um mero artifício humorístico? E não há pessoas que, não proferindo obscenidades, fizeram esses mesmos crimes? Em que ficamos, pois?

Eu gosto de um calão humorístico, mas a barreira com coisas graves pode ser fina demais para se não ter cuidado. Não falo de Vieira, propriamente, antes generalizo.

Mas há que, hoje, desintoxicar das palavras. Façamo-lo com Vivaldi. Façamo-lo pensando em Veneza.


Um Mundo Catita

Gostei da estreia do 'Mundo Catita'. Realmente, peca por tardia uma série com o Manuel João Vieira (desconheço se já existiram algumas).

Manuel João Vieira é... 'hardcore'? Não exactamente. Burgesso? Hum... Também não tanto. É um performer - com mais talento que se pensa. Talvez o que ele goste é de chocar, de pôr a pensar que ele é, resumido, 'hardcore', burgesso.

É transgressivo? Certamente. Mas é genuíno. E é um estilo. Para rir, meus caros, não há melhor. Só nesta apresentação dele na TVI eu ia caindo da cadeira.



"Artista polimórfico, vocalista dos Ena Pá 2000, líder espiritual dos Irmãos Catita, é também candidato à Presidência da República. Nasceu em 1960 e em 1962, e afirma ser a reencarnação provável de Oliveira Salazar, de Ramsés II, e de outros ilustres conhecidos. Fez o doutoramento em Ciências Políticas na Universidade de Berminton e uma pós-graduação em Cretinologia Marítima pela Universidade do Pico nos Açores. "

A sério, vejam este 'Mundo Catita'. Que me perdoem os leitores, antes - as leitoras que fiquem ofendidas com o estilo... Que vos dizer? Portugal também é Vieira, é assim. Ou mesmo, quem sabe - Vieira tem a coragem de ser mais Portugal...

domingo, novembro 23, 2008

Das Bazófia

Tenho impressão que já disse a mais pessoas que estava a aprender Alemão que às palavras alemãs que conheço. Nem é de propósito - eu não preciso disso para a auto-estima. Mas aconteceu, estranhamente. Acaba por ser a coisa de que primeiro me lembro à pergunta: 'então e o que é que andas a fazer?'. Nem é a principal, mas acaba, realmente por ser a mais... diferente, para aquilo a que estava habituado. É, de facto, uma língua muito particular, sobretudo tendo eu sido sempre um amante das belas línguas latinas.

O Ponto de Inflexão

"Espero que vás construindo obra e tudo isso se dilua." Assim escrevi eu nos posts em que 'avisava' - e criticava - Mourinho sobre a sua lida em Itália.

Mantenho o que disse. Mas é chegada a hora de lhe dar os parabéns por estar a chegar lá, ao ponto de inflexão: aqui.

E Itália, malgrado todos os problemas que apontei, tem uma característica excelente: se se faz parte do seu 'star system', se se conquista o respeito dos italianos, também é uma coisa muito bonita - gloriosa, mesmo.

sábado, novembro 22, 2008

Fraquito



Não, Kaká. Estragar o projector é mau, muito mau. Fraquito.

Queixo Todo Marmelado

Vale a pena passar só este segmento d' 'Os Contemporâneos'. Bela reprodução de alguns tiques campesinos (e não estou a falar do Bruno Nogueira).


Nouvelle Vague

Diz que é a nova vaga da pop lusitana. A conferir.



Pontos Negros

Ainda Mais Vezes


sexta-feira, novembro 21, 2008

A Bola, Essa Amante

Deves aprender a amar a bola. A bola nunca te trairá. A bola nunca te esquecerá. A bola nunca te enganará.

Aprende a ter essa amante pela vida - quaisquer que sejam os teus amores.






quinta-feira, novembro 20, 2008

Sujou - Limpou!

É. Tenho que botar aqui alguma poesiazinha. Senão vão-me acusar de ser o José Vilhena da blogosfera.

