sexta-feira, janeiro 11, 2008

Agora Que os Gato Fedorento Vão Para a Sic...

Mais uma piada importada directamente da Tailândia. É que se não fosse daí, eu juro que não saberia de onde é que vem. E continuo a culpar o tempo.

"-Parece que o director da ASAE agora, antes de qualquer refeição, benze-se.
- Então porquê?
- Depois de ser apanhado a fumar no primeiro dia da lei anti-tabaco, anda assim.
- Um homem tão controlador... foi dar em supersticioso.
- É. Deve ser para afugentar os mau olhados e bruxedos que o desautorizam. Sabes como dizem os espanhóis sobre as bruxas?
- Como?
- «Yo no me lo creo. Pera que la ASAE - la ASAE!»"

Eles deviam proibir na alfândega estes produtos no nosso país.

O Bom Jogador

Hoje, numa (rara) incursão em Lisboa, aconteceu-me talvez o meu segundo grande susto como condutor. Só que este, um desleixo perigoso, foi culpa minha. E tinha, tenho, várias atenuantes para o justificar, mas nem sequer vale a pena. Após análise cuidada, percebo que é o estado nervoso da acumulação de exames, decisões importantes, e reflexões acerca do futuro, que se acumularam e pressionaram um descuido. Chamemos-lhe fim do curso (o célebre fim da travessia), e "paroxismo" de exames.

Encartado há apenas um ano, e com um certo orgulho no meu zelo enquanto condutor até agora, estudo o que aconteceu e tiro as ilações devidas. Em período de exames, destes exames finais antes da euforia do FIM, o carro fica parado (na cidade), excepto se for ao serviço dos outros. Venha o metro, fiel amigo.

Lembro-me daquela frase, já nem sei ao certo onde a escutei: "O bom jogador é aquele que sabe quando deixa de jogar". Afinal de contas, era também isso que dizia o saudoso Zé.

Windmills of Your Mind

Quando estamos a estudar para exames, cismando com o papel. E quando chove lá fora. Quando vemos diante de nós só os moinhos da nossa mente.


quarta-feira, janeiro 09, 2008

Querer e Poder

Na estrada, a conduzir, somos sempre confrontados com os célebres "chico-espertos", "fura-regras", nómadas das estradas. Por vezes o esforço - mesmo a satisfação - em cumprir as regras, é de tal ordem que esse tipo de incursões hostis na rotina de condução desperta... ira. Afinal, não é que nós, se quiséssemos, não soubéssemos fazer exactamente o mesmo.

Seguem atrás deles as palavras interditas, às vezes só pensadas. Alguém me terá dito um dia que devemos sempre ter a ambição de ter um bom carro, se pudermos. Não é para ir atrás deles (embora hajam sempre "vibes"...). É antes para, em último caso, dizermos a nós mesmos: "Ok, este gajo ultrapassou-me à fuinha. Mas eu tenho um carro melhor que ele, tenho a capacidade, sei fazer. Não vou atrás dele, não lhe dou essa lição porque não quero." Nunca porque não posso.

Comments

Uma opinião qualificada sobre o Generosità: "O vosso blog até tem posts muito interessantes, a sério. Mas... torna-se difícil encontrar as gajas boas no meio de tanto texto."

O Homem Pobre

Falávamos de um rapaz que anda, inutilmente, atrás de uma rapariga que não lhe presta atenção. Ela é gira demais, se bem que educada e simpática (demais para ser clara?). Ele é capaz de escrever um livro sobre o tom de voz dela nesse dia, garimpando por um sinal. Saboreia esperanças vãs, e aqueles em seu redor não se atrevem a elucidá-lo. Parece que as coisas em casa não estão famosas, alguém me diz. Parece que academicamente também não. Parece que não anda a rodear-se das melhores pessoas. Nada de positivo no futuro próximo, a que ele se possa agarrar.

Dou comigo a pensar em como alguém um dia vai convidar aquela miúda a sair, de como alguém, quem sabe do seu círculo, vai namorar com ela. E ele verá talvez as suas esperanças desfeitas. Pergunto-me como irá ele reagir, que vê nela o único capital da sua vida (mesmo que não o possua realmente). Que, homem pobre, vislumbra nessa obsessão a sua riqueza. Terá pouco mais. Como reagirá se outro a conquistar? Nunca se deve mexer com a única riqueza de um homem pobre - essa é uma regra básica. Será que os outros a irão respeitar?

Correcção

Não pretendo entrar em discussões sobre a minha opinião em relação a Santana Lopes no Generosità. Mas o erro foi meu - e a nota sobre o mesmo foi removida do post anterior. É indiferente para o propósito do texto se é a opinião geral sobre Santana Lopes que é negativa, ou se é a minha que vai nesse sentido.

