sexta-feira, novembro 09, 2007
Self-Respect
Elogio da Privacidade
Há, na minha geração, uma espécie de bandalheira generalizada em grande parte do que diz respeito à intimidade. Faz parte da juventude, poder-se-á dizer. Mas é preciso um cuidado extremo. Nem todos os jovens são "jovens" - aliás, são talvez cada vez menos, nessa definição idílica.
Mas voltando à intimidade, note-se a referência aos blogues. Eu, já escrevi antes no Generosità, sempre parti de um princípio: por mais que eu tente conter o blog a um círculo de amigos, pela dinâmica das redes, ele acabará sempre por ser lido por quem não me interessa. Daí as 3 regras de ouro:
- Por mais intimista que possam parecer os meus posts, nada neles revelo que seja comprometedor, nem se publicarão fotos dos seus autores
- Não comento os meus posts com quem quer que seja. Eles vêm assinados Pedro Duarte desde o dia 1, e há uma razão para que assim seja. Os meus amigos que perdoem, com eles falarei sim - ainda com a reserva de direito ao silêncio
- O blog não terá caixas de comentários, que possam ser usadas por quem insinue algo, por quem relacione com algum aspecto da nossa personalidade um post, por quem acuse sob a capa do anonimato. E, acreditem, tenho pena dos interessantes comentários de amigos que nunca chegarei a ler (e que estariam em clara maioria em relação aos anteriores, sei-o bem)
Partamos da premissa: a privacidade é um bem absoluto. Faz parte de um princípio de dignidade do ser humano que eu não admito seja posto em causa. Sobretudo por esses falsos "nacionais-porreiros", esses "tens-que-ser-cá-dá-malta", com discurso delico-doce e aparentemente inocente, sempre a pensar em mais que uma coisa ao mesmo tempo, sempre a pensar no mesmo. Ah, essa aparente serenidade, esse som da flauta a entreter a serpente... Como se eu não conhecesse isso de cor... Depois chamem-me bruto e mal-educado, que eu vivo muito mal com isso.
quinta-feira, novembro 08, 2007
A Friabilidade do Amor
"- Mas, querido, pensa bem…
- Não… Não há controle de qualidade possível. Fomos um fluxograma de produção, chegámos ao momento final.
- Mas não… Deve haver uma outra forma farmacêutica de resolver as coisas.
- Receio bem que não. Não teria estabilidade. Nem uniformidade de amor. Não fomos feitos para estar juntos – tu és hidrófoba, eu hidrófilo.
- Talvez uma emulsão…
- Não, não te emulsiones. Eu sei que é duro. Mas se tu prensares bem, verás que é o método mais correcto.
- Prometes que levigarás?
- Não sei. Senti-me muitas vezes um manipulado ao longo dos últimos dias. Por mais que o ocultemos da luz, o belo princípio activo que tivemos será degradado.
- Não vás…
- Desculpa, miúda. Sabes que fazíamos um grande efeito terapêutico juntos. Mas os outros exciupientes não ajudavam."
(Folias de farmacêutico... Eu culpo o tempo.)
Mulher Portuguesa
Sou um ser curioso. Gosto de saber o que se passa fora do ambiente por vezes intoxicante do nosso país. E junto-lhe curiosidade pelas coisas mais básicas e belas da vida. Donde, confesso, tenho curiosidade pelo feminino.
Mas sinto-me em paz com a mulher portuguesa, acho-a fantástica. E nós, homens, na vida, temos que decidir se ficamos com pena de não conhecer mais – ou com vontade de conhecer mais. A curiosidade existe em ambas as partes. É só preciso o golpe de asa.
Da Segurança
Em casa onde não hã pão todos ralham e ninguém tem razão. A insegurança provoca o desassossego, ultrapassam-se barreiras em folias e derrames de alma nunca antes concebidos. Às vezes, mesmo em casas com tanto pão, se ralha tanto, e escasseia tanto a razão. Ah, esse “comboio de corda a entreter a razão” – nunca saberemos quanto dependemos dele…
Housebroken
Bom Entendedor
Senti-me ofendido com uma pessoa por algo que eu soube ter dito há alguns dias. Ontem falámos e, num mero pormenor de conversa, ela pediu desculpa – tinha-se enganado. Não insisto no tema, não desenvolvo. Não relevo o começo nem celebro o fim. Percebo o tanto que significa essa nota na conversa. Aceito, desculpo, sigo em frente. Não se abordará mais o tema. Nem, realmente, eu tinha mudado antes o meu comportamento em relação a essa pessoa.
