sexta-feira, outubro 12, 2007

Avarezas Intelectuais

Uma das coisas que tenho pena de serem genéticas no meu país é a avareza intelectual. Quer dizer, partindo do princípio que o país tem poucos recursos, a informaço torna-se um bem precioso. Assim, os médicos, os juristas, as corporaçaoes, têm uma mentalidade "closed shop" para protegerem os seus interesses. Vem do Salazarismo, esse corporativismo. Como eu venho de um outro Portugal, enoja-me - sim, que eu reclamo o direito a ter nojo - a avareza intelectual. Quando vejo um professor que para mim, claramente, nao está a dar o seu melhor na exposiçao do seu conhecimento de um tema, no conteúdo ou na forma; quando vejo os tiques de falar para os "cognoscenti", para os "bons entendedores" sem um esforço de boa-fé para enquadrar os demais, sinto isso mesmo - nojo.

Que pena, que pena. Tudo podia ser tao diferente. Mas enfim, eu tenho esse defeito de personalidade - nao gosto de trabalho desnecessário- meu ou dos outros. Nao preciso (creio) do trabalho para ser uma melhor pessoa. Eu gosto de trabalhar -mas bem, inteligentemente. Detesto sentir o tempo de vida a ir-se pela janela.

Se os estudantes de Medicina de hoje, por exemplo, nao sabem absolutamente nada de uma herança fantástica de cultura médica portuguesa, e estudam os mesmo livros usados em Hong Kong, tenho pena. O mesmo para a Engenharia portuguesa. Tenho pena dos curiosos e bem-avontadados (que os há) a montante. E tenho nojo dos avaros intelectuais que nao têm classe nem generosidade a jusante.

Depois dizem que Portugal nao se desenvolve. Senhores, percebam que nao há desenvolvimento sem conhecimento científico! E que nao há conhecimento científico sem jovens entusiásticamente a nutrir o tema em conversas, investigaçoes. A ciência nao deve ser estudada como língua morta. Percebam isso de uma vez! O problema é que só terao jovens a apaixonar-se por ciência se tiverem prazer em aprendê-la. Com professores bem formados, criativos e generosos. E, já agora, com enquadramento do nosso património histórico, maior que o que se julga.

Cada país tem suas misérias. A avareza intelectual e o culto do "bom entendedor" sao todas nossas.