terça-feira, setembro 04, 2007
O que me tira fora do sério (1)
Apresentando me ainda ligeiramente febril, receei escrever este post de forma demasiado entusiasmada após o Nacional-Benfica. Aproximadamente 39ºC de puro entusiasmo. Esperei portanto um pouco. Acreditei que o tempo traz o discernimento e a frieza da análise cuidada, mas neste tópico nem isso me vale. Não há cabeça fria que aguente ver Rui Costa a jogar futebol.
E sendo certo que poucas ou nenhumas das palavras que aqui escrevo farão jus a tanto talento, não esconderei, até porque não o conseguiria a admiração pela eterna elegância de um jogador que, ostenta na forma de ser (que se alastra muito além dos terrenos de jogo), características raríssimas para os demais mundos do futebol.
E embora os anos continuem a passar, o Rui Costa não passa com eles, nem ele nem a sua mestria e desmensurada humildade, continuas a jogar futebol, Rui como todos gostaríamos de jogar, sempre a tocar a perfeição, tantas vezes digno de um campo muito acima do dos homens.
Íntegro, educado, não perdeste, mesmo perante certos odiosos Berardos, o discernimento e postura, respondendo às provocações da melhor forma, dando as estaladas como elas se querem: de luva branca. E assim sem delongas, ou dedos a apontar, somente uma tranquilidade e humildade etéreas, que não te deixam entrar em peixeiradas.
Se este não chegasse, mais um caso flagrante haveria, da tua tranquilidade e vontade de apenas jogar à bola, e não criar instabilidades. O da braçadeira de capitão da tua equipa do coração. És o povo Rui, a vontade de Gritar GOLO, presa na garganta de todos os benfiquistas, não queres estar acima de ninguém, embora para mim sejas o único com perfil para tal. E quando assim é tudo é secundário, até uma braçadeira, (que a ti somente te apertaria o braço), que nunca fará de outro, um capitão como tu, que não há patente ou título que lhe faça jus. Há quem lhe chame discrição, eu pessoalmente dou o nome de Educação a essa e outras atitudes.
São exemplos como tu, homem de família dedicado e devoto às tuas causas que ainda me inspiram confiança numa forma de ser português que penso tantas vezes, já perdida.
É certo que não merecias este Benfica, rodeado de ataques pessoais, escândalos, e tão dado ao alardeio, tu que nunca foste de alardear nada optando por uma decente modéstia de amor pelo Benfica.
As previsões não se adivinham as melhores, e sabendo que de forma também muito desgostosa para mim, não foste feliz (em termos de troféus) na casa, onde quanto a mim mais o mereçias: A Selecção, eu e qualquer benfiquista, temos o ónus de acreditar, na tua dedicação e eterno empenho ao serviço da águia.
E em relação às eternas conferências de imprensa e flash interviews em que surge inevitávelmente o portuguesismo crítico de dizer mal da forma mais irracional possível, onde estão patentes as argoladas, os chavões, clichés, as frases feitas do jargão futebolístico, o culpar de outrém pelos erros próprios.
Contigo, Rui não há nada disso, não há a compulsão imediata de querer mudar de canal.
Há encanto, há beleza, honestidade, análise imparcial, e faculdade intelectual, diria que acima da média (contradizendo o eterno estereótipo da incompatibilidade entre o jogador de futebol, e a capacidade de cultivo do intelecto).
E acima de isso tudo, há o menino de 10 anos que não se deslumbrou, e que só quer jogar à bola, sem um traço de preocupação ou interesse no semblante. Chutar e deixar todas as politiquices extra futebol e guerras de bastidores, hoje tão em voga, no lugar onde elas merecem estar.
Fora dos relvados.