sábado, outubro 13, 2007

Geraçao IM

Alguém arranjou o nome para esta geraçao, para a minha geraçao: geraçao IM (I Am). O egoísmo, mesmo o solipsismo, como denominador comum a jovens que têm demasiados gostos pessoais. Têm o seu PC, o seu nick, a sua página de Hi5, a sua música (centenas de cançoes) sacadas da net, o seu bar, os seus (poucos) amigos, as suas fotos, as suas saídas, os seus programas de TV, o seu (inevitável) trabalho, o seu estilo de vestuário, o seu telemóvel, a sua "persona" em múltiplas vertentes consolidada. O que, está claro, nos torna mais sozinhos: com tantos caracteres pessoais, é difícil de encontrar outros como nós, e de os encaixar no nosso esquema. Quando a um jovem sao dadas tantas escolhas, tao extensos domínios da vontade, ele sente-se um príncipe. E andamos por aí feitos príncipes, pensando que aquele tipo até é boa pessoa mas ainda nao é bem o "nosso" perfil de amigo, que aquela rapariga é gira, mas anda nao é bem o "nosso" estilo de mulher. Depois, claro, vem uma crise social qualquer, um período de contracçao e há dança das cadeiras, as escolhas simples fazem mais sentido, e aprendemos a aceitá-las. Como dizem sabiamente os italianos, há que "sapere accontentarsi". Há mesmo?

A Lebre Preocupada

Um dos políticos que mais me diverte, e ao mesmo tempo irrita, ver na televisao é Alberto Martins. Líder da bancada parlamentar do PS, sai à liça geralmente para justificar algumas medidas impopulares do Governo. É aí que começa o "show". Surge Alberto com um ar que eu chamaria de "lebre preocupada". Chega-se aos microfones, franze a testa, carrega as sobrancelhas. E os olhos, tao preocupados com o destino dos pobres portugueses, que ele faz parte deles também... As palavras sao escolhidas, e proferidas uma a uma, devagarinho, para que os portugueses "lá em casa" possam "contextualizar" esta medida "no espírito reformista deste governo", que tenta a evoluçao do país "sem comprometer a justiça social". Caramba, que o homem sente na pele as dificuldades que este Governo impoe. Tem que ser, nao é? Tem que ser... Nem por um segundo a fronte se distende, as sobrancelhas se libertam - isso fica para depois.

Ah, Alberto... Se tu nao ofendesses tanto a minha inteligência, ainda era capaz de me rir de ti.

O Trigo e o Joio

Leio na Sábado que vai sair em Portugal um livro curioso: "Ao Volante do Poder". De quem? Do motorista que conduzia limusinas e organizava as visitas oficiais dos governantes portugueses a Washington. Pedro Faria, de seu nome, aí relata alguns pormenores embaraçantes sobre dignatários lusos. Por exemplo sobre Martins da Cruz, Santana Lopes, etc.

Sobre este último passo a transcrever o episódio, verdadeiramente nao consigo resistir. Todos os direitos estao reservados pela Sábado*:

"(...) quando Santana Lopes era secretário de Estado da Cultura, o governante requisitou uma limusine longa para ir a uma exposiçao em Washington. No regresso ao aeroporto JFK, "alguém se esqueceu de pagar o frete", lembra o motorista.

"Nao sei quem é Pedro Faria", reage agora Santana Lopes. "Esses serviços sao tratados pela embaixada, nai fui eu que tratei disso", explica. A única coisa que sabe é que foi "uma canseira". Lembra-se que foi "à National Gallery" e que só saiu de Washington à meia-noite. Apanhou um voo para Nova Iorque e tinha de estar no outro dia num Conselho de Ministros em Bruxelas. "Nao pagaram? Nao sei, ou foi da parte da National Gallery ou da embaixada", conclui.

Pedro Faria conta que, em contrapartida, Cavaco Silva escreveu-lhe o número do cartao de crédito e juntou a mensagem: "Pedro Faria, faça favor de se pagar pelos seus serviços.""

Mais simples diferença entre aquilo que na vida é o joio e aquilo que na vida é o trigo, eu nao conheço.

A beleza da coisa é que as pessoas nao aprendem. Responde uma tal Margarida de Aguiar (hoje administradora da ERSE) às memórias desconfortáveis que lhe tocam: "E aquilo é contado por um motorista de limusina, o que vale?". As pessoas nao aprendem.

Como relembrou Pedro Mexia no seu Estado Civil:

"Os humilhados serão exaltados. Vem na Bíblia. Os humilhados terão a sua vingança. Digo eu."

É que há coisas que nunca mudam.

*na esperança que eles nao me processem - eu sei que eles lêem o Generosità

sexta-feira, outubro 12, 2007

Avarezas Intelectuais

Uma das coisas que tenho pena de serem genéticas no meu país é a avareza intelectual. Quer dizer, partindo do princípio que o país tem poucos recursos, a informaço torna-se um bem precioso. Assim, os médicos, os juristas, as corporaçaoes, têm uma mentalidade "closed shop" para protegerem os seus interesses. Vem do Salazarismo, esse corporativismo. Como eu venho de um outro Portugal, enoja-me - sim, que eu reclamo o direito a ter nojo - a avareza intelectual. Quando vejo um professor que para mim, claramente, nao está a dar o seu melhor na exposiçao do seu conhecimento de um tema, no conteúdo ou na forma; quando vejo os tiques de falar para os "cognoscenti", para os "bons entendedores" sem um esforço de boa-fé para enquadrar os demais, sinto isso mesmo - nojo.