Cada Um Ouve o Vox Popoli Que Quer

E lá andam sempre às voltas com os professores, com a Educação. Sempre os mesmo problemas com as reformas na Educação. Vejam os italianos, por exemplo, eles também andam a mexer nas universidades, mas vão além do clamar na rua. Vejam estas bravas estudantes italianas, que decidiram fazer um calendário de protesto, contra a política do governo. Isto sim, meus amigos, é o verdadeiro 'vox popoli'. Pelo menos, é certamente aquele que eu oiço. É certo que, no caso italiano, o ensino em causa era o universitário, mas de certeza que haverão problemas nas universidades portuguesas. Porque é que não assim protestos de universitárias por cá? É preciso despir a camisola, caramba. É preciso despir a camisola de uma causa.


O Portugal Queirosiano

Alguém que nunca gostou de Queirós dizia-me, sobre os tempos do Sporting, que, como treinador, Queirós começava a época a dizer que os jogadores estavam ainda vindos da pré-época, para justificar os maus resultados. Depois - como os maus resultados continuavam - começava a dizer que estavam cansados pela carga de jogos.

Vi hoje declarações suas a dizer que, agora sim, está elucidado quanto aos jogadores e à equipa. Passe a deselegância, e o bode-expiatorismo, atentem nesta maravilha: agora que está a pouco de não garantir a qualificação, sabe qual a equipa ideal.

Queirós é assim como o Conde de Abranhos, um génio que se tarda em revelar. Ah, mas aquela testa, aquela testa... Não! Algo de genial tem que sair dali, mais tarde ou mais cedo. Mesmo que depois de estar a selecção eliminada, que o génio não muda com as latitudes da idiotice alheia!

Sem Passado, Com Ecrãs

Se agora antigos portugueses viajassem no tempo, que diriam destes, de hoje, cada um perante o seu ecrã, da televisão, do computador, do telemóvel. O que faziam eles com este tempo, esta juventude?

Brisa de Goleada II

6-2. Eu bem avisei, que o meu dedo do pé não se engana.

terça-feira, novembro 18, 2008

Quando Se Escrever Sobre Este Tempo

Há uma parte que não vem daí, e eu critico. Critico em mim, e critico na minha geração. Critico-nos, jovens.

Mas uma grande parte que vem de outro sítio. Vem da demissão. Da carga que deixam aos mais novos. E depois de um 11 de Setembro, duas guerras (mesmo se de outros, sabemos que elas estão lá), terrorismo, crise económica portuguesa, país envelhecido, 'realpolitik', supressão de valores, ausência de Justiça, onda de crimes, mais crise portuguesa. E, depois, uma recessão mundial.

Jumentos podemos alguns, às vezes ser. Sou o primeiro a dizê-lo. Mas é demasiada a carga sobre os nossos ombros. É essa a miséria de Portugal, pelo meio das suas qualidades: não tem homens, não tem, subitamente, gerações. Velhos fazem vidas de novos, novos fazem vidas de velhos.

Mas são muitas pontas soltas para atar. São muitas. Não admira, portanto. Não admira.

E a culpa, nos melhores entre nós, não é nossa. A culpa não é nossa.

Talvez não seja demais escrevê-lo, dizê-lo outra vez: a culpa não é nossa.

A Senhora do Tempo

E começa-se a notar que o relógio não basta. Que a agenda não basta. Ou o telemóvel.

Não, o que fazia falta para organizar a vida era mesmo o último patamar da gestão do tempo: uma namorada. Ela a mandar no nosso tempo, claro.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Brisa de Goleada

Havia a (foleira, para não dizer mais...) música 'Wind of Change'. Mas ao ver os jogadores de Portugal de Queirós a ir ao Brasil jogar soa-me mais a... 'Brisa de Goleada', ou 'Nortada de Levar na Pá'. Não sei porquê.

Deve ser o calo do meu dedo grande esquerdo que já não funciona. Embora esse dedo nunca tenha sido muito nacionalista....

