A senhora cega pede esmola
E eu já não sei
Por onde ficou a esmola,
Quanta piedade gastei.
Além de mim alguém dá
Uma moeda sua,
Num gesto, detém-se a vida
E do secreto, vago festim
Se jejua.
Ah, o som da moeda
Que queda
No copo translúcido -
Quase se tocam as mãos -
E a senhora passa a dúvida
Pelos jovens fitos
Numa distracção.
Ah, quantas moedas nos roubam
E quantas nos roubamos,
Quando as não damos,
Àqueles que julgamos
Dever compaixão.
Afinal, esta vida -
De que se padece -
Tem a lição esquecida:
Moeda oferecida
Em nada empobrece.
Pedro Oliveira