Que pena, que pena. Tudo podia ser tao diferente. Mas enfim, eu tenho esse defeito de personalidade - nao gosto de trabalho desnecessário- meu ou dos outros. Nao preciso (creio) do trabalho para ser uma melhor pessoa. Eu gosto de trabalhar -mas bem, inteligentemente. Detesto sentir o tempo de vida a ir-se pela janela.

Se os estudantes de Medicina de hoje, por exemplo, nao sabem absolutamente nada de uma herança fantástica de cultura médica portuguesa, e estudam os mesmo livros usados em Hong Kong, tenho pena. O mesmo para a Engenharia portuguesa. Tenho pena dos curiosos e bem-avontadados (que os há) a montante. E tenho nojo dos avaros intelectuais que nao têm classe nem generosidade a jusante.

Depois dizem que Portugal nao se desenvolve. Senhores, percebam que nao há desenvolvimento sem conhecimento científico! E que nao há conhecimento científico sem jovens entusiásticamente a nutrir o tema em conversas, investigaçoes. A ciência nao deve ser estudada como língua morta. Percebam isso de uma vez! O problema é que só terao jovens a apaixonar-se por ciência se tiverem prazer em aprendê-la. Com professores bem formados, criativos e generosos. E, já agora, com enquadramento do nosso património histórico, maior que o que se julga.

Cada país tem suas misérias. A avareza intelectual e o culto do "bom entendedor" sao todas nossas.

Survival Of The Fittest

Fim de tarde aproveitado para uma bela corrida com uma amigo, pôr a conversa em dia. Esforço de nível médio (3 voltas), mas dá logo outro prazer ao jantar.

No final, discutíamos Richard Dawkins, autor d' "O Gene Egoísta", a Sociobiologia e as suas implicaçoes na sociedade humana. Mas as sociedades humanas sao tao complexas... Mais além da selecçao natural, e da selecçao sexual, existe a competiçao entre mulheres (nao só entre homens), a monogamia, etc. Apesar disso, quao distante chega a tua teoria, meu caro Darwin. Sabes que eu sempre fui um dos teus.


Engraçada essa intesecçao: esforço físico e trocar de palavras sobre a selecçao natural. Survival of the fittest indeed.

Menezes 3

Menezes deseja uma nova Constituiçao. Muitas dúvidas.

Menezes 2

Menezes continua a favor da Regionalizaçao no séc. XXI. Valor a menos.

Menezes 1

Menezes terá inúmeros defeitos. Mas sabe falar onde dói. Há-de revelar a pior face do PS, que anda aí adormecida a ver "no que dá o Sócrates". Valor a mais.

Shot 4

Não é só a Maya que tem direito a fazer previsões. Eu também posso.
Aqui vai. Vá lá, vamos falar a long term que isto das previsões tem o que se lhe diga.
Prevejo que a Angelina Jolie ou o George Cloney (ou ambos), vão ganhar um dia o Nobel da Paz.
Fica o registo.

Paradoxo

Al Gore ganhou o Nobel da Paz. Bom, agora que cada vez há menos guerras e que nos genocidios africanos ninguém se mete, este nobel tem que arranjar outras áreas para premiar. Foi o ambiente. Ok. Mainstream a funcionar. Não me espanto.
Contudo, a propósito do ambiente, dou comigo a pensar que esta área (verde) dá origem a um paradoxo interessante. O mundo é mesmo lixado. Pensem comigo. Quem mais polui são os países mais industrializados, simplificando, neles quem mais polui são as fábricas e as indústrias, estas por sua vez são detidas pelos mais ricos (principalmente se pensarmos nos EUA, Quioto? Não sabem o que é?). O mais interessante é que quem ganha com as questões ambientais são as empresas ambientais (lapaliciano), que se supõe serem o novo filão a explorar no próximo quarto de século. Ora, o Sr. que polui e ganha, vai ser o mesmo senhor que no futuro ganhará mais de 20% ano a investir em hedge funds, ETF e outros mais,que investem, justamente, em empresas ambientais. o capitalismo é mesmo assim. O mesmo que polui vai ser o que mais ganha com os bonzinhos que andam a tentar salvar o planeta. Resumindo, ganham sempre duas vezes.

Controleiros

Um dos grandes problemas da sociedade é o "espírito controleiro" que algumas pessoas nao resistem a praticar. Refiro-me aos controleiros do PCP, que controlavam outros membros do partido, fiscais da pureza comunista. É claro que isso é perigosíssimo, e deu no que deu. Zita Seabra relata bem o que sofreu na sua autobiografia "Foi Assim".

Voltamos ao princípio marxista: "o capataz nao vem nunca da classe exploradora, mas da classe explorada". Ter alguém a querer interferir na nossa privacidade é algo muito sério - recusá-lo é o primeiro pilar da liberdade.

Mas o espírito controleiro anda aí, e há de andar sempre. É uma coisa muito, muito antiga. Muito mais antiga que Marx. Há sempre alguém que nao se coibe de querer informaçao sobre nós que nao tem direito a ter (para que a usará ela?), nem se apercebe que nao tem direito - a ausência de pudor é absoluta. Às vezes é mesmo pior que ausência de pudor, é má-fé. Cuidado. Resguardar a todo o custo a nossa privacidade - todos os dados podem ser usados por quem nao interessa que os tenha. Ser avarento com toda a informaçao pessoal. Nao substimar nunca - nunca - a inteligência dos malditos. Mesmo que nao façam nada, só a sugestao é intolerável ("sei onde vives...").

Derrotar os controleiros de cada era e proteger a privacidade e liberdade individual. Eis parte do que será a tal "Civilizaçao".

