quarta-feira, setembro 05, 2007

Os Meus Prazeres 11


Um dia perguntou-se Camus: "Devo matar-me a mim mesmo ou beber uma chávena de café?". Existencialista, pretendia provar somente que tudo na vida é uma questao de escolha. Mas eu gosto de recorrer à frase para evocar o café, justamente, como contraponto de vitalidade e energia, passe a hipérbole.

Quanto nao terá sido escrito e dito já acerca do café?... Ainda mais terá sido escrito e dito por causa do café. A cafeína é, verdadeiramente, um pilar da Civilizaçao. Parece que foram os turcos que, ao deixar os primeiros graos para trás depois das refregas com o Império Austro-Húngaro, permitiram a invençao, no leste, dos cafés (os espaços).

Sugiro, a título de exemplo, esta pequena reflexao de um blogger brasileiro. De facto, o café "configura" o nosso dia. E, de facto, é mais inteligente muitas vezes falar do "café nosso de cada dia" do que do "pao nosso de cada dia", agora que o pao é banal e a fome longínqua. Gosto também da sua crítica, para mim tao óbvia, a quem fuma: beber café sem fumar é compreensível, já fumar sem beber café nao faz sentido nenhum. Isto, porque, acrescento eu, ao fumar a metabolizaçao hepática da cafeína é incrementada. "O café é o senhor da simplicidade que guarda segredos, ao passo que o álcool demonstra além do que somos". Nem mais.


O certo é que para mim, e para muita gente, um bom café faz toda a diferença num dia. Nao basta ser café - nao deve estar curto ou cheio de mais, nao deve estar queimado, a espuma deve aguentar alguns segundos o açucar, deve ser cremosa, nao demasiado escura, nao demasiado clara, etc. E depois, claro, há a qualidade da mistura original (robusta e arábica) que depende da marca, a máquina que tira o expresso (a esse me refiro por "café", o café de balao, por oloroso que possa ser, nao tem qualquer comparaçao), para já nao falar no nível de moagem e no crime hediondo de deixar o café moído (ou o grao) em contacto com o ar.

Pessoalmente, no meu top está a Lavazza, mas uso domesticamente o Sical 5 estrelas, bastante bom, eventualmente Nicola (uma escolha, já o sei, muito pouco consensual, mas reforço que é a terceira, e parca a minha experiência em termos de marcas).

E depois, o prazer do café, para mim, está também no fazer. Desde criança que o faço para os meus pais e adoro. Adoro fazer a moagem correcta, preencher com a quantidade que basta, compactar apenas o suficiente. Apesar de tudo, nem sempre acerto, e a confecçao doméstica é, naturalemente, mais exigente e menos promissora que a das máquinas dos cafés - as melhores, pelo menos. Para mais, tendo embora uma máquina, ainda nao estou convertido ao café da Nespresso, facto que me tem rendido algumas críticas de amigos, fas confessos.


Ah, um bom café... Seguramente no céu, todos vestidos de branco, numa esplanada celeste, bebe-se um expresso divinal, enquanto se tratam os temas terrenos. E o Diabo, nos seus convénios com os malditos, falando de planos inomináveis, também bebe, menos pausadamente e exagerando (tal é a sua natureza), toda a força dessa bebida mágica.