segunda-feira, setembro 03, 2007

Egrégios Avós

Acho que há muito de ser português que é explicado pelos nossos avós. Pela sua presença ou ausência, pelo seu exemplo de vida. A primeira verdadeira solidao nas nossas vidas vem, exactamente, da perda dos avós. Sao eles que, mais generosamente, nos dao conselhos para a vida, pequenos truques de sobrevivência.

Estamos sempre de bem com os nossos avós, que nos mimam e deseducam; nao temos negociar com eles como com os nossos pais, que sao adultos com os seus interesses próprios. Os avós estao no final das suas vidas: em nós vêm o seu reflexo, e em nada pensam mais do que em nós. Os pais têm ainda muita vida pela frente, e, amando embora os filhos, querem cumprí-la. Os avós sao muitas vezes também a única fonte de uma certa perspectiva histórica, já que somos poucos aqueles com curiosidade por aquilo que precedeu a nossa existência, pelo Portugal antes de nós...

Eu sou dos que dizem que aquilo que somos verdadeiramente como pessoas é definido muito mais cedo que aquilo que cremos. It's surprising how soon the dice are cast... Na infância, os avós terao algum papel nisso. Conhecer os nossos avós é parte de nos conhecermos a nós mesmos.

Vem isto a propósito de uma frase do Prof. Carvalho Rodriques (célebre pelo PoSat, esse mesmo), na televisao, ao programa da Bárbara Guimaraes. Dizia ele entao, nem me recordo a propósito de quê, que um adulto a andar à frente da uma criança é concerteza o pai; quando anda atrás dela - é o avô.

Há uma infinita ternura nessa simples observaçao. Ser avô é mesmo isso - deixar o neto explorar o caminho, montar a bicicleta. O avô só intervem quando ele estiver quase a cair.