quinta-feira, novembro 08, 2007

Da Segurança

Em casa onde não hã pão todos ralham e ninguém tem razão. A insegurança provoca o desassossego, ultrapassam-se barreiras em folias e derrames de alma nunca antes concebidos. Às vezes, mesmo em casas com tanto pão, se ralha tanto, e escasseia tanto a razão. Ah, esse “comboio de corda a entreter a razão” – nunca saberemos quanto dependemos dele…

É absolutamente necessária na nossa vida a segurança. A sensação de que o chão nos vai fugir sobre os pés, que estamos no trapézio sem rede pode originar actos de grandiloquente heroísmo – mas mais vezes gera stress, dor, angústia, mágoas. É muito preocupante ver as pessoas a empobrecer – muito preocupante. Lá em casa passam-se cenas difíceis de enquadrar. Lá em casa a sensação de insegurança – real ou passada por contágio (porque se torna epidémica) pressiona as pessoas. Há pagamentos a fazer, gente que não paga, dinheiro que não chega ou parece que não chega, o Estado que não funciona, as pessoas que não cumprem, o Sócrates que é um hipócrita, o Santana que é vergonhoso, o Menezes que não me parece, os jovens que se divertem na decadência, os adultos que já também. “Fartar vilanagem”. Resta o futebol e a desesperada esperança, nunca se sabe bem em quê.

Razão tinha Maslow quando colocava a segurança na base da sua pirâmide de necessidades. Para um povo psicologicamente volúvel, a sensação de insegurança – mesmo se pura ficção – é fatal. O pior é que, se se não tem cuidado, ainda vem aí outro desses “fortes reis” da nossa história, que fazem forte a “fraca gente”, como dizia Afonso de Albuquerque. Ou então, completando o dito, anda uma “forte gente” a ser feita fraca por um “fraco rei".