sábado, novembro 17, 2007

O Pós-Virtual

É uma característica genética da minha geração a lide com um mundo virtual, por oposição ao real, físico, multi-sensorial, arcaico. Todos nós nos vemos confrontados com o uso de telemóvel (falando ou escrevendo), do PC, da Internet. Tivemos que desenvolver essas literacias, seja por pressão dos pares, necessidade de trabalho, ou mera curiosidade.

Acontece que é também muito da minha geração um certo sentimento “pós-virtual” nos relacionamentos. Quer dizer, há um código, e uma soltura de ânimos que o telemóvel (sobretudo na sua versão SMS), o chat online (de que o exemplo mais popular é o MSN, precedido pelos mIRCs) e mesmo, mais recentemente os blogs. Esse à vontade existe num código escrito, que também foi adaptado para os próprios meios, e que, vazio da voz, da denúncia do inconsciente no nosso tom de voz, liberta o próprio inconsciente sobre a capa da ambiguidade. Há todo o tempo para escolher as palavras, para se dizer exactamente aquilo que se quer.

O domínio sobre esse código escrito – tomemos como exemplo o que se escreve no MSN – varia com as pessoas. E o registo que imprimimos ao que escrevemos aí é também diferente do nosso registo oral. Toda a variabilidade que permite o código de sociabilidade cibernético, dá margem de manobra, cria um microcosmos de ambiguidade, que é muito bem explorado em questões mais delicadas, a que as pessoas se escusam de enfrentar pela conversa vis a vis. Um exemplo muito simples é uma declaração de interesse amoroso, antigamente transmitida por bilhetinhos ou poemas, e hoje possível por este meio. É mais fácil a um rapaz fazer o “beating about the bush”, explorando, indagando, saber se pode “andar “ com uma rapariga pela via cibernética. É muito mais cómodo que “tê-los no sítio” para convidá-la in loco, sujeitando-se a uma rejeição mais explícita (e existe a noção de que as raparigas não gostam também dessa abordagem directa). Muitos rapazes coleccionam endereços de MSN e anseiam por aqueles das raparigas que lhes interessam (às vezes aproveitando uma oportunidade, como um trabalho em conjunto, algo que se organiza). A partir daí “ela” está fisgada, e será sujeita a uma série de conversas “da treta”, para aferir a sua disponibilidade, o seu eventual interesse.

Mas, volto ao fundamental, o mais interessante, para mim, é esse sentimento de pós-virtual. Não só nos relacionamentos afectivos. Em todo o tipo de relacionamentos. Quer dizer – há uma lacuna entre a confissão virtual e a confissão em conversa, directamente. Duas pessoas podem estar a falar muito tempo no MSN sobre temas importantes, expondo-se bastante, criando afinidades. No da seguinte encontram-se e existe esse sentimento “pós-virtual”. É certo que pode existir igualmente, por exemplo, depois de uma saída à noite, em que se libertam os espíritos e se dizem coisas mais honestas, mais profundas que o normal. No dia a seguir há uma correcção, um fingido esquecimento talvez. Mas, como disse, essa distensão do espírito é, exactamente, a marca do relacionamento virtual. E esse sentimento, no dia seguinte, está sempre presente. Faz parte da inteligência emocional de uma pessoa saber fazer a ponte entre a conversa intimista da noite anterior e o dia de trabalho do dia seguinte. A regra geral é continuar com outros temas, aproveitando a cadência dos requisitos profissionais, como se nada tivesse sido dito.

Acho muita piada a este constrangimento que se cria, mais ainda ao esforço para “passar por cima”. E à influência que o registo dessas revelações tem na postura das pessoas connosco. Dou o meu exemplo. Não é que utilize muito o MSN, ou mesmo o SMS, mas constato que, por vezes, é já incorporada na opinião dos outros sobre mim os artigos que escrevo neste blog*. Surge já em conversas referência a um ou outro post. Suponho mesmo que, no caso de um blog é mais inescapável, porque o registo está lá e é público.

Não sei se alguma vez repararam nesta décalage entre a conversa escrita, ou a mensagem escrita, e a vivência de todos os dias. Mas seguramente, sendo utilizadores destes meios, todos a terão sentido. Há um pós-virtual, dentro do esforço de sociabilidade, que entra em confronto com o à vontade e absoluto controlo do que se diz no virtual. Talvez esteja aí parte do sucesso do virtual – dizemos aquilo que queremos, controlando tudo a cada segundo. Liberdade e controlo absoluto. Difícil de superar, não acham?