Shot 9

Já se advinhava.Pacheco Pereira não gosta que invadam a coutada onde ele é rei, a blogoesfera. Marcelo tentou mas não durou muito. Agora, Santana Lopes vai tentando ganhar espaço e Pacheco não resistiu. Já vinha avisando que o mundo dos blogues vinha decaíndo e no seu artigo de Sábado não resistiu e lá desancou novamente em Lopes. Santana sabe que está em território inimigo mas não se conteve, no seu blogue ataca Pacheco forte e feio. Isto promete, ou talvez não. Pacheco quando as coisas se pessoalizam demasiado tende a refrear os animos. A seguir com atenção.

PS: Não resisto a constatar um facto. O PDuarte sabe tão bem como eu, que defendia a continuidade de Santana não apenas numa mera prespectiva de estabilidade e de evitar potênciais efeitos económicos nefastos para o país. O PDuarte tinha esperanças... e acreditava nele.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Países Verticais

A propósito do último post, dou comigo a pensar também na comparação de 2 povos. O povo português é, genericamente, muito inteligente, mas com pouca cultura (no sentido clássico). Já, por exemplo, acho o povo italiano muito menos inteligente, genericamente, mas com uma cultura superior. Dois países verticais - um mais atlântico, o outro mais mediterrânico. Temos as nossas virtudes, eles as deles.

Ser do Povo

O que é o famoso “ser do povo”? Passa por pertencer a uma classe com posses a menos para poder ter luxos, veleidades, etc.? Talvez uma interpretação mais correcta do “ser do povo” seja o não poder ser romântico, estúpido, sonhador, contemplativo. Como estando acordado para a realidade das coisas - sabendo lidar com ela. “Ser do povo” é, no fundo, ser minimamente inteligente. E eu sou dos que acha o povo português um povo inteligente. “Ser do povo” tem grandes defeitos – mas é também o caminho geralmente mais saudável e sincero. Não é o único, é certo. O que eu acho falacioso é dizerem que “ser do povo”, nessa acepção intuitiva, tem a ver com classe sócio-económica. Há pessoas pouco recomendáveis em todas as classes, bem como homens e mulheres “feitos”, seguros, do "povo" em todas as classes.

Fico-me Aqui Pelo Restelo

Como eu me sinto cada vez que digo que "provavelmente, não devo ir à viagem de finalistas". Fico-me aqui pelo Restelo, pode ser?

94
"Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:


95
- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

96
- "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!


97
- "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?"

in "Os Lusíadas", Luís de Camões (1524-1580)


Habitat Natural

Mais uma citação, mais uma obervação bem feita, desta vez por António Barreto. Dizia no Expresso, a propósito da história recente dos partidos, que o PS é um partido descaracterizado no poder - tal como o PSD é um partido descaracterizado sem poder. Uma questão de habitat natural, se me é permitido acrescentar.

O Símbolo e o Mistério

No outro dia, a propósito de Soraia Chaves, Pedro Mexia acertou exactamente no que penso. Para quem a elege como sex-symbol, dizia que decorre de todo o símbolo a noção de mistério. E que, portanto, Soraia Chaves não poderia ser um símbolo - tudo nela é óbvio, não há qualquer mistério ali.

Imagens

Se vamos ser invadidos por imagens, mais vale que sejam por imagens destas, com retoques de arte. E com Adriana Lima.

Zeitgeist: A Última Década e o Imperialismo da Imagem

Brilhante artigo de Pacheco Pereira, disponível no Abrupto. Fala de duas ideias em que eu tenho também insistido:

1) Os nossos tempos não estão "certos", não estão de acordo com a natureza das coisas. E, por isso, não podem durar muito. A década de Guterres a Sócrates, que me coube a mim viver, e à minha geração, foram anos sem referências, sem sonhos, sem alma. Não está aqui em causa os próprios protagonistas - as circunstâncias ultrapassaram-nos. Começou com a desilusão na nova esperança de Guterres, passou pela tragédia de Entre-os-Rios, pelo 11 de Setembro, pela Guerra do Iraque, pelo escândalo Casa Pia, pelo drama dos incêndios, pela fuga indigna de Durão Barroso, pela subida de Santana Lopes ao poder, pela eleição de Sócrates. De repente, Portugal ficou mais árido, mais seco, mais triste. De repente as pessoas desconfiaram mais. Depois veio a indústria em peso do lazer individual: DVDs, livros, PC, TVCabo, etc. Não para todos, é certo, mas para muita gente, apesar de tudo. O aumento do lazer individual torna as pessoas mais ensimesmadas, mais solipsistas, menos generosas. Parece ser tudo uma questão de dinheiro, de prazer, do "eu".

Foram anos medíocres, vazios, chocos, mantidos por aqueles que não se quiseram esforçar mais sem ser obrigados, e aqueles que não estiveram para se esforçar sem serem glorificados. Faltou espírito. Houve pouco sentido de País, de comunidade, das nossas virtudes colectivas, do nosso melhor. Em retrospectiva, uma péssima escola de vida. Às vezes posso até ter a tentação de a invocar se não atingir alguns objectivos "maiores" durante a vida, como bode expiatório. Mas não quero.

