Só para assinalar a personagem mais bem conseguida, creio, nesta série de Gato Fedorento: Ezequiel Valadas. Note-se a sua última frase "obrigado sou eu", preparada para "pegar", entrar no maistream, ser repetida e emblemática. É bem capturado, o falar campesino, que Ricardo Araújo Pereira conhece bem. Mas... se pensarmos bem nisso, dizer "obrigado sou eu" não estará assim tão errado. O nosso "obrigado" é parente em termos de significado do "obliged" inglês. Eu sinto-me obrigado ("feel obliged"), eu estou obrigado ("I am obliged"), mais do que sou obrigado. Ainda assim, não é um tosco tão tosco como parece. Aliás, como raramente o é, o tosco campesino, para o julgamento (amiúde, esse sim - alarve), do citadino. No Portugal campesino há expressões que decorrem, mais do que ignorância, de uma certa pureza linguística, e sentido profundo da língua, antes de ela se tornar superficial, vácua e veloz no frenesim citadino.