É cruel a natureza na sua inevitabilidade. Vejo perfeitamente que, em homens e mulheres, virar aos 50 é assunto problemático.
No outro dia fui a um congresso político com o meu pai. Pessoalmente, dispenso-os – fui arrastado. De entre a fauna do dito falámos com um alto quadro de uma empresa de construção de topo, que tinha ocupado lugar num governo daquele partido, e com um, julgo eu, membro da Junta ou da Câmara (que não era a do seu partido) de concelho obscuro. Um exemplo de cada extremo da cadeia alimentar, portanto. Arregimentámo-nos os quatro, e a certa altura fomos comer algo a um café próximo. Aí chegados, esperámos por um lugar no balcão, onde pautavam 3 raparigas, algures entre o normal e o vistoso, mas a que eu até nem prestara atenção. Eis quando começam eles a olhar, a cobiçar, a imaginar, e a libertar esse fantasma falando:
“Olha-me aquele **”
“Ah, tu só vês ***. És mesmo engenheiro – segmentas” [risos]
“Tchiii… Eh pah, as gajas agora andam cada vez mais boas.”
“Eu só queria ser como aqueles gajos que se casam com uma mulher rica. Só têm que *****!”
“Eh pah, eu se me ******* já ficava contente.”
E continuou a douta conversa. Eu estava surpreendido e duplamente envergonhado. Surpreendido porque apenas nos conhecíamos há pouco tempo – é normal os homens “avacalharem”, mas que pelo menos se conheçam, que mesmo o “avacalhar” tem limites e regras. Envergonhado porque trabalho com raparigas daquelas todos os dias, e sentia (parvamente?) que estava ali a trair alguém se participasse nesse “avacalhar” precoce. Não sou nenhum santo, mas também não me lembro de falar assim delas, vindo do nada. Envergonhado também porque eles deviam esperar que um “gajo jovem” como eu (?) pegasse logo na deixa – sentia-me a não respeitar também uma certa “solidariedade masculina”. Optei por elas (tenho feito muito essa opção, desgraçadamente), e aguentei como pude a bronca. A opinião com que de mim ficarem, que a guardem, por favor
Também a propósito da publicação de “Rio das Flores”, o segundo romance de Miguel Sousa Tavares, perguntavam ao autor porque insistia ele em tão vívidas descrições do prazer da mesa e do sexo. “São as duas coisas que os homens mais gostam de comer”, respondeu nestes moldes MST. O jornalista: “Isto vai ficar na entrevista”. “Desde que não seja no título…”.
Eu não conheço as estatísticas, mas aposto que muitos divórcios ocorrem dos 45 aos 55. Deve ser o período “prova de fogo” de um casamento. Se o casal a conseguir superar, suponho que a partir daí a viagem decorre sem grandes sobressaltos.