The Things You Didn't Do

"Twenty years from now you will be more disappointed by the things you didn’t do than by the ones you did do. So throw off the bowlines. Sail away from the safe harbour. Catch the trade winds in your sails. Explore. Dream. Discover."

(Mark Twain)

Com ou Sem... Pecado?

Talvez mais importante que a questão 'com ou sem Amor', sobre o sexo se deva perguntar 'com ou sem Pecado?'. Com ou sem o sentido de Pecado? Simples, natural... ou envolvendo algo mais?

Porque, infelizmente, as pessoas não são todas iguais, lá tiveram que meter as noções de Pecado e de Culpa para o meio da coisa. Males necessários...

Quem sabe se, sem exageros de Amor, ou exageros de Pecado, não estaremos no estado mais natural e puro de algo que tentam sempre complicar?

Generosità

Por pouco! Nem me lembrava que tinha sido já a 3 de Novembro!

Com o ligeiro atraso: Parabéns, 'Generosità'! Muitos Parabéns! 2 anos e 1148 posts depois!



E pensar que devia durar só uns dias, semanas no máximo.

Mas vale a pena, vale sempre a pena. Vale sempre a pena um projecto assim - mesmo que pequeno. Dinis Machado escreveu um dia: "O tempo não era o melhor. Nós é que tínhamos juventude". Não sei ainda o que vale o meu - o nosso - tempo. Mas não abdiquei, não abdico, deste projecto.

"Quando il povero dona al ricco, il diavolo se la ride".

sábado, novembro 15, 2008

E Tu e Eu o Que é Que Havemos de Fazer??

E tu e eu, nesta era de hipocrisia e descrença, o que é que havemos de fazer??

Talvez... Ciência. Talvez Ciência.

Muito atento a este ciclo de conferências, sobre o grande homem. Falhou-me hoje, mas não vão falhar todas.

E a esta exposição, claro.

Ou então fiquem em casa. Está a dar o Telejornal - vai falar-vos da crise económica. E de política.

Ciao.

Fundamental É Ser Castigador

E recordo-me do sktech 'Castigadores da Parvoíce', dos Gato Fedorento, por pensar em como, realmente, algumas pessoas por este nosso Portugal não são castigadores da parvoíve - mas são castigadores por pavoíces.


sexta-feira, novembro 14, 2008

Eine Kleine Problem - Und Ein Klein Lösung (Solução)

Hoje ao jogar à bola, saíram mais palavrões que o costume. Bem mais. E mais feios. Em retrospectiva, nada disso me apoquenta muito - quanto ao valor do meu 'papel' em qualquer bolsa de valores. Quando quero, digo asneiras. O quê? Sim - fui eu que disse. Letra a letra.

A Presidência da República ficará, pois, para outra encarnação.

Mas começei a engendrar a teoria de que este fluxo asneirento derivava - estão comigo? - da natureza mais agreste do alemão que começei agora a estudar. Como tive exame hoje - podia ser por aí que a coisa se convertesse.

Eh pah... são as minhas teorias (diz inclinado para trás na cadeira, e tirando cera dos ouvidos - eis como se degrada um jovem: começa pelo Português e vai por aí abaixo).

Bom, mas a coisa começou a aborrecer-me. Não há direito. Uma civilização como a alemã, que nos deu tantas coisas tão sublimes. E nem só à Claudia Schiffer e à Heidi Klum me refiro.

Talvez, antes de mais, ao inebriante génio de Wofgang Amadeus Mozart (bem sei, austríaco, - mas vamos usar a bitola da língua somente). Até o podem dizer usurpado pelo 'mainstream' (eu também não sou um especialista, se bem que nem menos energúmeno musical) se apoderou dele, que eu estou-me borrifando (vêm a agressividade?). Mozart é Mozart é Mozart. Inconfundível, incomparável - e insuperável.

Dedicado ao Fred, se ainda ler este blog, o 'Eine Kleine Nachtmusik' ('Uma Pequena Música Nocturna'), de que me falou um dia.



