Olhando para o padrão de viagens, de vivência das viagens da geração da minha irmã, percebo como circulam por tantos lugares do planeta gente jovem, dormindo nos buracos melhores ou piores que arranjam, para satisfazer um desejo feérico, que passa por, conhecendo alguns locais, passear, ver, ouvir, rir, sair à noite e dormir. São os trota-mundos 'desenrrasca'. Vivem dos mesmo elementos: PC, TV, amigos, inglês melhor ou pior, Easyjet, descontos, telemóveis. E fazem muito mais viagens - nunca a quantidade de locais per capita na história pessoal foi tão grande.
Reparem como é um padrão de viagem todo ele diferente do que acontecia há alguns anos, ainda não algumas décadas. Esta gente adquiriu desde cedo como que um vício de velocidade e "amassment" de locais visitados, daquilo a que eu chamo de 'bulimia de viajante'. Quer dizer, nenhum deles, escravo dos mesmos exactos elementos que compõem a sua vida em casa, saboreia outro país. Nenhum respira, se pergunta, pega nos elementos de outra língua, de outra cultura, de outra geografia. Não há paisagem - só imagem. Viajar para eles é ter imagens diferentes.
E ninguém saboreia. Todos comem à pressa com medo que se acabe, e com medo de não ter espaço para comer mais. Todos se passeiam tendo por base as mesmas urbanas regras (como se tudo fosse, no fundo, urbe), com os mesmos óculos de sol, os mesmos esquemas através da página de Internet, do contacto no telemóvel, com o mesmo espírito ardente de viver 'a noite' de outro país, seja pela experiência em si, seja pela exploração deles mesmos fora de portas - e, sim, entenda-se da vertente relacional, ou, mais frequentemente, puramente sexual. Ninguém o admitirá - mas é isso mesmo que se passa. Vão à procura de histórias para contar, amigos/contactos para manter no estrangeiro, dinheiro a gastar o menos possível, e, claro, de 'get some tonight'. O dormir, se possível, no dia seguinte. Senão, que se lixe - 'awake is the new sleep'.
Eu provavelmente não teria nada contra esse estilo - e sobretudo nada tenho em contra da procura de novos amores, ou calores. Mas nunca concordarei que não há quase como que uma espécie de desespero parvo, de espírito de manada, de falta de paciência para cultivar outras valências, outras velocidades por detrás de tudo aquilo. Só ninguém me convencerá que não há nesses viajantes basculantes muita - muita - falta de personalidade. É como um registo, não de fim de século, mas de princípio, a fazer lembrar os anos velozes do ante-guerra mundial, mas espalhado por toda a Europa (espero com toda a convicção que a semelhança seja unicamente superficial).
Dinheiro, sexo, contactos. A isso é reduzida a vida em todo o lado. E parece que as pessoas andam a aprendê-lo cedo demais.
Reparem como é um padrão de viagem todo ele diferente do que acontecia há alguns anos, ainda não algumas décadas. Esta gente adquiriu desde cedo como que um vício de velocidade e "amassment" de locais visitados, daquilo a que eu chamo de 'bulimia de viajante'. Quer dizer, nenhum deles, escravo dos mesmos exactos elementos que compõem a sua vida em casa, saboreia outro país. Nenhum respira, se pergunta, pega nos elementos de outra língua, de outra cultura, de outra geografia. Não há paisagem - só imagem. Viajar para eles é ter imagens diferentes.
E ninguém saboreia. Todos comem à pressa com medo que se acabe, e com medo de não ter espaço para comer mais. Todos se passeiam tendo por base as mesmas urbanas regras (como se tudo fosse, no fundo, urbe), com os mesmos óculos de sol, os mesmos esquemas através da página de Internet, do contacto no telemóvel, com o mesmo espírito ardente de viver 'a noite' de outro país, seja pela experiência em si, seja pela exploração deles mesmos fora de portas - e, sim, entenda-se da vertente relacional, ou, mais frequentemente, puramente sexual. Ninguém o admitirá - mas é isso mesmo que se passa. Vão à procura de histórias para contar, amigos/contactos para manter no estrangeiro, dinheiro a gastar o menos possível, e, claro, de 'get some tonight'. O dormir, se possível, no dia seguinte. Senão, que se lixe - 'awake is the new sleep'.
Eu provavelmente não teria nada contra esse estilo - e sobretudo nada tenho em contra da procura de novos amores, ou calores. Mas nunca concordarei que não há quase como que uma espécie de desespero parvo, de espírito de manada, de falta de paciência para cultivar outras valências, outras velocidades por detrás de tudo aquilo. Só ninguém me convencerá que não há nesses viajantes basculantes muita - muita - falta de personalidade. É como um registo, não de fim de século, mas de princípio, a fazer lembrar os anos velozes do ante-guerra mundial, mas espalhado por toda a Europa (espero com toda a convicção que a semelhança seja unicamente superficial).
Dinheiro, sexo, contactos. A isso é reduzida a vida em todo o lado. E parece que as pessoas andam a aprendê-lo cedo demais.