quarta-feira, dezembro 31, 2008
Olivus 2008: Jornal/Revista/Colunista
Olivus 2008: Televisão
Olivus 2008: Filme do Ano
terça-feira, dezembro 30, 2008
Olivus 2008: Livros do Ano
Tendo passado pela lista análoga da 'Actual', do 'Expresso', e reconhecido igualmente pouca não-ficção (creio que também nenhum título de Ciência ou Filosofia) vou, para os meus livros do ano, escolher dois tomos que são, justamente, não-ficção.
Faço-o, antes de mais, pela questão elementar: foram, que me recorde (e do pouco que infelizmente li), os que mais me marcaram. E depois, claro, sempre dou a 'pinta' de ler imenso - seja de ficção ou não-ficção. "Keeping up appearances". É sempre importante.
Os livros pertencem ao mesmo nível de qualidade, estão ex-aquo, apesar da numeração.
1. "Outliers", de Malcom Gladwell
É difícil encontrar uma etiqueta temática para este livro. Psicologia pop? Talvez. Ensaio/ciência sociológica popular? Quem sabe.
Tal como nos seus anteriores 'The Tipping Point' e 'Blink', Malcom Gladwell volta a produzir um livro surpreendente, criativo na abordagem, compilando uma série de factos dignos de nota numa teoria. Acerca de quê?, perguntam vocês - e bem. Pois, acerca de algo que a maior parte das pessoas procura na sua vida: sucesso.
'Outliers' é o termo inglês que se refere ao ponto estatístico que escapa à média. No caso concreto da análise de Gladwell, os casos das pessoas com sucesso nas suas vidas, consensual. Quais são os factores que são comuns a todos os casos especiais, a todas as pessoas brilhantes e que 'conseguiram'? A um Bill Gates, a um atleta, a um cantor famoso, etc.? Nas palavras de Gladwell, qual é a 'ecologia' do sucesso?
Gladwell identifica alguns factores comuns aos conjuntos de casos que apresenta. Alguns muito interessantes, na verdade. Como o 'efeito Mateus' (a partir do episódio bíblico), que ocorre com os atletas - e alunos - nascidos nos primeiros meses do 'cut-off' anual para a segmentação dos grupos. Essas crianças têm maior probabilidade de ter sucesso na sua vida (dado igual componente genética, quantidade de trabalho, etc.), concluiu. Acontece que, nas primeiras idades, uma diferença de poucos meses é muito significativa. Assim, um jogador de futebol, por exemplo, que nasça em Janeiro (supondo que o 'cut-off' de captação é em Janeiro) tem maior probabilidade de evoluir para um profissional do que aquele que nasce em Dezembro. Ocorre aquilo que se chama uma 'self-fulfilling prophecy', ou um 'feedback positivo', uma espécie de 'vitória busca vitória', de tal forma que o menino Aquário - mesmo se não for à partida o melhor, se torna o melhor, em virtude dessa série de sucessos acumulados.
Os factores enumerados, que incluem também (que pena que a cultura de Gladwell não chegue aí...) uma outra versão da célebre frase de Gasset: 'El hombre es él y su circunstancia', seja na oportunidade em termos do tempo histórico para se nascer, seja no contexto cultural que nos marca (sobretudo na mudança desse mesmo contexto, como no caso de um emigrante, ou na vantagem de hábitos antigos em tempos modernos; sobre esta última, uma curiosa reflexão sobre a cultura do arroz no espírito trabalhador do chinês, e no mandarim a conferir vantagem em Matemática).
Sejamos claros: haverá algo no livro que é superficial, seguramente. Mas o caso que Gladwell expõe é suficientemente interessante para ser atentamente lido. É como uma colecção tratada de estudos científicos e livros que apresentam ideias diferentes sobre a realidade, que fazem notícias de jornal - desconexas entre si.
Porquanto haja o perigo de falibilidade de alguns postulados após a sua análise, 'Outliers' suficientemente 'thought-provoking' para merecer este prémio. É criativo, neo-prespectivista (inventei agora, porque eu também posso ser criativo), e está claro, bem escrito o suficiente para que se o leia de uma ponta à outra.
Nota: se bem que publicado recentemente, este livro está já disponível na tradução portuguesa.