Não - convém pores mais alto. Bem mais alto. Ali em cima, olha lá.

É, não é?

As Pessoas Sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Let's Go, Baby! Let's Go!

Voltemos à atracção. Do lucro. E de tudo o resto.


Sessão de ontem em Wall Street.



Sessão de ontem.*

Poderá haver alguma especulação nisto que vos apresento. Mas a especulação é mesmo assim. Não é uma certeza.

*Irina Sheik: excelsa foto vilmente roubada ao ''E Deus Criou A Mulher" - um blog fundamental.

Geração Faroeste

A propósito dos alunos de uma escola que receberam com ovos a ministra da Educação, dou comigo a pensar como se poderia baptizar esta geração... É que a "geração rasca", que precedeu a minha, tinha um elemento de comparação que a desfavorecia. Uma qualquer concepção juvenil (salazarista) de juventude, de gentil-juventude, com gosto por cultura, suponho.

Veio então a "geração rasca" abrir terreno, depois a minha - talvez mais certinha, em ligeira "correcção" - e seguiram-se cerca de duas gerações... insípidas. Alheias ao impostante. Imersas no fútil. Vazias. Passando de SMS pela vida. Sem referências, para além do Ronaldo. Cresceram sem limites.

Mas dou comigo a pensar que esta geração nasceu numa era que tecnologiamente potencia e multiplica a obscenidade da... estupidez.

E tenho como única explicação, naturalmente, o próprio país. Esta geração nasceu num Portugal onde não existem regras. E, sobretudo, onde não existe castigo.

Assim, pois, nunca se sentiu limitada. Se quem faz crimes não é castigado - porque é que eles haviam de ser. Se não há temor, não vergonha. Se não há vergonha, tudo é permitido. Quem diz coisas estúpidas, não tem vergonha nisso. Quem faz coisas estúpidas não tem vergonha nisso.

Esta geração é um subproduto do seu tempo. Nasceu num país sem regras, e sem contornos. Não acredita na lei - na escrita e na não-escrita. Nasceu no Portugal do Faroeste. É uma geração de Faroeste.

terça-feira, novembro 11, 2008

Em Sede

Um dos melhores requintes do jargão da advocacia é o 'em sede de...'. Tudo tem uma sede. Era interessante elaborar sobre isto. Mas agora não tenho tempo. Tenho que ir jantar - em sede de refeição (i.e., a cozinha).

As Linhas

Todos os dias se anuncia 'linhas de crédito' para as PME. Aquilo aparece por todo o lado.

'É um Big Mac, um Cheeseburger e uma linha de crédito, s.f.f.. Ah - e um pacote de batatas médio.'

'Então mas queres ir dar uma volta? Tenho uma bela linha de crédito só para nós, sabes...?'

'Viste o Sporting ontem pá? Não há direito. Pior que os árbitos são os fiscais de linha de crédito, pá. Impressionante.'

'Mas não vais à festa?' 'É que não tenho nenhuma linha de crédito para levar...'

Agora a sério, se anda a sair disso quentinho todos os dias, eu precisava de uma. Honestamente. Eu sou uma PME - este blog tem os seus custos. Mereço alguma consideração.

Kein(e)... Deutsch(e)!

Teste de Alemão (tão incipientezinho...) esta semana. Mas já dá para fazer piadola. E em vez de dizer: 'kein Deutsch' (nenhum Alemão, i.e., 'não falo Alemão'), que era o que eu deveria dizer, faço o trocadilho para me queixar de não me calhar 'keine Deutsche': nenhuma alemã!

Acho que não estou ainda a dar pontapés à língua - mas nunca se sabe. É tão bonito fazer piadas foleiras noutra língua.

Isto às tantas precisava de umas explicaçõezitas para o teste... Hum...




Lehrerinnnen! (Professoras!).

Não - não é só a BMW... Pois não.

Como é que se diz 'tardo-adolescente' em alemão...? Sei lá. Porquê?