IgNobel

A propósito, já viram os prémios IgNobel deste ano? Grande vitória no IgNobel da Paz, para um laboratório da Força Aérea Americana, por ter pesquisado uma arma química que, lançado sobre o inimigo, induziria comportamento homosexual entre os soldados.

E nós que pensávamos depois da bomba atómica e da bomba de hidrogénio, ter o espírito maligno do homem chegado ao máximo!

Uma No Cravo...

Prémio Nobel da Paz para Al Gore. Tresanda a politicamente correcto. Mesmo que fosse justo, só espelharia este mundo profundamente dependente da imagem - quem nao aparece nao existe, nao faz coisas. Deveria ser a Academia Sueca a procurar mais além do frenesim mediático, a recompensar os heróis anónimos, a fazer os simples acreditar que alguém lhes fará justiça. Em vez disso, cede de forma nauseante ao "mainstream", promove um político que nada mais de concreto fez que um documentário (já provado estar pleno de falácias). Ah, e tenta, claro está, interferir com a política americana, fazer engolir em seco alguns sectores da sociedade.

Também têm as suas polémicas e mesquinhices, nao pensem que nao. Mas, apesar de tudo, prémios Nobel, existem para mim da Medicina, da Física e da Química. Os prémios da Literatura e Paz têm sempre, infelizmente, de ser lidos à luz de outras variáveis.

Pecado Original 20

Detesto andar de metro engripado. Detesto nao ter sequer espaço para tossir. Detesto estar em pé - doem-me as costas. Detesto esta quantidade de gente. Nao consigo sequer segurar-me. Detesto este calor horrível. Detesto os olhares. Detesto ter que desviar o olhar para nao olhar ninguém. Detesto as caras de que desconfio. Aquele gajo pode querer gamar-me. Detesto a oscilaçao repentina. Por pouco nao me agarrava. Detesto o barulho. Detesto o crescendo do barulho VRRUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUMMMMMMMMMMMMM. Detesto o travar agudo, prolongado, GUUUIIIIIIIIIIIIIINNN. Acaba a chiadeira. Abrem as portas. Detesto os BEEP, BEEP estridentes ao fechar das portas. Detesto o fechar das portas. Detesto ter vergonha de olhar duas vezes para uma miúda gira. Detesto que ela possa ter má impressao de mim. Detesto perder o metro ao último segundo, ou ao último minuto, ou aos últimos 5 minutos. Detesto que o metro nao esteja ali, nao esteja à minha espera. Detesto ter que vasculhar os bolsos pelo bilhete. Às tantas perdi-o. Detesto nao ter que ler, e os outros sim. Detesto nao ter espaço para ler. Detesto nao ter espaço para ir mais confortável, dobrar a perna, ter a cadeira em frente para por o pé. Detesto nao ter a carrugem só para mim. Detesto ter tanta gente a ir para onde eu vou. Detesto a saída, as escadas, o cansaço, o andar sem olhar para os demais até chegar a casa. Detesto nao poder olhar para trás - que algum mitra pode ter reparado - sem ser constrangedor. Detesto a água no chao, a sujidade. Detesto.


God Save Triumph.

Os Meus Prazeres 15

De volta à TV portuguesa, embora tenha todas as épocas, nao consigo deixar de rever os "Friends". Sempre adorei aquela série, sobretudo a girl-next-door-ity de Aniston e o humor brilhante, preciso ao segundo, de Perry. Este último ficou mesmo para mim como uma referência cómica, e seria dos mais talentosos do elenco. Seguramente dos mais inteligentes - de tal forma que era o único chamado a participar na escrita dos guioes. Depois engordou ao longo de uma época (vícios algo chatos), e perdeu alguma chama.

E a Jennifer Aniston... Jen, onde andam as raparigas como tu? Queridas, giras, corpo fantástico, compreensivas, engraçadas. E eu que já fui um nerd com paixoes doentias ao melhor estilo Rossiano? Enfim... Mas nota-se a sua ascendência meridional. Grega, para ser mais exacto. Nao sabiam? É verdade.

Tudo somado, era uma série fantástica. Eu sei que o Seinfeld era mais intelectual, mas também era mais aborrecido. Demasiado real. Explorava o humor que já existe no nosso dia-a-dia. Em "Friends" há mais sonho, mais ilusao. Concentrou como poucas o tal espírito "feel good" dos anos 90. As primeiras épocas entao sao estupendas - quase nao há episódios que nos desiludam. Uma constância de nível altíssimo.

Eu tive a sorte, de há já alguns anos, quando niguém conhecia a série cá, vê-la toda - épocas seguidas a eito. Foram uns belos 3 ou 4 dias das férias grandes. Fantástico. Tal foi a dose, que nunca mais repeti. Tenho todos os DVD, mas só os vi daquela vez. Já lá vao uns 5 ou 6 anos. Lembro-me que ainda estava em exibiçao nos EUA, creio que a 9ª época. Delirei.


"Friends" é talvez a minha série cómica favorita. Tem tudo: amizade pura, instantâneos de amor absoluto, sobretudo pelo casal Rachel-Ross (o beijo de Rachel a Ross depois do vídeo da adolescência, Rachel abrindo a porta do café a Ross, na noite de chuva, etc.), as melhores frases em televisao, personagens que ficaram, elenco de qualidade irrepetível.