Não tenho temperamento para remoer mais as coisas, para ser irrazoável. Se me pedem desculpa, mesmo tão subtilmente, eu aceito, sem mais. Contas saldadas. Pratos limpos. “Tabula rasa”. Só não abdico da satisfação interior, do orgulho tácito de “bom entendedor”.
Club Morgadio
Dou comigo a constatar um facto curioso: a maior parte dos meus melhores amigos são irmãos mais velhos. E, estranhamente, os nossos irmãos mais novos têm traços comuns. São uns chatos, nomeadamente. Mas como explicar esta “supra”-irmandade de morgadios?
Afinal, quem sabe se essa noção de fado, como destino inevitável, não vem exactamente de uma tão simples razão como quais as pessoas com quem estamos nos primeiros anos das nossas vidas, e que crescem connosco? O destino decorre da natureza - mas a nossa natureza pode ser muito menos “nossa” que aquilo que cremos.
Pecado Original 21
A sua sensualidade é absolutamente natural, epidérmica - respira-se a todo o segundo, não requer esforço, nem pretende insinuar mais que esse estar bem consigo mesma. Casta é a mulher francesa no seu melhor. Assim sim, poderíamos falar da "grandeur da la France".
A Viragem aos 50
É cruel a natureza na sua inevitabilidade. Vejo perfeitamente que, em homens e mulheres, virar aos 50 é assunto problemático.
No outro dia fui a um congresso político com o meu pai. Pessoalmente, dispenso-os – fui arrastado. De entre a fauna do dito falámos com um alto quadro de uma empresa de construção de topo, que tinha ocupado lugar num governo daquele partido, e com um, julgo eu, membro da Junta ou da Câmara (que não era a do seu partido) de concelho obscuro. Um exemplo de cada extremo da cadeia alimentar, portanto. Arregimentámo-nos os quatro, e a certa altura fomos comer algo a um café próximo. Aí chegados, esperámos por um lugar no balcão, onde pautavam 3 raparigas, algures entre o normal e o vistoso, mas a que eu até nem prestara atenção. Eis quando começam eles a olhar, a cobiçar, a imaginar, e a libertar esse fantasma falando:
“Olha-me aquele **”
“Ah, tu só vês ***. És mesmo engenheiro – segmentas” [risos]
“Tchiii… Eh pah, as gajas agora andam cada vez mais boas.”
“Eu só queria ser como aqueles gajos que se casam com uma mulher rica. Só têm que *****!”
“Eh pah, eu se me ******* já ficava contente.”
E continuou a douta conversa. Eu estava surpreendido e duplamente envergonhado. Surpreendido porque apenas nos conhecíamos há pouco tempo – é normal os homens “avacalharem”, mas que pelo menos se conheçam, que mesmo o “avacalhar” tem limites e regras. Envergonhado porque trabalho com raparigas daquelas todos os dias, e sentia (parvamente?) que estava ali a trair alguém se participasse nesse “avacalhar” precoce. Não sou nenhum santo, mas também não me lembro de falar assim delas, vindo do nada. Envergonhado também porque eles deviam esperar que um “gajo jovem” como eu (?) pegasse logo na deixa – sentia-me a não respeitar também uma certa “solidariedade masculina”. Optei por elas (tenho feito muito essa opção, desgraçadamente), e aguentei como pude a bronca. A opinião com que de mim ficarem, que a guardem, por favor
Também a propósito da publicação de “Rio das Flores”, o segundo romance de Miguel Sousa Tavares, perguntavam ao autor porque insistia ele em tão vívidas descrições do prazer da mesa e do sexo. “São as duas coisas que os homens mais gostam de comer”, respondeu nestes moldes MST. O jornalista: “Isto vai ficar na entrevista”. “Desde que não seja no título…”.
Eu não conheço as estatísticas, mas aposto que muitos divórcios ocorrem dos 45 aos 55. Deve ser o período “prova de fogo” de um casamento. Se o casal a conseguir superar, suponho que a partir daí a viagem decorre sem grandes sobressaltos.
Voltar a Repicar Esses Discos
Parabéns!
Espero que continue como registo dos nossos dias, das nossas opiniões. Espero que continue como registo dos nossos tempos. Daqui a outros tempos, quem sabe, quereremos reler esses registos.
