sexta-feira, agosto 08, 2008

De Profundis

Reparem como somos agentes superficiais de tanta coisa, de tantos espaços humanos. Quando vamos ao supermercado, à loja, ao hospital, à universidade. Reparem como nos movemos somente à superfície das coisas, sem saber dos podres, os vícios, as virtudes, os truques de colectivo, as regras não-ditas, a experiência, as personalidades, as histórias: 'quando, quem foi, quem fez, que acontecimento em que alguém perdeu a cabeça, quem dormiu com quem, quem foi despedido, quem adora, quem abomina'. Tantos os sítios por onde assim passamos, sem perceber toda a história por detrás. Só saberemos a do nosso próprio meio (às vezes nem isso). De todos os outros meios somos 'clientes', 'utilizadores', estamos 'do lado de lá'.

E, curioso, pessoas há que nunca passam para o 'lado de cá'. Ficam sempre do lado de lá, deliciam-se com a superfície, não se comprometem. Talvez, a maior parte deles, por a tal não serem obrigados - a realidade humana é sempre uma coisa chata com que se lidar.