2. "The Drunkard's Walk", de Leonard Mlodinow
Muitíssimo mais consistente no seu tema é este livro de Leonard Mlodinow, que trata sobre a aleatoriedade nas nossas vidas. Por mais que pareça conversa de bêbado a sair da taberna (embora não seja daí que venha o título), as nossas vidas são mesmo muito condicionadas por fenómenos aleatórios, e, pior, nós condicionamo-las por fenómenos que a nossa mente crê seguirem um determinado padrão, quando a Ciência pura e dura prova a sua aleatoridade. O grande problema - o de sempre, talvez - é que, enquanto seres humanos, não conseguimos 'funcionar' sem a certeza do controlo - e a nossa sociedade é simplesmente aleatória, complexa demais, para que a possamos inteligir. Não somos nós que não encontramos o padrão - ele simplesmente não existe.
Ninguém quer acreditar nisso, claro. Mas Mlodinow, começando com uma (refrescante, para mim, já que era esse o único tema em Matemática de que eu gostava) revisão sobre Probabiliades e Estatística - um pequeno 'primer' - dá depois exemplos muito consistentes, que abarcam a Medicina, a Justiça, a Finança, mesmo - citando mesmo algumas fontes comuns a Gladwell - o sucesso pessoal, e que expõem a miserável incerteza das nossas vidas neste complexo entorno hodierno.
O livro está bastante bem escrito - é rigoroso, lúcido, como próprio de um cientista - mas igualmente espirituoso. Pessoalmente, achei-o brilhante, e muitíssimo esclarecedor. Afinal, eu sempre tive essa teoria a priori: a sorte, a 'Lady Luck', dá 'nós' no caminho que nunca pensaríamos possível, com a boca cheia de 'trabalho', 'esforço', 'qualidade intrínseca'. Não seria por outra razão que tenho em boa memória filmes como 'Sliding Doors', ou 'Match Point'.
Completo, lúcido, a espaços impressionante. Ainda bem que tive a sorte de comprar este livro.
Ambos lidos no original inglês, como deve ser; quilometragem em Inglês: 909 páginas.
Olivus 2008: Publicidade
Olivus 2008: Figura do Ano
terça-feira, dezembro 23, 2008
Boa Acção do Dia 3
Boa Acção do Dia 2
segunda-feira, dezembro 22, 2008
Miss RE 2008
Boa Acção do Dia 1
sábado, dezembro 20, 2008
A Dialéctica do Espírito: Um Conto de Natal
quarta-feira, dezembro 17, 2008
Dodge This
terça-feira, dezembro 16, 2008
Bucólica
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.
Mário Soares
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Também Vosso
Algo Que Virá Com Alguém
O Custo de Vício I
Satisfeito Com a Sua Companhia
La Vera Sfida
domingo, dezembro 14, 2008
Dado Adquirido
O 2º Turno
Com que critério os vou dividir, logo verei, mas o Generosità continua seguramente.
Desde já, começa nesse blog a série: "The Simple Life". Porque é bom rever a vida simples face às dificuldades da vida portuguesa hodierna.
Não resisto, porém, a incluir também no Generosità este delicioso sketch de Benny Hill - dos anos 70' - muito mais malandreco. Nesta nossa era de vulgarização do sexo (nada contra, mas a sedução era uma coisa tão bonita...), até podem chamar à coisa 'petit-bourgeois', que eu não me importo. Mas este 'Learning All The Time' é mesmo o meu Benny Hill favorito.
sexta-feira, dezembro 12, 2008
Elogio a Sophia
Sophia disse, creio, ser o (seu) Porto 'a nação dentro da nação'. Até lhe darei razão nessa fé, mas mais importante para mim será dizer que Sophia é a Língua Portuguesa dentro da Língua Portuguesa. Se se tivesse que começar do zero este nosso mágico idioma, seria sempre com ela. Seria com a sua Poesia que se ensinaria Português a um marciano. Pessoa - se bem que igualmente pristino (ortónimo) - não é nunca tão sincero (ou não é nunca sincero), como Sophia. Sophia escreve e é. E por isso resume a enorme complexidade da Língua Portuguesa, sintetiza e comprime o universo. E traz luz sobre os nossos.
Uma Língua em Relevo
O alemão soa mal, sejamos francos. A princípio soa mal. Não é melífluo, antes áspero e bárbaro. Mas é a língua de Mozart e tantos outros génios. É uma língua que exige muito - muito - mais esforço, mas onde se começa, eu começo, a descortinar uma pequena ordem, e uma certa manobra - uma simplicidade aliada à criatividade.
Mas ainda parece muito uma língua seca, esferovite a ranger, cheia de espinhos, alfinetes. É uma língua em relevo, não é bidimensional - tem picos, tem exigências de que não abdica. É teimosa, caprichosa com o que é seu.