O que eu amo acima de tudo em "Friends" é a prova, pelo menos nas primeiras épocas, de que o grande humor pode ter classe. Nao precisa de palavroes, ou temas desconcertantes, nao precisa da sarjeta, de gozar dos demais. Pode ser só humor de amigos idílicos, que se respeitam mutuamente, de um grupo, de um tipo comum de boa gente. Pode ser só humor de gente inteligente. E o mundo em redor? A política, as guerras, a economia, a pobreza, os criminosos, o bas-fond? A tudo isso eles dizem: "até pode ser que exista, e estaremos preocupados quando a situaçao for grave. Mas por agora, nao nos interessa, nao é o nosso mundo, e nenhum poder temos para o mudar. Se o mundo mudar demasiado, nós ao menos nao mudaremos."

Relembro aos cínicos que ripostam com as naturais brigas entre o elenco sobre cachets, com o decorrer dos anos, que essa é simplesmente a mensagem da série, nada mais. E eu, que gosto de ilusoes românticas, nunca a irei esquecer. Agradeço a esta série de todo o coraçao - faz-me lembrar uma excelente parte da minha vida. Faz-me lembrar um grande Verao, no Campo, sozinho em casa, a descobrir um humor intelectualmente refinado, mas também romântico, tocante. Ah, como eu me ri nesse Verao.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Os Meus Prazeres 14

Podem acusar-me de muitas coisas, mas nao de ser esquisito. Sou, verdadeiramente, uma pessoa simples. Geralmente opto sempre pelo mesmo: pelo bom. Eventualmente gosto de variar: opto pelo melhor.

Quantas pessoas de tao tocante singeleza conhecem vocês? Para me terem feliz, basta darem-me do bom e do melhor. Sou um simplório.

Do Pudor

Pego na frase do filme "Dangerous Liasons": a vergonha é como a dor, só se sente uma vez.

Tenho vindo a constatar que o pudor, a vergonha, é justamente uma das maneiras mais simples de aferir as pessoas. Se alguém com quem tratamos, em pormenores, pura e simplesmente, nao tem vergonha, entao o nosso alarme deve despertar. Entendo aqui vergonha como o quebrar, sem peso de consciência, regras intuitivas de convivialidade e educaçao. Como se houvesse uma rede de que essa pessoa se remove sem problema. E nós pensamos "mas nao pode ser!". Alguém, a meio do jogo, decide pura e simplesmente deixar de cumprir as regras de sempre. Apostando em que ninguém a castigará.

É certo que faço a análise a partir de pessoas jovens, onde a personalidade é volúvel, e o sexo, o afecto, parecem poder explicar quase tudo. Mas isso é verdade também nas pessoas mais velhas. Se nao há pudor, é porque foi perdido, e nao porque nao existia antes. Houve uma transiçao qualquer que serviu de despedida definitiva. O problema é que os alegres sem-pudor abusam dos pobres envergonhados com que convivem. O pecado de omissao é também pecado. Se alguém falta a um pormenor de vergonha, está a ser indulgente consigo mesma. E a auto-indulgência geralmente esconde por detrás mais auto-indulgência. Gosto muito dessa "joie de vivre", mas, caramba, temos que ser uns para os outros. Há regras. Pode nao ter que as cumprir quem se construa a si mesmo, um empreendedor nao tem que prestar contas a ninguém. Conquistou esse direito - o direito a ser anti-social se quiser. Mas quem nao segue percursos de coragem nao tem direito a quebrar esse contrato social.

Pessoalmente, quando detecto um pormenor de ausência de pudor (que volto a lembrar, se perde, é algo que existe sempre antes), faço o exercício: porque se permite essa pessoa de o ter? Como o perdeu? Entre jovens, o caso é particularmente grave - temos pessoas ainda "verdes" a lidar com um adulto perfeito. Muito cuidado.

Só tem pudor quem tem noçao de dependência. Pode furtar-se ao pudor quem seja independente - mas só nessa condiçao.

Conservadorismo Liberal II

A questao mais premente do Conservadorismo Liberal é, obviamente, a dos recursos. Com a taxa de consumo dos recursos planetários, existem 2 saídas: a Ciência (tao, tao maltratada socialmente) e, claro, a exploraçao espacial (a Rússia anda já a dar conta do Pólo Norte). Parece exagerado, nao é? Mas olhem que somos já cerca de 6,7 bilioes no planeta. Esta gente tem expectativas.Vai ser bonito, vai.

A questao dos recursos é também muito importante do ponto de vista do poder. Por exemplo, os EUA emergiram no séc. XIX como potência mundial a partir da sua riqueza. Quer dizer, constituiram-se potência económica antes de potência política. É isso, no fundo, que a China tem vindo a fazer nos últimos anos, a armazenar recursos (petróleo, etc.) por vários países para alimentar a sua economia. Daqui a uns anos estará a emergir como potência política, para ser entao uma superpotência. Resta saber se o fará após uma transiçao para a democracia. Aí está também uma questao curiosa em relaçao à natureza humana. É necessária democracia ou basta capitalismo liberal?

Por outro lado, a emergência da China, mais que tornar o mundo multipolar politicamente, pode ser interessante do ponto de vista económico. Assim, por exemplo, se os EUA abrandarem ou entrarem em recessao, a China está aí para "aguentar" a economia mundial. Um facto novo muito interessante.

Conservadorismo Liberal I

Começo por dizer que uso a expressao "conservadorismo liberal", mais que "conservadorismo", e diferente de "liberal". Por conservadorismo, grosso modo, entende-se a corrente política que é conservadora no plano moral, e conservadora no plano económico, o que, claro está, significa ser liberal em termos económicos (economia de mercado, livre comércio, etc.). Os liberais, no sentido da esquerda, sao sobretudo liberais em termos morais, mais até que económicos. Estas duas classificaçoes sao, aliás, americanas, conotadas com a direita e esquerda. Prefiro, contudo, o termo "conservadorismo liberal", para exprimir toda a corrente política conservadora, pelos vários países, em que, geralmente, os que estao a "jusante" na sociedade, professam esse modelo de sociedade livre como o que maior número de pessoas satisfaz.