Olhem em vosso redor para esse "medo de existir". Como diz Pacheco Pereira, o preferir o remediado, com medo da pobreza. Quentinhos à lareira com o "diabo que conhecemos", que esse "diabo que não conhecemos" diz que pode ser pior. Onde estão os bons alunos? Onde os portugueses jovens brilhantes? É preciso chegarem aos 40 como Mourinho (e no futebol, de que eu gosto, mas que é inútil)? E a gerontocracia narcoléptica da nossa sociedade (qualquer dia estamos como os italianos)? E o sonho de infância? E a virtude, o "eu nunca farei"? E os empresários que conseguiram? E os priveligiados que tiveram classe, que quiseram desenvolver a sociedade? E o nosso imenso património intelectual, a nossa cultura? A literária, digo eu, mas a outra também, porque não? E o esforço em equipa de pessoas inteligentes e motivadas? Onde estão as ideias? Onde está a força de vencer? Onde está o génio, a criatividade? O talento? Onde estão os jovens que querer quebrar barreiras impossíveis, e os mais velhos que os ajudam?

2) A outra ideia fundamental: a imagem, a invasão da imagem, a sua omnipresença e a subjugação do conteúdo. Tal como diz Pacheco Pereira, ela ocupa os outros meios. É como se houvesse uma espécie de "imperialismo da imagem": ela invade os outros meios; deixa-os viver, é certo, mas está sempre lá.

Na música parece que a Internet asfixiou a indústria discográfica: há menos produção nacional (como é que é possível fazer carreira em música?). A leitura, o livro, passou a ser só um "hobbie", uma vertente de "entretenimento", uma escolha diferente do DVD, da Internet, da televisão. Nada mais que um "meio".

Um exemplo muito simples na nossa prática laboral são os slides de PowerPoint (sim, servem bem como exemplo). Podem até ter conteúdo, mas está incorporada a ideia de que isso nada vale sem imagem. Não há paciência para o conteúdo sem imagem. Às vezes nem para o conteúdo com imagem. Há razões profundas que estão por detrás desta paixão do ser humano. Este complexo de corvo é muitas vezes o que nos engana. Mas também o que nos faz feliz. Quer-se a imagem, a beleza, como posse, capital. Nunca houve tanto desse capital como hoje. Mas é um capital fictício, não dá para nada - só entretem o nosso "comboio de corda".

domingo, janeiro 06, 2008

Pecado Original 25



Isabel Figueira*. Bom, não são precisas grandes apresentações, suponho. Casada com quem? Não, peço desculpa - estão separados. Pois é. Uma mulher absolutamente divinal: bonita, simpática, alegre, sempre presenteando os outros com um sorriso e boa-disposição. Aquilo a que se convencionou chamar de "boa onda". Aqui há uns tempos andava - tolamente, que me desculpe - a tentar corrigir a rouquidão da voz. Para quê, Isabel? A voz rouca é ainda um "plus". A sério. Vale mais a preocupação com a camada de ozono. Para esta sportinguista de boa cepa, e bela mulher, as devidas saudações leoninas, bem como os parabéns pala entrada no Top + do Generosità.

*fotos roubadas a um blog amigo

(Micro-) Mecenato do Bom

Até que enfim um uso útil para as mensalidades que pagamos na nossa universidade. Belo patrocínio a um projecto que interessa. Assim sim.

Olivus 2007: Livro do Ano

Passaram-me pelas mãos dezenas de livros ao longo do ano. A minha cadência de leitura, pergunto-me mesmo se o meu tempo, a minha paciência, não chegaram para ler mais que uma ínfima parte. Por isso não vou eleger um livro para um conjunto de categorias. Mas posso bem arriscar escolher um livro do ano. Aí não tenho grandes dúvidas: o vencedor é Orlando Furioso, o clássico de Ludovico Ariosto, traduzido do italiano pela especialista Margarida Pequito, com a chancela da Cavalo de Ferro.


Nunca antes este absoluto clássico da literatura mundial fora integralmente traduzido para português. A sua versão final data de 1532, e tem 46 cantos e cerca de 40.000 versos rimados. Rimas - e aí esta tradução torna-se impressionante - que esta tradutora conseguiu manter na passagem para português. Leio numa entrevista que o fez ao longo de um ano inteiro, em regime quase monástico. Já várias vezes eu ouvira referências a este clássico, do qual Camões chegou a copiar frases (sim - pensam que o luso plágio é de agora?). Um conselho pessoal, e generoso (conferir nome deste blog): comprem-no. É preciso saber reconhecer ouro quando se o vê à nossa frente. E quem sabe quando volta a oportunidade.

Mas informações sobre esta obra aqui.