* E isso, perdoem-me, é algo que dispenso. O que aqui está escrito é para ficar exactamente aqui, não é para dar um registo do meu pensamento. Nem sequer me comprometo com o que está escrito – é demasiado volátil e efémero para traduzir o meu carácter. Mas, é claro, também, percebo que a tentação é irresistível. Por isso disse, desde logo, que não pretendo comentar em pessoa aquilo que escrevo aqui. Seja para me elogiar ou criticar.

Pacheco Pereira e a Teoria do Tudo

José Pacheco Pereira (JPP) é uma figura de referência da opinião publicada portuguesa. Tal como foi um pioneiro do mundo dos blogs. Tal como percebeu bem cedo o advento do PC, do mundo virtual, e a sua relação com a realidade.

JPP tem opinião sobre, bom – sobre tudo. E porquê? Eu, que o leio há alguns anos a esta parte – e continuarei a ler, por o achar erudito, mesmo brilhante a espaços – diria que, em todas as suas análises existe, subjacente, uma “Teoria do Tudo”. Explico-me. Desde a Teoria da Relatividade de Einstein que surgiu um problema da Física: a conciliação desses pressupostos com a Teoria Quântica. Acontece que, ambas comprovadas pela experiência, são incompatíveis no limite. O próprio Einstein acabou os seus últimos anos intrigado com este paradoxo. De algumas décadas a esta parte que a descoberta da “Teoria do Tudo”, que unifica Teoria da Relatividade e Teoria Quântica, é o Santo Graal da comunidade física.

Partindo desta analogia, permito-me dizer que existe, nas análises que faz Pachaco Pereira, uma certa “Teoria do Tudo” subjacente. Quer dizer, tudo para ele bate certo, faz sentido. Todo e qualquer fenómeno. E quem o lê sabe-o a atento a todas as minudências da vida comum, igualmente que a Política, a Arte, mesmo a Ciência. Eu diria que, no seu papel de intelectual, JPP parte de uma matriz explicativa que vai desde o átomo, a célula, até ao espaço, passando pela natureza humana e como a limita, contorna e aproveita a Civilização (Ocidental, nomeadamente). Estou certo de que JPP conheceu e se lembra de alguns portugueses de um Portugal que para nós é hoje só miragem. De um Portugal de outros homens, de outras fés, de outras vidas. Somos pobres herdeiros de alguns desses antepassados.

Repare-se na afinidade que JPP professa com Sá de Miranda, autor da célebre estrofe:

"Homem de um só parecer,
dum só
rosto e d'ua fé,
d'antes quebrar que volver

outra cousa pode ser
mas da corte
homem não é"

JPP configura-se, em parte pelo menos, como o continuador de homens como Sá de Miranda. É dele a memória, e também a obsessão com a memória, o registo dos eventos e das vivências. Daí também a sua filiação nos formatos que servem de suporte à memória: o papel, o PC, o vídeo, a fotografia. Daí o seu interesse com o registo da vida. Porque sabe que, a dado momento, todos nós olhamos para trás. Corso, ricorso.


Co
nfesso que aprendi muito ao ler JPP. Por isso o continuarei a ler sempre. Além de que foi o único ver
dadeiro “erudito”, o único “mestre” a que tive
acesso nos “meus tempos”. A ubiquidade do medíocre surpreendeu-me como eu nunca pensara antes. Daí o meu elogio, que eu não preciso que alguém morra para o elog
iar.

Retomo o que disse antes – JPP é brilhante a espaços, e um corredor de resistência a que poucos dão valor. Se usar uma metáfora futebolística (e falta-lhe perceber o quão humano é também o futebol), JPP é o verdadeiro “trinco”. Ele é douto, extremamente douto, em natureza humana. E, como tal, não se perde em tentações de ataque. Sabe que são todas repetições de um tema. Mas percebe o quão importante é o ataque. E, como tal, assume o papel de trinco. Deixa que os outros, lá à frente, ataquem à vontade, troquem a bola, soltem o virtuosismo. Ele fica como último homem – ele sabe que, apesar de tudo, nas equipas à retranca, um contra-ataque canalha pode ser fatal. Um contra-ataque que é uma ofensa para o virtuosismo dos que estão lá na frente a dar toda a sua alma ao jogo. E ele, seguro na sua posição, pode tocar pouco na bola durante o jogo. Mas garante que a equipa contrária não tenha sucesso nesses contra-ataques canalhas e cínicos. Faz parte de uma equipa completa, JPP, de uma equipa portuguesa – grandes jogadores, que dão tudo em equipa. O problema é sempre o mesmo, é eterno – convencer essas individualidades a jogar em equipa.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Red Dwarf

Aconteceu-me hoje passar por um episódio da (parece-me agora) longínqua série "Red Dwarf". Gostava muito de ver aqueles personagens, aquele humor bem conseguido, aquela exploração do absurdo (tão britânica), de um holograma, um vadio com sotaque e um mutante felino vagando pelo espaço como últimos representantes (?) da humanidade.

