Amanhece na penitenciária.
E há a mesma pena diária
A cumprir –
Por um crime que devia ter cometido.
Se ao menos me tivesse
Comprometido,
Assinado
Um qualquer tratado,
Um pacto acertado
De silêncio,
E os pecados a cometer,
Ficariam escondidos
Do mundo -
Sem ninguém saber;
Continuaríamos a dizer-lhe
A melhor forma de existir
(E então seria dele a prisão
De somente intuir…).
Pudesse eu.
Pudesse eu mentir assim,
E dizer que não sabia,
Conseguir perdoar,
Ver a jusante de mim
Um futuro elegante,
Por entre os tremores do passado;
Assassinos, meliantes…
Mas eu é que fui condenado.
Amanhece
E finjo não saber
Dessa dor,
Tenho medo que me deixe -
É a única amiga
Verdadeira
Entre estas paredes frias.
Tenho ainda pena a cumprir –
Disseram-me naquele dia -
Por não me saber encobrir,
Nem encobrir ninguém.
A ingenuidade
E um louco amor à verdade
São delitos
De se achar melhor.
Outrora,
A prisão terminava lá fora.
Mas eles calaram-se,
As transgressões foram consentidas -
E as paredes construídas.
Mas que me interessa
Ser o cárcere ampliado?
Eu
Não mereço estar condenado.
Ah, tudo passa
Como o amanhecer na prisão…
Que este sol ainda tem
Um pouco de calor,
E esqueço-me dos gritos,
Da dor,
Por um momento.
Esqueço-me de não saber
De uma história,
De um bom fim a este tormento.
Pedro Oliveira