Uma coisa que me faz impressão nas estruturas estatais e proto-estatais (por exemplo, os partidos políticos) são as expectativas. Muitos portugueses não o saberão, mas neste momento, há muita gente nessas estruturas que investiu muitíssimo das suas vidas - o seu tempo e energia - em expectatias. Nomeadamente, em expectativas de ocuparem melhores lugares na hierarquia, na expectativa de estarem mais perto de um qualquer micro-poder, mais perto de uma qualquer fonte de financiamento. Há muita gente mesmo. Não é gente que tenha investido a vida em esforço, trabalho, técnica. Antes, procurou ganhar créditos. Esteve tanto tempo ali. Foi sempre ela que tratou. Está em tal lugar na ordem para. A esta gente passa ao lado a vertigem, a competitividade do mundo de fora, do mundo privado. Elas apostam nos seus créditos, e têm essa expectativa - que eu acho curiosa - de que se lembrem do que fizeram, ou passaram. Quer dizer, na sua mente não passa, realmente, a possibilidade de uma tabula rasa ou uma súbita dança de cadeiras que lhes roube todos esses micro-esforços diplomáticos, panegíricos, de pequenas acções, e os pulverize à sua nudez: a de não terem qualquer qualificação que seja para o mundo do trabalho. Um membro de um partido de 4ª linha, num concelho qualquer do País, espera que alguém, no futuro, se lembre de como ele foi sempre fiel ao partido, andou de café em café, a perguntar pelo cão deste, a perguntar pela saúde do outro, para ser o próximo a ser chamado para um lugar. Espera que esse "esforço de fidelidade" seja assim compensado. É claro que, quando o não é, há sempre uma nota ou outra que não convém divulgar...
Mas o chocante, realmente, é como as pessoas investem as suas vidas nestas expectativas de integração nas estruturas não-privadas da sociedade, assim se escusando a trabalhar verdadeiramente. E é chocante também como os portugueses que pagam essa factura (não me posso incluir, por ora) toleram isso. É que nada nestas estruturas estatais e partidárias é movido pelo mérito pessoal, antes por uma história de dedicação, amor ou pseudo-amor à camisola, e, no fundo, a mais simples e lusitana ambição de todas: a de um posto pouco exigente, que dê pouco trabalho, que exponha e responsabilize pouco, confortável, o mais duradouro possível e o mais bem pago possível.
Disclosure: Esta crítica, faço-a não estando eu próprio inserido no mercado de trabalho, o que sei me retirar legitimidade. A motivação que me anima, mais que justiceira (embora em parte também seja) é a de retratar. E a de permitir atentar, a quem leia o texto, nesse facto singelo, que é o de uma pessoa investir a sua vida em pequenas acções à espera que se lembrem delas, quando tudo pode mudar de repente. E isso a todos deve dar que pensar.
Mas o chocante, realmente, é como as pessoas investem as suas vidas nestas expectativas de integração nas estruturas não-privadas da sociedade, assim se escusando a trabalhar verdadeiramente. E é chocante também como os portugueses que pagam essa factura (não me posso incluir, por ora) toleram isso. É que nada nestas estruturas estatais e partidárias é movido pelo mérito pessoal, antes por uma história de dedicação, amor ou pseudo-amor à camisola, e, no fundo, a mais simples e lusitana ambição de todas: a de um posto pouco exigente, que dê pouco trabalho, que exponha e responsabilize pouco, confortável, o mais duradouro possível e o mais bem pago possível.
Disclosure: Esta crítica, faço-a não estando eu próprio inserido no mercado de trabalho, o que sei me retirar legitimidade. A motivação que me anima, mais que justiceira (embora em parte também seja) é a de retratar. E a de permitir atentar, a quem leia o texto, nesse facto singelo, que é o de uma pessoa investir a sua vida em pequenas acções à espera que se lembrem delas, quando tudo pode mudar de repente. E isso a todos deve dar que pensar.