Nao é que seja muito versado sobre todos os seus pressupostos, mas acho que consigo perceber, basicamente, a intersecçao entre moralidade, sociedade, economia e liberdade. No entanto, é um modelo que me levanta várias questoes.

A propósito da publicaçao do seu último livro, Alan Greenspan, um homem com que simpatizo, e a que devo, de certa forma, a estabilidade dos meus confortáveis anos 90), dava a sua opiniao sobre os (vários) presidentes com que trabalhara.

Sobre Ronald Reagan, considerado pelo povo americano um dos melhores presidentes de sempre, disse que relembrou uma frase que, dizia também, continha todo o seu genuíno conservadorismo. Dissera-lhe ele um dia algo como "a sociedade é um esforço que temos de construir para nao nos andarmos a matar uns aos outros". Mais conservadorismo linha dura, mais assumir-a-bruta-natureza-humana-como-ela-é nao existe.

No princípio dos anos 90, Fukuyama lançou o célebre "O Fim da História e o Último Homem". Aí defendia que a progressao da História da Humanidade como uma luta histórica entre ideologias chegara ao fim, depois da queda do muro de Berlim, e que a democracia liberal seria o destino último. A coisa pode nao ter acabdo por aí, ainda é cedo. Por exemplo, essa assumpçao terá sido feita na base dos EUA como única superpotência mundial, o que o futuro dirá se é para valer. Mas o certo é que os anos 80 de Reagan foram o gatilho de uma revoluçao mundial, de triunfo do capitalismo liberal, que parece imparável.

Face à decadência da Europa (é mais real que o que podemos pensar) surge a questao: é o capitalismo liberal a única soluçao para uma sociedade justa e feliz? Entao Reagan teria razao naquele ponto de vista de pessimismo antropológico?

Essa é uma questao que importa, realmente, perceber.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Pecado Original 19


E pronto. No outro dia a ser aqui elogiada como o cúmulo da mulher meridional, morena entre morenas, eis que Monica Bellucci, por (nao concebo outra hipótese) acto de rebeldia contra este blog, virou loira.

A questao é que se levanta é muito simples: deveríamos, está claro, ficar chateados com isso. Mas nao conseguimos, pois nao?

Workshop Caso Clínico II

E lá estavam eles, na sala, acantonados no seu absoluto cansaço e pensamento "vamos lá fazer mais esta". Frases saltam de um lado para o outro, parece que as vêem. O pequeno céu branco é cruzando pelos bandos, já tao familiares. Ali ia um "Cuidados Farmacêuticos" de pena cinzenta. À frente, mais ligeiro, um distinto "Acto Farmacêutico". De entre a tranquilidade na formaçao puderam ainda distinguir dois "Seguimento Farmacêutico", adultos e bem contornados, e cerca de quatro "Prática Farmacêutica".

Como sao belos a voar, pensavam eles, por sobre o chao do pragmatismo, esses pássaros-conceito do jargao farmacista. Nem sentem necessidade de pousar. Que belo. Tantas vezes que estes ornitologistas-estudantes quiseram tocar os pássaros, para os perceber realmente. Mas é difícil, com tanta gente a espantá-los lá para cima. Esperemos somente que nao apareça um desses falcoes "rei-vai-nu", malvados que decepam esses belos conceitos etéreos.

Mas desçamos por momentos ao chao. Sim, ao chao, lá abaixo. Quem sabe aqueles dois tenham uma explicaçao para estas espécies. Que dizem eles? Um pouco de silêncio, por favor...

- Sabes o que é um Seguimento Farmacêutico?
- Nao.
- É quando um farmacêutico anda atrás de uma farmacêutica, ou uma farmacêutica atrás de um farmacêutico.
- E os Cuidados Farmacêuticos?
- Bom, isso virá depois de eles se conhecerem... (risos)
- Entao e a Prática Farmacêutica e o Acto Farmacêutico?
- É mesmo preciso que te explique? (ainda mais risos)

Voltemos lá ao alto. Cá em baixo nao se aprende nada.

Workshop Caso Clínico I

Dizia o professor/moderador, acerca do caso, patologias, doses, acetatos, conclusao: "Este é um caso real". Magnífico. E também: "O grande valor deste exemplo é ser um caso real". Blá blá blá "caso real" blá blá blá "caso real". Caso real.

Diz um dos ouvintes para o outro no auditório: "Sabes que este professor, que tem naturalidade em oratória e tudo, foi convidado para fazer um programa de TV, julgo que na SIC. Nao sabias? Diz que se vai chamar "Dosagens reais"."

A questao é bem simples, na verdade: se eles nao conseguiam sair fisicamente dali, tinham de o fazer por outros meios.

terça-feira, outubro 09, 2007

Tótó?

Raios... o homem é um animal social, e eu nao resisto. Que me desculpem.

Tenho vindo a constatar que, no juízo de algumas pessoas que me conhecem, passo por "intelectual". Já tinha, aliás, escrito sobre isso.

Suponho que sejam os óculos, o físico de "nerdzito" (mas engano...), os dichotes diferentes, o diletantismo, a distraçao, tudo isso. Sinceramente, nao acho que seja intelectual (estava-se mesmo a ver, nao era?). Serei mais uma espécie de "nerd" de coisas a que ninguém liga e que dificilmente me garantirao emprego. E serei também um eterno curioso, um bibliófilo amador.

