quinta-feira, maio 10, 2007

Esquerda? Direita? Volver?

Um teste interessante para descobrir a nossa sensibilidade política. Moral Politics.

Preciosos Pormenores 2


Algo que sempre me intrigou foi a falta de curiosidade, de classe mesmo, nos estudantes da minha geraçao. Nao há uma cultura do profissional liberal (ou aspirante) trocar impressoes, teorias, falar do seu corpo de conhecimento, do seu métier livremente. A informaçao tornou-se propriedade, resultado de trabalho, de esforço. Estamos comprimidos pelo espartilho do egoísmo, nao há muita paixao por ideias, teorias. Parte da responsabilidade é a massificaçao do ensino universitário e das profissoes liberais. Outra parte decorre da miríade de solicitaçoes que caiem sobre as pessoas, jovens e adultos. Tudo subprodutos da evoluçao do país.

Mas é pena que nao se troquem saberes. Até porque grande parte da "Civilizaçao" tem a ver com a percepçao do ser humano que nao há só ganhar-perder, há tao bem ganho mútuo ('win-win'). Daí houve burguesia.

É pena também porque acabamos por desperdiçar uma época de ouro, e nossos talentos, para mais tarde vir a descobrir com é belo e mais fácil aprender de modo interactivo, ligando fontes.

Quanto mais ricos seríamos, houvesse um mais de generosidade... Assim, restam só os homens-massa de Gasset. E nao julguem que os licenciados nao sao também homens-massa. Sao-no hoje mais do que nunca.

quarta-feira, maio 09, 2007

SARKOZY

No passado Domindo a França elegeu Nicolas Sarkozy como seu presidente. Não obstante ser da UMP, o mesmo partido do presidente cessante Chirac, Sarkozy é muito mais que " uma evolução na continuidade". Sarkozy representa uma verdadeira mundança não só no estilo mas também nas ideias. Curiosamente, Segolene, embora de esquerda, seria muito mais seguidora do que até aqui vinha sendo feito por Chirac, do que vai ser Sarkozy.
Segolene prometeu muito inicialmente, não apenas pela frescura mediática com que aparecia mas também ao nível das propostas. Propagandeou um renascer patriótico ( colocando-se mesmo à direita de Sarkozy), queria júris populares a controlar a classe política, e puxou a esquerda francesa, anquilosada e imobilista, para um centro-direita a nível económico. Parecia que o tabuleiro político iria cada vez mais ser arrastado para o extremo ( no caso, o extremo direito/a), mas não foi isso que aconteceu. Sarkozy segurou a direita e partiu para o centro. Segolene recuou para causas cara à esquerda, como o ambiente ou a manutenção de um establishment social ultrapassado e terminou perdida no meio do nada (como ficou demonstrado no debate final).
Sarkozy é a mudança. Admira Aznar e quer ser como Blair ( convenhamos que não tem mau gosto...). Ambicioso, pretende fazer ressurgir o monstro francês e já percebeu que não vai lá só com a putativa influência que a França ainda tem na " Velha Europa". Ao contrário de Chirac (péssimo presidente) que se entretinha a fazer querer que mandava na UE, com a conivência de um apagado Schroeder, Sarkozy tem não só a nivel interno mas também a nivel internacional um discurso e uma acção que pretendem fazer com que a França volte a ser um player activo e decisivo na cena internacional. Para mim, Sarkozy vai começar por surpreender. Acusam-no de extremista e ele é capaz de nomear uma filha de imigrantes magrebinos para a Justiça, Interior ou até para a Imigração. Nesta primeira fase vai ser mais integrista que divisor.
A nível internacional aproximar-se-á do aliado americano e forçará, com Merkel, um novo dinamismo europeu que fará com que a Europa saia de alguns ( não todos) impasses em que caíu.
Mas a sua maior força surge a nível interno. Procurará um liberalismo económico no país onde o estado social é sagrado. Baixará impostos, fomentará o crescimento, mais trabalho com o fim da lei das 35 horas ( já a pensar nisso nomeará, provavelmente, Fillon como PM), e fará assentar a dialética Estado/cidadão numa premissa simples mas que hoje em dia é cada vez mais ousada, mais direitos sim, mas só se eles corresponderem a mais deveres.
Sarkozy por detrás do seu olhar maquiavélico emana força, coragem, determinação, empreendorismo que, certamente, se transmitirá à sociedade. A França será mais trabalho e menos lazer. Mais economia e menos cultura. Mais pragmatismo e menos saudosismo.
Esta talvez seja uma visão optimista mas como dizia o outro " isto vai levar uma ganda volta!".
Contudo, o esquerdismo da nossa comunicação social não permite revelar todos os méritos e procura muitas vezes distorcer a realidade. Quiseram fazer de Sarkozy um extremista ( não foram os únicos) e na noite da eleições procuraram limitar ao minimo os holofotes do vencedor. Tudo serviu, ora porque uns quantos miliatantes de extrema esquerda ( o que faria se fossem de extrema- direita!!!) incendiaram mais uns carros, ora porque Sarkozy não aparecia com a mulher Cecilia. Tudo foi pretexto para a minimização, mas o certo, é que a partir de 15 de Maio de 2007, vamos pela primeira vez desde há muito tempo, contar com uma nova e INFLUENTE França.

terça-feira, maio 08, 2007

Senza Fretta



So che questo cielo si dimentica...
Sarebbe bello che durasse almeno mezz'ora...

