Um dos sinais claros de decadência da sociedade - e neste caso inspiro-me na nossa, portuguesa, é o esquecimento das prioridades, do fundamental, do básico. Chamo-lhe a "esquizofrenia bizantina". Olhem em vosso redor: quantos casos não conhecem de gente que discute e se consome em questiúnculas quando o fundamental passa ao lado?
Vejam se não encontram enfermeiros a escusar-se a fazer algo, por não ser o seu turno. Ou médicos num hospital, que, assim que o ponto está picado, se vão. Ou políticos de 3ª e 4ª linha nas câmaras que desviam ardilosamente pequenas porções de dinheiro, assignadas a coisas importantes. Ou professores que deixaram de querer inspirar alunos, que fazem das aulas o suplício das suas investigações e culturas, ou - pior - das suas vidas mundanas, iguais às de todos os outros que não precisam ser criativos e inspiracionais. Ou polícias que rastejam incomodados pela zona que patrulham, em vez de procurarem o que está mal, confrontá-lo, assegurar que, naquele perímetro, nada de mal acontece, em vez de estarem a pensar na esquadra, na sua casa, nas suas escapadelas, na sua não-função. Ou adolescentes que experimentam sexualmente por absoluta revolta com o mundo, porque não vale a pena esperar por este mundo, e a televisão não mostrar ninguém que pense o contrário? Ou colunistas presos nas próprias colunas por cordéis que nem suspeitamos? Ou futebolistas que se esquecem de que são a selecção de 1/milhão de avos de pessoas, que se comportam como mercenários? Ou de velhos que estão abandonados por toda a gente, em finais de vidas tão tristes que não há palavras? Ou crianças que não têm, qualquer dia, protecção especial, que são sujeitas a mundos adultos que não estão preparadas para compreender?
Mas não. Não há problemas. Não há obscenidades. Olha, está ali aquela brasa na televisão, ui... E o Ronaldo está de férias acolá. E a Bruni lançou um CD novo. E amanhã há bola. Não exagerem. Não há problemas, eu não os vejo. E se os vir- mudo de canal.
Vejam se não encontram enfermeiros a escusar-se a fazer algo, por não ser o seu turno. Ou médicos num hospital, que, assim que o ponto está picado, se vão. Ou políticos de 3ª e 4ª linha nas câmaras que desviam ardilosamente pequenas porções de dinheiro, assignadas a coisas importantes. Ou professores que deixaram de querer inspirar alunos, que fazem das aulas o suplício das suas investigações e culturas, ou - pior - das suas vidas mundanas, iguais às de todos os outros que não precisam ser criativos e inspiracionais. Ou polícias que rastejam incomodados pela zona que patrulham, em vez de procurarem o que está mal, confrontá-lo, assegurar que, naquele perímetro, nada de mal acontece, em vez de estarem a pensar na esquadra, na sua casa, nas suas escapadelas, na sua não-função. Ou adolescentes que experimentam sexualmente por absoluta revolta com o mundo, porque não vale a pena esperar por este mundo, e a televisão não mostrar ninguém que pense o contrário? Ou colunistas presos nas próprias colunas por cordéis que nem suspeitamos? Ou futebolistas que se esquecem de que são a selecção de 1/milhão de avos de pessoas, que se comportam como mercenários? Ou de velhos que estão abandonados por toda a gente, em finais de vidas tão tristes que não há palavras? Ou crianças que não têm, qualquer dia, protecção especial, que são sujeitas a mundos adultos que não estão preparadas para compreender?
Mas não. Não há problemas. Não há obscenidades. Olha, está ali aquela brasa na televisão, ui... E o Ronaldo está de férias acolá. E a Bruni lançou um CD novo. E amanhã há bola. Não exagerem. Não há problemas, eu não os vejo. E se os vir- mudo de canal.