Belos os tempos em que via estes episódios, puto deliciado, numa RTP 2 de boa qualidade (ainda assim, tenta manter um ou outro pormenor, mas onde estão os "Lugares da História", os "5 Noites, 5 Filmes", mesmo os "Finantial Times"?).

Parece-me que, com o advento do DVD e a obsessão em olhar para trás dos nossos dias (assim indefinido vai o Presente), esta série está a voltar a ser popular. Sugiro este vídeo para refrescar a memória.

Sem Compromisso

Olha que bela novidade. A radiografia da juventude italiana: pouco sonhadores; o sexo - ocasional (aos entusiastas, para quem a coisa deve ser "todos os dias", por ocasional entende-se aqui "one night stand"). Como uma luva se pode aplicar este título ao nosso país. Essas coisas são transversais, bem mais transversais que aquilo que nós, portugueses, cremos, quando nos queixamos.

A questão interessante é esta: o que está subjacente à falta de sonho e ao sexo ocasional? Já pensaram bem? Pois é - a fuga ao compromisso. Tudo gira em torno à nossa capacidade de compromisso. Sem ele somos egoístas e solipsistas. Somos a geração IM (I Am). E o problema, claro está, é que não há sociedade sem compromisso. Passe o alcance desta frase, é mesmo assim que penso.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Força Centrípeta

Um conjunto de amigos perfeito para ir ver o nosso Sporting a Manchester. "Se eu quero ir?... Acho que não, mas agradeço o convite." Desdenho assim a oportunidade, a conjunção de factores e pessoas. Isto partindo desse fundamental nesta idade tão esquecido - a capacidade económica para o fazer.

Falam-me meus colegas insistentemente na viagem de finalistas, na transição de semestre. Gosto muito do espírito, mas... não sei. "Posso bem não ir", vou avisando. E faço-o com certa pena.

Surge a oportunidade de fazer o meu estágio no estrangeiro. Milhares de oportunidades, situações, experiências e crescimentos pessoais concebe o meu espírito. "Mas em Portugal, se nós quisermos, também aprendemos - eu não sou provinciano, nunca fui. Temos gente de muita qualidade". Acredito nisso quando o digo, mas sei que terá algo também de justificativo. Há muitos bons relatos da experiência. Muita a gente a dizer "Vai. Vais gostar". Mas... vou indagando e indagando, vasculhando todos os pormenores, até acontecer o que só pode acontecer: passar o prazo - e a possibilidade.

Prende-me esta força centrípeta de quem já viveu fora, sendo demasiado português, sentindo saudades de voltar. Prende-me o medo de fazer longas viagens de avião. Prende-me o outro receio, de "fugas para a frente", debruçares nervosos, estúpidos, foguetes com pólvora a mais, a rebentar com estrondo em céus tranquilos, e que podem mesmo rebentar ali, nas mãos. Prende-me a noção clara de não ter ainda feito tanto que há de básico por cá. (Tanto que me resta conhecer. Tanta gente que me resta conhecer). Prende-me mesmo uma certa qualidade de vida e pormenores que são tratados por mim de que eu nem suspeito. E que gosto de nem suspeitar.

Falta de ousadia? Acomodado? Aceito a crítica sem problema, tem toda a lógica. Digamos que já perdi algum tempo em folias desnecessárias (mas aí o pormenor que faz a diferença - eu tentar tento sempre), e o fundamental ali ao lado. Não é que tenha medo do que quer que seja - não terei, simplesmente, vontade. Porquê ao certo não sei. Não sei se desilusão, se mera percepção (atrasada) da realidade das coisas. Tendo a culpar o não ter encontrado as pessoas que pensava existirem, nos últimos anos (encontrei outras, que me supreenderam pela positiva). Pelos vistos, não é agora com esta atitude que as vou encontrar.

Esta, realmente, não é a melhor postura - e não duvidem que comporta riscos. A vida é feita com períodos de andar em frente, e com períodos de balanço. E, se não tivermos cuidado, esses olhares "para trás" podem ser fatais.

E bom, em última análise, se pudermos ter algum bem estar, por cada vida, por cada caminho que percorremos, outras tantas - imensas - ficam por viver, ficam por caminhar. Cabe a nós a função, dentro das nossas limitações, de ser feliz. Nem sequer vale a pena esperar que venham coisas "com a idade". Para tal basta ler Camões: "não cuide a gente futura/que será obra da idade/o que é força da ventura".

