Noto como alguns personagens que encontro ou de que oiço falar assumem, em suas vidas, uma orientação hortofruticultora do futuro. Porquê hortofruticultora? E porque é 'hortofruticultor' uma palavra longa e divertida de repetir?
Responderei somente à primeira. Ora, a sua abordagem filosófica à vida é hortofruticultora no sentido em que concebem as pessoas que conhecem como plantas de uma rede, ou jardim. São eles que zelam por esse jardim, mantendo-o viçoso, e disponível para lhes conceder seus frutos.
Um hortofruticultor escolhe para o seu jardim as melhores espécies possíveis, isto é, rodeia-se dos melhores contactos. E assim compõe um belo jardim, uma horta, um pomar, de que só ele sabe, e que é a sua vida. Vive da hortofruticultura, feliz - e não precisa assim de qualquer outra actividade.
Quando, por exemplo, as batatas 'Manuel Joaquim' estiverem a mirrar, pois o hortofruticultor bota água para cima delas. Ou, vendo ervas daninhas próximas do pé das plantas de feijão verde 'Carlos António', as retira carinhosamente. E faz ver a Manuel Joaquim e a Carlos António o muito que custa regar assim, e com primor podar assim.
Se as laranjas 'João Pires' precisarem de adubo, as estruma com a melhor técnica. Ou, requerendo as dálias 'Joana Lopes' mais sol, desvia seu vaso no sentido da luz.
Fá-lo, mansamente, dia após dia, sem maçar demasiado cada planta, mas fazendo cada uma crer que só ela recebe tais mimos, para um colheita tardia. Não sabe exactamente quando, mas aqueles belos espécimes devem - mais ano menos ano - florir esplendorosamente. E ele sabe que pode precisar de ir buscar umas batatas 'Manuel Joaquim', ou feijão verde 'Carlos António', ou as laranjas 'João Pires', colher umas dálias 'Joana Lopes'. Pode ter - terá certamente - essa necessidade. E, como tal, prefere estar à vontade para reclamar esses produtos hortofrutícolas. Afinal, ele bem as encheu, a cada planta, de mimos únicos. A cada uma se devotou como só o mais puro agricultor pode fazer.
Ele há muitos hortofruticultores por aí, com suas hortas secretas. De vez em quando dão um pequeno toque, um aparo, uma erva removida, uma rega generosa - para que nada os impeça de pedir depois algum produto. Para que a planta não os possa erradicar dos seus amados, daqueles que a ajudaram no esforço de florir. Para que os não possa vedar as suas frutificações individuais.
Não, ele há muito hortofruticultor por aí. E ainda dizem que vai mal a Agricultura deste País.
Responderei somente à primeira. Ora, a sua abordagem filosófica à vida é hortofruticultora no sentido em que concebem as pessoas que conhecem como plantas de uma rede, ou jardim. São eles que zelam por esse jardim, mantendo-o viçoso, e disponível para lhes conceder seus frutos.
Um hortofruticultor escolhe para o seu jardim as melhores espécies possíveis, isto é, rodeia-se dos melhores contactos. E assim compõe um belo jardim, uma horta, um pomar, de que só ele sabe, e que é a sua vida. Vive da hortofruticultura, feliz - e não precisa assim de qualquer outra actividade.
Quando, por exemplo, as batatas 'Manuel Joaquim' estiverem a mirrar, pois o hortofruticultor bota água para cima delas. Ou, vendo ervas daninhas próximas do pé das plantas de feijão verde 'Carlos António', as retira carinhosamente. E faz ver a Manuel Joaquim e a Carlos António o muito que custa regar assim, e com primor podar assim.
Se as laranjas 'João Pires' precisarem de adubo, as estruma com a melhor técnica. Ou, requerendo as dálias 'Joana Lopes' mais sol, desvia seu vaso no sentido da luz.
Fá-lo, mansamente, dia após dia, sem maçar demasiado cada planta, mas fazendo cada uma crer que só ela recebe tais mimos, para um colheita tardia. Não sabe exactamente quando, mas aqueles belos espécimes devem - mais ano menos ano - florir esplendorosamente. E ele sabe que pode precisar de ir buscar umas batatas 'Manuel Joaquim', ou feijão verde 'Carlos António', ou as laranjas 'João Pires', colher umas dálias 'Joana Lopes'. Pode ter - terá certamente - essa necessidade. E, como tal, prefere estar à vontade para reclamar esses produtos hortofrutícolas. Afinal, ele bem as encheu, a cada planta, de mimos únicos. A cada uma se devotou como só o mais puro agricultor pode fazer.
Ele há muitos hortofruticultores por aí, com suas hortas secretas. De vez em quando dão um pequeno toque, um aparo, uma erva removida, uma rega generosa - para que nada os impeça de pedir depois algum produto. Para que a planta não os possa erradicar dos seus amados, daqueles que a ajudaram no esforço de florir. Para que os não possa vedar as suas frutificações individuais.
Não, ele há muito hortofruticultor por aí. E ainda dizem que vai mal a Agricultura deste País.