Mas nunca - nunca - desprezei ninguém que achasse menos culto (no sentido clássico, livresco, que a cultura é algo muito amplo). Nunca enjeitei experiências muito pouco "intelectuais". Nunca deixei de cultivar verdadeiros amigos acima de quaisquer livros que nao esteja a ler. Nunca deixei de ter valores a cumprir por muito que me custe.

Um intelectual tem um patamar de conhecimento muito, muito acima do meu, e de coisas bastante diferentes. Tem, muitas vezes, moralidades e hábitos que eu nao partilho. Tem responsabilidades que eu nao tenho (farmacêutico, lembram-se?), e dá importância a pessoas que eu encaixo bem na minha classificaçao, mas nao ligo demasiado.

Agora, gostar de pensar, certamente que gosto. Gostar de ler? Também. E escrever? Ainda mais. E sobretudo, gostar da mudança e do desafio. E saber distinguir pessoas por entre a mediocridade, mesmo tratando todos por igual? - também. E ter prazer em conhecê-las? - seguramente, até ao fim dos meus dias. Se ser intelectual é ter uma paixao ardente pela inteligência, entao renego o que escrevi acima. Guilty as charged.

Verdadeiramente, nao sou mais que alguém curioso por saber o que é uma sociedade, como funciona. Sinto-me nu (calma, eu vi esse franzir de olho, - volto a dizer que nao é um corpo intelectual) sem uma visao coerente do mundo, mínima que seja. Sem uma noçao, pequena embora, de história e de política. Quem foi antes de mim, quais as regras que se mantêm, quais as que mudaram. E tenho mesmo pena de quem nao ache isso apaixonante. Nas palavras do grande filósofo B.A. Baracus: "I pity the fool!".

Mas o que eu reparo é que a crítica de "intelectual" decorre bem mais de um certo modus vivendi estereotipado, mais que a capacidade intelectual. Parte, desde logo, de um desconhecimento de qualquer intelectual que seja, e de poucas obras intelectuais. De onde, em mim, na minha "persona" vem esse epíteto? Do atabalhoamento, da ingenuidade, do diletantismo mental. O vestir, o estar, o olhar, o beijar. Aí incide a classificaçao. E aí nao a permito.

Venho a constatar ao longo de tempo que a crítica de "intelectual" é feita justamente pelas pessoas que menos curiosidade intelectual têm. Nao é que sejam burras, de todo, - mas para pensar já basta o seu trabalho, ponto. Sao espertas. Querem aproveitar a sua vida, e bem. Só têm paciência para as suas obrigaçoes de trabalho - e mal. Andam pelos dias distantes e carrancudas, sem "compliance emocional". Mas o ser humano é tao bancário que até faz impressao. À noite vao-se buscar os créditos para aguentar os débitos sacados sobre a conta. Quantas folias nocturnas nao escondem dignidades diurnas? Nem lhe chamarei dignidade - é ofensivo para quem a cultiva. Melhor dito é sobranceria, distância. Tudo artificial, tao visível ao olho nu, se treinado, que nem acreditariam. Parece incrível, mas é possível ter um sentimento visceral, intuitivo, certeiro sobre todas as pessoas. Modéstia à parte, ainda nunca me enganei. Mas pode vir o dia.

Que me digam intelectual para me integrarem num grupo, eu retenho-me, mas até aceitarei. Agora que o façam para me julgar, sem cultura para o fazer, que estejam a ser mentirosos, porque sabem que eu nao partilho seus pecados, nem o farei, isso nao deixo. Eu sei perfeitamente aquilo que as pessoas sao, e aquilo de que andam atrás. Sei os estilos e matizes. Os vícios e as virtudes. E sei quando elas percebem que o sei. A palavra nao é "intelectual", aprendam de uma vez - é "culto". (E, já agora, procurem no Dicionário - essa coisa pesadota - "pedante" para me criticar).

Digo com a imodéstia de quem se sabe até pouco culto, mas mais culto que a média. E nem sequer me considero superior por isso. Sao as minhas "skills" na vida, valem o que valem. E às tantas, no mundo de hoje, valem bem pouco. Mas a beleza da coisa, realmente, é que eu nao as trocaria por nada.

E deparemo-nos em como anos e anos de banalizaçao deram numa inversao curiosa. Antigamente, no Campo, as pessoas ficavam estupefactas quando se lhes dizia "o Saber nao ocupa lugar", porque as pessoas cultas tinham que ter lugares cimeiros na sociedade. Tanto se combateu o racismo contra a ignorância, que se desenvolveu a perversidade de racismo contra cultura (dá-se a mao...). Eu nao acho que as pessoas com mais cultura mereçam o mais que seja em relaçao às outras. Mas nunca deixarei que sejam agora descriminadas. A estupidez e miséria humana têm limites, senhores!

Grandes, as liçoes da vida. Desta retiro que ter deixado de ser elitista (embora me considerando tudo menos "elite"), para acomodar pessoas com outras experiências, com algum custo e toda a educaçao, nao impede que elas nos traiam. Mas, enfim, eu já tinha lido isso algures...

Auch...

Lembro-me de Pacheco Pereira ter escrito algures no Abrupto (e paciência para encontrar o post?) que o "Semanário", vácuo embora em grande parte, continuava a transpirar suculentos pormenores políticos, vestígios do seu papel fundamental no comentário político dos anos 80.