Pautado Futuro

Digo a um amigo que a diferença entre nós dois se resume aos cadernos pretos em que escrevemos. Vocês conhecem-nos: o típico caderno de estudante, da Ambar, capa toda preta, cúmulo da simplicidade.

O facto é que ele é muito organizado (na fronteira do "control freak", se genial na sua capacidade estratégica), gosta de se levantar "a horas" e fazer as coisas bem feitas. Só gosta de escrever nos tais cadernos que tenham linhas. Eu, pela minha parte, sou muito mais criativo, gosto de esperar para ver os desafios de amanhã, e impôr a mim mesmo uma resolução "on the spur of the moment". Gosto de inovar e tenho um perfeito horror à rotina. Donde, folhas lisas, e o mais amplas possível, por favor.

Augura-me esse amigo uma conversão às suas linhas, à sua ordem. Mas tudo aquilo me parece uma prisão, mais uma prisão para além das outras. E, sendo um fanático por liberdade - de tal forma que não me assusta estar só - duvido que chegue a mim esse tão grande desejo de "ordem". Mas, cauteloso como sou, não digo peremptoriamente que não seja, ou tenha que ser, pautado o meu futuro.

terça-feira, novembro 13, 2007

Semper Idem

A vossa atenção para estas estrofes de "Sôbolos Rios Que Vão", de Camões. A enquadrar com algo do que já foi escrito neste blog, e a provar que os tempos mudando embora, não mudam assim tanto no fundamental.

(...)

Acha a tenta mocidade

prazeres acomodados,
e logo a maior idade
já sente por pouquidade
aqueles gostos passados

(...)

Mas deixar nesta espessura
o canto da mocidade,
não cuide a gente futura
que será obra da idade
o que é força da ventura

(...)

Que se o fino pensamento
só na tristeza consiste,
não tenho medo ao tormento
que morrer de puro triste,
que maior contentamento?

(...)

E beato quem tomar
seus pensamentos recentes
e em nacendo os afogar,
para não virem a parar
em vícios graves e urgentes

(Luís de Camões)

Semper idem...
?

segunda-feira, novembro 12, 2007

Mundo Lusófono

Se se diz "eu não sou racista, mas...", há sempre o "mas" em que os demais pegam como negação da primeira parte da frase. Mas se se o omite, é-se igualmente estranhado - porque dizê-lo é litúrgico e, como povo semi-católico, o português até pode pecar, só não deve falhar na liturgia.

Vou-me, assim, esquivar ao "saying" o "goes without saying" que precisa de ser dito. Confusos? Calma. Serve a introdução do elemento catártico, mais que o elemento em si, para pegar no poema "Lágrima de Preta" de António Gedeão. Somente para atentar na coincidência de o ter colocado no blog ontem, e hoje, verdadeiramente me ter espantado com a quantidade de pessoas de cor negra na minha faculdade.

Ok, volto atrás. Nada tenho contra os negros - cedo à necessidade de o dizer. De todo. Sou muito mais racista com a estupidez, mediocridade e bovinidade - a falta absoluta de algo especial na vida - do que com qualquer raça.

Mas insisto - fiquei abismado com a quantidade de pessoal (soa melhor assim?) "de cor" a entrar hoje na minha universidade. A Lusófona (pois assim se conhece) tem imensa gente - gente a mais, para o meu prazer de serenidade. E bastantes protocolos (pífios?) de acolhimento a estudantes africanos. Daí a inusitada quantidade. Sejamos francos, senhores, - muito mais que a densidade portuguesa média.

A questão aqui está no facto de, exactamente, não serem portugueses. Os negros portugueses são... exactamente como os outros portugueses. Um dos meus projectos é ter um amigo negro com quem possa falar livremente da sua cor, que isso seja tão natural como da minha barriga. Da mesma forma que pretendo ter várias amigas atraentes e falar livremente com elas sobre os seus atributos físicos... (talvez esse projecto seja mais apelativo - e mais difícil). Chama-se "à vontade". Sinto que tenho alguma legitimidade para o fazer - amiúde sou o meu maior crítico jocoso.

Mas, de facto, os africanos levam o continente nos olhos. É algo de distinto. São luso-africanos, e isso faz também a diferença, nota-se. Pacíficos, educados, mas... surpresos, espantados, olhando olhos europeus com uma notória curiosidade. Aconteceu-me hoje, ao distribuir folhetos à entrada da Lusófona para recolha de medicamentos fora de prazo (a propósito, se os tiverem, a recolha dura a semana inteira). Parece que aquele fugaz contacto é inesperado, prazer de curiosidade, mais importante que o saco dentro do folheto para colocar os medicamentos, mais importante que a viagem ao Brasil em sorteio (e daí talvez não). Pelo menos, eu achei. "Eh pah... este gajo nunca falaria comigo se não fosse para me dar isto", pensarão. Conheço de cor o sentimento - o mesmíssimo que eu teria a falar com uma rapariga gira a querer-me vender algo. Subitamente tratamos com alguém "acima" do nosso nível (eu não disse que estava acima!, digo somente que eles o pensarão).

