sábado, setembro 20, 2008

Voz da Cidade: Quando A Estética É Uma Ética

Acabei de ver (acreditem, não é costume) o 'Voz do Cidadão' da RTP1 conduzido pelo institucional Paquete de Oliveira. Vi, muito simplesmente, porque tratava do 'Liga dos Últimos', nomeadamente das reclamções de alguns portugueses em relação ao mesmo.

Curiosamente - ou talvez não - foram entrevistar somente portugueses urbanos, citadinos. Entre vários deles perpassava uma assumida vergonha por ver algo assim na televisão. Por verem portugueses que eles consideram indigentes, nesse submundo que é 'a província'. Há um resíduo de razão na crítica: alguns repórteres são obviamente sacanitas, e gozam mansamente das pessoas que entrevistam, por as acharem 'cromos'. Mas, meus caros, fossemos a avaliar as reais razões porque fazemos tanta coisa na vida, sobretudo um projecto artístico como é um programa temático de televisão e ficaríamos seriamente desiludidos.

Na minha opinião o programa é brilhante. É fresco no panorama televisivo. É bem feito. É certo que captura a gente de aldeia. Mas são perfeitamente ignorantes os portugeses urbanos que os consideram indigentes, e que têm mesmo repulsa em os verem (pergunto-me se o problema será eles existirem ou serem vistos) na televisão. Percebam de uma vez: as pessoas do Campo não se exibem tanto como as da Cidade. Não são tão presumidos. É certo que há pobreza também. Mas sobretudo não há necessidade de qualquer pseudo-estética que seja.

A verdade é que, entre aquela gente que tão brutamente fala, e tão mal veste, há portugueses que, em vários casos, vivem melhor que os urbanos que perturbam pela sua presença na televisão. E que têm mais dignidade que eles - sim: mais dignidade. Porque é mais digno uma vida rural que uma vida de funcionário em teias de hipocrisias, controles mútuos, contagens de quem é que come quem, de quem faz menos, e a quem toca a responsabilidade.

Eu gosto daquela gente. Conheço-a desde pequeno. Há de tudo, como em todo o lado. Eu não estou aqui em defensor dos oprimidos, mas sinto alguma ofensa. Não quero fazer de moralista com os outros, mas não posso admitir que eles o façam por outros meios. É fina a barreira entre a genuína preocupação social e o pequeno nojo travestido de caridade.

Apesar de tudo, prefiro os sacanitas que fazem o programa. Podem achá-los cromos e rir-se deles por dentro, mas não os desprezam assim. Vou continuar a ver o programa e a rir-me com el (ver aqui). A estética, meus caros, não é uma ética.

Zé Chunga

Até que enfim, alguém colocou aquele que é, para mim, o melhor (se me falhar a memória, estará, seguramente, no top3) dos sketches de Herman José. Outros tempos, suponho. Ainda se lembrarão, vocês, deste genial Zé Chunga?


"-Diz-me, qual é a tua profissão?"

"-Sou jovem. A minha profissão, sou jovem. E acumulo - com arrumador de carros."

"-Ah... um melómeno."
-E pah. Pisa. Aonde? E pah, pisa que isso deixa gosma!"

Quantas vezes não repeti este sketch. Falta do Boião também o "um rato, um rato!", do "vocês não explicam... a malta irrita-se".

Mexillone

Mas isto das canções italianas não é mania, ou presunção. O que não falta são êxitos de igual craveira na nossa história musical recente. Não digam que não.


E este novo sucesso, de um grande, e absolutamente impagável. Eis o grande Quim, no seu estilo. O mundo pode estar a acabar que o Quim continua no mesmo. É uma força da Natureza.

Splendido Splendente

A música, perguntam vocês, que não me sai da cabeça? É esta.

Cuidado que a Rettore está quase a sair do ecrã.



Vidas Inteiras, Como as Palavras

No metro, à minha frente vai um casal de velhinhos. Velhinhos, com todos os -inhos a que têm direito. Ele à minha frente, ela no primeiro assento do banco ao lado. Tinha apenas percebido neles aquela doçura de uma vida gasta, uma cumplicidade que só a Morte, num suspiro, separará. Ali, pareciam tão entregues um ao outro, tão iguais, mirrados, numa comunhão entre os outros, apesar dos outros, cuidando desses outros.

Perdido nesta impressão, a velhota olha para ele e diz-lhe, tão simplesmente: "De condução é o problema do trânsito. Aqui é sempre esta merda."

Ainda pensei estar no meio de um filme. Será que o Stifler estava escondido em algum sítio?