Mas este mais puro amante da latinidade há de a descodificar. Nenhum código linguístico é impenetrável - tudo depende do trabalho que nos exigirmos, realmente.
Ah, e depois do Alemão, ainda falta um idioma para fechar o círculo (se houver Saúde e disponibilidade*). Mas ainda é cedo (tão cedo...) para falar em 'depois do Alemão'.
*E, pelo andar das coisas, também Civilização, País como o conhecemos. Não é assim tão ridículo dizê-lo...
Give Me Good Numbers (Baby?)
Olha que bela surpresa natalícia.
quarta-feira, dezembro 10, 2008
Parabéns
Os meus sinceros parabéns a Paulo Bento, e desculpas no que se impôr. Continuarei crítico - sempre -, mas esta primeira passagem aos oitavos-de-final chega a coroar um pouco o óbvio: que Paulo Bento tem já o seu modesto lugar na História do Sporting. Parabéns, portanto.
Espero que ele consiga fazer uma coisa tão simples - e tão sportinguista - que é o de acolher a nova geração. De ir buscar - como tem feito com Pereirinha, Carriço - mais e melhor prata da casa, preparar o Sporting dos próximos anos.
Politicamente Correcto ou Amizade?
Ora, é claro que existe aí um grande paradoxo, uma grande injustiça. Não há porque desculpar tudo aos nossos coetâneos (nem aos nossos pais, já agora, porquanto a gratidão se imponha). A amizade não é desculpar tudo - a amizade é justamente uma relação de confiança em que as pessoas cumprem regras, inevitavelmente - ou ela rompe-se. Todo o contrário, portanto. Será que, quanto mais tendemos a aceitar cegamente tudo nos nossos co-geracionais, mais tendemos a criticar gratuitamente, por exemplo, os próprios pais?
Será que conseguimos avaliar por um qualquer padrão que apliquemos a pais, e amigos - mas antes de mais a nós mesmos?
Não vale a pena deixar coisas básicas para ser 'aceite'. Mais vale estarmos sós.
terça-feira, dezembro 09, 2008
Um Orlando Bloom de Distância
Entrudo Antes de Quaresma
Há que trabalhar para sair por cima. Na dúvida, é só copiar o Mou (que as minhas fontes confirmam ser leitor do Generosità. Sabe pouco, sabe...).
segunda-feira, dezembro 08, 2008
Cuidado Não Te Apanhem a Chorar
Dedicado a essas pessoas de hoje. Poema de Jorge Sousa Braga.
Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse
oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de
África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo uma mentira
que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de
rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do
Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr uma pérola que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada
de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca
Jorge Sousa Braga
domingo, dezembro 07, 2008
Co/Re-Incidências
Exílio
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades.
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
Ansiedade
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...
quinta-feira, novembro 27, 2008
A Música
Um Novo 25 de Abril: O Desastre Anunciado
Ainda para mais que agora começa a aparecer (veja-se a nova clínica Maló na Madeira) aquilo que eu desde há muito defendo como um cluster fundamental para o país: o turismo clínico. Pessoas que vêm ser operadas a Portugal, com todas as condições. Se temos uma boa tradição médica, e uma grande indústria, elementos para turismo, porque é que, infelizmente, não temos líderes com o mínimo de visão, para juntar as duas coisas?
Mas, realmente, um novo 25 de Abril seria desastroso. Mas, caramba, se já os romanos diziam que 'não se governam nem deixam governar', que novidade é que haveria numa outra revolução?
quarta-feira, novembro 26, 2008
Inteligente
'He Needs To Grow Up'
Excerto deste artigo, de um colunista italiano no 'The Times':
"Brazil revel in Ronaldo’s on-field humiliation
It was not a good week for the man who is likely to collect all the World Player of the Year awards over the next month or so. Cristiano Ronaldo walked down the tunnel at Villa Park at the weekend trading abuse with the crowd after a lacklustre performance. But that was a pleasant evening compared with what he had gone through three days earlier.
On Wednesday, Brazil thrashed Portugal 6-2 in Brasilia and the home side seemed to take unnatural pleasure in humiliating him. One incident, which is already a classic on YouTube, stands out.
Thiago Silva, a central defender no less, juggled the ball over Ronaldo’s head (a classic “sombrero”) when the Manchester United forward tried to press him after an ill-advised throw-in towards the Brazil goal. Ronaldo was incensed and, later in the match, he launched a terrifying tackle at his opponent.
