E passávamos os dois em conversa ligeira, quando se nos cruza um indivíduo bem-vestido, de fato escuro. Julgo que falando ao telemóvel. Típico executivo lisboeta. Íamos em sentido diferentes daquela rua, num fim de tarde outonal, já escuro.
Eis quando, ao passar por nós, solta um som contínuo. Eu estava mais distante, pensei para comigo que era aquilo, mas também que não podia ser aquilo. Simplesmente não podia ser aquilo. Mas foi confirmado por quem ia comigo: acabávamos de testemunhar um monumental arroto.
É que o extraordinário naquele arroto, para além de destoar com 'look executivo' (desespero com a crise?), ou mesmo o mínimo de Civilazaçãozinha, foi a sua... extensão. O homem arrotou durante uns bons dois metros ao passar por nós. Foi longo, profundo, consistente. Foi um ensaio de 'arroto em comprimento'.
Mas nesses dois metros de arroto, também não se apoquentou com a nossa presença. Podia ter esperado apenas mais uns segundos, ou ter arrotado uns segundos antes, mas tal era a sede de liberdade daquele arroto, que nenhuma pequena vergonha conseguiu contê-lo. Houve como que um grito de libertação naquele arroto. Não só de gás entranhado - também de um dia de trabalho, e de uma Civilização que, afinal, pode criar tanta infelicidade, tanta malfeitoria. Há um 'statement' naquele arroto, um protesto contra as convenções. Foi um arroto subversivo, rebelde, iconoclasta.
Eis quando, ao passar por nós, solta um som contínuo. Eu estava mais distante, pensei para comigo que era aquilo, mas também que não podia ser aquilo. Simplesmente não podia ser aquilo. Mas foi confirmado por quem ia comigo: acabávamos de testemunhar um monumental arroto.
É que o extraordinário naquele arroto, para além de destoar com 'look executivo' (desespero com a crise?), ou mesmo o mínimo de Civilazaçãozinha, foi a sua... extensão. O homem arrotou durante uns bons dois metros ao passar por nós. Foi longo, profundo, consistente. Foi um ensaio de 'arroto em comprimento'.
Mas nesses dois metros de arroto, também não se apoquentou com a nossa presença. Podia ter esperado apenas mais uns segundos, ou ter arrotado uns segundos antes, mas tal era a sede de liberdade daquele arroto, que nenhuma pequena vergonha conseguiu contê-lo. Houve como que um grito de libertação naquele arroto. Não só de gás entranhado - também de um dia de trabalho, e de uma Civilização que, afinal, pode criar tanta infelicidade, tanta malfeitoria. Há um 'statement' naquele arroto, um protesto contra as convenções. Foi um arroto subversivo, rebelde, iconoclasta.
Tão pouco, se realmente estava ao telemóvel, o deteve a conversa telefónica. Os cínicos diriam que estava em espera, mas eu gosto de pensar que ele, da mesma forma que arrotou para nós dois sem pudor, transmitiu essa libertação pessoal a alguém querido do outro lado do telefone. Talvez um familiar, talvez um amigo igualmente oprimido. Uma amante, quem sabe - que o romantismo evolui com os tempos.
Escapou-me porém, nestes Jogos Olímpicos, esta modalidade do 'arroto em comprimento'. Aquele era certamente um campeão nacional. Talvez, quem sabe, nos próximos Jogos, os espectadores possam atentar nessa pérola do desporto. Sugiro também a criação dos '200 metros a tirar macacos do nariz', ou mesmo a 'flatulência sincronizada'.
Quem sabe se não 'é nisto que somos bons'.