"Annus Mirabilis"

Sexual intercourse began
In nineteen sixty-three
(Which was rather late for me) -
Between the end of the Chatterley ban
And the Beatles’ first LP.

Philip Larkin (poeta britânico, 1922-1985)

Eis como um poeta, por sinal um dos melhores entre os britânicos da 2ª metade do séc. XX (embora polémico), celebrou aquilo que será um "personal landmark". Tempos tao distantes esses, em que o decoro torcia o nariz a' "O Amante de Lady Chatterley", e a era dos Beatles começava. E ainda assim, há coisas que nunca mudam.

A Vingança de Alberto Joao

A expressiva vitória de Jardim na Madeira, facto óbvio, confere-lhe uma grande legitimidade política.

A opiniao vigente diz que esse capital pode ser usado contra Sócrates. Nao partilho essa visao.

Dificilmente Jardim terá poder de negociaçao com Sócrates: o estilo do seu governo nao se vai alterar. Surgirá sempre uma argumentaçao-cassete a respaldar as decisoes do governo para a Madeira, sejam justas ou nao.

O seu capital político existe, é certo, mas noutro "setting". Concretamente, dentro do PSD. Para o partido, Jardim fica na retina como tendo afrontado e vencido Sócrates, e mantido a chama do partido numa altura de vacas magras. E isso pode fazer dele, por muito estranho que soe, a pedra de toque para qualquer nova liderança. Ou capaz de certificar a existente, como julgo que Marques Mendes percebeu.


E Jardim apoiará certamente uma liderança do PSD que sirva os interesses da ilha. O derradeiro capítulo joga-se em 2009. Se Sócrates obtiver um bom resultado, morre o élan destas eleiçoes - menor será a capacidade de reivindicaçao de Jardim. Se, pelo contrário, for o PSD a ganhar, entao certamente sê-lo-á com uma liderança próxima de si.

Nao se despeçam já de Jardim. Ele está aí para durar.

A Propósito das Eleiçoes Francesas

Será o despertar de um gigante aquilo a que assistiremos? Ainda é cedo... a seu tempo se verá. Mas certamente que a eleiçao de Sarkozy é, desde já, um duro golpe no politicamente correcto. E, tao somente por isso, é de saudar.

segunda-feira, maio 07, 2007

Do Valor

Ouve-se com frequência que é necessário fomentar valores na sociedade, que esta tem perdido valores, que os valores fazem parte da Civilizaçao, valores de esquerda, valores de direita, valores isto, valores aquilo...

O que é realmente um valor?

Eu diria que a noçao de valor está ligada a outra, que parece desaparecida da nossa vivência (mera ilusao): a de finitude do ser humano. Essa seria talvez a grande funçao da religiao, ou mesmo explicará também uma certa cultura rural (onde vida e morte sao fenómenos naturais): lembrar-nos, desde o primeiro dia, que estamos destinados a morrer. Por mais que haja diversao, fugas para a frente, novidades, esse é o fim inexorável. Donde, um valor é uma questao de coerência: chegar ao fim da vida dizendo que "eu nunca fiz isto" ou "eu sempre fiz aquilo".

Suponho que um valor é somente isso: poder usar as palavras "nunca" e "sempre".

Da Vida

Gosto de antecipar perguntas difíceis. Se me perguntassem qual o meu objectivo na vida, acho que só teria uma resposta possível.

Suponho que Pessoa estava certo: primeiro estranhamos, depois entranhamos. Este adágio é particularmente aplicável aos portugueses. Quantas vezes nao o fizemos na nossa vida? Quantas vezes nao nos adaptámos, quantas vezes nao cedemos em muito daquilo que pensávamos ser o que seria correcto, ou simplesmente, do que nos apetecia?

Face a essa verdade, creio que o meu objectivo na vida é nunca perder a capacidade de estranhar. Nunca perder a capacidade de uma outra perspectiva, um outro ângulo da questao. Nunca ser um escravo do hábito, da vulgarizaçao, procurar sempre o novo. Assim a minha circunstância o permita.

Fauna

Hoje, visita de estudo a uma vacaria. Imagine-se, num curso de Ciências Farmacêuticas, andar a incomodar a rotina de serenos bovinos... Enfim, tempo de recordar Catao.