segunda-feira, outubro 27, 2008

De Torga a Obama

E pronto. Vamos lá então para a última semana e tal dias antes do primeiro patamar de solidez, a primeira definição. E então seguir para o próximo problema. E vou ter que publicar este poema de Torga outra vez. Espero que em despedida deste 'zeitgeist' (espírito do Tempo).

Dies Irae

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!

Miguel Torga (1907-1995)