Enfim, acho curioso. Vestem mais ou menos da mesma forma humilde, e são humildes também a ouvir (e eu sou sempre a favor dos humildes). O facto inusitado, perdoem-me a honestidade, foi mesmo a... quantidade imensa.

Mas os africanos são, no geral, boa onda - há fauna menos confortável ao nosso lado. Tenho visto também pela universidade umas figuras proto-brasileiras (chungas de má vida e uma mulher mulata de cara horrível, brutissima) que parecem directamente saídos da "Cidade de Deus". Aliás, não faltarão à Lusófona membros do "bas-fond" - sim esses em que estão a pensar. Os tais, as tais - a malta do transgredire. Nem quero pensar muito nisso. Mas enfim, que a coisa aos meus olhos tantas vezes parece clara, só pela pinta, - parece.


Por entre gente normal (baixa classe média, e média-média - o meu curso é algo de excepção), e bastante boa gente, vejo às vezes membros de outros lugares andando livremente. Por entre os estudantes que se arrastam falando, além do remanso dos cafés onde o fumo torna o ambiente irrespirável, vejo - poucos, apesar de tudo - personagens que não deviam estar a roçar ombros com gente inocente. Mas deve ser só da minha vista. Embora eu tenha a maldição de, por análise a posteriori tantas vezes confirmar a minha primeira impressão, visceral e apriorística.

domingo, novembro 11, 2007

Ironia

De súbito, levantou a cabeça, olhou a estante além do livro na mão. Não lhe tinha ocorrido até então essa ironia de estar e ler a autobiografia de Giacomo Casanova em papel "tipo bíblia". Semi-sorriu com o inusitado, e continuou pela vida do homem nas suas mãos.

Lágrima de Preta

Às vezes tenho saudades do Portugal de Rómulo de Carvalho. Ah, não podia mais ser, foi um tempo que passou... Tivesse eu tido um professor assim (depois do secundário). Se ser português é ter inveja de algo, eis a minha, talvez uma versão menos comum: a falta absoluta de um grande "mestre".

Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão)

Sr. Belzebu, Dá Licença?

Bom, e já que fomos ao céu de "Top Gun", e que pedi essa música para a próxima viagem, porque não descer agora, num instante (estamos apertados de tempo), ao inferno. Está boa, Kelis? Bem obrigado. Sabe que ouvi essa sua música no Lux (na única vez que lá fui), falei dela e... é um sucesso entre o pessoal. Vá-se lá saber porquê, não é? Sim senhor... então você é mandona. Tá no seu direito. Os espanhóis chamam-lhe mais outra coisa: "calientadora". Não sabe espanhol, pois não? Um dia descobre. A sua tatuagem no meu braço? Hum... não convém, diz que isso dói. Continue a fazer músicas dessas, que a gente ouve com interesse, mas só à noite. Beijinhos.

Belzebu! Tás bom, pá? Então? Muito trabalho não é? Pois, já se sabe... Se eu quero ficar? Para jantar ou para a eternidade? Ah, malandro... Até bebia uma cerveja fresquinha. Ah, não tens? Pois, isso é uma coisa do céu. Tudo bem. Vou andando, pode ser? Faz favor dizes ao teu cãozito para me deixar passar. Vá, fica bem rapaz. E vê lá se arejas isto.




The Need for Speed

Lembrei-me dele a propósito dos amigos que andam a relançar a moda dos óculos escuros Ray Ban "à aviador".




É que ando com saudades de ver o filme. Adoro o espírito "Top Gun". Filme gozado até à exaustão, é certo. Mas é natural que assim seja - filme de massas embora, nem todos o podem perceber. Ou querem - "Top Gun" glorifica sentimentos humanos básicos como o Amor e a Amizade levados limite, que é aí que eles se revelam. É muito mais fácil rir-se disso, cómodos na poltrona, lançar vídeos, fazer paródias.

Sugiro que se enquadre o filme na época em que foi feito. Primeira lição: o mundo não nasceu connosco. Segunda lição: se algo é simples, não significa que seja simplório, muito menos que não esteja certo.

P.S.: Shotor, já sabe que na próxima viagem não pode faltar esta música.