Há alturas em que eu gosto muito, muito de ter um blog.

sexta-feira, setembro 19, 2008

La Casa Sarebbe Dove C'é Quella Donna E Varebbe La Pena

É decadentista até ao osso - mas a nossa sociedade está em clara decadência e nós recusamo-nos a aceitá-lo.

Colocado por Pedro Mexia no seu Estado Civil - far and away, o melhor blog nacional.



Decadentista embora, é bela demais esta composição. Não fiquem colados ao decadentismo meus caros, mas também - porque não - saibam apreciar a Beleza.

"(...)
Val la pena esser solo, per essere sempre più solo?
Solamente girarle, le piazze e le strade
sono vuote. Bisogna fermare una donna
e parlarle e deciderla a vivere insieme.
Altrimenti, uno parla da solo. (...)
"

Há tanto Cesare Pavese que falta ler.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Hate To Say I Told You So...

Eu, realmente, tenho a mania que sei coisas, mas darem-me razão logo no dia a seguir? 'Bastonadas nos dentes (ver aqui)'? 'Bastonadas nos dentes'? Isto dito por um dirigente do Catania (Sicília). Que acha uma falta de respeito Mourinho dizer que podia ter ganho por 5-1, mas que estas 'bastonadas nos dentes' não são 'incitamento à violência, apenas um modo siciliano, colorido, de convidar Mourinho a ter respeito pelos outros.' ("Nessun incitamento alla violenza, ma soltanto un modo di dire colorito siciliano per invitare Mourinho a avere rispetto degli altri").

E há mais:

"Poteva evitare di dire ciò che ha detto e rispondergli sarebbe troppo facile. Dico solo che noi non siamo un popolo che si può imbonire con le chiacchiere e quindi Mourinho la smetta di fare il chiacchierone. Mourinho farebbe bene a guardare i suoi problemi, a quanto costa lui e la sua squadra alla sua società. Mi auguro che vinca perché se non vince, si deve prendere la sua bella valigetta e andarsene via al suo paese".

Basicamente: 'não te armes em chico-esperto, Mourinho, ou então pega na mala e andor para o teu país'. Nada meiguinho, hein? Mas, de novo, Mourinho foi avisado por este blogger.

P.S.1: A primeira reacção é a de ir lá defender o Zé. Mas Mourinho está - tenho-o repetido várias vezes - a ser estúpido. Aquele estilo vai muito mal com Itália. Agora, há uma diferença fundamental: é que Mourinho tem o direito a ser estúpido, mas ninguém - ninguém em nenhum país que seja - tem o direito a ameaçar a sua integridade física. É uma ligeira diferença.

P.S.2: Quando Mourinho regressou ao Porto, há algum tempo, depois de ter ido para o Chelsea, muniu-se de guarda-costas. Na altura terá dito qualquer coisa do género 'quando se vai a Palermo é preciso protecção'. Irónica, esta vida. Quem sabe não tenha que ir agora à verdadeira Palermo, com verdadeira protecção.

Mou: Fino Adesso

Mourinho (ou Morigno, Mou) so far: uma supertaça ganha com sorte, um empate e uma vitória em casa com o Catania, mercê de 2 autogolos. Bem sei que nesta era furiosa todos querem logo tudo, quando uma equipa demora a formar (mas é também esta era furiosa que os faz milionários do dia para a noite, so...). Mas é preciso Mourinho estar ciente de uma coisinha, que ele despreza da maneira como trata todas as nações da mesma maneira: assim que ele falhar (e mesmo que não falhe, baste que não entusiasme ou não 'pague' no campo os cheques que passa com as bocas nas conferências) eles saltam-lhe para cima - que nem lobos. A posição de 'allenatore' é, em Itália, muito... 'speciale'. E ele está na equipa certa para ser um treinador estrangeiro, mas na errada para levar com os ódios das outras todas... E recordemos que o Inter vem de ser campeão, numa época a jogar com autoridade, está tudo este ano contra eles. Donde...

Vamos crer que não. Que tudo vai resultar bem. Que o Inter vai ganhar, jogar bem, que Mourinho vai ser inteligente o suficiente para ser mais 'mellow', mais diplomático, menos cortante. Mas que ele foi avisado neste blog há já bastante tempo - lá isso foi.

P.S.1: E que Scolari lhe está a dar, no Chelsea uma chapada de luva branca, a ele e a muita gente (incluindo este modesto 'opinion-maker'), lá isso está.

P.S.2: Quem sabe se, na verdade, esses fenómenos Mourinho e Ronaldo dependeram muitíssimo mais das suas equipas Chelsea e Manchester United para o seu sucesso que aquilo que pensam? Ui... E se o fenómeno da selecção portuguesa dos últimos tempos dependeu muitíssimo de Scolari (Ui!: 'Eles fartavam-se de dizer mal do homem, mas o certo é que...').