“Ronaldo is just a malicious guy, if I hadn’t jumped out of the way, he would have broken my left leg,” Thiago Silva said. “He lost control because we totally snuffed him out of the game.” Ronaldo did say sorry for the tackle after the game, but Thiago Silva was having none of it. “I’m not going to accept an apology from a guy like that,” he said. “He needs to grow up.”
Supporters in Brazil are loving all this. Normal service has resumed: once again, it is the men in green and gold who are humiliating their European opponents with their otherworldly skills and flair. That Ronaldo, a player who has been accused of showboating in an attempt to humiliate his fellow professionals, is the victim only makes it all the more delightful in their eyes."
Uma TV Catita
terça-feira, novembro 25, 2008
Romantismo
Ao ler a descrição, parece o meu estilo de português: mais preocupado com mulheres, vinho tinto e música, cultura. Afinal, antes deste País ser Império, era uma nação de trovadores.
segunda-feira, novembro 24, 2008
O Fato de Treino Confunde Tudo
Memória, Gratidão, Esperança
Só a Ciência, tão magnífica, suprimiu a dor ao parto, evitou uma morte. E outra. E outra morte evitou. E ainda outra.
Mil vezes a Ciência venceu a Morte. Milhões e Milhões de vezes. Como a honramos hoje? Estamos perdidos nos nossos pequenos, egoístas mundos. Não sabemos os princípios - nem sequer as histórias. E é triste a vida assim. É triste a vida presa por SMS, televisão, computador.
Pessoas morreram para que tu- sim, tu - e eu possamos hoje estar vivos. Pessoas dedicaram-se a um mester - científico, médico. Não os oiças quando falam de guerras e dinheiros. Falam do mesmo de sempre... Se não estás hoje numa cama, com dores que não percebes, a agonizar, agradece ao milagre da generosidade humana: à Ciência, à Medicina. Pensa só um segundo nisto. E depois vai.
Poema para Galileu
Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano, aquele teu retrato que toda a gente conhece, em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce sobre um modesto cabeção de pano.Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício. Disse Galeria dos Ofícios).
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença. Lembras-te? A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria... Eu sei... Eu sei... As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia. Ai que saudade, Galileu Galilei!
Olha. Sabes? Lá na Florença está guardado um dedo da tua mão direita num relicário. Palavra de honra que está! As voltas que o mundo dá! Se calhar até há gente que pensa que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileu, a inteligência das coisas que me deste. Eu, e quantos milhares de homens como eu a quem tu esclareceste, ia jurar - que disparate, Galileu! - e jurava a pés juntos e apostava a cabeça sem a menor hesitação – que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileu? Quem acredita que um penedo caia com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia? Esta era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileu, daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo e tinhas à tua frente um guiso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo, que parecia impossível que um homem da tua idade e da tua condição, se estivesse tornando um perigo para a Humanidade e para a civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscava os lábios, e percorrias, cheio de piedade, os rostos impenetráveis daquela fila de sábios. Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas, desceram lá das suas alturas e poisaram, como aves aturdidas - parece-me que estou a vê-las - nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual conforme suas eminências desejavam, e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal e que os astros bailavam e entoavam à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma, aquelas abomináveis heresias que ensinavas e escrevias para eterna perdição da tua alma.
Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo, que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços, andava a correr e a rolar pelos espaços à razão de trinta quilómetros por segundo Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos, por isso era teu coração cheio de piedade, piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso, estoicamente, mansamente, resististe a todas as torturas, a todas as angústias, a todos os contratempos, enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas, foram caindo,
caindo,
caindo, caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente, na razão directa dos quadrados dos tempos.
Rómulo de Carvalho/António Gedeão (1906-1997)
(nota: bold meu)
Vivaldi ou a Higiene da Mente
Eu gosto de um calão humorístico, mas a barreira com coisas graves pode ser fina demais para se não ter cuidado. Não falo de Vieira, propriamente, antes generalizo.
Mas há que, hoje, desintoxicar das palavras. Façamo-lo com Vivaldi. Façamo-lo pensando em Veneza.
Um Mundo Catita
Manuel João Vieira é... 'hardcore'? Não exactamente. Burgesso? Hum... Também não tanto. É um performer - com mais talento que se pensa. Talvez o que ele goste é de chocar, de pôr a pensar que ele é, resumido, 'hardcore', burgesso.