A Redenção do Castiço
Tanto nos esquecemos do "castiço" nestes nossos tempos ditados pela Imagem, pelos factóides internacionais traduzidos, por ansiedades prenhas de nadas. Talvez não fosse mau lembrarmo-nos dele uma vez ou outra. Faz parte da nossa alma, por muito que não gostemos de o admitir, - e nunca se pode viver muito tempo sem alma.
Bon Chic, Bon Genre
Uma das coisas que me chateia na minha geração é não saber – ou pelo menos não querer – vestir-se bem. Vejo trinta “gajos” com uma T-shirt sobre calças de ganga largas e ténis também relaxados. Mesmo a camisola estendida ao ombro (ao estilo campino), é mimetizado à exaustão.
É na diferença que está a beleza da vida. Senhores: experimentem variar aquilo que vestem. Arrisquem que tal possa traduzir algum aspecto da vossa personalidade (sim – por detrás desse “na boa” está também algum medo). Vistam-se bem. Inovem, combinem. Pessoalmente, adoro ver raparigas, mulheres, bem vestidas. É certo, adoro ver raparigas, mulheres em geral. Mas elas, quando se vestem bem, tocam o céu. E gosto do desafio que são homens bem vestidos – “onde é que ele arranjou aquela gravata?”, “pensava que aqueles sapatos seriam horríveis, mas realmente…”, “nunca tinha pensado nesta combinação”, etc.
Eu, confesso-o, já tive uma fase pseudo-intelectual-não-ligo-ao-estilo, (chegava a usar e abusar de ténis inomináveis). Depois, andava (e ando) de metro, onde o estilo é bem mais apreciado – mas por piores razões. Tenho, contudo, feito um esforço nos últimos tempos – e posso dizer que estou bastante satisfeito com essa atitude. Também gosto (muito) de estar mais confortável, em ténis e ganga (fiquemos por essa definição de relax) – mas há a regra e a excepção. E é a regra que dá mais sabor á excepção.
Acho que vestir bem faz parte de um esforço de sociabilidade, de expressão mas também de respeito pelos outros. Aquilo que vestimos também pode ser usado para dizer “presente”, mas definindo os nossos limites, dando aos outros sinais das linhas que não devem atravessar. Lanço aqui o meu apelo. Acreditem, as pessoas bem vestidas dão sal aos nossos dias.
Atribuo algum desleixo indumentário ao período menos bom que o país vive. Lembro-me de ler um artigo numa revista do DN há algum tempo em que se recordava o cavaquismo (quando as coisas estão complicadas, as pessoas tendem a regressar ao tempo onde foram – ou pensam que foram – felizes). Dizia Fernando Lima, “pastor alemão” (sem qualquer tipo de ofensa) de Cavaco na sua relação com a imprensa (e hoje novamente em Belém) que notou os tempos a mudar quando uma das selecções jovens começou a ir para o aeroporto, para os estágios, vestida a rigor. Jovens, portanto, a representar o país com dignidade. Quem sabe seriam os campeões em Quatar e Lisboa. Talvez esse pequeno pormenor ajude ao surgir de novos tempos, que precisam de vir. Ou então, pelo menos, seja sinal deles, quando vierem. Estou, isso sim, certo de uma coisa - vou gostar de ver.
terça-feira, novembro 06, 2007
Do Instinto
Da Vergonha (2)
Faz parte de crescer, faz parte de podermos defendermo-nos a nós mesmos o perder a vergonha que nos tolhe. Por tanto que nos custe (e custa tanto, tanto), é necessário. Talvez o problema seja que, perdendo alguma da nossa vergonha, perdemos também alguma ingenuidade, inocência, atributo especial, quem sabe um talento que nunca chegamos a desenvolver - com que nunca nos comprometemos verdadeiramente. Um dia mais tarde dizemos "eu até tinha jeito para aquilo, mas acabei por nao me dedicar". Que pena. O problema é que se alguns nao escolherem dedicarem-se, como sociedade nao passamos da cepa torta.
Ser adulto é uma opçao - nem todos a fazem, e todas as escolhas sao possíveis em sociedade. É preciso muito cuidado ao deixar aquela criança... Vemo-nos obrigados (e começamos a querer) fazer coisas que ela talvez nao aprovaria. Mas tem de ser, um dia. Tem de ser. Nao podemos mais brincar como crianças no mundo dos homens. Demasiados perigos lá fora para inocentes contemplativos. É que, por mais geniais que possam ser, poucos os reconhecem - e ainda menos os protegem.