terça-feira, abril 08, 2008

Do Erro

A nossa sociedade tem horror ao erro. Não há nada mais obsceno, mais marcante que o erro. Errar é ficar comprometido com uma classificação - negativa. A questão é mesmo que as pessoas precisam dessa classificação para organizarem suas vidas. Precisam de saber quem é de confiança, quem não é, que matizes têm as pessoas com quem trabalham. A confiança depende dessa avaliação.

Pois bem - acontece que não há evolução sem erro. Às vezes, com uma quantidade de erro que é obscena aos olhos de muita gente. Já foi pior, é certo - mas a condescendência que os nossos tempos anunciaram não é mais que uma máscara, que esconde o mesmo antigo juízo.

Agora, é engraçado notar que, tipicamente, se poderia dizer que há uma reacção masculina e uma reacção feminina ao erro. A masculina é às vezes bruta, egotista, bota-abaixo, e pode bem custar-nos o trabalho. A feminina é secreta, ouvida ao lado sem nada dizer, registada para mais tarde. E pode custar-nos o à-vontade no trabalho.

Ter a capacidade de assumir os erros, desde que não afectem terceiros, é um acto de coragem. Ter capacidade de achar que errar faz parte de evoluir, que amanhã o juízo da mesma pessoa será radicalmente diferente, é algo de necessário na vida. Se o não fizermos, se não formos, às vezes, abertamente obscenos - nesse sentido - estamos, por uma via ou por outra, condenados à depressão e estagnação.