É transgressivo? Certamente. Mas é genuíno. E é um estilo. Para rir, meus caros, não há melhor. Só nesta apresentação dele na TVI eu ia caindo da cadeira.
"Artista polimórfico, vocalista dos Ena Pá 2000, líder espiritual dos Irmãos Catita, é também candidato à Presidência da República. Nasceu em 1960 e em 1962, e afirma ser a reencarnação provável de Oliveira Salazar, de Ramsés II, e de outros ilustres conhecidos. Fez o doutoramento em Ciências Políticas na Universidade de Berminton e uma pós-graduação em Cretinologia Marítima pela Universidade do Pico nos Açores. "
A sério, vejam este 'Mundo Catita'. Que me perdoem os leitores, antes - as leitoras que fiquem ofendidas com o estilo... Que vos dizer? Portugal também é Vieira, é assim. Ou mesmo, quem sabe - Vieira tem a coragem de ser mais Portugal...
domingo, novembro 23, 2008
Das Bazófia
O Ponto de Inflexão
Mantenho o que disse. Mas é chegada a hora de lhe dar os parabéns por estar a chegar lá, ao ponto de inflexão: aqui.
E Itália, malgrado todos os problemas que apontei, tem uma característica excelente: se se faz parte do seu 'star system', se se conquista o respeito dos italianos, também é uma coisa muito bonita - gloriosa, mesmo.
sábado, novembro 22, 2008
Queixo Todo Marmelado
sexta-feira, novembro 21, 2008
A Bola, Essa Amante
Aprende a ter essa amante pela vida - quaisquer que sejam os teus amores.
quinta-feira, novembro 20, 2008
Sujou - Limpou!
Cada Um Ouve o Vox Popoli Que Quer
O Portugal Queirosiano
Vi hoje declarações suas a dizer que, agora sim, está elucidado quanto aos jogadores e à equipa. Passe a deselegância, e o bode-expiatorismo, atentem nesta maravilha: agora que está a pouco de não garantir a qualificação, sabe qual a equipa ideal.
Sem Passado, Com Ecrãs
terça-feira, novembro 18, 2008
Quando Se Escrever Sobre Este Tempo
Mas uma grande parte que vem de outro sítio. Vem da demissão. Da carga que deixam aos mais novos. E depois de um 11 de Setembro, duas guerras (mesmo se de outros, sabemos que elas estão lá), terrorismo, crise económica portuguesa, país envelhecido, 'realpolitik', supressão de valores, ausência de Justiça, onda de crimes, mais crise portuguesa. E, depois, uma recessão mundial.
Jumentos podemos alguns, às vezes ser. Sou o primeiro a dizê-lo. Mas é demasiada a carga sobre os nossos ombros. É essa a miséria de Portugal, pelo meio das suas qualidades: não tem homens, não tem, subitamente, gerações. Velhos fazem vidas de novos, novos fazem vidas de velhos.
Mas são muitas pontas soltas para atar. São muitas. Não admira, portanto. Não admira.
E a culpa, nos melhores entre nós, não é nossa. A culpa não é nossa.
Talvez não seja demais escrevê-lo, dizê-lo outra vez: a culpa não é nossa.
A Senhora do Tempo
Não, o que fazia falta para organizar a vida era mesmo o último patamar da gestão do tempo: uma namorada. Ela a mandar no nosso tempo, claro.
segunda-feira, novembro 17, 2008
Brisa de Goleada
Deve ser o calo do meu dedo grande esquerdo que já não funciona. Embora esse dedo nunca tenha sido muito nacionalista....
The Things You Didn't Do
(Mark Twain)
Com ou Sem... Pecado?
Porque, infelizmente, as pessoas não são todas iguais, lá tiveram que meter as noções de Pecado e de Culpa para o meio da coisa. Males necessários...
Quem sabe se, sem exageros de Amor, ou exageros de Pecado, não estaremos no estado mais natural e puro de algo que tentam sempre complicar?
Generosità
Com o ligeiro atraso: Parabéns, 'Generosità'! Muitos Parabéns! 2 anos e 1148 posts depois!
E pensar que devia durar só uns dias, semanas no máximo.
Mas vale a pena, vale sempre a pena. Vale sempre a pena um projecto assim - mesmo que pequeno. Dinis Machado escreveu um dia: "O tempo não era o melhor. Nós é que tínhamos juventude". Não sei ainda o que vale o meu - o nosso - tempo. Mas não abdiquei, não abdico, deste projecto.
"Quando il povero dona al ricco, il diavolo se la ride".
sábado, novembro 15, 2008
E Tu e Eu o Que é Que Havemos de Fazer??
