Desço as escadas, aquelas escadas sempre tao concorridas, com tanta gente tao diferente de mim (e fico eu a ganhar...). Começa com um bizarro palco, envolvido o topo por três janelas do café, destilando barulho e fumo de cigarros.
Desço as escadas. Pelo meio de tanta gente-massa, uma senhora. Uma senhora loira, cabelo apanhado, vestindo-se de camisa branca, calças azuis. Provavelmente funcionária da universidade. Leva contra o peito, como uma criança, resmas de dossiers e pastas. Demasiado carregada, nao um exagero de esforço, mas ainda assim desconfortável.
Olho para ela e tenho momentos de hesitaçao. Intervenho, nao intervenho? "Desculpe, quer que a ajude com isso?". Tao simples. Uma senhora, demasiado carregada. A equaçao é tao simples. Porquê a hesitaçao? "Desculpe..." Como seria mesmo? "Desculpe..."
Mas perdeu-se o tempo. Ela ainda olhou para mim, nem sei porquê, mas de alguma forma o olhar persegue-me. Fiquei estático, demasiado pensativo, demasiado contraindo meus impulsos, meus melhores impulsos. E ela subiu, lá para cima. Carregada, trabalhando, sem exagero, mas desconfortável.
O miúdo de há 10 anos atrás nem hesitaria. Só teria vergonha de que os outros o vissem a ajudar, por ridículo que seja. Isso sempre. Mas acho que esse miúdo nao hesitaria.
Que complicadas, nossas vidas. Tudo porque a ingenuidade é trucidada. É trucidado o respeito absoluto pelas mulheres pelas próprias mulheres. É trucidada a noçao de dever e postura pelos outros homens. É trucidada a fé na Justiça pela sociedade como um todo.
Que pena. E nós que éramos para ser perfeitos.
Desço as escadas. Pelo meio de tanta gente-massa, uma senhora. Uma senhora loira, cabelo apanhado, vestindo-se de camisa branca, calças azuis. Provavelmente funcionária da universidade. Leva contra o peito, como uma criança, resmas de dossiers e pastas. Demasiado carregada, nao um exagero de esforço, mas ainda assim desconfortável.
Olho para ela e tenho momentos de hesitaçao. Intervenho, nao intervenho? "Desculpe, quer que a ajude com isso?". Tao simples. Uma senhora, demasiado carregada. A equaçao é tao simples. Porquê a hesitaçao? "Desculpe..." Como seria mesmo? "Desculpe..."
Mas perdeu-se o tempo. Ela ainda olhou para mim, nem sei porquê, mas de alguma forma o olhar persegue-me. Fiquei estático, demasiado pensativo, demasiado contraindo meus impulsos, meus melhores impulsos. E ela subiu, lá para cima. Carregada, trabalhando, sem exagero, mas desconfortável.
O miúdo de há 10 anos atrás nem hesitaria. Só teria vergonha de que os outros o vissem a ajudar, por ridículo que seja. Isso sempre. Mas acho que esse miúdo nao hesitaria.
Que complicadas, nossas vidas. Tudo porque a ingenuidade é trucidada. É trucidado o respeito absoluto pelas mulheres pelas próprias mulheres. É trucidada a noçao de dever e postura pelos outros homens. É trucidada a fé na Justiça pela sociedade como um todo.
Que pena. E nós que éramos para ser perfeitos.