Nao é que esteja relacionado com esse post, nao faz sentido (pode mais bem estar relacionado com revanchismo pelas críticas a Menezes), mas achei realmente estranho este trecho, primeiras linhas, de um artigo anamnésico do PSD: "O regresso do PSD das bases:

"Era esse o partido das origens - que nada tinha a ver com o nogueirismo, nas suas "fórmulas controleiras e aparelhísticas", verdadeiro fruto da perversidade do poder absoluto cavaquista, nem sequer do oportunismo de maoístas como Pacheco Pereira (até entao um medíocre professor de filosofia de uma escola secundária do subúrbio de Braga e que singrou na vida à custa do PSD, sem uma única ideia e, apenas, dizendo mal de toda a gente)"

Auch... que até a mim me doeu. O artigo é basicamente panegírico para Menezes, abrindo a possibilidade de "refundaçao da direita". Este pessoal dá nas canelas sem perdao.

Ainda assim, volto a lembrar, estou em período de moratória e benefício da dúvida para Menezes.

Screw It, Let's Do It!

Se posso responder ao PGuerra, este blog deve viver, exactamente, da heterogeneidade. É essa a sua beleza, na diversidade que está o sentido de exploraçao, a curiosidade. Nao temos porque ser exemplares, ninguém a tal nos obriga. Temos que ser, conseguir o golpe de asa de ser, aquilo que quisermos. Este é o nosso espaço, onde ninguém pode entrar.

Este é o nosso exemplo - o de escrever sobre tudo com maior ou menor qualidade - logo seremos melhores - e assumindo sempre a nossa própria heterogeneidade. Nem só de ser escrito a 6 maos vive a diversidade deste blog. Como tenho tentado sempre fazer, eu acho que também pode haver heterogeneidade individual.

Eu nao pretendo ser absolutamente coerente. Eu nao pretendo que os meus posts permitam a algum leitor uma noçao do meu carácter. E nao admito que alguém me encoste à parede por algo que tenha escrito - porque assumo a minha margem de erro e alguma heterodoxia desde o início.

O que eu pretendo, o que, realmente, sempre pretendi, é ter, além de o prazer sublime de escrever, o prazer seguinte de publicar aquilo que escrevo. E convidei os meus caros co-autores do Generosità a fazerem exactamente o mesmo. Sobre o que se quiserem, no formato que quiserem. Porque eu, sinceramente, nao me lembro de melhores companheiros para este singelo projecto lúdico.

O Generosità só tem uma regra, que eu me lembre,: é-se obrigado a ser livre. E isso nao é conversa de filme americano série B. É que sê-lo é o melhor da vida - mas às vezes nao é assim tao fácil.

Shot 3

Quem foi o maior prejudicado pelo apito dourado?
Há quem diga que tudo ficou na mesma. Não concordo. Para mim houve um clube que sofreu as consequências. O BOAVISTA. A era dos Loureiros acabou. Sem poder mover as influências de outrora, o clube afundou-se.

Shot 2

Ontem nos Prós e Contras da RTP, o formato que geralmente é alargado a vários intervenientes transformou-se num frente a frente (ou melhor, duelo) entre Paulo Portas e Rui Pereira. Portas precisa de palcos com grande audiência. Ontem tevê-o. Via-se que se tinha preparado ao pormenor. Resultado, cilindrou Rui Pereira. Em linguagem futebolística, eu diria que ganhou de goleada.

Shot 1

Com a chegada de Victor Gonçalves a correspondente da RTP nos EUA, tenho assistido a uma série da reportagens sobre os States nos noticiários da RTP. Resumindo, cada vez mais e todas de óptima qualidade. Nem parece que estou a ver televisão portuguesa. Com as eleições americanas marcadas para 2008, isto promete. Esperemos que não seja só o ímpeto inicial de querer mostrar serviço.

Shots

Sendo este blogue feito por três pessoas, é natural que possa haver alguma descontinuidade na linha do mesmo. Pluralidade de pessoas igual a maior heterógeneidade.
Por comodismo, preguiça, falta de assunto, enfim, chamem-lhe o que quiserem...as minhas aparições neste espaço(ao nível da escrita e não da leitura) não têm sido tão frequentes quanto desejaria. Pensei em mudar isso. Escrever texto longos implicam, necessariamente, que se tenha algo de substâncial a dizer, o que na maioria das vezes não acontece, pelo que, a inibição de aqui postar vai dando lugar à inércia. Contudo, e após a consulta de alguns dos blogs mais afamados, tenho reparado que a tendência cada vez é a dos posts serem mais curtos. Animei-me então, a iniciar uma nova rubrica neste espaço a que chamarei SHOTS. Das leituras que vou fazêndo, e da Internet e Tv que vou vêndo, assaltam-me invariavelmente algumas ideias. Tenho o hábito já antigo de lêr sempre nas entrelinhas. Assim, apartir de hoje, vou deixando aqui pequenas visões que me vão ocurrendo à medida que noticias ou factos vão surgindo e que me sugerem uma diferente ou inédita interpretação que vai sendo feita da realidade que nos rodeia. Assim, não passando tal análise de uma interpretação muito própria, o que eu disser, pode, no limite, até não ser verdade ou suscitar no leitor uma opinião diversa. Mas afinal é essa a verdadeira essência dos blogs.

Criatividade

O nosso PR (eu domino as siglas) diz que o futuro do País passa pela Educaçao (essa entidade mística). Nao passará só por aí, mas é um pilar fundamental. Bastaria somente que ela estivesse à altura do que foi. Cada vez que vejo a dança anual dos professores, e me lembro da tradiçao de educadores em Portugal, até o estômago dá voltas.

