terça-feira, outubro 23, 2007

PSD: O Partido "Give Me A Reason"

Já aqui escrevi antes que uma das características genéticas do militante mais "base" do PSD é a definiçao pela negativa. Ele nao sabe ao certo se é de direita, ou de esquerda. Se é liberal ou estatista. Tem uma vaga impressao dos limites da social-democracia. E uma certa fé no "logo se vê", desde que estejam "lá" as pessoas certas. Tem as suas referências e personalidades, mas essas afinidades variam. Todo o modelo concebido varia, de militante para militante. Agora, o que o Zé PSD sabe, visceralmente, é que nao é "chucha" - socialista.

Nao gosto muito de generalizar, ou de colocar os PSD e PS muito distintos, como se os "aparatchicks" nao fossem muitíssimo parecidos. Mas vamos usar essa definiçao pela negativa "for the sake of argument". Acontece que o "argument" aqui é uma espécie de análise psicológica do partido, da supraestrutura, que nao está assim tao distante dessa mesma mentalidade. Dessa busca do "bode expiatório".

Li algures alguém que dizia do PSD, personalizando-o, ser rigoroso, mas flexível - esperto. Analítico mas intuitivo. Que tem memória e se lança ao futuro. Que está sempre dividido mas congrega como nenhuma instituiçao. Que prepara com zelo mas também age no improviso. Que é, enfim, português até ao osso - regra e excepçao, como cada português.

O que eu acho é que o partido recolhe, de facto, a parte mais vital de ser português. Mas, também, basta atentar na nossa história para ver que precisamos de uma razao superior. Precisamos de uns quaisquer Descobrimentos, um Brasil, uma África, uma Espanha, uma Europa inatingível, um sonho de progresso social impossível.

Ser português é gostar do impossível. Nao vale a pena sê-lo sem ter algum risco, algum impossível na vida. Ser português é saber de cor aquela frase: "Quando vamos em direcçao ao impossível, ele recua". E há razoes para que assim seja.

(O que é que eu fiz de impossível? Estava mesmo a ver essa pergunta a sair. Bom... nao sei. Há impossíveis que existem sob a estática das coisas. Mas, se houver insistência aí, eu nao pretendo ser exemplo para ninguém. Nem poderia opinar sobre a maior parte das coisas, se quisesse. Lê estas linhas quem quiser, por sua própria conta e risco.)

O certo é que estao aí à porta novos impossíveis. E hao-de andar sempre a desafiar-nos. Essa é a altura em que um povo gregário como poucos se une para grandes feitos (e depois vive à conta disso mais uns séculos...).

Cabe talvez ao PSD melhor personificar esse espírito. O país hoje é outro, e está envelhecido. Mas tudo é possível. Basta achar a tal razao. Basta acertar na "Espanha" que nos ameaça, no "Oriente" a descobrir.

Ou entao, estas sao só divagaçoes românticas, ao estilo "petit bourgeois". Que foram a fome e a miséria essas simples razoes passadas, nada mais. Olhar para a riqueza, a propriedade, etc. Nao falar assim de "país" numa era de globalizaçao, ter a decência.

Talvez. E de mim nao mais levam que "talvez". Mas pode ser que haja mesmo espaço, necessidade, para essa razao. Como se fosse redentora de todos os pecados. E às tantas é mesmo. Às tantas alguém, farto, grita demasiado alto contra qualquer inimigo "Go ahead. Make my day". E os outros seguem-no. E os tempos, o país, mudam entao - vertiginosamente.