Eu não me importo com a interdição ao olhar. Eu não me importo com o desconforto e estranheza da atitude de levantar para dar o lugar a alguém. Eu não me importo com o clima - desde há anos - depressivo, nem com o Império do Não-Me-Toques. Eu não me importo com a vigilância tácita, com a estranheza entre seres humanos. Eu não me importo com as ideias maquinadas, com os pensamentos que não deviam, mas que voam pela mente. Eu não me importo com a diferença, os tons, as palavras, os toques de telemóvel. E não me importo com os odores, os barulhos, as má-educações. Com as distâncias, os pequenos códigos. Eu nem me importo com os bêbados demazelados que passam por mim vociferando, usando "wife-beaters" e rastas, um deles reclamando de garrafa na mão ser "o Rei de Cabo-Verde". E eu não me importo com os mesmos cegos de sempre, que conheço de cor.
Mas ao sair do metro estão três crianças, três raparigas, a pedir para a Caritas. Se eu não tenho moedas para lhes dar elas, pequenas, sabem explicá-lo ainda melhor do que eu ("o sr. não vai dar uma nota, não é?" diz uma delas à outra). Mas eu arranjo algo. Só não percebo bem como no meio daquilo tudo estão assim crianças, ao calor, a pedir para os outros. Ou antes, eu percebo, e muito bem. Só não percebo porque é que a maioria, desde há tantos anos, deixou de perceber.
Afinal de contas, e digam de mim o que disserem, e faça eu o que fizer nesta vida, que o negue por vontade ou contra mim, não foi nunca por acaso que eu escolhi o nome para este blog.
Mas ao sair do metro estão três crianças, três raparigas, a pedir para a Caritas. Se eu não tenho moedas para lhes dar elas, pequenas, sabem explicá-lo ainda melhor do que eu ("o sr. não vai dar uma nota, não é?" diz uma delas à outra). Mas eu arranjo algo. Só não percebo bem como no meio daquilo tudo estão assim crianças, ao calor, a pedir para os outros. Ou antes, eu percebo, e muito bem. Só não percebo porque é que a maioria, desde há tantos anos, deixou de perceber.
Afinal de contas, e digam de mim o que disserem, e faça eu o que fizer nesta vida, que o negue por vontade ou contra mim, não foi nunca por acaso que eu escolhi o nome para este blog.