Passo a exibir alguns conselhos de Ken Robinson (por acaso também desconhecia) aos nossos "policymakers". É uma brilhante exposiçao, muito engraçada. Grandes professores... As ideias sao simples, mas cruelmente verdadeiras.

Como é que dizia o tipo dos cabelos? Da teoria da rotatividade? Do MC ao cubo? "A criatividade é mais importante que a inteligência"? É isso mesmo, bacano! Esse gajo é que era!



A propósito: "If a man speaks his mind in the forest, and no woman hears him, is he still wrong?". Hilariante.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Ancora Il Lato B

Ma ancora la polemica sul fondoschiena? Vi farò la domanda: questo paese esiste veramente?!

Já sei que eles têm os seus defeitos, e parece que adivinho alguns torcer de nariz naquele jeito luso-snob. "Isto em Portugal nunca era admitido". Como se fora das luzes nao fossem admitidas coisas bem pobres de espírito. A discussao nao é uma folia adolescente, começou mesmo nos séniores - a deles é uma cultura que assume mais facilmente o corpo. É caso para dizer - incorpora-o. E a reaçao das "ragazze" à discussao? No mínimo participativa, pedagógica.

Alguém diz desse lado "alienaçao". Sim, eu ouvi perfeitamente, nao diga que nao. E é algo verdade - mas há alienaçoes e alienaçoes...

Senhores (e senhoras!), convenhamos - é tocante a honestidade italiana em quase todos os assuntos do corpo. Eu gosto de ser português, a sério, mas às vezes pergunto-me se algum dia verei essa enorme e fantástica alma que só nós portugueses, temos. Diz que a coisa vem aos ciclos, Descobertas para ali, Independências para acolá. Às tantas somos normais, normalíssimos, como eles, e andamos aí a fingir que nao. Riam-se, ao menos!



P.S.: Riam-se, que a peça está brilhante. "Come ti sei classificata?" (à miss Italia) "Ehh... Prima". Malandrecos. Um dia ainda hao-de chegar ao nível de um Êxtase. Se nao fossem os Gato Fedorento eu emigrava (em termos de consumo mediático...).

Cantigas De Amigalhaço

Lembro-me de um texto de Miguel Esteves Cardoso em que ele distinguia o amigo do amigalhaço. Verdadeiramente, só me lembro da primeira distinçao (a quantidade de ligaçoes). O que de cada espécimen se segue, é da minha lavra.

O amigo tem somente uns quantos seus amigos, afinidades de carácter verdadeiras. Sua é uma amizade que vem de muito cedo ou uma amizade por conjunçao de individualidades, de respeito mútuo. Partilham experiências que nao podem partilhar com mais ninguém, e a prova do elo que se forma está nessa confiança. Nao há crime maior que quebrar essa fidelidade.

O amigalhaço é o que tem vários "amigos". Com todos fala do mesmo modo, nao faz hierarquias. Tem um plano mais ou menos consciente - o de nao hostilizar ninguém, perseguindo embora seus instintos egoístas. Quer manter todos os canais abertos - quem sabe quando pode precisar deles? No seu cérebro há uma senaçao de poder e possibilidade. Nao se zanga com nenhum, nao se ofende com nenhum, tenta nao ofender também. Mantém uma distância confortável, e nao partilha viveres íntimos com nenhum, embora a sua intimidade seja muitas vezes sacrificada a esse projecto de "network". A todos canta cançoes, a todos se acomoda, a todos conhece os dados, os quem, os quês. Está tudo bem armazenado. A sua paciência é uma preciosa arma na velocidade da vida dos outros. Passa pela taberna como pelo salao, o seu propósito nao pede compromisso - só adaptaçao.

Direi que nem por um dia, nas minhas relaçoes pessoais, me esqueço dessa singela diferença entre o amigo que respeito e o amigalhaço, que, contas feitas, tem em mim um rival que nunca suspeitou.

Ritornello Do Engate

Uma amiga diz-me, com toda a tranquilidade: "Eu nao gosto de ter que ser eu a falar. Gosto que seja o rapaz a fazer a abordagem". Rio-me para mim. Mas há alguma rapariga, mesmo alguma mulher, que nao pense assim? É o ritornello de sempre...

"Mas...". Espera. Vem aí um "mas"? "Mas... nao gosto que eles venham com aquela conversa da treta do engate. Nao gosto de topar logo o que eles querem". Cada vez me ria mais comigo - como é certo o refrao dessa cançao que todos tentamos, melhor ou pior, cantar!

Nao resisti a falar-lhe sobre esse teoria difusa, desse personagem também ele algo difuso,: o paradoxo do engate.

Great Expectations

Dou comigo a pensar como evoluiu a vida no Campo em Portugal. Noto que as pessoas têem, tiveram, acesso a coisas com que nunca sonharam. Noto-lhes mesmo os tiques de novo-rico. Mas agora, o poço tem vindo a secar, a floresta já nao dá tanto quanto dava, a construçao está saturadíssima. Cria-se entao esta situaçao de existir nesta geraçao, inusitadamente, maiores expectativas, e menos valorizaçao do trabalho. Justamente quando a economia parece ter bastante menos a oferecer.

É como se, tendo sido levantadas da pobreza, as pessoas pudessem quase reclamar "Entao e agora? Foi para isto?". Como o teria dito Salazar: Ignorance is bliss (embora eu discorde, acho que vale sempre a pena - agora, que há desafios importantes, há). Pergunto-me somente como se vai dar a volta à coisa.