Daquela toca às vez saíam barulhos estranhos. Gritos, desesperos, desabafos. Mas a família Lapin, coelhos que se haviam instalado naquela fresca e escondida zona do bosque havia algum tempo, tratava com serenidade todos os vizinhos. Dizia-se que os Lapin viviam bem - embora aquele não fosse bairro de mamíferos abastados. Era uma parte da bosque sem grande agitação - com o "ecossistema em equilíbrio", como dizia o patriarca Júlio Lapin, rindo-se.
Mesmo a origem aparentemente estrangeira do nome criava desconfiança. A isso se juntavam os gritos, as ofensas que saíam da toca, e que eles ouviam. Ruído que não se coadunava com o porte distante e polido dos Lapin no trato dos vizinhos... Havia um mundo dentro da toca, que apenas transparecia para fora, e tornava a vida de fora como que um acto de teatro.
Felício Lebre não percebia aqueles lagomorfos. Via-os a ter que sair da toca para apanhar as suas ervas, as suas raízes, e via-os bem alimentados. Nem sempre ele se podia gabar do mesmo. "Mas o que farão estes coelhos...?". A distância a que o remetiam não lhe permitia investigar mais sobre o assunto. Mas várias vezes concebia com alguma raiva aquela vida tranquila, de pêlo luzidio, enquanto que ele tinha que escapar a tantos predadores para manter o seu covil. Por vezes detestava aqueles coelhos, tão insistentes no trato frio, empurrando a sua curiosidade.
Um dia, porém, houve um furão que chegou àquela parte distante da floresta. Criou-se o pânico. Prevenidos, porém, os Lapin defenderam-se como puderam, os Lebre também. Depois de muito esforço, no final do susto, o furão já distante, Júlio Lapin não evitou olhar olhos nos olhos Felício Lebre. "- Isto é inadmissível!". Com alguma surpresa, Felício retorquiu: "Pois é, pois é... Esperemos não se repita". Júlio Lapin estendeu-lhe então a mão, e cumprimentou-o. Mais sereno perante tais situações-limite, Felício estava composto, e aquele cumprimento despertou em si um pequeno sorriso. Viu nele a ponte que necessitava para o futuro. "- Afinal sempre teve que dar a pata a torcer", diria depois a Juta, lebre sua esposa.
Daí em diante começaria a fazer conversa com os Lapin sempre que se encontravam fora da toca, retorcendo o seu teatro de cortesia, face às discussões pouco edificantes que lhes conhecia. "- Pois é...", disse numa tarde ao Vivi Texugo, dono de uma taberna do outro lado do bosque, "verás Vivi - eles ainda vão ter que vir aqui comer erva à minha pata. Vais ver! Eu sei do que eles são feitos...". Ria-se então, acompanhado por Vivi, amigo de longa data, à difusa luz, reflectida pela sua plumagem coçada, amarela. "- Bendito furão aquele, Vivi. Bendito furão!".
Mesmo a origem aparentemente estrangeira do nome criava desconfiança. A isso se juntavam os gritos, as ofensas que saíam da toca, e que eles ouviam. Ruído que não se coadunava com o porte distante e polido dos Lapin no trato dos vizinhos... Havia um mundo dentro da toca, que apenas transparecia para fora, e tornava a vida de fora como que um acto de teatro.
Felício Lebre não percebia aqueles lagomorfos. Via-os a ter que sair da toca para apanhar as suas ervas, as suas raízes, e via-os bem alimentados. Nem sempre ele se podia gabar do mesmo. "Mas o que farão estes coelhos...?". A distância a que o remetiam não lhe permitia investigar mais sobre o assunto. Mas várias vezes concebia com alguma raiva aquela vida tranquila, de pêlo luzidio, enquanto que ele tinha que escapar a tantos predadores para manter o seu covil. Por vezes detestava aqueles coelhos, tão insistentes no trato frio, empurrando a sua curiosidade.
Um dia, porém, houve um furão que chegou àquela parte distante da floresta. Criou-se o pânico. Prevenidos, porém, os Lapin defenderam-se como puderam, os Lebre também. Depois de muito esforço, no final do susto, o furão já distante, Júlio Lapin não evitou olhar olhos nos olhos Felício Lebre. "- Isto é inadmissível!". Com alguma surpresa, Felício retorquiu: "Pois é, pois é... Esperemos não se repita". Júlio Lapin estendeu-lhe então a mão, e cumprimentou-o. Mais sereno perante tais situações-limite, Felício estava composto, e aquele cumprimento despertou em si um pequeno sorriso. Viu nele a ponte que necessitava para o futuro. "- Afinal sempre teve que dar a pata a torcer", diria depois a Juta, lebre sua esposa.
Daí em diante começaria a fazer conversa com os Lapin sempre que se encontravam fora da toca, retorcendo o seu teatro de cortesia, face às discussões pouco edificantes que lhes conhecia. "- Pois é...", disse numa tarde ao Vivi Texugo, dono de uma taberna do outro lado do bosque, "verás Vivi - eles ainda vão ter que vir aqui comer erva à minha pata. Vais ver! Eu sei do que eles são feitos...". Ria-se então, acompanhado por Vivi, amigo de longa data, à difusa luz, reflectida pela sua plumagem coçada, amarela. "- Bendito furão aquele, Vivi. Bendito furão!".