Talvez... Ciência. Talvez Ciência.
Muito atento a este ciclo de conferências, sobre o grande homem. Falhou-me hoje, mas não vão falhar todas.
E a esta exposição, claro.
Ou então fiquem em casa. Está a dar o Telejornal - vai falar-vos da crise económica. E de política.
Ciao.
Fundamental É Ser Castigador
sexta-feira, novembro 14, 2008
Eine Kleine Problem - Und Ein Klein Lösung (Solução)
A Presidência da República ficará, pois, para outra encarnação.
Mas começei a engendrar a teoria de que este fluxo asneirento derivava - estão comigo? - da natureza mais agreste do alemão que começei agora a estudar. Como tive exame hoje - podia ser por aí que a coisa se convertesse.
Eh pah... são as minhas teorias (diz inclinado para trás na cadeira, e tirando cera dos ouvidos - eis como se degrada um jovem: começa pelo Português e vai por aí abaixo).
Bom, mas a coisa começou a aborrecer-me. Não há direito. Uma civilização como a alemã, que nos deu tantas coisas tão sublimes. E nem só à Claudia Schiffer e à Heidi Klum me refiro.
Talvez, antes de mais, ao inebriante génio de Wofgang Amadeus Mozart (bem sei, austríaco, - mas vamos usar a bitola da língua somente). Até o podem dizer usurpado pelo 'mainstream' (eu também não sou um especialista, se bem que nem menos energúmeno musical) se apoderou dele, que eu estou-me borrifando (vêm a agressividade?). Mozart é Mozart é Mozart. Inconfundível, incomparável - e insuperável.
Dedicado ao Fred, se ainda ler este blog, o 'Eine Kleine Nachtmusik' ('Uma Pequena Música Nocturna'), de que me falou um dia.
Não - convém pores mais alto. Bem mais alto. Ali em cima, olha lá.
É, não é?
As Pessoas Sensíveis
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
Let's Go, Baby! Let's Go!
Poderá haver alguma especulação nisto que vos apresento. Mas a especulação é mesmo assim. Não é uma certeza.
Geração Faroeste
Veio então a "geração rasca" abrir terreno, depois a minha - talvez mais certinha, em ligeira "correcção" - e seguiram-se cerca de duas gerações... insípidas. Alheias ao impostante. Imersas no fútil. Vazias. Passando de SMS pela vida. Sem referências, para além do Ronaldo. Cresceram sem limites.
Mas dou comigo a pensar que esta geração nasceu numa era que tecnologiamente potencia e multiplica a obscenidade da... estupidez.
E tenho como única explicação, naturalmente, o próprio país. Esta geração nasceu num Portugal onde não existem regras. E, sobretudo, onde não existe castigo.
Assim, pois, nunca se sentiu limitada. Se quem faz crimes não é castigado - porque é que eles haviam de ser. Se não há temor, não vergonha. Se não há vergonha, tudo é permitido. Quem diz coisas estúpidas, não tem vergonha nisso. Quem faz coisas estúpidas não tem vergonha nisso.
Esta geração é um subproduto do seu tempo. Nasceu num país sem regras, e sem contornos. Não acredita na lei - na escrita e na não-escrita. Nasceu no Portugal do Faroeste. É uma geração de Faroeste.
terça-feira, novembro 11, 2008
Em Sede
As Linhas
'É um Big Mac, um Cheeseburger e uma linha de crédito, s.f.f.. Ah - e um pacote de batatas médio.'
'Então mas queres ir dar uma volta? Tenho uma bela linha de crédito só para nós, sabes...?'
'Viste o Sporting ontem pá? Não há direito. Pior que os árbitos são os fiscais de linha de crédito, pá. Impressionante.'
'Mas não vais à festa?' 'É que não tenho nenhuma linha de crédito para levar...'
Agora a sério, se anda a sair disso quentinho todos os dias, eu precisava de uma. Honestamente. Eu sou uma PME - este blog tem os seus custos. Mereço alguma consideração.
Kein(e)... Deutsch(e)!
Acho que não estou ainda a dar pontapés à língua - mas nunca se sabe. É tão bonito fazer piadas foleiras noutra língua.
Isto às tantas precisava de umas explicaçõezitas para o teste... Hum...
Lehrerinnnen! (Professoras!).
Não - não é só a BMW... Pois não.
Como é que se diz 'tardo-adolescente' em alemão...? Sei lá. Porquê?